sábado, 31 de agosto de 2019

Homilia para o XXII Domingo Comum - ano c

Eclo 3,19-21.30-31
Sl 67
Hb 12,18-19.22-24a
Lc 14,1.7-14

Engana-se quem pensa que o Evangelho de hoje é um guia de etiqueta e de boas maneiras em banquetes e recepções. Nada disso! Jesus, nosso Senhor, pensa, aqui, no Banquete do Reino, no final dos tempos, que é preparado pelo banquete da vida, desta vida nossa de cada dia; sim, porque somente participará do Banquete do Reino quem souber portar-se no banquete da vida!

E neste banquete, no daqui, no desta vida, o Senhor hoje nos estimula a duas atitudes, dois comportamentos profundamente evangélicos.

Primeiramente, a humildade: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Vai sentar-te no último... Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’”.
O que é ser humilde? Humildade deriva de húmus, pó, lama, barro...
Ser humilde é reconhecer-se dependente diante de Deus, é saber-se pobre, limitado diante do Senhor. Quem é assim, sabe avaliar-se na justa medida porque sabe ver-se à luz do Senhor!
O humilde tem diante de si a sua própria verdade: é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, manso. Tinha razão Santa Teresa de Jesus quando afirmava que a humildade é a verdade.
O humilde vê-se na sua verdade porque vê-se como Deus o vê, vê-se com os olhos de Deus! Então, o humilde é aberto para o Senhor, Dele reconhece que é dependente, e a Ele se confia. Podemos, assim, compreender as palavras do Eclesiástico: Filho, realiza teus trabalhos com mansidão; na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor. O Senhor é glorificado nos humildes”. É assim, porque somente o humilde, que reconhece que depende de Deus, pode ser aberto, e acolher como uma criança o Reino que Jesus veio trazer.

A segunda atitude que o Cristo hoje nos ensina é a gratuidade: “Quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. A gratuidade é a virtude que dá sem esperar nada em troca, dá e sente-se feliz, sente-se realizada no próprio dar. Se prestarmos bem atenção, a gratuidade é filha da humildade. Só quem sabe de coração que em tudo depende de Deus e de Deus tudo recebeu gratuitamente (humilde), também sente-se impelido a imitar a atitude de Deus: dar gratuitamente! “De graça recebestes, de graça dai!” (Mt 10,8) ou, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois convencida de que quem ama já não sabe calcular!” Pois bem, quem faz crescer em si a humildade e cultiva a gratuidade, experimenta a Deus e Seu Reino, pois aprende a sentir o coração do próprio Deus, que tudo nos deu gratuitamente. Quem cultiva a humildade e a gratuidade, deixa o Reino ir entrando em si e entrará, um dia, no Reino de Deus!

Mas, se pensarmos bem, nada disso é fácil, pois vivemos no mundo da autossuficiência e dos resultados. O homem já não mais se sente dependente de Deus; deseja ele mesmo fazer a vida do seu modo. Assim, se fecha para Deus e, para Ele se fechando, já não mais reconhece no outro um irmão e, não experimentando a misericórdia gratuita de Deus, já não sabe mais dar gratuitamente: tudo tem que ter retorno, tudo tem que apresentar contrapartida, tudo tem que, cedo ou tarde, dar lucro, tudo é pensado na lógica do custo-benefício. Como é triste a vida, quando é vivida assim... Mas, não será o nosso caso? Pensemos bem, porque se assim o for, jamais experimentaremos Deus de verdade, jamais conhecê-Lo-emos de verdade. Nunca é demais recordar a advertência da Escritura: “Quem não ama não conhece a Deus!” (1Jo 4,8)

Caríssimos, aproximemo-nos de “Jesus, mediador da nova Aliança”, e supliquemos a graça de um coração renovado, um coração convertido, um coração de pensamentos novos e novas atitudes! Que durante toda esta semana tenhamos a coragem de analisar e revisar nossas atitudes em casa, com os amigos e próximos, com os companheiros de trabalho e de estudo e examinemo-nos diante do Cristo nosso Deus, no que diz respeito à humildade e à gratuidade.
Recordemos que se tratam de duas atitudes de farão nosso coração pulsar em sintonia com o Coração de Deus. Recordemos, como dizia São Bento, que pela humildade se sobe e pela soberba se desce! Para onde se sobe? Para o Banquete do Reino de Deus. Para onde se desce? Para a penúria do anti-Reino, do reino de Satanás! Peçamos, suplicando, ao Senhor, a graça da conversão, que somente com nossas forças somos incapazes e impotentes para encetar! Que Deus no-la conceda. Amém!


quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Que eu busque a Ti, que buscaste a mim!

Buscar a Deus é a razão mesma da nossa vida, o sentido fundamental da nossa existência.
Que é o homem? O ser que tem sede de Deus, o bicho esquisito e único, cujo coração não sossega com menos que o Infinito; o animalzinho tão limitado que tende, instintivamente para o Eterno, que não se resigna a morrer, pois sua sede de viver é insuprimível!
Que é o homem? O estranho e fascinante ser que não se satisfaz com menos que o Amor e a Verdade.
Que é o homem? Aquele bichinho minúsculo, ínfima partícula do universo, que não se satisfaz com menos que o Tudo! Ora, tudo isto, toda esta complexa e admirável realidade aponta para uma busca fundamental, estrutural de Deus em nós. Não adianta tentar fugir dela!

A Deus o homem busca quando busca o prazer, o poder, o dinheiro, o sucesso, o amor, o reconhecimento, a autoafirmação, a vida... Busca consciente ou inconsciente, mas sempre busca de Deus. Aquele que crê busca conscientemente;
aquele que é cristão sabe precisamente a Quem busca e tem consciência que antes de buscar, foi buscado por Aquele Amor que é a fonte de todo amor e aquela Verdade que é raiz de toda verdade.

No entanto, é necessário sempre que nos perguntemos pela qualidade da nossa busca de Deus, de nosso caminho com Ele, perguntando-nos simultaneamente por nosso desprendimento em relação às coisas que nos cercam, às realidades às quais nos apegamos. Desprender-se para ser livre e maduro em relação a Deus! Quem não se desprende de si e das realidades que o cercam não caminha e não é disponível!

O Autor da Carta aos Hebreus nos recomenda largar o fardo, os fardos de nossos apegos – que se tornam fardos de pecado – e correr para o Cristo, nosso “lugar” de encontro com Deus e nossa meta: “Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor, rejeitando todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é proposto, com os olhos fixos naquele que é o Autor e realizador da fé, Jesus... (Hb 12,1-2a)”. É a atitude daquele cego de Jericó, que, “deixando sua capa, levantou-se e foi até Jesus” (cf. Mc 10,50). 

