sábado, 25 de janeiro de 2014

Amor, entre a verdade e a mentira, o sublime e o rasteiro

Palavra gasta, hoje em dia, a palavra amor. Ela está nas novelas da TV, nas canções, na boca dos jovens... Em seu nome, pregam-se as maiores aberrações e fazem-se as coisas mais egoístas. Amor, hoje, tornou-se, muitas vezes, sinônimo de paixão, sexo, sentimentalismo... Com o amor justifica-se a infidelidade, a falta de compromisso, a depravação, a destruição da família, o abandono de valores e dos compromissos assumidos... O amor vale mais que tudo – justifica-se! Mas, trata-se, realmente de amor?

Com acuidade perceptiva, o Papa Emérito Bento XVI, com sabedoria e acuidade tão atuais, já chamou atenção que amor é paixão, é sim êxtase, mas não a paixão irracional, cega, centrípeta ou o êxtase do inebriamento irracional, irresponsável, entorpecido. Ao invés, é paixão porque é totalizante, entusiástico, envolvente; é êxtase porque é um sair de si, um esquecer-se de si, com liberdade, maturidade e entrega, para doar-se a Deus e aos outros. Só este êxtase, este sair, é digno do amor e é fruto do verdadeiro amor. Como disse e fez Jesus, “não há maior prova de amor que dar a vida...” O resto é egoísmo disfarçado. O verdadeiro amor amadurece, liberta, gera vida; o falso, infantiliza, escraviza, mata...

Penso que poderíamos exprimir bem a beleza, doçura e sentido profundo do amor verdadeiro com as palavras de São Bernardo de Claraval, monge cisterciense e grande místico do século XII: “O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar! Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu Princípio, volte à sua Origem, mergulhe em sua Fonte, sempre beba donde corre sem cassar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque sabe que serão felizes pelo amor aqueles que O amarem”.

Perfeita, a percepção de São Bernardo: Grande coisa é o amor, contado que vá a seu Princípio: Deus; contanto que volte à sua Origem: Deus! O verdadeiro amor, mais que o coração humano, tem sua fonte no próprio coração de Deus e mais que parar no objeto amado, tem seu termo no próprio Deus. É o amor que, em última análise, nos faz imagem de Deus.

Quem dera que nós, olhando o Cristo crucificado, de coração e braços abertos, morrendo para dar vida, reaprendêssemos o verdadeiro e definitivo sentido do substantivo amor e do verbo amar.





O mundo, as trevas, a Luz

A primeira leitura da Missa de hoje é, em parte, a mesma da Noite do Natal: "O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu! Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade! Todos se regozijam em Tua presença". Irmãos, esta luz que ilumina as trevas, que dissipa as sombras da morte, que traz a felicidade, é Jesus. O texto do Evangelho que escutamos no-lo confirma: Jesus é a bendita luz de Deus que brilhou neste mundo! Ele mesmo afirmou: "Eu sou a luz do mundo! Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida!" (Jo 8,12). Já escutamos tanto tais afirmações, que corremos o risco de não perceber o quanto são revolucionárias, o quanto nos comprometem, o quanto são capazes de transformar a nossa vida!

A Palavra de Deus nos ensina que o mundo é marcado pelas trevas: trevas na natureza (tais como as tragédias provocadas por impressionantes fenômenos da natureza), trevas na história (como as guerras, as injustiças, as violências e opressões), trevas no coração da humanidade e de cada um de nós. Olhemos em volta! O mundo não é bonzinho: há forças destrutivas, caóticas, desagregadoras, forças diabólicas, que destroem a alegria de viver e ameaçam devorar o sentido da nossa existência...

Hoje, tantos e tantos julgam que podem passar sem Deus, que a religião é uma bobagem e uma humilhação para o homem adulto e cheio de razões... Há tantos que zombam de Deus, do Cristo Jesus, da Igreja... O que vale no mundo atual? O que é importante? O que conta realmente? O sucesso, os bens materiais, o prazer e a curtição da vida ao máximo, sem limites, sem peias... Será que não nos damos conta ainda que vivemos num mundo novamente pagão, novamente bárbaro, novamente entregue ao seu próprio pensar tenebroso? Será que não percebemos que o que vemos e lemos e ouvimos dos meios de comunicação é a defesa de uma humanidade sem Deus e sem fé, de uma humanidade que tenha somente a si própria como deus? Será que não percebemos nas novelas e em tantos espaços da internet o quanto os valores cristãos e até mesmo aqueles genuinamente humanos são renegados, solapados clara ou veladamente? Num mundo assim, Jesus nos diz: "Eu sou a Luz!" A luz não está nas universidades, a luz não está nos famosos deste mundo, a luz não está nos que têm o poder político, econômico ou social, a luz não está nos valores ditados pela mídia! A Luz é Cristo! Só Ele nos ilumina, só Ele nos revela o sentido da existência, só Ele nos mostra o caminho por onde caminhar! Ser cristão é crer nisso, é viver disso!

