domingo, 27 de julho de 2014

XVII Domingo Comum: Por causa do Reino dos Céus...

1Rs 3,5.7-12
Sl 118
Rm 8,28-30
Mt 13,44-52

Continuamos, neste hoje, a escutar Jesus falando-nos do Reino dos Céus. Saído do barco à beira-mar, chegado em casa, Ele nos conta ainda três parábolas: o Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo; um homem o encontra e, cheio de alegria, vende tudo e o adquire! O Reino dos Céus é como uma pérola de grande valor; o homem vende tudo e, fascinado por sua beleza, vende tudo e a adquire... Observem, irmãos, que Jesus nos quer fazer compreender que todo aquele encontra o Reino, sai de si, fascinado pelo Reino encontrado! Achar o Reino é achar o sentido da vida, é encontrar aquilo por que vale a pena viver. Quem de verdade encontra o Reino, quem o experimenta, muda para sempre sua existência: vai ligeiro, vende tudo, fica cheio de alegria! Encontrar o Reino é encontrar Jesus, e encontrar Jesus de verdade é encontrar a razão de viver, o sentido da existência, é encontrar-se consigo mesmo! Quem encontra o Reino assim, se encontra, parte de si mesmo e vai viver de verdade! Quantos cristãos experimentaram isso, quantos fizeram-se loucos, pareceram loucos, por amor de Cristo! Quantos jogaram fora amores, família, projetos, bens materiais... O que os levou a isso? O que aconteceu com Santo Antão, que vendeu todos os bens e deu aos pobres e foi viver no deserto, sozinho? O que aconteceu com Francisco de Assis? O que aconteceu com a Beata Madre Teresa de Calcutá ou com a Ir. Dulce? O que aconteceu com aquele moço que largou tudo e foi ser religioso, com aquela moça sem juízo que entrou numa comunidade de vida? O que aconteceu com aquele casal, que mudou seu modo de viver, seu círculo de amizade, que deixou suas badalações? O que aconteceu com São Maximiliano Kolbe, que entregou a vida no lugar de um pai de família? Com São José de Anchieta, que deixou sua pátria e se embrenhou no Brasil selvagem para anunciar Cristo aos índios? O que aconteceu com todos esses? O que aconteceu? O que acontece ainda hoje e continuará acontecendo ainda aminhã e depois com tantos? Eles descobriram o tesouro, eles encontraram uma pérola de valor imensurável, eles experimentaram a paz, a doçura, a verdade do Reino dos Céus!

Meus caros, estejamos atentos! Quem é mole nas coisas de Deus, quem é pouco generoso no seguimento de Cristo, quem sente como um fardo os apelos do Senhor, não experimentou ainda, não encontrou o tesouro, não viu a pérola de grande valor, não descobriu de verdade o Reino dos Céus! Cristãos cansados, cristãos sem entusiasmo, cristãos pouco generosos, cristãos de cálculos humanos, cristãos de racioínios pagãos, cristãos com uma lógica igual à do mundo são cristãos que nunca – nunca! – experimentaram a paz do Reino, a beleza do Reino, a doçura do Reino, a plenitude do Reino que Jesus nos mostra e nos dá! Atentos, irmãos: pode-se ser cristão e nunca ter-se experimentado o Reino! Pode-se ser padre ou religioso sem nunca ter descoberto o Reino... Aí, já não há alegria, já não há entusiasmo, já não se corre, se arrasta, se rasteja! O Reino tem pressa, o Reino faz vibrar, o Reino nosdeixa bêbados de sonhos por Cristo, o Reino nos faz generosos para com o Senhor, o Reino nos impele porque descobrir o Reino e experimentar o amor de Deus em Jesus Cristo! Quantos de nós se entusiasmam com tantas coisas e são tão lerdos quando se trata do Senhor e do seu Reino... Não seríamos nós um desses?