Temos nós nossas capas, cheias de bens – esmolas, migalhas da vida... 
Sabemos deixá-las para ir ao encontro Daquele que nos chamou e nos espera?
Que coisas me prendem? Que ideias, sentimentos, atitudes, pessoas, me impedem de ser generoso e livre? Quais os meus fardos de pecado?

É preciso pensar nestas coisas com sinceridade, diante de Deus! É preciso sair de nós, é preciso ir largando os fardos, pesados e leves, se quisermos, de verdade o Infinito, o Eterno, o Amor, a Verdade, o Tudo... Olhe, olhe, que para isto não há mágica, não há atalho, não há desvio, não há desconto! Este é o caminho: andai por ele!


sábado, 24 de agosto de 2019

Homilia para o XXI Domingo Comum - ano c

Is 66,18-21
Sl 116
Hb 12,5-7.11-13
Lc 13,22-30

No Evangelho deste Domingo, Jesus continua Seu caminho para Jerusalém, rumo à Sua Paixão, Morte e Ressurreição. Seu caminho é o dos cristãos. Pois bem, no caminho, fazem-Lhe uma pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” É daquelas perguntas que Jesus não responde, porque se fundam na curiosidade inútil e não naquilo que Ele veio revelar e inaugurar: o Reino de Deus, que exige de nós uma total e contínua abertura de coração e uma resposta de amor para segui-Lo no caminho. 

Hoje, é tão comum apresentarem um cristianismo de curiosidade sobre o fim dos tempos, sobre milagres, sobre curas; um cristianismo interesseiro, que busca somente emoção e solução de problemas... Tudo isso é um falso cristianismo: vazio, anti-evangélico (mesmo quando se diz “evangélico”) e sem sentido algum... Um cristianismo que trai o Cristo!

Ao invés de responder a pergunta que Lhe fizeram, o Senhor vai direto ao ponto que realmente interessa... Por isso, responde com uma advertência: Não é da nossa conta se são muitos ou poucos os que se salvam. Interessa, isso sim, que tenhamos uma tal atitude hoje, no presente de nossa vida, em relação ao Seu Evangelho, que possamos herdar a salvação: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão”. Portanto, o Senhor chama nossa atenção para o presente, para o concreto da nossa vida aqui e agora, como estamos nos posicionando agora em relação a Ele.

Mas, por que afirmar que a porta é estreita e que muitos tentarão e não conseguirão? Será que Deus nos preparou uma armadilha? Será que o Senhor pensou a salvação para uma elite espiritual, para uns poucos eleitos? De modo algum! Deus “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade!” (1Tm 2,4) A porta é estreita não porque o Coração de Deus é estreito, mas porque nos tornamos grandes demais, autossuficientes demais, prepotentes demais, demasiadamente cheios de nós mesmos! A porta é estreita porque nossas manhas sãos largas... Portanto, há um combate a ser travado em nós, para nos adequarmos ao Reino de Deus. Seguindo nossa lógica, nossos instintos, nossas paixões, não entraremos! Não entrará no Reino quem primeiro não deixar o Reino entrar em si, no seu coração e na sua vida!

E há ainda mais dois aspectos importantes para os quais o Senhor chama a nossa atenção:

(1) Haverá um momento final, definitivo, decisivo e irremediável: “Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’”. Cuidemos, portanto, porque haverá um momento final, um julgamento definitivo, um Céu ou um Inferno que nunca passarão! Não nos esqueçamos disso; não brinquemos com isso!

(2) Há ainda um segundo aspecto: Seremos julgados por nossa relação com Ele, o Cristo Senhor. Se hoje O amarmos, se hoje vivermos o Seu Evangelho, se hoje praticamos a justiça do Reino que Ele trouxe, seremos reconhecidos por Ele; caso contrário, seremos rejeitados: “Começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de Mim todos vós que praticais a injustiça’”. Nosso futuro está ligado à nossa atitude concreta em relação ao Senhor Jesus hoje! Por isso mesmo, hoje escutemos a advertência do Autor da Carta aos Hebreus: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga a quem aceita como filho. Portanto, firmais as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos, acertai os passos dos vossos pés”. É no hoje da vida que o Senhor nos espera; é no nosso presente que o nosso futuro eterno é decidido. Como tenho vivido meu hoje, meu presente em relação ao Senhor? Vou construindo meu céu ou meu inferno?

E, uma última advertência seríssima da Palavra de Deus deste Domingo: que ninguém se iluda pensando ser membro da Igreja, ser batizado, ser filho de Deus, pois o Senhor olha o coração. Sermos batizados não é somente uma honra, mas é também um dever, uma responsabilidade imensa. Quantos pagãos, quantos ateus, quantos não-católicos, são mais generosos que nós! Quantos seriam melhores cristãos e melhores católicos que nós! Por isso mesmo, Jesus, nosso Senhor, nos previne: Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”. Como os judeus, que eram primeiros e perderam a prioridade para nós, cristãos, assim também nós, apesar de cristãos, podemos perder a prioridade para os pagãos. Recordemos que ser cristão não é nunca mera questão de tradição, de costume, mas é, antes de tudo, uma relação viva de amor e empenho sempre renovado em relação ao Senhor que nos chamou a segui-Lo! Esse amor vivo e sempre renovado é a única garantia de receber a salvação, de encontrar a porta aberta – e a porta é o próprio Cristo!

Que Ele, na Sua misericórdia, nos faça encontrar Seu Coração aberto, para que Nele vivamos por toda a Eternidade. Amém.


terça-feira, 20 de agosto de 2019

A resposta para todas as perguntas

Meu caro Leitor, permita-me partilhar com você alguns pensamentos que brotam do meu coração nestes dias.

Realmente, o modo de agir de Deus nos surpreende totalmente: primeiro, Ele Se revela Se escondendo. É assim na criação, é assim na história, é assim na Igreja, é assim na vida de cada um de nós...
Depois, vem a nós de modo pessoal, concreto, visível, palpável, no Seu Filho, o Amado. Mas, Jesus nosso Senhor, ao revelar-Se nos desconcerta, Se esconde, em certo sentido, porque nos cega o entendimento!
Como assim? - pergunta-me você.