Pois, esse Jesus, hoje, no Evangelho, nos convida a convertermo-nos a Ele, a segui-Lo de verdade, a colocar os passos de nossa vida no Seu caminho: "Convertei-vos! O Reino dos céus está próximo!" Eis o apelo que Jesus nos faz - far-nos-á sempre! Converter-se significa mudar totalmente o rumo de nossa existência, alicerçando-a Nele e não em nós, abraçando o Seu modo de pensar e deixando o nosso, seguindo Sua Palavra e não simplesmente a estreita medida da nossa razão, nossas ideias, nossa cabeça dura, nosso entendimento curto! Quem vai arriscar? Quem vai caminhar com Ele? Quem vai abraçar Sua Palavra, tão diferente do que o mundo quer, do que o mundo prega, do que o mundo valoriza? "Convertei-vos!" Jesus nos exorta porque sabe que também nós andamos em trevas, também nós, simplesmente entregues à nossa vontade e aos nossos pensamentos, jamais poderemos acolher o Reino dos Céus!

Não nos iludamos! Não pensemos que somos sábios, centrados e imunes! Somos, nós também, cegos, curtos de entendimento, pecadores duros e teimosos! Nosso coração é embotado por tantas paixões e por tantas cegueiras! "Convertei-vos!" Daqui a pouco, carnaval à vista, o governo brasileiro, sem nenhum compromisso com valores cristãos nenhuns, vai convidar tantos e tantos brasileiros a vestirem-se de camisinha; o Senhor pede a todos que se vistam Dele: "Revesti-vos de Cristo e não satisfareis os desejos da carne!" (Rm 13,14) Compreendem, irmãos? O mundo vai para um lado; Jesus nos convida a ir para o outro! Converter-se é pensar diferente de nós mesmos e do mundo; é andar na contramão para caminhar com Cristo! A conversão gera uma luta, uma cisão tremenda: não somente entre mim e o mundo, mas também e ainda mais entre mim e eu mesmo! Sim: entre mim do meu modo e eu do modo de Cristo, eu segundo o Evangelho! Converter-se será sempre deixar-se, como Pedro e André, Tiago e João que, "imediatamente deixaram as redes... deixaram a barca e o pai" e seguiram o Senhor!

Caríssimos, como não recordar a exortação do Apóstolo? "Não andeis como andam os pagãos, na futilidade de seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus!" (Ef 4,17) Quando aceitamos esse desafio, esse convite, o sentido de nossa existência muda, porque começamos a enxergar e avaliar as coisas de um modo novo, um modo diferente: o modo de Cristo Jesus! Aí se realiza em nós a palavra da Escritura: "Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz!" (Ef 5,8).


Amados em Cristo, amado de Cristo, deixar-se iluminar pelo Senhor, permitir que Ele dissipe nossas trevas, é um trabalho, um processo que dura todo o nosso caminho neste mundo. Jamais estaremos totalmente convertidos, totalmente iluminados. Na segunda leitura da Missa, São Paulo convidava os cristãos de Corinto à conversão para uma vida de união e de amor. É assim: a Igreja toda inteira e cada um de nós pessoalmente, seremos sempre chamados a essa mudança, a esse deixar que a luz de Cristo invada a nossa existência tenebrosa! Nunca esqueçais, caríssimos, porque é verdade: "Outrora, sem Cristo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor! Andai, pois, como filhos da luz!" Seja esse o nosso trabalho, seja essa a nossa identidade, seja essa a nossa herança, seja essa a nossa recompensa! E que o Senhor nos socorra com a força da Sua graça, Ele que é fiel e bendito para sempre! Amém.


sábado, 18 de janeiro de 2014

Eis o Cordeiro, o Servo!

