terça-feira, 23 de setembro de 2014

Homossexualidade e cristianismo...

Vai de vento em popa na nossa sociedade a canonização da prática homossexual...
A este respeito, gostaria de propor algumas reflexões – e peço que você, meu caro Amigo, procure ponderar bem o que estou dizendo. Não pretendo aqui levantar bandeiras ou promover cruzadas...

Leia com calma o que escrevo, procurando compreender e contextualizar minhas palavras no todo do que entendo afirmar.

Quero deixar claro que falo para cristãos, para aqueles que desejam orientar sua vida e seu pensar segundo o Evangelho tal qual recebemos da Tradição Apostólica e nos é ensinado pela Santa Igreja de Cristo. Meu objetivo aqui é somente ajudar os católicos a pensar esta complexo tema da homossexualidade à luz do Cristo Jesus. Só isto!

Eis os tópicos que gostaria de apresentar:

1. É necessário que as pessoas homossexuais sejam respeitadas e não sejam estigmatizadas por suas tendências sexuais. A violência contra homossexuais – sejam elas físicas ou morais – é um crime e, diante de Deus, um pecado.
Cada pessoa deve ser respeitada com suas características e sua história, suas escolhas e seu modo de viver, desde que isto não prejudique os demais.

2. Também é correto desejar que cada pessoa tenha o direito de viver sua vida de acordo com seus valores e sua  própria consciência, desde que respeitando o bem comum e as normas da boa convivência social.
No entanto, não é aceitável que minorias homossexuais organizadas queiram impor a toda a sociedade seus valores e seu modo de pensar, destruindo o sentido genuíno do que seja família e do que seja casamento, valores que alicerçam nossa cultura e nossa sociedade. Não é admissível que uma ideologia de minoria destrua valores sagrados e consagrados de uma imensa maioria!
Por exemplo: Se duas pessoas do mesmo sexo desejam viver juntas "maritalmente", é um direito de escolha delas. Também é um direito delas que a legislação preveja os direitos e deveres oriundos dessa convivência. Mas, não é um direito querer impor a toda a sociedade chamar esta situação de "matrimônio", pois aqui se muda o conceito de matrimônio da totalidade da sociedade! Uma coisa é respeitar o direito de uma minoria, outra, bem diferente, é uma minoria impor a toda uma maioria a mudança de valores fundamentais como a família e o matrimônio como relação estável e aberta à vida entre um homem e uma mulher. O direito de uns não deveria solapar o direito de outros!

3. O sincero respeito que se deve ter pelos homossexuais não deve e não pode significar que todos tenham a obrigação de fazer uma avaliação positiva da homossexualidade e, menos ainda, da prática homossexual.
Respeitar a pessoa, suas tendências, suas opções, sim.
Quanto à avaliação de suas ações e modo de viver, depende dos critérios que alguém tome como norte e sentido da existência humana... E este também é um direito sagrado: direito a ter um sistema de valores, com noção clara do que é correto e do que é errado...
Deste modo, para um ateu, o critério é ele próprio e seu modo de pensar; ele mesmo é sua medida - e nisto deve ser respeitado!
Para um crente, o critério do certo e do errado é o próprio Deus: ao que Deus chama errado, o crente somente poderá chamar de errado também! Assim sendo, para um cristão, o critério de tudo - também das questões ligadas à sexualidade - é o Cristo tal qual crido e anunciado pela Igreja dentro da Tradição Apostólica. O cristão não se funda nas modas, não fundamenta seus critérios na voz da maioria, mas em Cristo Jesus, como Verdade última para a humanidade.
O cristão deve respeitar a opinião dos demais, mas a sua opinião funda-se em Cristo Jesus!

4. Pensemos agora num cristão homossexual.
Para um mundo pagão como o nosso, para pessoas que não têm como critério o Evangelho, ser homossexual e viver a homossexualidade não são problema algum; como não o é a infidelidade conjugal, como não o são as relações pré-matrimoniais e outras realidades mais...
E por que isto? Porque não se crendo em Cristo, não é Ele o critério! E qual é o critério? Em geral - e digo-o com todo o respeito! - o critério dos não-crentes são eles próprios, seu modo de pensar, sentir e viver... É um direito deles: pensarem e viverem como desejarem!