Não é Se esconder, não é dar um nó no nosso juízo revelar-Se frágil, pobre, derrotado numa cruz, incapaz de salvar-Se? Vimo-Lo sofredor, vimo-Lo homem de dores, vimo-Lo cravado na Cruz, vimo-Lo morto, deixamo-Lo, cadáver, no túmulo... Mas vivo, ressuscitado, glorioso, triunfante, não O vimos diretamente, não O tocamos em primeira mão!
– Senhor, por que é sempre assim? Por que és como a água: quando vamos prender-Te em nossas mãos, Tu nos escapas e exiges que creiamos? Deixas rastros, atrás de Ti deixar marcas, sinais... Mas, és assim: revela-Te escondendo-Te, dá-Te retendo-Te para Te dares plenamente somente na Glória final!

Eis por que o Apóstolo não hesita em afirmar já há dois mil anos o que hoje sentimos tão forte (cf. 1Cor 1,22-25): “Os judeus pedem sinais, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos”.
O sinal que Deus apresenta para Israel, o remédio que Deus preparou para curar a violação da Lei é o Seu Filho crucificado, morto e ressuscitado! E mais: a explicação, a resposta que Deus continua a contrapor à humana soberba, à uma razão que pensa que se basta a si mesma, é o Filho, que somente pode ser visto agora e agora apreendido na fé, por quem dobra os joelhos e cala o coração!

Meu Leitor paciente e amigo, olhemos para nós, o novo Povo de Deus, Igreja santa, Mãe católica, o Povo nascido da Morte e Ressurreição de Cristo. Não somos mais obrigados a cumprir os detalhados preceitos da Lei de Moisés, mas somos convidados a olhar o Crucificado, cujo corpo macerado é o lugar do perdão e do encontro com Deus, o lugar da nova e eterna Aliança... Olhando o Crucificado, ouçamos, mais uma vez, como Israel: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da casa da escravidão, da miséria do pecado e da morte, da escuridão de uma vida sem sentido! Eu te dei o Meu Filho amado! Não terás outros deuses diante de Mim!”

Compreende, Irmão? Os preceitos do Antigo Testamento passaram; não, porém, a exigência de um coração todo de Deus, um coração que O ame, um coração sem divisão! E, para nós, a exigência é ainda maior, porque Israel não tinha ainda visto até onde iria o amor de Deus; quanto a nós, sabemos: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16).

Meu caro em Cristo, convertamo-nos! Você e eu ergamos os olhos para o Crucificado, “Poder de Deus e Sabedoria de Deus”, e mudemos de vida! Que nossa fé não seja fingida, superficial, descomprometida, mundana; que nossa religião não seja simplesmente uma prática fria e sem desejo de real conversão ao Senhor nosso! Que nunca caiamos na ilusão de deixar que nossa fé, nossa adesão a Cristo seja medida pelo mundo, pelo politicamente correto, pelas ideologias da moda! Cristo crucificado e ressuscitado interpreta a julga o mundo, não o contrário!

Crer de verdade exige que nos coloquemos debaixo do preceito de amor do Senhor! Estejamos atentos à advertência tremenda do Evangelho: “Vendo os sinais que Jesus realizava, muitos creram no Seu Nome. Mas Jesus não lhes dava crédito, pois conhecia a todos... conhecia o homem por dentro” (Jo 2,24).
- Ah, Senhor Jesus! Tem piedade de nós!
Converte-nos a Ti e, depois, olha o nosso coração convertido e dá-nos a Tua salvação!
Piedade, Senhor! Livra-nos de ser um desses, que creem, mas não merecem a Tua confiança, porque mantêm o coração longe de Ti e apegado ao mundo!
Na Tua misericórdia infinita, converte-nos e conduze-nos às alegrias da Glória eterna!
A Ti a glória, Cristo-Deus, pelos séculos dos séculos! Amém.



terça-feira, 13 de agosto de 2019

Homilia para a Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus

Hoje celebramos a maior de todas as solenidades da Mãe de Deus: a sua Assunção gloriosa ao Céu.

A oração inicial da Missa hodierna pediu: “Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do Vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua glória”. A Liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, resumiu aqui o essencial desta solenidade santíssima.
Com efeito, Deus elevou à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, ela, tão pequena, tão humilde, foi elevada a Deus, ao Céu, à plenitude em todo o seu ser, corpo e alma!
Como isso é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? Isto dizem os pagãos, isto dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, aqueles que não têm esperança em Cristo Jesus, os que se conformam com a morte...
Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a Vida, nosso ponto final é a Glória no Coração de Deus: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isto que Deus nos preparou por meio de Cristo Jesus, nosso Senhor – bendito seja Ele para sempre!

Mas, repetimos, insistimos: como isso é possível?
A Palavra de Deus deste hoje no-lo afirma, de modo admirável. Escutai, irmãos, escutai, irmãs, consolai-vos todos vós: “Cristo ressuscitou dos mortos, primícia dos que morreram. Em Cristo todos reviverão, cada qual segundo uma ordem determinada; em primeiro lugar Cristo, como primícia!”
Eis por que ressuscitaremos: porque Cristo, primícias dos que ressuscitam, ressuscitou! Eis como ressuscitaremos: como Cristo, primícias e modelo dos que ressuscitam, ressuscitou!
Jesus de Nazaré, feito humano como nós, caríssimos, imolado por nós e, por nossa causa, ressuscitado, agora é o Senhor!
O nosso Jesus é Deus bendito e foi ressuscitado pela Glória do Pai!
O nosso Senhor Jesus venceu e nos faz participantes da Sua vitória, dando-nos o Seu Espírito Santo!

Credes nisto, meus caros? Neste mundo que só crê no que vê, que só leva a sério o que toca, que só dá valor ao que cai no âmbito dos sentidos, credes que Cristo está vivo e é Senhor, primícia, princípio de todos os que morrem unidos a Ele?
Pois bem, escutai: o Cristo que ressuscitou, que venceu, concedeu plenamente a Sua vitória à Sua Mãe, à Santíssima Virgem Maria, que esteve sempre unida a Ele.
Ela, totalmente imaculada, nunca se afastou do Filho: nem na longa espera do parto, nem na pobreza de Belém, nem na fuga para o Egito, nem no período de exílio, nem na angústia de procurá-Lo no Templo, nem nos anos obscuros de Nazaré, nem nos tempos dolorosos da pregação do Reino, nem no desastre da Cruz, nem na solidão do sepulcro no Sábado Santo... Nem mesmo após, nos dias da Igreja, quando discretamente, ela permanecia em oração com os irmãos do Senhor... Sempre imaculada, sempre discípula perfeita, sempre perfeitamente unida ao Senhor! Assim, após a sua preciosa morte, que chamamos devotamente de “dormição”, ela foi elevada à glória do Céu, isto é, à glória de Cristo que ressuscitou e é primícia da nossa ressurreição!