Na segunda-feira passada, entramos no Tempo Comum. Hoje, com este Domingo, estamos iniciando a segunda semana desse Tempo verde; verde de quem caminha no pequeno dia-a-dia cheio de esperança, porque sabe que o Filho de Deus veio habitar entre nós, entrou nos nossos tempos para santificar os pequenos e aparentemente insignificantes momentos de nossa vida: "O Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós" (Jo 1,14). Para nós, nunca mais o tempo, a vida e a história humana serão a mesma coisa! Agora, tudo tem o gosto da presença de Deus, nossos tempos têm sabor de eternidade, gostinho da Vida de Deus, do companheirismo misericordioso de Deus, o Eterno, o Infinito que está para além do tempo e dos nossos tempos! Então, que este Tempo Comum seja, para todos nós, tempo de graça, tempo de vigilância amorosa, tempo de esperança invencível!
Neste segundo Domingo Comum, a Palavra de Deus ainda nos liga ao Batismo do Senhor, celebrado no Domingo passado. Recordemo-nos do que vimos na Festa que encerrou o santo Tempo do Natal: Jesus foi batizado por João Batista e ungido pelo Pai com o Espírito Santo como Messias de Israel: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o Meu bem-querer!" (Mt 3,17). Recordemos que o Pai Lhe revelou o caminho pelo qual Ele deveria passar para cumprir Sua missão: o caminho do Servo Sofredor de Isaías, pobre e humilde: "Ele não clama nem levanta a voz, nem Se faz ouvir pelas ruas". Servo manso e misericordioso: "Não quebra a cana rachada nem apaga o pavio que ainda fumega". Servo perseverante no serviço de Deus: "Não esmorecerá nem Se deixará abater". Servo que será redenção para o povo de Israel e para todas as nações, dando-lhes a luz, o perdão e a paz: "Eu o Senhor, Te chamei para a justiça e Te tomei pela mão; Eu Te formei e Te constitui como aliança do povo, luz das nacões, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos das prisões, livrar do cárcere os que viviam nas trevas!" (Is 42,2-4.6-7)
Pois bem, o Evangelho de hoje aprofunda ainda mais este quadro impressionante, que nos revela a missão de Cristo Jesus: "João viu Jesus aproximar-Se dele e disse: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Em aramaico, língua que João e Jesus falavam, "cordeiro" diz-se talya, que significa, ao mesmo tempo "servo" e "cordeiro". Então, "eis o Cordeiro-Servo de Deus, que tira o pecado do mundo!" Mas, que Cordeiro? Aquele, expiatório, que segundo Levítico 14, era mandado para o deserto, colocado fora da cidade, carregando os pecados de Israel... Como Jesus que "para santificar o povo por Seu próprio sangue, sofreu do lado de fora da porta" (Hb 13,12) de Jerusalém, como um rejeitado, um condenado renegado. Repitamos a pergunta: Que Cordeiro? Aquele cordeiro pascal de Ex 12, cujos ossos não poderiam ser quebrados (cf. Jo 19,36); cordeiro comido como aliança de Deus com Israel! Que cordeiro? – insistamos na pergunta! Aquele, cujo sangue, aspergido sobre o povo, selará a nova e eterna aliança entre Deus e o povo santo (cf. Ex 24,8; Mt 26,27). Jesus é esse Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, tomando-o sobre Si! E que Servo? O Servo sofredor anunciado pelo Profeta Isaías. Já ouvimos falar Dele no Domingo passado; fala-nos Dele novamente a Liturgia deste Domingo hodierno: Servo predestinado desde o nascimento: o Senhor "Me preparou desde o nascimento para ser Seu Servo"; Servo destinado a recuperar e salvar Israel: "que Eu recupere Jacó para Ele e faça Israel unir-se a Ele; aos olhos do Senhor esta é a Minha glória"; Servo destinado não só a Israel, mas a todas as nações: "Não basta seres Meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: Eu Te farei luz das nações, para que Minha salvação chegue aos confins da terra". Eis, portanto, quem é o nosso Jesus: o Cordeiro, o Servo! Nele, feito homem, Nele, sofrido como nós, nele, morto e ressuscitado, no Seu corpo macerado em sofrimentos e transfigurado em glória, Deus reuniu e formou um novo povo, o verdadeiro Israel, a Igreja – esta que hoje se reúne como Assembleia santa em torno do Altar e esta mesma, reunida em toda a terra e, como diz São Paulo hoje, "em qualquer lugar" onde o Nome do Senhor Jesus é invocado! Eis: Este povo que Cristo veio reunir, esta Igreja que o Senhor veio formar somos nós, já santificados no Batismo e chamados a ser santos por nosso procedimento, por nosso seguimento ao Senhor!
João reconheceu em Jesus este Messias, tão humilde e tão grande: Ele é o próprio Deus: "passou à minha frente porque existia antes de mim!" E como Deus feito homem, Ele é o único e absoluto Salvador de todos – e absolutamente não há nem pode haver salvação sem Ele ou fora Dele! João reconhece Nele o ungido, Aquele sobre Quem o Espírito "desceu e permaneceu". O próprio Jesus dará testemunho desta realidade: "O Espírito do Senhor repousa sobre Mim, porque Ele Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor" (Lc 4,18-19). João reconhece Nele ainda Aquele que, cheio do Espírito Santo, batizará no Espírito Santo: "Aquele sobre Quem vires o Espírito descer e permanecer, Este é o que batiza com o Espírito Santo". Batizando-nos no Espírito, este Santíssimo Jesus-Messias dá-nos o perdão dos pecados, a Sua própria vida divina e a graça de, um dia, ressuscitar dos mortos!
Enfim, João dá testemunho de que Esse Jesus bendito é mais que um Servo, mais que um Crodeiro, mais que um Profeta: Ele é o Filho de Deus: "Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!"
Que mais dizer, ante um Messias tão humilde e tão grande? "Senhor Jesus Cristo, Santo Messias, Servo e Cordeiro de Deus, cremos em Ti, a Ti seguimos, em Ti colocamos nossa vida e nossa morte! Sustenta-nos, pois em Ti esperamos: Tu és o sentido de nossa existência, a razão de nossa vida e o rumo da nossa estrada! Queremos seguir-Te, a Ti, tão pequeno e tão grande; queremos morrer Contigo e Contigo ressuscitar-nos para a Vida eterna; queremos ser testemunhas do Reino do Pai que plantaste com Tua bendita vinda. Senhor Jesus, a Ti amamos, em Ti esperamos, em Ti vivemos! Sê bendito para sempre. Amém".

sábado, 11 de janeiro de 2014

O mistério do Batismo do Senhor: uma Epifania!

