Para nós, católicos, neste hoje
começa o tempo da Quaresma, que, ao contrário do que pensam alguns, nada tem a
ver com o carnaval. Tratam-se, os dias quaresmais, de um período de quarenta
dias. Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, prolongando-se até a Quinta-feira
Santa, antes da Missa na Ceia do Senhor. É um tempo privilegiado de conversão,
combate espiritual, jejum e escuta da Palavra de Deus. Na Igreja Antiga, este
era o tempo no qual os catecúmenos (adultos que se preparavam para o Batismo)
recebiam os últimos retoques em sua formação para a vida cristã: eles deveriam
entregar-se a uma catequese mais intensa e aos exercícios de oração e
penitência. Pouco a pouco, toda a Comunidade cristã - isto é, os já batizados
em Cristo -, começou a participar também deste clima, tanto para unir-se aos
catecúmenos, como para renovar em si a graça de seu próprio batismo e o fervor
da vida cristã, preparando-se, assim, para a santa Páscoa. Deste modo, surgiu a
Quaresma: tempo no qual os cristãos, pela purificação e a oração, buscam
renovar sua conversão para celebrarem na alegria espiritual a Santa Vigília de
Páscoa, na madrugada do Domingo da Ressurreição, renovando suas promessas
batismais.
Sendo um tempo de combate
espiritual, a quaresma tem suas práticas peculiares:
(1) A oração: neste tempo os cristãos se
dedicam mais à oração. Uma boa prática é rezar diariamente um salmo ou, para os
mais generosos, rezar todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Pode-se,
também, rezar a Via Sacra às sextas-feiras!
(2) A penitência: todos os dias quaresmais (exceto os domingos)
são dias de penitência. Cada um deve escolher uma pequena prática penitencial
para este tempo. Por exemplo: renunciar a um lanche diariamente, ou a uma
sobremesa, etc... A penitência quaresmal tem como finalidade nos disciplinar,
fortalecer-nos contra os vícios e nos unir a Cristo no mistério da sua cruz. Na
Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa os cristãos jejuam: o jejum nos
faz recordar que somos frágeis e que a vida que temos é um dom de Deus, devendo
ser vivida em união com ele. Os mais generosos podem jejuar todas as
sextas-feiras da quaresma. Farão muitíssimo bem! Recordem-se os católicos que,
às sextas-feiras, não devem comer carne; e isto vale para o ano todo!
(3) A esmola: trata-se da caridade
fraterna. Este tempo santo deve abrir nosso coração para os irmãos: esmola,
capacidade de ajudar, visitar os doentes, aprender a escutar os outros,
reconciliar-se com alguém de quem estamos afastados - eis algumas das coisas
que se pode fazer neste sentido! Neste ano, a Igreja no Brasil, na Campanha da
Fraternidade, lembra-nos o problema grave e muito ignorado do tráfico de seres
humanos. Uma vergonha para nossa sociedade uma profanação da imagem de Deus
inscrita em todo homem que vem a este mundo! “É para a liberdade que Cristo
nos libertou” (Gl 5,1) – é o lema da Campanha neste ano.
(4) A leitura da Palavra de Deus: este é
um tempo de escuta mais atenta da Palavra: o homem não vive somente de pão, mas
de toda Palavra saída da boca de Deus. Seria muitíssimo recomendável ler
durante este tempo o Livro do Êxodo ou o Evangelho de São Mateus. Também como
leitura espiritual, é muito aconselhável tomar um bom livro que trate das
coisas de Deus e de nossa união com ele.
(5) A conversão: “Eis o tempo da conversão!”, diz-nos a Escritura. Que
cada um veja um vício, um ponto fraco, que o afasta de Cristo, e procure lutar,
combatê-lo nesta Quaresma! É o que a Tradição ascética de Igreja chama de
“combate espiritual” e “luta contra os demônios”. Nossos demônios são nossos
vícios, nossas más tendências, que precisam ser combatidas. Os antigos davam o
nome de sete demônios principais: a soberba, a avareza, a tristeza (hoje diz-se
a inveja), a preguiça, a ira, a gula, a sensualidade. Estes demônios geram
outros. Na quaresma, é necessário identificar aqueles que são mais fortes em
nós e combatê-los!
Este tempo sagrado é marcado também
por alguns sinais especiais nas celebrações da Igreja: A cor da liturgia é o roxo - sinal de sobriedade, penitência
e conversão; não se canta o “Glória”
nas missas (exceto nas solenidades, quando houver); não se canta o “aleluia” que, é sinal de alegria e
júbilo. Os cantos da missa devem ter uma melodia simples; não é permitido que
se toque nenhum instrumento musical,
a não ser para sustentar o canto, em sinal de jejum dos nossos ouvidos, que
devem ser mais atentos à Palavra de Deus; não é permitido usar flores nos altares, em sinal de
despojamento e penitência (nos casamentos
e outras festas, as igrejas, devem ser enfeitadas com muita sobriedade!); a partir da quinta semana da quaresma podem-se
cobrir de roxo ou branco as imagens,
em sinal de jejum dos sentidos, sobretudo dos olhos.
O importante é que todas estas
práticas nos levem a uma preparação séria e empenhada para o essencial: a
Páscoa! As observâncias quaresmais não são atos folclóricos, mas instrumentos
para nos fazer crescer no processo de conversão que nos leva ao conhecimento
espiritual e ao amor de Cristo. Tenhamos em vista que o ponto alto do caminho
quaresmal é a renovação das promessas batismais na Santa Vigília pascal e a
celebração da Eucaristia de Páscoa nesta mesma Noite Santa, virada do sábado
para o Domingo da Ressurreição.
Que todos católicos possam ter uma
intensa vivência quaresmal, para celebrarmos na alegria espiritual a santa
Páscoa do Senhor! Quanto ao Carnaval, cuidado com ele! Todo excesso é indigno
do ser humano maduro e livre e indigno de Deus! Se um cristão vai brincar
nesses dias, que o faça sem renegar sua fé e sua adesão ao Cristo!
Obrigado, Senhor, por nos dar D. Henrique, como pastor.
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