A presente Solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: Nele está a Vida e a ressurreição; Nele, a esperança de libertação definitiva! Por isso, todo aquele que crê em Jesus nosso Senhor e é batizado no Seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor. Quanto ao nosso corpo, será destruído e, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós.
Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte! Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi ressuscitada, glorificada em corpo e alma, foi elevada ao Céu! Podemos, portanto, exclamar como Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o Fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!”
Inundada da Glória do Cristo Jesus, cumpre-se em Maria Virgem, de modo admirável, a palavra da Escritura Santa: “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos; se com Ele sofremos, com Ele reinaremos!” (2Tm 2,11) Quem mais plenamente morreu com Cristo naquela Cruz? Que mais perfeitamente sofreu com o Senhor naquela Paixão? Pedro, crucificado de cabeça para baixo? Paulo, decapitado? Lourenço, queimado vivo? Inácio de Antioquia, devorado pelas feras? Benditos todos esses e todos quantos morreram pelo Senhor! Mas, somente a Virgem sofreu com Ele como mãe: Mãe do Condenado, Mãe do Crucificado, Mãe do Homem de Dores, Mãe Daquele que pendeu na dura Cruz! A Ele perfeitamente unida na dor – Virgem das Dores na Paixão, Virgem da Piedade com o filho morto nos braços, Virgem da Soledade no tremendo Sábado Santo -, ela é, agora, Virgem da Glória, totalmente transfigurada na Glória do seu filho glorificado! A Palavra do Senhor não engana, não mente: “Se com Ele sofrermos, com Ele reinaremos; se com Ele morrermos, com Ele viveremos!” Reina com Ele a Virgem que com Ele sofreu! Vive com Ele a Mãe santíssima que com Ele morreu na sua maternidade naquele Calvário tremendo! Nela, cumpre-se em plenitude, em completude, perfeitamente, a santíssima promessa do Senhor: “A morte foi absorvida pela vitória! Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?” (1Cor 15,54s)

Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada a Glória, no seu destino pleno de criatura. Nela aparece claro a obra da salvação que Cristo realizou! Ela é aquela Mulher vestida do sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja! A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do Seu Cristo!” Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela!

Caríssimos, quanto nos diz esta solenidade! A oração inicial, citada no início desta homilia, pedia a Deus: “Dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua glória”. Eis aqui qual deve ser o nosso modo de viver: atentos às coisas do Alto, onde está Cristo, onde contemplamos a Virgem já totalmente glorificada em Cristo.
Caminhar neste mundo sem no prendermos a ele... Aqui somos estrangeiros, aqui estamos de passagem, aqui somos peregrinos; lá é que permaneceremos para sempre: nossa pátria é o Céu, onde está Cristo, nossa Vida!
O grande mal do mundo atual é entreter-se com suas malditas ideologias, com seu consumismo, com sua tecnologia, com seu bem-estar, com seu divertimento excessivo e esquecer de viver atento às coisas do Alto. Mas, pior ainda, os cristãos também muitas vezes são infectados por essa doença! Nós, que deveríamos ser as testemunhas do Mundo que há de vir, quantas vezes vivemos imersos, metidos somente nas ocupações deste mundo – muitos até com o pretexto de que estão trabalhando pelos irmãos e por uma sociedade melhor. Nada disso! Os pés devem estar na terra, mas o coração deve estar sempre voltado para o Alto! Não esqueçamos: nosso destino é o Céu, participando da Glória de Cristo, da qual a Virgem Maria já participa plenamente! Aí, sim, poderemos cantar com ela e como ela: “A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador: o poderoso fez em mim maravilhas!” Ele, que glorificou a Virgem Imaculada e haverá de nos glorificar, seja bendito agora e para sempre. Amém.


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Neste último Domingo, o que nos falou o Senhor... (II)

Ao pequenino rebanho, o Senhor Jesus promete o Reino! Mas, o que significa tal promessa? O Senhor Deus somente reina em nós quando nos esvaziamos de nós mesmos e dos nossos apegos. Deus não pode reinar num coração cheio de si. Não pode porque respeita totalmente a nossa liberdade! Alguns versículos depois, o nosso Salvador exorta: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,33s). Em resumo: esvaziai-vos de vós mesmos, deixai de endeusar coisas, pessoas, situações... Tudo passa, tudo é fugaz, tudo se consome...

Como poderemos, verdadeiramente, esvaziarmo-nos de nós mesmos? O Senhor indica um caminho: ter diante dos olhos, ter no coração que nossa vida aqui é passageira, que o definitivo é somente o Reino e no Reino: “Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede semelhantes a homens que esperam seu senhor voltar das núpcias, a fim de lhe abrir, logo que ele vier e bater” (Lc 12,35s). Rins cingidos, lâmpadas acesas: vigilância no meio da noite deste mundo; o coração fixo na bendita e fiel memória do Senhor que virá! É isto que dá ânimo, é isto que nos faz relativizar as coisas e situações deste mundo, mantendo-nos na viva consciência de que o Senhor vem ao nosso encontro!
É disto que trata a comovente primeira leitura deste Domingo, quando recorda os nossos pais quando da escravidão no Egito: “Aquela noite fora de antemão conhecida por nossos pais, para que tivessem ânimo, sabendo com certeza em que promessa haviam crido. Teu povo esperava já a salvação dos justos e a ruína dos inimigos... De comum acordo, estabeleceram esta lei divina: que os santos compartilhassem igualmente bens e perigos, e começaram a entoar os hinos dos Pais” (Sb 18,6s.9b). A firme certeza de que o Senhor viria e libertaria os justos, isto é, os Seus fieis, e puniria os ímpios, já fazia Israel cantar os louvores de Deus e caminhar unido, numa comunidade de irmãos, no caminho da vida!

Não esqueçamos: aqui estamos de passagem; lá, na plenitude do Reino, permaneceremos para sempre! Aqui semeamos, lá colheremos; aqui, as sementes, lá, os frutos; aqui, a penumbra da fé, lá a claridade da visão, aqui, os primeiros tímidos raios da aurora, lá o dia pleno... E, no entanto, ainda vivendo aqui, na penumbra, na aurora de luz ainda indecisa, nunca esqueçamos: “Vós, meus irmãos, não andais em trevas, de modo que esse Dia vos surpreenda como um ladrão; pois todos vós sois filhos da luz, filhos do Dia. Não somos da noite nem das trevas” (1Ts 5,4s).