A Festa de hoje encerra o sagrado Tempo do Natal mistério do Senhor que faz parte da Semana da Epifania, esse último período do tampo natalino que celebra a Manifestação do Senhor que veio na nossa carne mortal, na nossa humana natureza para nos encher com a Sua divindade. Trata-se, portanto, de um mistério de Manifestação, de Epifania do Senhor Jesus: o Pai apresenta, manifesta publicamente a Israel o Salvador que Ele nos deu, o Menino que nasceu para nós: “Tu és o Meu Filho amado; em Ti ponho o Meu bem-querer”, ou, segundo a versão de Mateus: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo!” (3,17). Solenemente, o Pai derrama sobre o Filho todo o Seu Amor – e esse Amor não é uma coisa: é uma Pessoa – o próprio Espírito Santo de Amor, que aparece sob a forma corpórea de uma pomba!

Estas palavras ditas pelo Senhor santíssimo, Deus de Israel, contêm um significado muito profundo: o Pai apresenta Jesus usando as palavras do profeta Isaías, que ouvimos na primeira leitura da missa. Mas, note-se: Jesus não é somente o Servo de quem falava a leitura; Ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava é muito mais que um servo: é também e misteriosamente o Filho amado eternamente! No entanto, é Filho que sofrerá como o Servo, que deverá exercer sua missão de modo humilde, pobre e doloroso!

Hoje, às margens do Jordão, Jesus foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, aquele que as Escrituras prometiam e Israel esperava. Agora, Ele pode começar publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus. Esta missão, o Senhor começou desde que Se fez homem por nós; agora, no entanto, vai manifestar-Se publicamente, primeiro a Israel e, após a ressurreição, a toda a humanidade. É na força do Espírito Santo que Ele pregará, fará Seus milagres, expulsará Satanás e inaugurará o Reino; é na força do Espírito que Ele viverá uma vida de total e amorosa obediência ao Pai e doação aos irmãos até a morte e morte de cruz. Ele é o Ungido pelo Pai com o Espírito Santo para trazer a Vida divina para toda a criação e toda a humanidade. É esse Espírito bendito a força que Dele sai e cura a todos; é na força desse Espírito Bom e Criador que o nosso Cristo “passou fazendo o bem e curando a todos os que se encontravam sob o poder do reino de Satanás porque Deus estava com Ele!” (At 10,38)

Mas, atenção: como já dissemos, esse Jesus que é o Filho, é também o Servo sofredor, anunciado por Isaías. Hoje, nas palavras pronunciadas no Jordão, o Pai revela a Jesus qual o modo, qual o caminho que Ele deve seguir para ser o Messias como Deus quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no serviço! É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo. Jesus deverá ser manso: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas”. Deve ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os pobres, os que vivem na solidão, na amargura, os sem esperança: “Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega”. Ele irá sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no Seu Deus e Pai toda a Sua esperança, toda a Sua confiança: “Não esmorecerá nem Se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra”. O Senhor Deus estará sempre com Ele e Ele veio não somente para Israel, mas para todas as nações da terra: “Eu, o Senhor, Te chamei para a justiça e Te tomei pela mão; Eu Te formei e Te constituí como aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”. Que surpresa! Jesus é o Messias que não somente é um servo enviado por Deus, mas o próprio Filho amado, Filho bendito gerado no Amor do Pai; Jesus é o Messias que exercerá Sua missão não em gloria, mas em humilde serviço e tribulação; Jesus é o Messias não somente para Israel, mas para toda a humanidade que, crendo Nele, Nele encontrará a luz de Deus!

E o Nosso Senhor já começa cumprindo Sua missão na humildade: Ele entra na fila dos pecadores, para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-Se solidário conosco; Ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava dissuadi-Lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti e Tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, na Justiça de Deus, que Jesus Se humilhasse, Se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos, o caminho da Igreja, e não há outro!

Que mistério tão grande, Irmãos! O Menino que nasceu para nós, a Criança admirável que cresceu em sabedoria, idade e graça, submisso aos Seus pais na família de Nazaré, o Deus perfeito, filho da Toda Santa Mãe de Deus, Aquele que com o brilho de Sua Estrela atraiu a Si todos os povos, hoje é apresentado pelo Pai: Ele é o Filho querido, Ele é o Servo sofredor, Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Ele é o Messias, o Ungido de Deus! Acolhamo-Lo na nossa existência e no nosso coração e nossa vida terá um novo sentido. Seguindo-O, chegaremos ao coração do Pai que o enviou e é Deus com Ele, nosso Salvador e com o Bom e Vivificante Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Perfumes do Tempo do Natal

Neste Domingo próximo, a Igreja encerra o Tempo do Natal.