Mas, para alguém que creia em Cristo e deseje viver segundo a fé cristã, o ser homossexual traz sim dificuldades, conflitos e dores. E isto porque o critério da vida de um cristão não é a moda, não é a mentalidade dominante, não é nem mesmo a própria pessoa; o critério é a norma do Evangelho, expressa na fé da Igreja.
Portanto, isto exige - para todo aquele que crê - deixar-se sempre a si mesmo para abraçar, na própria vida e com a própria vida, a norma de vida de um Outro – Daquele que disse: “Quem quiser ser Meu discípulo, renuncie-se a si mesmo e siga-Me!” – não é e não será nunca uma tarefa fácil!
Crer é sair de si à procura de um Outro, é deixar-se para encontrar-se no Outro, é tomar o Outro como critério, norma e caminho da própria vida! E isto em todos os aspectos da existência, também na questão da sexualidade e da homossexualidade!
Assim, uma coisa é um homossexual ateu ou não-cristão - sua norma é seu próprio pensamento e medida; outra coisa é um homossexual cristão - sua norma é o preceito de Cristo!

5. Um homossexual cristão deve sim procurar corajosamente aceitar sua realidade homossexual, mas não para viver do seu jeito e sim do jeito de Cristo! Portanto, para um cristão, aceitar a própria homossexualidade não significa vivê-la de qualquer jeito, mas colocá-la debaixo do senhorio de Cristo!
E qual é o jeito de Cristo? Qual a Sua norma para a sexualidade humana?
Certamente que essa norma é aquela da vida sexual como expressão do amor e da entrega a outra pessoa, numa tal comunhão que, selada pelo sacramento do matrimônio, seja até à morte e aberta de modo fecundo aos filhos que Deus der.
Para Deus, tal qual nos foi revelado na perene Tradição apostólica – sejamos claros – a norma é a heterossexualidade e não a homossexualidade! Para um cristão homossexual certamente isto provoca uma séria crise!
Mas, atenção a qui: todos nós temos nossas crises... também no campo afetivo e sexual... Crer nos colocará sempre em crise, pois nos revela o que somos e nos convida a partir em direção do que deveríamos ser aos olhos do Senhor! É verdade, no entanto, que a crise no tocante à sexualidade é muito mais séria e estrutural!
E é preciso que se diga: para um cristão com tendência homoafetiva, a homossexualidade tem a marca da cruz – é sim uma cruz! Mas, o nosso Salvador Jesus disse: “Toma a tua cruz e segue-Me!” Em outras palavras: “Segue-Me com tua homossexualidade! Segue-Me com as crises e dificuldades nas quais ela te coloca! Eu estarei contigo no teu pranto, na tua solidão, no teu medo! Eu continuarei a ti amar, a ti esperar, a acreditar na tua capacidade de superação! Eu nunca me cansarei de te amar! Toma a tua cruz, deixa-te, vem Comigo; cresce à Minha medida, medida da humanidade livre, transfigurada, redimida, como o Meu Pai do Céu sonhou!”
Um homossexual que deseje viver seriamente sua fé cristã deve saber que é amado pelo Senhor, que não é rejeitado pela Igreja, mas que deve – como também os heterossexuais – colocar sua sexualidade debaixo do senhorio de Cristo:
deve lutar para ser casto, para ser reto, para fugir de toda leviandade e imoralidade;
deve claramente reconhecer que os atos homossexuais, aos olhos do Senhor Deus, não são moralmente corretos como a relação heterossexual no casamento...
Por isso é muito importante que um homossexual cristão procure a ajuda de um sacerdote ou de um cristão maduro, ponderado, fiel a Cristo e à Igreja que possa ajudá-lo no seu caminho. Quem não precisa da ajuda dos outros no caminho de Cristo? Não é isto a Igreja? Não é isto que nos manda a fé cristã: ter uma orientação espiritual com alguém que saiba curar as próprias feridas e as dos outros?

Atenção que isto não vale só para os homossexuais... Pense num jovem que deseje levar a sério sua castidade, num esposo que de verdade procure ser fiel, num político que sinceramente deseje ser honesto... Crise e luta para sair do seu critério e abraçar o critério do Senhor são uma herança de todo cristão - e Jesus no-lo preveniu!

E se houver quedas no caminho desse irmão homossexual? E se as amizades descambarem para atos homossexuais?
É não desanimar: como qualquer cristão, trata-se de olhar para o Cristo, pedir perdão no sacramento da Penitência e recomeçar o caminho, procurando vencer o pecado!