E, no entanto, o sonho de Deus é que todos possam encontrar o Seu Reino; para isso Ele nos criou, para isso nos destinou. Escutemos o Apóstolo: "Pois aqueles que Deus contemplou com Seu amor desde toda eternidade, a esses Ele predestinou a serem conformes à imagem do Seu Filho... E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou também os tornou justos, e aos que tornou justos também os glorificou". Isso nos coloca diante de duas realidades, caríssimos. Primeiro: o dever que temos de anunciar o Reino a toda a humanidade! A Igreja é missionária, anunciadora do Reino dos Céus! Uma Igreja que não tenha o desejo, que não sinta a necessidade de levar Jesus aos que ainda não o conhecem, é uma Igreja morta, sem o calor do Reino, sem o entusiasmo do Reio, sem a embriaguez do Reino, uma Igreja que já não experimenta a alegria de crer! Estejamos atentos: há tantos em terras distantes e tantos bem próximos de nós que não tiveram ainda a alegria do Reino dos Céus, pois que não encontraram o tesouro, na viram a pérola de grande valor! Ai de nós se não anunciarmos a esses a Boa Nova do Reino dos Céus! Nunca esqueçamos: quem encontra algo de muito bom, sente o desejo de comunicar, de partilhar, de tornar conhecido aos demais. Se em nós não há ímpeto missionário, é porque não encontramos, de verdade, a o Reino e sua alegria! Pensemos bem!

Mas, há uma segunda realidade, que precisamos levar em conta. Descobrir o Reino exige um olhar iluminado pela graça de Deus. Sozinhos, com nossas próprias forças, somos incapazes de discernir essa presença do Reino! Por isso é necessário suplicar, como Salomão, um coração para compreender: "Dá ao Teu servo um coração compreensivo – um coração que escute!" No Evangelho de hoje, Jesus termina perguntando: "Compreendeste essas coisas?" – Senhor, pedimos nós, dá-nos um coração capaz de compreender! Sem Teu auxílio ninguém é forte, ninguém é santo! Mostra-nos o tesouro, que é o Teu Reino! Faz-nos encontrar a pérola de grande valor, pela qual vale a pena perder tudo e todo nela encontrar! Faz-nos sentir que, pelo Reino, vale a pena deixar redes, barcos, a vida perder; deixar a família e dinheiro não ter!

Concluamos, agora, com a última, das sete parábolas: O Reino dos Céus é como uma rede jogada no mar deste mundo... Ela apanha todo tipo de peixe – apanhou a mim, a você... Olhem a Igreja, olhem a nossa comunidade: há de tudo! Todo tipo de gente, todo tipo de cristão! Mas, um dia – no Dia de Cristo! -, a rede será puxada para a margem e os peixes bons serão recolhidos nos cestos do Senhor e os peixes ruins serão lançados fora, para o fogo queimar... Eis como Jesus termina! Prevenindo-nos que é necessário decidir-se pelo Reino, que nossa vida valerá ou não a pena, terá ou não sentido dependendo de nossa atitude em relação ao Reino que Ele veio anunciar... Acolher o Reino aqui far-nos-á entrar no Reino pela Eternidade; regeitar o Reino agora, excluir-nos-á dele para sempre! Que palavra, que mistério, que medo, que esperança!


Irmãos, irmãs! "Compreendestes tudo isso?" Que o Senhor no-lo conceda, Ele que Reina para sempre. Amém.

sábado, 19 de julho de 2014

XVI Domingo Comum - A: Os justos brilharão no Reino do Pai

Sb 12,13.16-19

Sl 85

Rm 8,26-27
Mt 13,24-43

Continuamos a escutar o Senhor que, sentado na barca, imagem da Igreja, nos fala do Reino dos Céus... Permanecemos atentos, como aquela multidão em pé, à beira-mar, embevecida: "Nunca nenhum homem falou assim..."