Para os cristãos que não se contentaram com um período natalino de simples gestos exteriores costumeiros, modos simplesmente repetitivos, em nome de um difuso e confuso “espírito de natal” que ninguém sabe o que é, para quem procurou realmente celebrar de modo religioso a festividade cristã, este tempo sagrado ora findo deve deixar renovadas no coração algumas certezas.

A primeira e mais importante dessas certezas:
Há um Deus no Céu e este Deus Infinito, Incompreensível, Santo, não é teórico, frio como um teorema, distante quanto uma galáxia no extremo do universo. Nada disso!

O Deus grande, santo, misterioso, inatingível, fez-Se Emanuel, Deus-Conosco, Deus-um-de-nós, Deus humanizado! - Que coisa: Deus apequenou-Se, Deus humanizou-Se!

Isto não significa que Se tornou nosso amiguinho de farra, nosso parceiro, o cara legal, gente boa com quem podemos barganhar ou brincar! Não! Ele continua o Santo, o Misterioso, mas ao mesmo tempo próximo no Seu amor, na Sua misericórdia na Sua ternura salvífica.

Aliás, segundo as Escrituras Santas e a fé da Igreja, para isso Ele criou tudo: para nos visitar e tudo levar à Sua plenitude: “De Sua plenitude recebemos graça sobre graça!” Criou tudo para Si e tudo somente Nele encontra a plenitude do ser e do sentido! Simples assim, grave assim, urgente assim, trágico assim!

Outra certeza: Se Deus entrou no tempo do mundo, todos os nossos tempos agora são povoados pelo Senhor, todos os nossos tempos tornaram-se semente de eternidade, da Eternidade do Deus eterno!Os tempos fugazes, passageiros, de nossa existência tornaram-se grávidos de Glória, do ser imperecível, imorredouro, do próprio Deus!

Quando vivemos a vida diante Daquele que veio a nós, com Aquele que nos visitou, vindo da Virgem, tudo ganha novo sentido, tudo tem gosto de eternidade: até a dor, até as lágrimas, até a morte...

Deus está conosco; não estamos sozinhos nem na vida nem na morte! O Infinito nos circunda, o Eterno nos envolve, a Vida nos abarca, nos penetra, nos encharca com o Seu Ser divino! De repente, para quem de verdade crê que Deus é Emanuel, tudo passa a ter gosto de Eternidade, tudo se transforma em semente de Eternidade!

Um terceiro aspecto: O Senhor veio em Belém, o Senhor vem a cada dia em cada situação, em cada decisão, o Senhor virá no momento da nossa morte, o Senhor virá um Dia, no Dia Final.

A vida de todo verdadeiro crente cristão deve ser vivida como um diálogo contínuo com esse Deus próximo, Deus que vem vindo sempre; a vida do crente é sempre uma resposta aos Seus apelos. O crente verdadeiro nunca vive primeiro diante de si próprio, mas fundamentalmente diante de Deus. É a partir do Altíssimo que ele mesmo se compreende, se sente, decide, caminha... "Anda na Minha presença e sê perfeito!"

Pense que vida: uma aventura de diálogo com o Eterno, uma resposta de amor ao Amor infinito, uma parceria bendita de amizade e ternura e delicadeza com Aquele que é o Mistério Santo, Sentido, Princípio e Fim de todas as coisas.

Quarta certeza: o Emanuel que nos veio não é simplesmente o Salvador dos cristãos.
Ele é a verdade do universo, a verdade da inteira humanidade, o Salvador de todos: veio para todos, veio para o mundo e a humanidade por Ele criados.

Isto compromete todo aquele que crê: temos o dever e a missão de falar do Menino, do Salvador, a todos quantos ainda não O conheçam. A fé em Cristo nunca deve ser imposta a ninguém, mas deve ser com franqueza e coragem proposta a todos!

Os cristãos devem renunciar a toda tentação de poder e de tutela sobre a sociedade, mas nunca devem abrir mão da missão de humildemente ser sal e luz para quem desejar encontrar o Sentido da existência!

Sim, no nosso mundo descristianizado – e olhe que nunca mais a sociedade como um todo será cristã! – temos a responsabilidade de dizer ao mundo que há uma Luz, que Ela brilhou em Belém e resplandeceu de modo definitivo na Ressurreição, de modo que o mundo tem sentido, a vida tem sentido, a criação tem sentido, os sonhos e tormentos dos homens têm sentido!