E se um homossexual cristão, mesmo reconhecendo que os atos homossexuais não são moralmente agradáveis a Deus, não conseguir ser casto, e procurar viver com outra pessoa do mesmo sexo, inclusive tendo uma vida sexualmente ativa?
Nem assim deve pensar que já não é cristão! Deve reconhecer claramente que sua situação não é o ideal diante de Deus; objetivamente falando,  é de pecado! No entanto, deve viver uma vida o quanto possível digna diante do Senhor e dos homens. Não deve deixar a oração nem a frequência à Santa Missa e deve dizer sempre – todos nós devemos dizer sempre com o coração, o afeto, a alma e também com as lágrimas: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador! Não condigo subir a Ti; desce à minha miséria, toca a minha situação! Nada é impossível para Ti!”
Certamente que aquele que se decida por uma vida de prática de atos homossexuais não deve se confessar sacramentalmente nem receber a comunhão eucarística; mas pode sim procurar sempre o conselho e a ajuda de um sacerdote ou de um cristão que o auxilie no caminho de seu seguimento a Cristo.
É muito importante compreender que não há miséria e drama humanos que não possam ser atingidos pela cruz do Senhor!
Não se trata de chamar certo ao que é errado ou de avaliar como virtude ao que é fraqueza aos olhos do Senhor; trata-se, sim, de ter misericórdia, de acolher, de ter compaixão do outro! Eis: a verdade na caridade e a caridade verdadeira!

Triste daquele que vir o irmão levando pesado fardo e ainda aumentar-lhe o peso com o desprezo e a rejeição!
O pecado deve ser chamado sempre pecado, mas o pecador deve ser sempre acolhido com misericórdia e respeito e tratado como um irmão. Quem de nós não é pecador? Quem de nós não é ferido? Quem de nós não tem suas doenças espirituais? "Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra!" - assim nos corrige o Senhor, o único sem pecado!

6. Não sabemos por que algumas pessoas nascem homossexuais.! Nem mesmo as ciências sabem ao  certo... Sabemos que elas não escolheram a tendência que possuem; sabemos também que não são moralmente doentes – há tantos homossexuais tão dignos e generosos!
Mas, sabemos que elas podem seguir o Senhor e devem fazer o melhor de si para serem santos, para serem cristãos de verdade!
O resto, coloquemos nas mãos do Senhor, com os olhos fitos em Cristo, que morreu por todos de modo tão atroz, exatamente porque grande é a profundidade de nossas misérias e contradições!
Diante de mistérios assim, diante dos enigmas da existência, diante da dor e da cruz dos irmãos, devemos olhar para o céu e pronunciar, comovidos e humildes, aquela sábia bênção judaica, que cabe muito bem nos lábios de um cristão: “Bendito sejas Tu, Senhor nosso Deus, que guardas os segredos!” Isto mesmo: Ele sabe os mistérios! Ele conhece o motivo; Ele sabe o porquê. Nós não sabemos nada!

7. Esta é a diferença entre o pensar cristão e a perspectiva do mundo atual, pós-cristão e até anti-cristão: para esse mundo, a vida é sem Deus mesmo: cada um é a sua verdade, a sua medida e o seu próprio critério; cada um faz o que bem entende com a existência! Um cristão respeita esse modo de ver e viver; mas de modo algum pode concordar com ele...
Para o cristão, a vida é dom, é mistério a ser vivido diante de um Outro que nos ama e a quem deveremos prestar contas.
Num mundo sempre mais pagão e menos cristão, vai ficando difícil compreender estas coisas...

Aos pais cristãos que tenham filhos homossexuais, eu digo: acolham-nos com amor e respeito, ajudem-os a definir os valores de sua vida segundo os critérios de Cristo, não os abandonem nunca nem os tratem com desprezo, mostrem-lhes sempre Jesus como ideal e caminho de felicidade e realização e, no fim de tudo, rezem muito por eles e os respeitem no rumo que derem à vida, desde que digno e responsável, sem leviandades ou desrespeito ao sagrado recinto do lar! Atenção que respeitar os homossexuais não é pensar que eles também não devam respeitar limites e regras!

8. Quanto aos jovens “felizes e realizados” com sua “opção” sexual, tais como o mundo os deseja e propaga, paciência: é o modo de pensar e viver dos que já não conhecem a Deus e Seu Cristo Jesus!
Que Nosso Senhor também a esses - como a nós todos! - mostre a luz bendita do Seu Rosto para que vejam o verdadeiro sentido da vida e encontrem a verdadeira paz e realização!