Hoje, Ele nos apresenta três parábolas: a do trigo e do joio semeados no campo do mundo e do nosso coração, a do grão de mostarda que cresce a abriga as aves dos céus e, finalmente, a do tiquinho de fermento que leveda toda a massa... É assim o Reino dos Céus!

As três parábolas mostram a fraqueza do Reino, sua fragilidade escandalosa, mas também sua força invencível, seu poder, sua capacidade de tudo impregnar e transformar, até chegar à vitória final. Só que para compreender isso – os mistérios do Reino -, é necessário ter a paciência, a sabedoria que nos dá a capacidade de acolher os tempos e os modos de Deus! Mas, vamos às parábolas. Nunca esqueçamos, Irmãos: o Reino de Deus não é óbvio! A lógica do Reino não é a nossa, pois esse Reino é de Deus e Deus é Santo: ultrapassa-nos, é Mistério! Ele é o Papai de Jesus, o Abbá, mas é também o Santo de Israel, o Deus misterioso e livre, cujo modo de agir tantas vezes nos desconcerta!

Primeiro, a parábola do trigo e do joio. Que nos ensina aqui o Senhor? Que lições nos quer dar? Em primeiro lugar: Deus não é inativo, indiferente ao mundo, à nossa vida de cada dia. No Seu Filho, semeou o trigo do Reino no campo deste mundo e no campo do nosso coração. Como diz o Livro da Sabedoria, na primeira leitura de hoje: "Não há, além de Ti, outro Deus que cuide de todas as coisas!" Sim: nosso Deus é um Deus presente, um Deus atuante, um Deus que cuida de nós com amor e, com amor, vela por Suas criaturas! Não duvidemos, não percamos de vista esta realidade: num mundo de cimento armado e violência, fome, mortes e corrupções de todos os modos, Deus está presente, Deus cuida de nós!

Uma segunda lição desta parábola: no mundo e no coração de cada um de nós infelizmente há o mal, o pecado, a treva. Por favor, não mascaremos o mal do mundo nem o mal do nosso interior! É preciso desmascará-lo, é preciso chamá-lo pelo nome! Não mascare, Irmão, Irmã, o mal da sua vida, do seu coração, da sua consciência! Esse mal não vem de Deus; vem do Antigo Inimigo, do Diabo que, mais esperto que nós, tantas vezes faz o mal nos parecer bem e até achar que nós mesmos estamos acima do bem e do mal! O Diabo é assim: semeia o mal e faz com que ele se confunda com o bem, como o trigo e o joio, quese assemelham. E nós, tolos, confundimos tudo e pensamos ser bem o que é mal – mal semeado pelo Maligno! Por favor, olhe o seu coração: não se engane, não finja, não mascare, não minta pra você mesmo! Chame o mal de mal e o bem de bem!

Numa terceira lição, a parábola de Jesus nos ensina a paciência, sobretudo com o mal que vemos no mundo e nos outros! Somos impacientes, caríssimos, e até julgamos Deus e o seu modo de agir no mundo. Recordemos a paciência de Deus, que salva, e fujamos da impaciência nossa, que coloca a perder... Jesus nos pede que confiemos em Deus, que acreditemos na Sua ação e nos Seus desígnios, tempos e modos: Não há, além de Ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que Teu julgamento não foi injusto. A Tua força é princípio da Tua justiça e o Teu domínio sobre todos Te faz para com todos indulgente. Dominando Tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande moderação; e a Teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores".

Escutemos ainda um pouco o Senhor; aprendamos com as parábolas do grão de mostarda e do fermento que leveda a massa. Precisamente porque o modo de pensar e agir de Deus não é como o nosso, o Reino dos Céus aparece tão frágil, tão inseguro, tão precário... pequenino como um grão de mostarda, pouquinho como uma pitada de fermento! E, no entanto, será grande, será forte, será vitorioso e abrigará as aves dos céus! Será eficaz, forte, e penetrará toda a massa deste mundo! - Mas, quando, Senhor? Por que demoras? Por que parece que estás longe? Por que pareces dormir? Observem, Irmãos, que em todas as parábolas do Reino, Jesus deixa claro que, ao fim, haverá um julgamento de cada um de nós e o Reino triunfará!