Neste último Domingo, o que nos falou o Senhor... (I)

Ontem, no Evangelho, o Senhor nosso, Jesus Cristo, ao mesmo tempo nos consolava e nos exortava: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).

Primeiramente, o Senhor nos chama a nós, “Seus discípulos” (Lc 12,22) de “pequenino rebanho”.

Por que, “pequenino rebanho”?

Primeiro, porque sempre seremos poucos, uma minoria, dispersa por toda a terra, “estrangeiros da Dispersão”, como disse o Apóstolo São Pedro, na sua Primeira Carta (1,1). Nós não temos aqui na terra Cidade permanente: estamos a caminho, à procura daquela definitiva, que está para vir (cf. Hb 13,14). Somos como os nossos pais, tão belamente evocados na primeira leitura (cf. Hb 11,1-2.8-19): viveram de fé, viveram tendo o Senhor como sua única certeza, como sua riqueza e esperança; viveram sem construir casas, vivendo debaixo de tendas provisórias! Isto nós somos também: estrangeiros neste mundo, pois nossa pátria é o Céu, pobres, pois nossa riqueza definitiva é o Senhor. Ele mesmo nos exorta a isto: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12,33s). Eis o pequenino rebanho: uns poucos, que têm em Deus sua certeza, sua segurança, sua esperança; uns poucos cuja existência não é alicerçada em seguranças da terra, mas no Céu de onde esperam sempre a salvação!

Também somos “pequenino rebanho” porque é como dizia o Apóstolo São Paulo: “Vede quem sois, irmãos, que recebestes o chamado de Deus; não há entre. Vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa” (1Cor 1,26). A verdade é que não existe nem deve existir uma Igreja de Cristo poderosa, forte grupo de pressão, que grita e impõe! Pode até aparecer, na casca, como fenômeno, como aparência tristemente visível uma Igreja assim – e já apareceu tantas vezes na história; e ainda hoje tantos e tantos, à direita e à esquerda, têm saudades disto! Mas, a Igreja, verdadeiramente, no seu núcleo mais puro e verdadeiro, será sempre aquele rebanho pequeno, que encontra no Senhor a sua força, a sua riqueza, o seu alicerce, a sua razão de ser, o seu tesouro: “Deixarei em teu seio um povo humilde e pobre, e procurará refúgio no Nome do Senhor, o Resto de Israel” (Sf 3,12s). É este Resto, inquieto, esperançoso no Senhor, saudoso do Senhor, teimoso, fiel, que se alimenta da Palavra do Senhor e dos Seus santos Mistérios sacramentais; é este Resto, que não confunde o Evangelho com faniquitos ideológicos de momento, que não procura glória mundana, triunfos mundanos nem aplausos dos bem pensantes de ocasião, que não coloca esperança ou salvação em modas ideológicas pomposas, sedutoras, ilusórias e fugazes, mas somente no Senhor, no Eterno, no Vencedor da Morte; é este o “pequenino rebanho” que receberá o Reino!

“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).
Por que este pequenino rebanho, núcleo duro da Igreja de Cristo, é que receberá o Reino?
Simplesmente porque não se distraindo do essencial, não desviando os olhos do Cristo Jesus, mas “com os olhos fixos Naquele que é o Iniciador e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12,2), não se deixa seduzir pelo mundo e o mundano,
não tira os olhos do único necessário,
não desvia o olhar e o coração do Cristo Jesus,
não se distrai da meta,
não se fecha em si mesmo e nas suas ideias, mas permanece ouvindo como um discípulo,
persiste em crer no Senhor, em procurá-Lo na oração, em esperar Nele, mesmo que tudo pareça perdido,
conserva fielmente no coração a fé católica e apostólica, sem paganizá-la ou fazer concessões mundanas,
teima em avaliar o mundo segundo Cristo e não mundanizar o santo Evangelho do Senhor, deturpando-o,
suporta as tremendas demoras de Deus, correndo com perseverança humilde a corrida que o Senhor nos faz correr (cf. Hb 12,1).

Este é o rebanho pobre, humilde, que não conta para o mundo, que não é querido pelos grandes e sábios do mundo; estes são os que muitas vezes não têm vez sequer no meio de muitos irmãos... Sendo nada, esvaziando de si próprios, eles vão abrindo-se para o Senhor Deus e deixando que Ele reine verdadeiramente nas suas vidas. E, então, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo reina no coração deles e entre eles! “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32).



sábado, 10 de agosto de 2019

Homilia para o XIX Domingo Comum - ano c

Sb 18,6-9
Sl 32
Hb 11,1-2.8-19
Lc 12,32-48

Quando o Evangelho não nos é exigente?
Quando a Palavra de Deus não nos questiona?
A Escritura diz que “a Palavra de Deus é viva e eficaz, mais penetrante do qualquer espada de dois gumes; penetra até dividir alma e espírito, junturas e medulas. Ele julga as disposições e intenções do coração” (Hb 4,12).
A cada Domingo, fazemos experiência dessa exigência viva e eficaz da Palavra do Senhor em nossa vida. É o caso também deste hoje.

Comecemos com a advertência consoladora e carinhosa do Senhor Jesus: Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino”. Tão atual e necessária esta palavra! A fé cristã e a Igreja são tão combatidas atualmente, tão incompreendidas! Ataques externos; incertezas internas; calúnias externas, relativismos e radicalismos internos; ideologias externas, minando a fé internamente!
Cada vez mais, nossa sociedade se paganiza, cada vez mais rejeita o cristianismo, cada vez mais fortemente apostata da fé na qual foi plasmada e cada vez menos compreende o Evangelho e suas exigências. Com quanta força se contesta a moral cristã; com quanta ênfase se ressalta e propaga a fraqueza desse ou daquele membro da Igreja, sobretudo do clero... O interesse é um só: desmoralizar a Igreja como porta-voz do Evangelho. Desmoraliza-se a Igreja para calar-se e desmoralizar-se a moral cristã e suas exigências. E tudo isto tem reflexos internamente! Quantos filhos da Igreja, até mesmo pastores, pensam de modo mundano e falam pensamentos mundanos!
Olhemos o Crucificado, pensemos nas Suas exigências e recordemos o que o mundo pensa e diz: “Não queremos que Ele reine sobre nós!” (Lc 19,14) Pois, bem: a nós, pequeno rebanho - rebanho cada vez menor -, o Senhor exorta: “Não tenhais medo, pequenino rebanho!” Não temais o mundo pagão, não temais os escândalos, não temais vossas próprias infidelidades e fraquezas, não temais os sábios da sabedoria deste mundo, que não podem compreender as coisas de Deus (cf. 1Cor 1,21) e crucificaram e crucificam ainda o Senhor da Glória (cf. 1Cor 2,8). Não temais ante as dificuldades da vida e as incertezas na vida da Igreja!