Não podemos impor aos não-crentes nossos valores; por eles podemos rezar, amá-los e anunciar-lhes Jesus Cristo integralmente, sem máscaras nem descontos, Ele que é Caminho, Verdade e Vida da humanidade e de cada pessoa! 

sábado, 20 de setembro de 2014

XXV Domingo Comum: Converter-se, para estar com Cristo!

Is 55,6-9
Sl 144
Fl 1,20c-24.27a
Mt 20,1-16a

Tomemos como norte de nossa meditação da Palavra que o Senhor nos dirige neste Domingo a leitura primeira da Liturgia sagrada, retirada da profecia de Isaías.
O profeta convida-nos, dirigi-nos um apelo para que busquemos o Senhor, O invoquemos, voltemos para Ele.
Eis aqui, caríssimos, um grito tão necessário nestes tempos do homem cheio de si, preocupado consigo, embriagado pelos seus próprios feitos e tão confiado em suas próprias ideias!
Tempos difíceis, estes, de tentação de reduzir Deus à medida do homem e forçar Deus a dizer “amém” à mentalidade do homem, à infidelidade do homem, ao pecado do homem!
O profeta grita-nos, tão atual, quase que nos prevenindo, ameaçando-nos, advertindo-nos: “Buscai o Senhor; invocai-o! Que volte para o Senhor!”

Mas, isso significa ter a coragem de sair de si mesmo para abraçar os pensamentos e caminhos do Senhor!
Pensem bem, caríssimos, que felicidade, que graça: abraçar os desígnios de Deus, entrar no Seu projeto, viver a Sua proposta!
Pensem bem: não seria isso a sabedoria plena, a felicidade verdadeira da humanidade e do mundo?
Não seria isso viver na verdade, viver de verdade?

E, no entanto, isso não é possível sem um doloroso e generoso processo de conversão!
Porque, infelizmente, os pensamentos do Senhor não são os nossos e os nossos caminhos não são os do Senhor! Que triste desacordo, que desencontro danado!
Escutem: “Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os Meus caminhos, diz o Senhor!”
Isto não é brincadeira: o homem sozinho não pensa como Deus, não caminha no caminho de Deus: nem na ONU nem na Casa Branca nem no Palácio do Planalto nem no Congresso nem mesmo na Igreja ou no nosso coração!
Somente a conversão pode nos elevar ao pensamento de Deus e fazer com que nossos caminhos sejam os Dele: “Abandone o ímpio seu caminho e o homem injusto, suas maquinações; volte para o Senhor!”
Voltar para o Senhor! Volta, ó homem do século XXI, para o Senhor! Deixa tua autossuficiência, teu cinismo, deixa tua ilusão de pensar que sabes tudo, que és maduro o bastante para prescindir de Deus! Tu não és o centro; tu não és a medida de todas as coisas, tu não és o critério do bem e do mal! “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-O, enquanto está perto; volte para o Senhor, que terá piedade,  volte para o nosso Deus, que é generoso no perdão!”

O Senhor nos procura, como o dono da vinha do Evangelho de hoje – e procura-nos com insistência: sai de madrugada à nossa procura, porque o amor tem pressa, o amor anseia encontrar a pessoa amada. E, como o amor é insistente, o Senhor vem sempre, a cada momento, em cada ocasião, sempre à nossa procura: pelas nove, ao meio-dia, pelas três; e até mesmo às cinco da tarde, quando o sol já se esconde, o Senhor vem novamente! Sempre é tempo de conversão, sempre é tempo de voltar para o Senhor!
Aí, então, experimentaremos que tudo é graça, que o pensamento de Deus para nós é amor que não é mesquinho, que sabe tratar a todos com generosidade, fazendo primeiro no Seu Reino aquele que tem coragem de crer no amor, de ir ao encontro do Senhor mesmo que seja a última hora!
Ó mundo, ó humanidade, ó cristão, voltai para o Senhor!
A única coisa que vos pede é que acrediteis no Seu amor generoso e no Seu perdão abundante, e vos convertais de todo o coração!

Converter-se, caríssimos, significa entrar na maravilhosa experiência que São Paulo testemunha na segunda leitura de hoje: viver de um modo novo, de um viver diferente: “Para mim, viver é Cristo! Cristo vai ser glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte!”
Eis, que ideia tão bela do que seja a conversão: viver em Cristo!