Mas, para não descrer, para não desesperar, para não ver e sentir simplesmente na nossa medida e com nossas forças, supliquemos que o Espírito do Ressuscitado venha nos socorrer, "pois não sabemos o que pedir, nem como pedir!" Só o Espírito do Cristo, o Semeador do Reino, pode nos fazer perceber os sinais desse Reino bendito, os sinais de Deus no mundo e na vida. Só o Espírito nos sustenta, fazendo-nos caminhar sem desfalecer, de esperança em esperança... Só o Espírito nos ensina as coisas do Reino: Ele torna o Reino presente porque torna Jesus presente. Por isso mesmo, em vários antigos manuscritos do Evangelho de São Lucas, na oração do Pai-nosso, onde geralmente tem "Venha o Teu Reino" aparece "Venha o Teu Espírito"! É o Espírito de Cristo que torna o Reino presente em nós e no mundo. Deixemo-nos, portanto, guiar por Ele, pois "o Reino de Deus é paz e alegria no Espírito Santo!"


Eis, caríssimos! Aprendamos do Senhor, vigiemos e acolhamos Sua palavra. Se formos fiéis e perseverarmos até o fim, cheios de júbilo, veremos a realização da Sua promessa, que encerra o Evangelho de hoje: "... então, os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai!" Que assim seja! Amém!