Mas, como é possível resistir? É tão grande o combate; é tão dramática a batalha! As leituras da Missa de hoje dão-nos uma resposta emocionante. O Livro da Sabedoria nos recorda a noite da saída do Egito. Israel era um povinho, um bando de escravos, menos que nada, menos que ninguém... Como suportou o sofrimento? Como se conservou fiel a Deus? Como resistiu? Como não se dispersou? Resistiu porque colocou somente em Deu sua esperança: “A noite da libertação fora predita a nossos pais, para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos”. O povo de Deus, escravo no Egito, não duvidou da promessa que Deus fizera a Abraão; o povo esperou contra toda esperança e esperou no julgamento de Deus: “Os piedosos filhos dos bons fizeram este pacto divino: que os santos participariam solidariamente dos mesmos bens e dos mesmos perigos”. Um povo unido pela esperança em Deus e pela fé na Sua Palavra. 

A segunda leitura, da Carta aos Hebreus, também nos responde: a fé, mãe da esperança, foi a força dos amigos de Deus. “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. Na fé, já possuímos, na fé, já tocamos com as mãos aquilo que o Senhor nos prometeu e nos preparou. Foi pela fé que nossos antepassados partiram, deixaram tudo; pela fé tiveram a coragem de viver errantes, morando em tendas, daqui para ali... Pela fé, viveram como estrangeiros nesse mundo, colocando toda esperança em Deus, que nos prepara uma Pátria melhor, no Céu; pela fé, Abraão, nosso pai, foi capaz de sacrificar seu filho único... Pela fé deles Deus não se envergonha deles, ao ser chamado o seu Deus”.

Vede, pois, Irmãos: o caminho que o Senhor nos propõe nunca foi fácil... Somente aqueles que tiveram a coragem de se deixar, de se abandonar, de se entregar, perseveraram até o fim. É o que o Senhor nosso, Jesus Cristo, nos propõe hoje: “Vendei vossos bens e dai esmola... Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no Céu... Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas, como homens esperando seu senhor voltar. Ficai preparados!” Todas essas palavras nos convidam ao desapego, à vigilância, à atitude de disponibilidade, de entrega e esperança diante de Deus. E como tudo isso é difícil, num mundo que propõe como ideal de vida o conforto, a fartura de bens, o individualismo, a confiança somente no que se vê, a dispersão interior e exterior!
Dizei: como as crianças podem ter amor a Deus passando horas e horas diante dos filmes e desenhos animados pagãos? Como os adultos podem prender o coração às coisas de Deus, empanturrando-se de dispersão, de novelas e de futilidades mundanas? Como rezar bem se nos apegamos ao conforto desmesurado? Como manteremos nosso fervor dispersos em mil bobagens? Como permanecer atentos ao essencial se vivemos presos às distrações e escravidão das redes sociais? Como seremos realmente fortes na fé sem combater nossos vícios? Como estaremos prontos para levar a cruz na doença, nas dificuldades da vida conjugal, no desafio da educação dos filhos, na luta do combate aos vícios, na busca sincera de sermos retos, decentes e honestos por amor de Cristo? Como viver tudo isso sem a vigilância? Como permanecer firmes na fé católica sem a oração e a procura das coisas de Deus? O Senhor virá na noite desse mundo: “E caso chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão” se nos encontrar vigilantes! Vigiemos, portanto!

Caríssimos, esta advertência é para todos, e de modo especial, para nós, pastores do rebanho, a quem o Senhor constituiu “administrador fiel e prudente”. Que não caiamos na ilusão de pensar: “Meu patrão está demorando” e nos entreguemos à infidelidade! Não temamos; vigiemos, sejamos fiéis até o fim! Não reneguemos o Evangelho! Permaneçamos fieis! – Eis o apelo do Senhor hoje!

Esta palavra vale também para os pais, servos que o Senhor colocou à frente de sua família. Que sejam conscientes da missão que receberam e transmitam aos seus filhos o testemunho de uma fé robusta e dos verdadeiros valores humanos e cristãos. E possam receber a recompensa dos servos bons e fiéis, aqui e por toda a Eternidade. Amém.



quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Alicerçados numa certeza (II)

Deixei, no precedente escrito meu, algumas indagações:

Não seria o cristianismo, não seria a nossa fé católica simplesmente mais uma possibilidade entre tantas, mais uma tentativa ilusória de explicar e enfrentar a existência?
Não seria mais lógico, mais tolerante afirmar, como o fazem as religiões do Extremo Oriente, que o Mistério, o Divino, não pode ser capturado, compreendido e, assim, toda religião é apenas um balbucio humano, tímido, provisório, imperfeito e incompleto sobre este Mistério que é a saudade visceral do coração humano?
Esta visão não seria mais madura, mais tolerante, mais de acordo com o multiculturalismo do mundo globalizado atual?
Uma religião como o cristianismo não seria uma pretensão intolerante de se julgar "dona da verdade"?

A Igreja, o cristianismo, não nasceu de uma procura filosófica, de uma teoria religiosa humana, de uma especulação para matar a saudade do coração e, muito, menos da intenção filantrópica de resolver os problemas da humanidade! Nada disto!

Tudo começou com um fato bem concreto, histórico, desconcertante, envolvendo gente concreta, gente simples, de pouca filosofia... Um fato, concreto como uma rocha, que mudou radicalmente a vida de alguns poucos e, depois, de tantos... Mudou a minha vida e, talvez, também a sua, meu leitor...
Pedro e João dele falaram, bem no iniciozinho do nosso caminho de Igreja neste mundo; falaram diante do Sinédrio de Israel. Eis o fato, eis o desconcerto: “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a Quem vós matastes suspendendo-O no Madeiro. Deus, porém, O exaltou com a Sua Direita, fazendo-O Chefe e Salvador. Nós somos testemunhas destas coisas, nós e o Espírito Santo!” (At 5,30ss).
Eis aqui o princípio de tudo: homens ignorantes, rudes, sem grande instrução religiosa nem posição social (cf. At 4,13) testemunharam corajosamente um fato, uma experiência objetiva que modificou para sempre a vida deles!

