4“Enquanto é
dia, temos que realizar as obras daquele que me enviou; vem a noite, quando
ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”.
Comentando:
Este “dia” de que fala Jesus é o Seu tempo neste
mundo, tempo para realizar a obra de salvação que o Pai Lhe confiou. A “noite”
é o tempo da Sua Paixão e Morte, da Sua partida do mundo. Enquanto Ele estiver
neste mundo, realizará incansavelmente a obra do Pai: será luz que revela a
glória do Pai, dissipando a treva humana... Depois de ressuscitado, Ele estará
no mundo na potência do Seu Santo Espírito e, na força salvífica dos
sacramentos, continuará a ser, de modo ainda mais profundo, amplo e perenemente
presente a todos os tempos, a Luz do mundo! Isto, porque o Santo Espírito que o
Salvador ressuscitado doará continuamente nos sacramentos da Igreja, torna
Jesus presente a todos os tempos, em todos os lugares em que são celebrados e
no íntimo de cada fiel, pois onde está o Espírito, aí está o Cristo Jesus!
6Tendo dito
isso, cuspiu na terra, fez lama com a saliva, aplicou-a sobre os olhos do cego
7e lhe disse: “Vai lavar-te na piscina de Siloé – que quer dizer ‘Enviado’. O
cego foi, lavou-se e voltou vendo”.
Não canso de admirar e saborear a beleza das
narrativas de São João! De modo elegante, conciso, forte, ele diz tudo! Jesus é
a Luz do mundo e vai dar luz a esse cego que, de nascença, nunca vira a luz.
Para isto, cospe e faz lama com a saliva. O significado é profundo: para os
judeus, a saliva é o nosso sopro feito líquido. Então, Jesus infunde o Seu
sopro, isto é, o Seu Espírito no barro, como Deus, que no princípio, plasmou o
homem da terra e soprou-lhe nas narinas um hálito de vida! Veja, meu Leitor, o
que o Evangelista está procurando nos dizer: Jesus vai recriar, vai fazer desse
homem uma nova criatura, um homem de verdade!
O Senhor aplica a saliva nos olhos cegos e ordena que
o homem se lave na piscina do Enviado. Ora, o Enviado é Jesus e Sua piscina é
aquela do santo Batismo, é a pia do seu e do meu Batismo! Nunca esqueça: nós
todos nascemos cegos; nascemos no pecado (cf. Sl 51/50,7), nascemos não filhos
de Deus, mas filhos da ira (cf. Rm 1,18)! O Senhor “viu” a nossa situação, “viu-nos”,
como viu aquele cego! Eis o desejo do Senhor: que todos os cegos do mundo,
todos nós, que nascemos cegos pelo pecado original, creiamos em Cristo e nos
lavemos na Sua piscina: “Quem crer e for
batizado será salvo!” (Mc 16,16). Ali sim, naquela santa Piscina, enxergaremos
a verdade: que Jesus é o Senhor, o Messias de Deus, o nosso único Salvador!
Façamos como o cego do Evangelho: “O cego
foi, lavou-se e voltou vendo!”
Para que você saiba bem: na antiguidade cristã, o Batismo era chamado de Iluminação,
em grego, photismós. Com efeito,
assim como o recém-nascido segundo a carne vê a luz deste mundo, o renascido no
Espírito de Cristo, presente na água da pia batismal, vê a luz de Cristo, é por
Ele iluminado! Assim, um cristão, um iluminado por Cristo, não pode ver o
mundo, ver as coisas como os pagãos veem: “Outrora
éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da Luz!” (Ef 5,8)
Que miséria constatar tantos discípulos de Cristo, iluminados “na piscina do Enviado”, continuam
pensando, falando, agindo, vivendo segundo a treva do mundo!
Ainda mais um detalhe: recorda do Evangelho da Samaritana?
Jesus não disse que daria uma Água que jorra para a Vida eterna? Olhe a Água aí
novamente, agora na piscina do Enviado! Lá e cá, na Samaritana e em Siloé, a
água tem o mesmo significado: é o Espírito que o Senhor morto e ressuscitado
nos dará! “Em verdade, em verdade Eu vos
digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus! O
que nasce da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito” (Jo 3,5-6),
é homem espirituado, é nova criatura, iluminado, nascido para a Vida eterna!
- Senhor Jesus, Luz do mundo,
Luz que não conhece ocaso,
Recria-me com a força do Teu Espírito!
Lembra-Te, ó Santíssimo Salvador,
Que eu fui lavado na Tua piscina,
Fui iuminado,
Fui purificado,
Fui regenerado – gerado de novo!
No entanto,
Por minha preguiça,
Por minha displicência,
Por minha soberba,
Muitas vezes sou cego,
Muitas vezes, sujo,
Muitas vezes morto no meu coração!
Piedade, ó Piedoso!
Misericórdia, ó Misericordioso!
Senhor, Amigos dos Homens!
Pelos santos exercícios quaresmais
Ilumina-me,
Purifica-me,
Renova-me,
Para que eu possa santamente celebrar o solenidade
bendita da Tua Páscoa
E, na hora de minha morte, possa fazer minha Páscoa
para a eternidade
Na tua luminosa Presença, quando serás minha lâmpada
para sempre (cf. Ap 21,23). Amém.
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