sábado, 12 de julho de 2014

XV Domingo Comum: O Semeador do Reino

Is 55,10-11
Sl 64
Rm 8,18-23
Mt 13,1-23

Amados Irmãos no Senhor, neste Domingo começamos a escutar, na proclamação do Evangelho da Missa, o capítulo 13 de São Mateus, que ouviremos ainda pelos próximos dois domingos. Do que trata? Prestai bem atenção: trata do Reino de Deus, que Mateus gosta de chamar de Reino dos Céus.
Vede, caríssimos! Jesus, nosso Senhor, veio anunciar e implantar o Reino de Deus – esta foi a Sua missão; assim Ele nos salvou! Tudo quanto fez, tudo quanto disse, os milagres que realizou, os exorcismos que praticou, Sua própria Morte e Ressurreição – tudo foi para implantar no coração de cada um de nós e do mundo o Reino do Pai do Céu. Mas, curiosamente, o Senhor nunca definiu esse Reino! Pois bem, neste capítulo 13 do seu Evangelho, São Mateus, reúne sete parábolas de Jesus (sete: número perfeito, completo; sete: revelação perfeita), nas quais Ele, como um Mestre, sentado numa barca, imagem da Igreja, nos desvenda o mistério do Reino!
Atenção, portanto: nestes três domingos, o Senhor no dirá coisas estupendas sobre esse misterioso Reino! – Fala-nos, pois, Senhor! Abre o Teu Coração e desvela-nos os mistérios do Reinado do Deus a Quem Tu chamas de Pai, Reino que trouxeste, Reino para o qual nos convidas! Fala Senhor, fala sentado na barca da Tua Igreja, nossa Mãe católica, e Te escutaremos atentos, com o coração na mão, pois Tu tens palavras de Vida eterna!
A primeira parábola é-nos contada hoje: um semeador – que é Jesus mesmo e todos aqueles que em Seu Nome semearão enquanto o mundo for mundo –, um semeador saiu a semear a Palavra do Reino! Atenção, irmãos: a Palavra semeada por Jesus, Senhor nosso, é o anúncio do Reino ou, melhor dizendo, o semeador saiu a semear o Reino de Deus feito Palavra! Assim, acolher a Palavra de Jesus é acolher o Reino, refutar a Palavra, refutar Jesus é refutar o Reino! Gravai bem isto na mente e no coração: a parábola do semeador é uma parábola do Reino dos Céus, é a parábola do semeador do Reino dos Céus!
Esta é a primeira lição sobre o Reinado de Deus: ele é semeado humildemente por Jesus e Seus ministros; e pode ser refutado!
Vede só que coisa: a palavra de anúncio do Reino pode ser recebida sem compreensão. Que significa isto? Ela pode ser escutada com desprezo, sem que o ouvinte aceite compreender que se trata não de uma simples palavra humana, mas da própria Palavra que, acolhida com fé, faz Deus reinar no nosso coração, na nossa vida! O ouvinte assim, duro, descrente, que não compreende a Palavra como Palavra de Deus, mas a reduz ao nível de simples palavra humana, é presa fácil do Maligno, que vem de mil modos e leva embora essa Palavra santa, como os pássaros devoram as sementes caídas à margem do caminho...
Há ainda tantos que acolhem com alegria e generosidade o Reinado de Deus anunciado na Palavra, mas infelizmente, são superficiais! Querem o Reino de Deus, mas não querem o Rei! Desejam o Reinado de Deus, mas não aceitam o trabalho de deixar realmente que Deus reine em suas vidas! Eita! que há tantos assim hoje em dia; tantos, tantos! Desejam um reinozinho à medida do homem, um reinozinho de si próprio! Ora, acolher o Reino de Deus exige deixar que  Senhor reine em minha vida com a Sua santa vontade, exige, pois, que eu me converta! Mas, esses são duros de coração: querem continuar no seu pecado, no seu comodismo, na sua vida pouco generosa e nada disposta à conversão; pensam que se pode acolher o Reino mantendo um coração cheio das pedras do mundo: “não tem raiz em si mesmo; é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, desiste logo!” Não esqueçais, Irmãos, a ilusão desses: querem o Reinado de Deus, mas sem Deus reinando na vida deles! Querem o Reino, mas não o Rei!