Com mansa convicção o Cristo deve ser sempre proposto sem nunca ser imposto! Foi assim nos dias da carne de Jesus, deverá ser sempre assim: Ele Se propôs, nunca Se impôs! Por isso mesmo veio pequeno, pobre, criança indefesa... Por isso morreu impotente, mais pobre ainda, homem de dores, crucificado, sepultado pelo pecado e o esquecimento do mundo...

Quinta convicção: O Deus que em Jesus nos visitou e nos convidou a viver na Sua santa presença, fazendo da nossa existência um amoroso “sim”, respeitará sempre a liberdade da nossa resposta...

Os Magos acolheram o Menino; Herodes O rejeitou, Jerusalém tratou-O com solene e fria indiferença. Será sempre assim!

Nós, cristãos, muitas vezes trazemos em nós a saudade dos tempos em que existia uma sociedade nominalmente cristã, com uma cultura gerada em grande parte por uma visão cristã... Estes tempos passaram e não mais voltarão! Mas, veja bem, meu Leitor: o anúncio do Cristo que por nós nasceu não deveria nunca ser feito de modo massificado, a toda uma sociedade. Ao menos não foi assim que o Cristo pensou!

O encontro com o Senhor será sempre pessoal; a resposta ao Seu apelo de salvação será sempre pessoal. Certamente, ao acolher o anúncio feito pela Igreja, o crente entra nessa Comunidade de fé, que é ao mesmo tempo Corpo de Cristo, a nossa Mãe católica. A fé, certamente, não é privada; mas, será sempre pessoal!

Não creio na possibilidade de uma cultura cristã; nem mesmo penso que isso seja um ideal pelo qual devamos os bater! Creio em cristãos sendo pouquinho de sal e teimosas chamas luminosas na cultura plural que vai se afirmando no mundo atual.

Eis o grande desafio para a Igreja inteira e para cada cristão: crer de tal modo no Senhor, vivê-Lo com tal intensidade, testemunhá-Lo com tal coerência e inteireza de vida, que o Senhor e Seus discípulos apareçam ao mundo como luz para quem desejar sair das trevas e sal para quem quiser encontrar o sabor da vida! Foi esta a missão que o Senhor nos deu com a Sua piedosa Vinda; esta será sempre nossa missão, até o fim dos tempos!
Fiquem no nosso coração estes perfumes suaves do Santo Natal!





domingo, 5 de janeiro de 2014

Epifania: o povo que andava nas trevas viu uma grande Luz!

Celebramos hoje a solene Manifestação, a sagrada Epifania do Senhor. Como dizia Santo Agostinho, “celebramos, recentemente, o dia em que o Senhor nasceu entre os judeus; celebramos hoje o dia em que foi adorado pelos pagãos. Naquele dia, os pastores O adoraram; hoje, é a vez dos magos”. A festa deste dia é nossa, daqueles que não são da raça de Israel segundo a carne, daqueles que, antes, estavam sem Deus e sem esperança no mundo! Hoje, o Cristo nosso Deus, apareceu não somente como glória de Israel, mas também como “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). Hoje, começou a cumprir-se a promessa feita a nosso pai Abraão: “Por ti serão benditos todos os clãs da terra” (Gn 12,3).

Na segunda leitura desta Solenidade, São Paulo nos fala de um Mistério escondido e que agora foi revelado: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”. Eis: com a visita dos magos, pagãos vindos de longe, é prefigurado o anúncio do Evangelho aos não-judeus, aos pagãos, aos que desconheciam o Deus de Israel. Ainda Santo Agostinho, tratando do mistério da festa hodierna, explicava muito bem, referindo-se ao Senhor Jesus: “Ele é a nossa paz, Ele, que de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14). Já Se revela qual pedra angular, este Recém-nascido que é anunciado e como tal aparece nos primórdios do nascimento. Começa a unir em Si dois muros de pontos diversos, ao conduzir os pastores da Judeia e os Magos do Oriente, a fim de formar em Si mesmo, dos dois, um só homem novo, estabelecendo a paz. Paz para os que estão longe e paz para os que estão perto”. É este o sentido da solenidade da santa Epifania do Senhor!
Hoje, cumpre-se o que o profeta Isaías falara na primeira leitura: “Levanta-te, Jerusalém, acende as luzes, porque chegou tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e Sua glória já se manifesta sobre ti! Levanta os olhos ao redor e vê: será uma inundação de camelos de Madiã e Efa; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor!”

Mas, estejamos atentos, porque a festa de hoje esconde um drama: a Jerusalém segundo a carne não reconheceu o Salvador: “O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém”. Ela conhecia a profecia, mas de nada lhe adiantou, pela dureza de coração. É na nova Jerusalém, na Igreja que somos nós, na nossa Mãe católica, que esta profecia de Isaías se cumpre. É a Igreja quem acolherá todos os povos, unidos não pelos laços da carne, mas pela mesma fé em Cristo e o mesmo batismo no Seu Espírito.