Pois bem: quando, na corrida da vida, o turbilhão de ideias e ideologias nos apoquentarem e ameaçarem nos desviar do essencial, recordemos a simplicidade do princípio, a concretude contundente das nossas origens:
Jesus de Nazaré pregador e taumaturgo, crucificado e morto em Jerusalém, numa sexta-feira, 7 de abril do ano 30, fez-Se ver, deixou-Se encontrar, veio ao encontro dos Seus, ressuscitado com Poder pelo Deus de Israel, a Quem chamava de Pai!
Ele mesmo, vivo, vitorioso, soberano, constituiu com autoridade, coragem e sabedoria os Doze primeiros, a ponto de todos eles viverem uma vida errante, despojada, anunciando feito loucos esta notícia incrível, até derramarem o sangue para testemunhar o que viram, ouviram, tocaram!

Cristão, sejas lá quem fores, tu não vieste de uma ideia, tua origem não se funda numa lenda ou numa qualquer ideologia mais ou menos esotérica, com a pretensão de salvar o mundo ou o planeta! Tu vens de Alguém concreto, tua fé se funda num anúncio e num testemunho selado com o próprio sangue! A tua esperança, a tua certeza, o critério das tuas escolhas, a razão do teu viver e do teu agir fundam-se na Pessoa adorável de Jesus nosso Senhor, morto pelos nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação (cf. Rm 4,25).
Atenção, cristão, para não confundires nunca a verdade do Evangelho que te foi anunciado com as fantasias e opiniões tão provisórias deste mundo! Nunca permitas que mudem, adulterem ou escanteiem o sentido primitivo e definitivo da nossa fé e da nossa esperança: o amor a Jesus nosso Senhor como nosso Senhor e Deus, nossa certeza nesta vida e nossa eterna Vida de ressurreição no mundo que há de vir! Recorda-te: os céus e a terra passarão, mas o que te foi anunciado - concreto, verdadeiro, desconcertante! - jamais passará!


"Eu irei ao Altar de Deus, ao Deus que alegra a minha juventude".

Um sacerdote africano enfrentando obstáculos para celebrar o Sacrifício eucarístico com a Igreja e pela Igreja e o mundo inteiro...


Isto não aparece nos meios de comunicação,
isto não faz sucesso...
Isto fica guardado para a Eternidade no Coração de Deus!
Feliz a comunidade que tem um padre assim!

Alicerçados numa certeza (I)

Vivemos num mundo de tantas ideias, diversas, desencontradas e contraditórias... Mil visões sobre a realidade que nos envolve: tem-se opiniões e teorias sobre o universo, sobre a natureza, sobre a história e suas leis, sobre a biologia e ecologia, sobre o psiquismo humano, o sentido da sexualidade, da cultura... No entanto, nenhuma dessas ideias explica e engloba o todo da realidade, nenhuma satisfaz realmente o nosso coração, com suas perguntas infindáveis...

Que fique claro: as ciências não poderão jamais desvendar o sentido da realidade e da vida! Poderão oferecer alguns modelos de interpretação; modelos parciais, provisórios, bem setoriais! Mas, o Sentido mesmo, envolto em Mistério, jamais ciência alguma poderá desvendar! Mais ainda: se tiver tal pretensão, descambará no puro e simples charlatanismo!

Também as religiões: tantas! E agora, com a globalização dos meios de comunicação, das redes sociais e a inédita intensidade de deslocamentos humanos, vamos nos dando conta da diversidade impressionante do modo como a humanidade concebe o Divino, o sagrado e suas relações com Ele...

Até mesmo no interior do próprio cristianismo: nunca se viu tantas denominações, tantas seitas, tantas “igrejas” pegue-e-pague como agora! Ao lado de denominações sérias, há tantas "igrejas" de araque, pastores de araque, missionários de araque com milagres de araque e promessas de araque... Triste vulgarização de coisas tão sérias!
Religião é algo muito sério, pois envolve a busca do Sentido que ilumina de modo global a realidade, a vida e a morte! Religião, no seu sentido mais nobre, não é para solucionar problemas, mas para nortear a existência!

Ante tal realidade tão complexa e inusitada, não são poucos os que se sentem perplexos e se questionando se existe mesmo a "Verdade" e a "religião verdadeira". Não seria o cristianismo, não seria a nossa fé católica simplesmente mais uma possibilidade entre tantas, apenas mais uma tentativa ilusória de explicar e enfrentar a existência?
Não seria mais lógico, mais tolerante afirmar, como o fazem as religiões do Extremo Oriente, que o Mistério, o Divino não pode ser capturado, compreendido e, assim, toda religião é apenas um balbucio humano, tímido, provisório, imperfeito e incompleto sobre este Mistério que é a saudade visceral do coração humano? Esta visão não seria mais madura, mais tolerante, mais de acordo com a multiculturalidade do mundo globalizado atual?
Uma religião como o cristianismo não seria uma pretensão intolerante de se julgar "dona da verdade"?

Deixo estas perguntas... Num texto seguinte, neste mesmo espaço, concluirei estes pensamentos...



terça-feira, 6 de agosto de 2019

Homilia para a Festa da Transfiguração do Senhor

Na liturgia católica, este 6 de agosto é Festa da Transfiguração do Senhor. 

Eis-nos, portanto, caríssimos, com Pedro, Tiago e João, ante o Senhor nosso Jesus Cristo, envolvido pela Nuvem luminosa (cf. Lc 9,31), que cobre os discípulos com Sua sombra, como cobriu a Virgem Maria na Anunciação; eis o Senhor Jesus totalmente transfigurado, com vestes brilhantes e alvas “como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar” (Mc 9,3); eis Jesus ladeado por Moisés e Elias, totalmente glorificados na Glória do Senhor nosso Salvador...
Que significa, caríssimos, este belíssimo Mistério?

Como o Deus Santo de Israel, sobre o Monte Sinai, que revelou Sua Glória a Moisés e depois a Elias, assim também hoje, no Monte Tabor, Jesus revela a Sua Glória, a Glória de Filho de Deus, a Glória divina que é Sua, mas que se escondia na Sua pobre condição humana de Servo, por Ele assumida para nos salvar: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua Glória, Glória que Ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14).

Hoje, caríssimos, o Pai, envolvendo o Filho Amado com a Nuvem, símbolo do Santo Espírito, nos revela antecipadamente a Glória que Jesus nosso Senhor, na Sua natureza humana igual à nossa, teria depois da Ressurreição: “Efetivamente, Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida Glória se fez ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o Meu Filho bem-amado, no qual ponho o Meu bem-querer’” (2Pd 1,17).