Depois, aqueles cujo coração é um amontoado de espinhos de preocupações, de paixões, de apegos, de amores, de interesses... Num coração assim, o Reinado de Deus é sufocado! Reinam as paixões, reina a minha vontade, reinam os meus interesses, reina a minha imaturidade, reina o meu apego, reina o meu pecado... Deus fica em último lugar! A Palavra que anuncia o bendito Reinado do Senhor é, nesse espinheiro miserável, sufocada, o Reino murcha, mingua até desaparecer desse coração!
Por fim, um coração pobre e humilde, disposto como um campo fecundo e pronto! É aquele que, diante da Palavra que convida a deixar que Deus reine na nossa vida, diz: Podes reinar, Senhor! Sou Teu, para Ti nasci: que queres de mim! – Alguém assim é pobre, alguém assim é humilde, alguém assim dá espaço para que Deus reine na sua vida! De alguém assim é o Reino dos Céus! E nesse o Reino frutifica, dá fruto, se expande como uma semente fecunda e viçosa que dá trinta, sessenta, até cem por um!
Ah, quantas lições, Irmãos meus! Vede só, resumindo tudo, três delas:
(1) O Reino é semeado generosamente, à mancheias pelo Senhor! Tão generoso é Aquele que deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, que nem olha em que tipo de coração joga a semente! É para todos!
(2) O Reino de Deus é humilde, pede passagem, depende da nossa liberdade para acontecer em nós: pode ser acolhido ou refutado, como a semente! Assim, pode acontecer que, em mim, o Reino de Deus morra ou mesmo, sequer chegue a nascer! Vede, Irmãos, tremamos, Irmãos: não é garantido que o Reino entrará e crescerá e frutificará em mim! Que poder, o meu: eu posso matar o Reinado de Deus em mim! Mas, atenção, porque se o Reino não entrar em mim, eu não entrarei no Reino!
(3) O Reino, mesmo para aqueles que o acolhem, terá fecundidades diferentes, dependendo do modo, da generosidade, com que ele é acolhido: pode dar muito fruto ou pouco fruto... Que fruto está dando na tua vida, Irmão amado em Cristo, o divino Semeador?
Por fim, como é misteriosa a justificativa de Jesus para falar em parábolas: é para que falando de modo poético e figurado, fique sempre o espaço para que os de boa vontade se encantem e acolham e compreendam, e os de má vontade, de vez, virem o rosto, e se fechem e se afastem! Que mistério, que encontro: a graça do Deus que semeia largamente e a liberdade do homem em acolher ou refutar!
Uma coisa é certa, amados: esse Reino, semeado agora humildemente, entre as dores e tribulações de uma humanidade e de uma criação em dores de parto, como diz a segunda leitura, um dia desabrochará na plenitude de sua potência e de sua glória, de modo que toda a criação e nós mesmos no nosso corpo, seremos totalmente transfigurados pelo Espírito Santo de Cristo, que é a Força mesma da semente do Reino, a Energia mesma que faz a semente brotar, crescer e frutificar em fruto de Vida eterna!
Assim, caríssimos, não duvidemos da força do Reino: tão humilde agora, um dia, no Dia de Cristo, ele desabrochará com toda a força da Glória de Deus! Não nos esqueçamos: a Palavra do nosso Deus é viva e eficaz, como a chuva que, descendo do céu, irriga a terra e faz brotar a semente!