Notemos os passos do pensamento do Apóstolo. Ele é tão unido a Cristo, tão apaixonado pelo Salvador, que seja na vida seja na morte, sabe que está unido ao seu Senhor e em tudo o Senhor é nele glorificado.
Que é a vida para quem voltou para o Senhor? A vida é Cristo!
Que é a morte para quem vive mergulhado no Senhor? A morte é estar com Cristo e, por isso, é lucro!

Por isso, a vida de Paulo – e a do cristão, com Paulo – é atraída para o seu Senhor: “Tenho o desejo de partir para estar com Cristo!” Eis por que Paulo vive, eis para que vive: para estar com Cristo!
Aqui, uma observação importante: prestem atenção que São Paulo sabe muito bem que assim que morrer vai estar com Cristo! Por isso mesmo ele diz que isso “para mim, seria de longe o melhor!” Jamais o Apóstolo compartilharia a afirmação errônea das denominações protestantes, que pensam que os que morrem em Cristo ficam dormindo! Se ficassem, não seria melhor para Paulo partir para estar com Cristo; seria melhor continuar vivendo e trabalhando pelos irmãos!
A certeza dos cristãos é bem outra: assim que morrermos, vamos estar com o Senhor: vamos “partir para estar com Cristo!” Nosso corpo, é verdade, permanecerá no sono da morte até o Dia de Cristo... Mas, “sabemos que, se nossa morada terrestre for destruída, teremos no Céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas” (2Cor 5,1)
Portanto, nem a vida nem a morte nos podem mais separar do amor de Cristo! É só voltarmos para o Senhor, é só procurá-Lo de todo o coração com nosso afeto, com nossos atos, com nosso desejo sincero de a Ele nos converter de todo coração!

Caríssimos, buscai o Senhor, voltai para o Senhor, invocai o Senhor! E, lembrai-vos: Ele é tão bom, que Se deixa encontrar! Primeiro nos atrai e, depois, deixa que O encontremos e, como o senhor da parábola, nos enche de dons, sem levar em conta a hora em que nos convertemos em trabalhadores da Sua vinha!
Mas, quereis saber qual é a hora da conversão? Esta, agora!

Voltai para o Senhor! Amém.

sábado, 6 de setembro de 2014

XXIII Domingo Comum: Uma Comunidade chamada Igreja, uma Comunidade chamada Amor


Ez 33,7-9
Sl 94
Rm 13,8-10
Mt 18,15-20

Nossa meditação da Palavra do Senhor neste Domingo pode ser desenvolvida em cinco afirmações. Ei-las:

(1) Cristo está presente na Sua Igreja; jamais a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em Meu Nome, Eu estou aí, no meio deles”.

Quantas vezes tal afirmação foi distorcida como se bastasse que uns quatro gatos pingados se reunissem com a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso!
O sentido é exatamente o contrário! Aqui, neste capítulo 18 de São Mateus, Jesus está falando sobre a vida da Igreja, comunidade que Ele fundou e entregou aos apóstolos, tendo Pedro por chefe.

Os dois ou três aos quais Se refere o Senhor  são o contrário do isolamento, do que se julga melhor que os demais e, sozinho, pensa ser o guardião do desígnio do Senhor Deus! Os dois ou três aqui são os líderes da Comunidade que vão decidir a questão do irmão que não quer ouvir os outros e divide a Comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na terra – e são os pastores (os Bispos com o Papa) que têm, em última análise, essa responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu!”

A autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo especial, deu-a também aos demais Bispos, os pastores autênticos da Sua Igreja, em comunhão com Pedro.

Pois bem, onde dois ou três, como Igreja, estiverem reunidos em Nome do Senhor, Ele estará ali, ratificando suas decisões.

Que fique claro: não se pode agradar a Cristo, ser-Lhe fiel, isolando-se, rompendo com a Sua Comunidade, os dois ou três, comunidade chamada Igreja! Ela, por mais que seja frágil por causa da nossa fragilidade, é a Comunidade que o Senhor reuniu, sustenta e na qual Se faz presente e atuante!

(2) Essa Igreja é uma Comunidade de amor.
O amor cristão não é simplesmente amizade ou simpatia humana, mas o fruto da presença do próprio Espírito de Amor, o Espírito Santo em nós: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm 5,5) É desse amor divino e divinizante que fala São Paulo no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios; é esse amor que “cobre uma multidão de pecados” (Tg 5,20), é esse amor que é “a plenitude da Lei”.
Só ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar pelo Seu Espírito de amor!