Que contraste, no Evangelho de hoje! Jerusalém, que conhecia a Palavra, não crê e, descrendo, não vê a Estrela, não vê a luz do Menino. Os magos, pagãos, porque têm boa vontade e são humildes, veem a Estrela do Rei, deixam tudo, partem sem saber para onde iam, deixando-se guiar pela luz do Menino... E, assim, atingem o Inatingível e, vendo o Menino, reconhecem Nele o Deus perfeito: “ajoelharam-se diante dele e O adoraram”. Com humildade, oferecem-Lhe o que têm: “Abriram seus cofres e Lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra”: ouro para o Rei, incenso para o Deus, mirra para o que, feito homem, morrerá e será sepultado! Os magos creem e encontram o Menino e “sentiram uma alegria muito grande”. Herodes, o tolo, ao invés, pensa somente em si, no seu título, no seu reino, no seu poder... E tem medo do Menino! Escravo de si e prisioneiro de suas paixões, quer matar o Recém-nascido! A Igreja, na sua liturgia, zomba de Herodes e dos herodes, e canta assim: “Por que, Herodes, temes/ chegar o Rei que é Deus?/ Não rouba aos reis da terra/ Quem reinos dá nos céus!”. Que bela lição, que mensagem impressionante para nós: quem se deixa guiar pela luz do Menino, O encontra e é inundado de grande alegria, e volta por outro caminho. Mas, quem se fecha para esta luz, fica no escuro de suas paixões, na incerteza confusa de suas próprias certezas, tão ilusórias e precárias e termina matando e se matando!

Que nós tenhamos discernimento: não procuremos esta Estrela do Menino nos astros, nos céus! Não perguntemos sobre ela aos astrônomos, aos cientistas, aos historiadores. Sobre essa luz, sobre essa Estrela bendita, eles nada sabem, nada têm a dizer! Procuremo-la dentro de nós: o Menino é a luz que ilumina todo ser humano que vem a este mundo! No século I, Santo Inácio de Antioquia já ensinava: “Uma estrela brilhou no céu mais do que qualquer outra estrela, e todas as outras estrelas, junto com o sol e a luz, formaram um coro, ao redor da estrela de Cristo, que superava a todas em esplendor”. É esta luz que devemos buscar, esta luz que devemos seguir, por esta luz devemos nos deixar iluminar! São Leão Magno, no século V, já pedia aos cristãos: “Deixa que a luz do Astro celeste aja sobre os sentidos do teu corpo, mas com todo o amor do coração recebe dentro de ti a luz que ilumina todo homem vindo a este mundo!”. E, também no mesmo século V, São Pedro Crisólogo, bispo de Ravena, falava sobre o mistério deste dia: “Hoje, os magos que procuravam o Rei resplandecente nas estrelas, O encontram num berço. Hoje os magos veem claramente, envolvido em panos, Aquele que há muito tempo procuravam de modo obscuro nos astros. Hoje, contemplam, maravilhados, no presépio, o céu na terra, a terra no céu, o homem em Deus, Deus no homem e, incluído no corpo pequenino de uma criança, Aquele que o universo não pode conter. Vendo-O, proclamam sua fé e não discutem, oferecendo-Lhe místicos presentes. Assim, o povo pagão, que era o último, tornou-se o primeiro, porque a fé dos magos deu início à fé de todos os pagãos!”

Quanta luz, na festa de hoje! E, no entanto, é preciso que compreendamos sem pessimismo, mas também sem ilusões diabólicas, que este mundo vive em trevas: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos...” Que tristeza tão grande, constatar que as palavras do Profeta ainda hoje são tão verdadeiras – e, talvez, hoje mais que em épocas passadas... “Mas sobre ti apareceu o Senhor, e Sua glória já se manifesta sobre ti”. Não são trevas as tantas trevas da realidade que nos cerca? Não são trevas a violência, a devassidão, a permissividade, as drogas, a exacerbação da sensualidade? Não são trevas a injustiça, a corrupção e a impiedade? Não é treva densa o comércio de religiões, o coquetel de seitas, o uso leviano e interesseiro do Evangelho e do Nome santo de Jesus? Não é treva medonha a dissolução da família, a relativização e esquecimento dos valores mais sagrados e da verdade da fé?

Deixemo-nos guiar pela Estrela do Menino, deixemo-nos iluminar pela Sua luz! Com os magos, ajoelhemo-nos diante Daquele que nasceu para nós e está nos braços da sempre Virgem Maria Mãe de Deus: ofereçamos-Lhe nossos dons: não mais mirra, incenso e ouro, mas a nossa liberdade, a nossa consciência e a nossa decisão de segui-Lo até o fim. Assim, alegrar-nos-emos com grande alegria e voltaremos ao mundo por outro caminho, “não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do Senhor Jesus e não procureis satisfazer os desejos da carne. Deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,13.12).


Terminemos com o pedido que a Igreja fará na oração após a comunhão: “Ó Deus, guiai-nos sempre e por toda parte com a Vossa luz celeste, para que possamos acolher com fé e viver com amor o mistério de que nos destes participar!” Amém.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Toda Santa Mãe de Deus, salvai-nos pois trouxestes no seio a Salvação do mundo!