Que nos resta dizer? Venha, Senhor Deus, o Teu Reino! Dá-nos um coração pobre, humilde, disponível para acolher a boa semente da Palavra do Teu Cristo, de modo que, escutando a Sua santa Palavra, Tu possas reinar em nós e demos frutos de Vida eterna, pois Teu é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém!


sábado, 5 de julho de 2014

XIV Domingo Comum: Ir ao Coração de Cristo buscando uma vida nova

Zc 9,9-10
Sl 144
Rm 8,11-13
Mt 11,25-30


Neste XIV Domingo Comum, a Palavra de Deus apresenta-nos um Rei. Ei-Lo, como a Primeira Litura no-Lo descreve: Ele é o Rei de Israel, que vem ao encontro do Seu Povo; é um novo Salomão, um novo Davi: vem montado num jumentinho, como o Pacífico Salomão no dia da sua entronização: “O Rei Davi ordenou: ‘Fazei montar na minha mula o meu filho Salomão!” E o povo aclamou: “Como o Senhor esteve com o Senhor meu Rei, que Ele esteja com Salomão e que Ele exalte o seu trono mais do que o trono de Davi!” (1Rs 1,33.37) Esse bendito Rei, esse Novo Salomão, maior que Davi, que vem ao encontro do Seu Povo, é justo, isto é, santo, é humilde, eliminará os carros de guerra porque é pacífico, anunciará a paz às nações e estenderá o Seu domínio até os confins da terra!
Quem é este Rei tão humilde e tão grande, tão pacífico e tão dominador? Certamente, caros irmãos, o Profeta Zacarias estava falando de um Rei que viria, está referindo-se ao Messias, o Ungido do Senhor, esperado, desejado de Israel! Então, prestai bem atenção: esse Rei é o nosso Jesus, novo Davi, verdadeiro Salomão, homem do Shalom, Príncipe da Paz! É Ele, Rei pacífico, o que no Evangelho de hoje declara solenemente: “Tudo Me foi entregue por Meu Pai!” Sim, Ele é o Senhor, igual ao Pai, Deus como o Pai, que com o Pai tem uma relação de reciprocidade, de igualdade: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai e ninguém conhece o Pai, senão o Filho!” É Ele, o nosso Jesus, potente até poder nos arrancar da morte e dá-nos Vida plena neste mundo e por toda a Eternidade!
Tão grande, tão santo, tão Deus e, no entanto, Ele nos convida: “Vinde a Mim! Aprendei de Mim! Eu sou manso e humilde de coração! Vós encontrareis descanso, pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve!”
Jesus é sim o Messias-Senhor, Jesus é sim o Deus vivo e verdadeiro que por nós Se fez homem, Jesus é sim o Rei que vem visitar o Seu povo, Seu novo Povo, que é a Igreja! Mas, atenção: Sua vinda é para salvar: Ele Se fez um de nós, um conosco: vem manso e humilde de coração, compreensivo de nossas misérias, pronto para nos acolher no aconchego do Seu Coração e nos redimir e nos restaurar para que, Nele, sejamos novas criaturas!
Mas, atenção! Aqui não se trata de umas ideias melosas, sentimentais! Não! Quando o Senhor nos convida a encontrar descanso Nele, está nos chamando à conversão à Sua Pessoa, a confiar Nele e a Ele entregar a nossa vida. Por isso mesmo, afirma: “Escondeste, Pai, estas coisas aos sábios e entendidos”, isto é, aos autossuficientes, ao que pensam que se bastam e podem fazer do seu jeito, vivendo a vida como se Deus não existisse, como se de Deus não precisassem, os que são mundanos no seu modo de viver, mundanos no seu velho orgulho, mundanos na teimosia de querer viver e fazer do seu próprio modo! Os verdadeiros “pequeninos” que aceitam Jesus e correm para repousar no Seu Coração são aqueles que, apesar da humana fraqueza e das feridas da vida, desejam romper com a situação de pecado, vivendo a vida nova de filhos de Deus no Filho Jesus! Desses, São Paulo afirma na Segunda Leitura: “Vós não viveis  segundo a carne, mas segundo o Espírito”, pois tendes o Espírito Santo de Jesus! E vede, Irmãos meus, a sentença clara do Apóstolo: “Se alguém não tem o Espírito de Cristo – isto é, não vive segundo o Santo Espírito de Cristo, deixando-se por Ele guiar – não pertence a Cristo!”
Portanto, nada de sentimentalismo meloso e condescendente com o pecado, nada de uma misericórdia desfibrada, descomprometida com a conversão: “Temos uma dívida não para com a carne – isto é, o pecado, o espírito do mundo, o viver segundo a nossa lógica -, para vivermos segundo a carne. Pois, se viverdes segundo a carne morrereis, mas se, pelo Espírito, matardes o procedimento carnal, então vivereis” a Vida nova no regaço do Coração do Rei manso e humilde!
Queridos Irmãos, vamos a Jesus que veio a nós como Rei pacífico! Que seja Ele o nosso Mestre, que seja o Seu Evangelho a nossa luz, que seja o Seu caminho a nossa verdade! Não podemos tranquilamente nos dizer cristãos vivendo segundo uma mentalidade mundana ou mesmo vivendo segundo a nossa lógica! Ser discípulo do Senhor, ir até Ele, que nos convida “Vinde a Mim!”, exige – exigirá sempre! – o trabalhoso e constante processo de conversão! Seria um triste engano, seria uma mentira pensar que alguém pode ser cristão desrespeitando os preceitos do Senhor, vivendo de modo contrário à norma recebida Daquele que é manso e humilde de Coração. Duvidais disto? Então ouvi: “Se Me amais, observareis Meus mandamentos! Se alguém Me ama, guardará Minha palavra e Meu Pai o amará e a ele viremos e Nele estabeleceremos morada!” (Jo14,15.23) Que fique claro: não é qualquer amor que é cristão, não é uma conversa mole de um amor qualquer que nos faz discípulos de Cristo! Amor verdadeiramente cristão, que nos une ao Senhor e aos irmãos, é aquele que brota do amor ao Cristo Jesus e do compromisso com Seus preceitos num constante caminho de conversão de toda a vida! Isto é viver segundo o Espírito, isto é estar aberto para o Senhor, isto é correr a corrida da vida para repousar no Seu Coração!

Que Jesus nosso Senhor nos conceda uma vida assim, Ele que é Deus bendito pelos séculos dos séculos. Amém.