Ora, caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente impregnado desse amor, mais forte que nossas diferenças de temperamento, de opiniões, de modo de agir...
Onde está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o amor reina, o Reino de Deus está presente neste mundo! A Igreja deve ser o lugar do amor, lugar do Reino!

Mas, fique claro: não somos nós quem produzimos tal amor: é o Senhor Quem no-lo dá quando o recebemos no sacramentos; é o Senhor Quem fá-lo crescer em nós quando somos abertos e dóceis à Sua graça!

(3) Essa Comunidade de amor chamada Igreja  é Comunidade de compromisso, de responsabilidade no seguimento de Cristo.
Por isso, não se pode usar o amor para acobertar a covardia, a malandragem espiritual, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e os desmandos na Comunidade! O amor é exigente: “O amor de Cristo nos impele” (cf. 2Cor 5,14).
A infidelidade ao amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente, o pecado, que gera a divisão, a desunião, que faz sangrar a Igreja.

Por isso o próprio Jesus nos exorta à correção fraterna, desde aquela simples, feita entre irmãos, até a correção formal e mais solene, feita pelo Bispo ou até mesmo pelo Papa, como Chefe Supremo da Igreja de Cristo neste mundo: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas; se ele não der ouvido, dize-o à Igreja”. A Igreja tem sim o poder das chaves (autoridade para punir e para reconciliar o que foi punido) dado pelo próprio Cristo Senhor!

Muitas vezes, vê-se confundir amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo de não corrigir, de deixar passar, de mascarar o erro, o pecado, a infidelidade, a frieza...

Ora, a correção é um modo de amar, é um modo de preocupar-se com o outro e com a Comunidade que é ferida pelo pecado e o mau exemplo. A correção pode salvar o irmão!

Quantos escândalos nas nossas Comunidades poderiam ter sido evitados se houvera a correção no momento oportuno e do modo discreto e sincero que Jesus nos recomenda, ou melhor, nos ordena. Isso vale para a Igreja menorzinha, que é nossa família doméstica, vale para o grupo do qual participamos, vale para a paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do Reino de Deus”, mas a de Cristo!), espalhada por toda a terra.
A omissão em corrigir é covardia, é falta de amor à Comunidade que é a Igreja, é pecado de omissão e desatenção pelo irmão.

Certamente, tal correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá um preceito encantador: “In tribulationem subvenire” – poderíamos traduzir assim: “socorrer na tribulação”. Mas, a palavra latina é subvenire: vir por baixo, vir de baixo. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de quem está por cima para massacrar!
Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na pobreza do presépio e na humilhação da cruz! Aí a correção terá mais chance de surtir efeito! Uma correção assim edifica a Igreja e é sinal do Reino de Deus!

(4) Na Comunidade de amor às vezes pode ser necessária a punição. Pode ser que não surta efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é corrigido teime na sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê tal possibilidade no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que tal irmão seja punido.
Que escândalo para a nossa mentalidade atual, que confunde ser bom com ser bonzinho e misericórdia com conivência com o pecado e falta de coragem de corrigir!

A nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras que agradam! No entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo, mas deverá ser sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a correção, restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão.
Que os pais tenham a coragem de corrigir; os Bispos e o Santo Padre também!

Corrigir é querer o bem do outro, corrigir é deixar claro o que é errado e o que é correto, é dar ao errado a possibilidade de cair em si e deixar o erro, é evitar que outros caiam também, é deixar claro aos que se esforçam pelo bem que vale a pena permanecer no que é certo, justo, louvável e virtuoso segundo Cristo! É este o espírito do Evangelho, o ensinamento dos Apóstolos!

(5) Qual o fruto de uma comunidade assim?
A saúde fraterna: a alegria de viver como irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão!”

Oh, que palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui o motivo último da correção fraterna! Pensemos bem, caríssimos: a Igreja não é um clube de amigos, mas uma família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor Jesus Cristo que nos une. A alegria da comunhão fraterna somente será experimentada na sinceridade das nossas relações.
Correção, sim; crítica destrutiva, murmuração, difamação, não!
Neste sentido, todos nós precisamos fazer um sério exame de consciência, seja em nível de família, como naquele de grupos e paróquias e até mesmo de Diocese!

São esses os aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do Senhor pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu pecado, a culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e viverá ele – eis a marca do Reino de Deus neste mundo!

Que ele aconteça em nossas comunidades! Amém.