Caríssimos em Cristo, certamente o pensamento mais presente neste hoje é a chegada do Ano da graça de 2014, que iniciamos há pouco entre festejos, ações de graças, expectativas e tantos votos mútuos... Precisamente por este motivo, a primeira leitura da Missa invocou a bênção e a paz sobre nós: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a Sua face e Se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o Seu rosto e te dê a paz!” Que bênção: três vezes foi pronunciado o Nome do Senhor sobre nós! Seu Nome é Sua presença santíssima e eficaz, portadora de salvação e vida! Certamente, começamos bem o 2014! Mas, nunca esqueçamos Quem é este Senhor, cujo Nome foi sobre nós invocado: é o Menino que nos nasceu, o Filho que nos foi dado e que, precisamente, hoje, oito dias após o Seu admirável nascimento, recebeu o nome de Jesus, que significa Deus salva! Eis: em Jesus, Deus nos salva com a verdadeira paz, paz que é remissão do pecado, paz que brota da comunhão com o Senhor! Que Ele inunde com Sua doce paz os dias do Novo Ano, ainda criança como o Menino de Belém! A Ele acorramos nos dias deste novo Ano da Graça com as palavras admiradas que nos vêm do longínquo século IV, do coração contemplativo e terno de Santo Efrém: “Ó Deus admirável! Tu és admirável e a maravilha que és sobrepuja a toda compreensão! Tu és admirável e prodigioso; Tua concepção é admirável, Teu nascimento é admirável, Tu és todo admirável!”

Mas, hoje, é também a Oitava do Santo Natal, dia no qual a Igreja, desde a antiguidade, volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o verdadeiro Deus feito homem. Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando o “Recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e, contemplando o Seu filhinho, reconhecemos Nele o Deus perfeito e a proclamamos verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos!’ – assim canta a Igreja hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria. Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no Natal, cantam assim: “Ó Cristo, que podemos oferecer-Vos como dom por Vos terdes manifestado sobre a terra na nossa humanidade? Com efeito, cada uma das Vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a Vós traz: os Anjos, o seu cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração; a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe!” Eis, pois, caríssimos irmãos, nossa presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa raça, o mais belo membro da Igreja, a sempre Virgem Maria Toda Santa!

Comprometamo-nos, então, a viver os dias do Novo Ano com as mesmas atitudes de Nossa Senhora!

Primeiro, uma atitude de fé: ela escutou a Palavra, ela creu de todo o coração. Foi mulher totalmente aberta ao seu Senhor. Que neste 2014, saibamos, também nós, viver de fé; mesmo quando tudo parecer escuro, ainda que venham dias difíceis, mesmo nos momentos de pranto e nossa inteligência não conseguir compreender nem nossa vista conseguir enxergar os passos do Senhor.

Em segundo lugar, uma atitude de disponibilidade à missão. Nossa Senhora não se furtou ao convite do Senhor, não se acomodou numa vida centrada nos seus próprios interesses e pequenos sonhos. Poderia ter sido uma esposa como tantas outras, uma mãe como tantas mães israelitas... Mas, não: aceitou a missão que o Senhor lhe apresentou: fez-se serva, fez-se disponível, fez-se ministra do plano salvífico do Deus de Israel em nosso favor. E quanto isto lhe custou, e quanto isto exigiu dela, da Serva, da Virgem, da Mulher, de Maria, nossa Senhora! Do mesmo modo, saibamos nós discernir o que o Senhor nos vai pedir nos dias deste Ano e, sem medo, sem mesquinho fechamento, sem comodismo de quem pensa a vida a partir do seu próprio bem-estar e não a partir do sonho de Deus, digamos-lhe “sim”, mesmo quando tal resposta for difícil e sofrida!

Mas, tudo isso será impossível sem uma terceira atitude que devemos aprender da Mãe de Deus: aquela de escuta silenciosa e contemplativa. O Evangelho nos dá conta que Maria “guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração!” Eis! A Virgem rezava, a Virgem pensava nos acontecimentos à luz de Deus, na presença silenciosa do Senhor, procurando entender o sentido profundo das coisas. Somente quem faz assim pode ver sempre Deus em todas as coisas e em todas as circunstâncias...


Caríssimos, certamente, haveremos de sorrir e chorar nestes dias do Novo Ano. Que lágrimas e sorrisos, vitórias e derrotas, abraços e separações, sejam vividos na luz do Senhor, do Menino que brilhou como luz nas nossas trevas e que, Nele, encontremos sempre a paz. Para tanto, valha-nos, cada dia deste 2014, as preces da Toda Santa Mãe de Deus, que sempre nos trará em seus braços o Criador do mundo, Aquele que tudo sustenta e leva em Suas mãos os tempos deste mundo e os pobres dias de nossa vida! A Ele a glória hoje e para sempre! Amém.