Olhemos para Jesus: Ele é divino, Ele é o Filho amado, igual ao Pai em glória; Ele é o nosso Deus Salvador!
Se Moisés e Elias, sobre o Monte Horeb, não puderam ver o Rosto de Deus, agora, no Tabor, eles contemplam, com o rosto descoberto, a Glória fulgurante de Deus que se manifesta na Face de Cristo! Realiza-se de modo admirável nestes dois amigos de Deus da Antiga Aliança, o que nos é prometido a todos, na Nova e Eterna Aliança: “Todos nós, que com a face descoberta, contemplamos como num espelho a Glória do Senhor, somos transfigurados nesta mesma imagem, cada vez mais resplandecente, pela ação do Senhor, que é Espírito” (2Cor 3,18).

Eis, meus caros irmãos: em Cristo, Deus Se revelou a nós, que Nele cremos e Nele fomos batizados, recebendo o Seu Espírito; em Cristo, Deus veio ao nosso encontro! Ele Se fez um de nós, assumiu nossa pobreza humana para nos enriquecer com a Glória da Sua divindade. E essa Glória, Ele no-la mostra hoje sobre o Tabor; essa Glória é o nosso destino, é a nossa herança! Na Ceia derradeira, pensando no Espírito de Glória que derramaria sobre Seus discípulos de todos os tempos nos sacramentos da Igreja, o Senhor nosso diria: “Eu lhes dei a Glória que Tu me deste” (Jo,17,21). Esta Glória, nós já a possuímos realmente, mesmo que, neste mundo, ainda vejamos o Senhor de modo imperfeito, como num espelho, pois ainda “caminhamos pela fé e não pela visão (2Cor 5,7).

Mas, atenção! Nos três evangelhos que narram a Transfiguração, está dito que esta manifestação gloriosa do Senhor aconteceu pouco depois do primeiro anúncio da Sua Paixão. O que isso quer dizer? Duas coisas importantíssimas:

Primeiro, que a Paixão não é um fim, a Paixão não é derrota, mas o modo que Deus tem de vencer; a Paixão é caminho para a Glória.
E aqui, precisamente, a segunda lição: não se pode entrar na Glória de Cristo sem passar pela Cruz do Senhor; como dizia São João da Cruz: “Quem não ama a Cruz de Cristo, não verá a Glória de Cristo!”
Glória de Cristo sem cruz, sem conversão, sem combate, sem sair de nós e de nossas medidas, simplesmente não é possível; seria uma ilusão, uma mentira! Anunciar uma salvação em Cristo, uma participação na Glória de Cristo, sem conversão, sem abraçar a Cruz de Cristo, seria uma falsa propaganda, um falso evangelho! Não é por acaso que Jesus proíbe os discípulos de contar o que eles viram sobre o Monte “até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. É que jamais se poderá compreender a Glória de Cristo sem antes se ter participado do mistério de Sua Cruz.
Uma glória sem a experiência da cruz seria triunfalista, antievangélica, idolátrica, mundana. Somente a Glória que brota do amor da Cruz é divina, verdadeira, libertadora, humanizadora, reveladora do Coração do Pai! Do mesmo modo, não é por acaso que Pedro, Tiago e João, que estiveram com Jesus no Tabor, deveriam também estar com Ele no Monte das Oliveiras, convidados a fazer-Lhe companhia no momento em que Ele “começou a apavorar-Se e a angustiar-Se” (Mc 14,33). Infelizmente, aqueles lá - como nós tantas vezes -, no Tabor queriam armar tendas e ficar ali; nas Oliveiras, dormiram e deixaram Jesus sozinho...

Eis, caríssimos, o sentido do Mistério de hoje! Cristo feito homem é Deus verdadeiro, vivo e perfeito, é o Deus de Israel com rosto e coração humanos. Cristo, como aparece hoje no Tabor, já nos mostra a Glória que o transfiguraria para sempre. Cristo, envolvendo Moisés e Elias com a Sua Glória, revela que é Nele que a Lei e os profetas encontram a luz e chegam à plenitude. Cristo, inundando de luz a Seus discípulos, envolve-os na Sua Glória, revelando qual o nosso destino: participar da luz da Sua Glória por toda a eternidade! Mas, tudo isso, passando pelo mistério da cruz!

Hoje, estamos nós aqui, celebrando a Santa Eucaristia, sacrifício do Cordeiro morto e glorificado... Hoje, o Tabor é aqui; hoje, é aqui, nos sinais eucarísticos, que se manifesta a Glória do Senhor Jesus porque nos é dado o Espírito do Senhor, que eucaristiza, que transfigura, que transubstancia o pão e o vinho, elementos deste mundo, como a natureza humana de Jesus, em Corpo e Sangue do Cristo Senhor imolado e ressuscitado, pleno de Espírito de Glória! Comungando no Seu Corpo e no Seu Sangue é Sua Glória que nos inunda, é Sua graça que nos fortalece, é Sua Vida eterna e divina que nos revigora.
Mas, nunca esqueçamos: como o Cristo do Tabor era Aquele que haveria de morrer e ressuscitar, o Cristo da Eucaristia é o Cordeiro vivo mas quebrado, partido em Eucaristia, a nós dado na Sua amorosa imolação! É este mistério, irmãos amados, que devemos viver na nossa vida: trazer em nós continuamente a participação na paixão e morte do Senhor para que a Sua Glória e a Sua Vida vão nos inundando, vão transfigurando a nossa existência, as nossas experiências, até o Dia eterno, no Tabor eterno da Glória sem fim! Este é o caminho de Cristo, o único que é segundo o Evangelho! Por isso mesmo, o Pai nos adverte: “Este é o Meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9,7) Diz com a palavra, diz com os gestos, diz com a vida, diz com Sua Morte e Ressurreição. Então, escutar Jesus é predispor-se a participar do Seu caminho, do Seu destino de cruz e de glória, de morte e ressurreição.
Não sejamos amigos do Tabor e inimigos do Horto das Oliveiras! Não seríamos discípulos, não seríamos cristãos! Sustentemos os combates da vida com os olhos fixos em Cristo e, nas escuridões desta nossa humana peregrinação, tenhamos diante dos olhos a esperança da Glória de Cristo, “como lâmpada que brilha em lugar escuro, até clarear o Dia e levantar-se a Estrela da manhã”. Mas, que Estrela é essa, de que fala a Palavra de Deus? O Apocalipse responde, com as palavras do próprio Cristo glorioso: “Eu Sou o Rebento da estirpe de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (Ap 22,16).
Eis, portanto: os tempos são maus, a confusão é grande, os inimigos da fé de dentro, solapando a verdade do Evangelho! Suportemos, unidos a Cristo, o combate, sabendo que “quando Cristo nossa Vida aparecer, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é” (1Jo 3,2). A Ele a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.