sábado, 19 de abril de 2014

Retiro Quaresmal - A Paixão segundo Mateus (9)

Tríduo Pascal: Sábado Santo - XL Dia de Penitência
Mt 27,11-26

11Jesus foi conduzido à presença do governador, e este O interrogou: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus declarou: “Tu o dizes”. 12E quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos, nada respondeu. 13Então Pilatos perguntou: “Não estás ouvindo de quanta coisa eles Te acusam?” 14Mas Jesus não respondeu uma só palavra, de modo que o governador ficou muito admirado.
15Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar um preso que a multidão quisesse. 16Naquela ocasião, tinham um preso famoso, chamado Barrabás. 17Então Pilatos perguntou à multidão reunida: “Quem quereis que eu vos solte: Barrabás, ou Jesus, que é chamado o Cristo?” 18Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja.
19Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: “Não te envolvas com esse justo, pois esta noite, em sonho, sofri muito por causa Dele”. 20Os sumos sacerdotes e os anciãos, porém, instigaram as multidões para que pedissem Barrabás e fizessem Jesus morrer. 21O governador tornou a perguntar: “Qual dos dois quereis que eu solte?” Eles gritaram: “Barrabás”. 22Pilatos perguntou: “Que farei com Jesus, que é chamado o Cristo?” Todos gritaram: “Seja crucificado!” 23Pilatos falou: “Mas, que mal Ele fez?” Eles, porém, gritaram com mais força: “Seja crucificado!”

24Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. A responsabilidade é vossa!” 25O povo todo respondeu: “Que o sangue Dele recaia sobre nós e sobre nossos filhos”. 26Então Pilatos soltou Barrabás, mandou açoitar Jesus e entregou-O para ser crucificado.

Comentando:

Agora está Jesus diante da autoridade romana. Observe, meu Leitor, que o Governador vai direto à questão – e a questão é política, é o interesse de Roma: “Tu és o rei dos judeus?” Esta tinha sido a acusação que o Sinédrio fizera, certamente alegando que Jesus colocava em perigo a ordem pública.
De modo geral, os evangelhos dão conta de que Pilatos pretendia libertar Jesus. Por quê? Certamente ao menos por dois motivos: diante do comportamento do Senhor e do seu manso silêncio, o Governador percebera claramente que Jesus não oferecia perigo algum para Roma; além do mais, percebia o interesse extremo do Sinédrio em arrancar a condenação de Jesus à morte. Ora, Pilatos intuía que o verdadeiro motivo do ódio dos sinedritas a Jesus não era político, mas alguma querela religiosa. Mateus afirma que o Governador via inveja nos sinedritas (cf. Mt 27,18), talvez porque Jesus conseguia cativar a multidão, como fizera ao entrar em Jerusalém triunfalmente.. Pilatos não simpatizava nem um pouco com os judeus e seus dirigentes e, por isso, procura libertar Jesus: seria um modo de exercer a justiça romana, não condenando um inocente e, ao mesmo tempo, implicar com os líderes judeus, por quem Pilatos sentia antipatia e desprezo. Depois, havia ainda alguns fatos misteriosos que, certamente, impressionaram aquele duro romano: a dignidade serena do acusado, Seu silêncio, o bilhete de Cláudia Prócula, sua esposa, que o prevenia a não se envolver com aquele prisioneiro, pois ela havia sonhado com Ele na noite anterior... Os romanos temiam os presságios... (cf. Mt 27,19)

E o silêncio de Jesus? Observe que Mateus faz questão de insistir neste detalhe (cf. 26,63; 27,12.14). O motivo é teológico: Jesus é o Servo Sofredor anunciado por Isaías: “Oprimido, Ele Se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, Ele ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53,7). Sim, Jesus não Se defende: sabe que tudo está nas mãos do Pai, tem consciência – Ele rezou no Horto, pediu, e agora sabe, com toda clareza, que o Pai O fará beber o cálice – que será levado à cruz! Depois, naquele julgamento, quem está realmente preocupado com a verdade? Por isso mesmo, quando Pilatos Lhe pergunta sobre o que seja a verdade, Ele permanece calado. Não deve haver resposta para quem não pergunta com sinceridade, com real seriedade; não se deve responder a quem realmente não procura respostas (cf. Jo 18,38)!

– Senhor, ensina-me a Tua obediência ao Pai, obediência nascida de uma confiança ilimitada, da certeza de que o Pai jamais Te abandonará. Tu mesmo disseste: “Eu não estou só; o Pai está sempre Comigo!” (Jo 16,32) Ajuda-me, Senhor Jesus meu, a nunca perder de vista a amorosa providência do Pai, mesmo nos momentos mais difíceis e cruciais da vida! Que em Ti e por Ti, eu saiba confiar, eu saiba esperar, eu saiba me abandonar nas mãos do Pai do Céu! Kyrie eleison!

Ante a pergunta de Pilatos – “Tu és o rei dos judeus?” – Jesus responde afirmativamente: “Tu o dizes!” Mas o Governador vê claramente que Jesus não está falando de um reino em contraposição a Roma. Pilatos, pagão, percebe o que os judeus nãos quiseram perceber... Pensando em soltar Jesus, Pilatos usa de dois expedientes:
(1) usando um costume de mostrar boa vontade aos judeus na sua Festa, soltando um prisioneiro, propõe que se escolha entre Jesus e Barrabás, que era um bandido. Para sua surpresa, a turba presente, certamente orientada pelos sinedritas exaltados, preferia Barrabás a Jesus!
(2) Pilatos, então, mandou punir Jesus o com o flagelo: pensava o Governador que isso talvez acalmasse os judeus. Mateus refere-se a esta flagelação de modo superficial e desajeitado, fora do lugar (cf. Mt 27,26), mas João narra-a de modo muito fiel (cf. Jo 19,1-6a). As duas táticas fracassam! Os líderes judeus querem a morte de Jesus e pronto. E a morte romana não era o apedrejamento, como mandava a Lei de Moisés, mas a crucifixão, segundo o modo romano... “Seja crucificado!”, gritam os judeus! “Que mal ele fez?” – pergunta o Governador, querendo uma acusação mais precisa e convincente... Não havia mais nada a acrescentar! Tudo era cegueira, tudo era paixão, tudo era má vontade, tudo era pré-julgamento, tudo era maldade, tudo era pecado, a hora do poder das trevas: “Seja crucificado!” – foi a resposta dos sinedritas e da turba que ali estava...

Pilatos percebe os ânimos exaltados. A Terra Santa era um barril de pólvora; as relações entre romanos e judeus eram muito tensas e carregadas de má vontade. Tudo era ocasião para revolta.
Pilatos teme. Poderia até mesmo ser denunciado a César como omisso... Covardemente, lava as mãos: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem!” Não, Pilatos! Nunca se é inocente pelas próprias ações! Todas as nossas ações nos formam, nos definem, dizem quem somos, nos constroem! Enquanto o mundo existir, todas as gerações de cristãos recordarão e afirmarão que o Senhor Jesus, o Precioso, o Filho Amado, o Justo e Santo “padeceu sob Pôncio Pilatos”!
Num conto de sua autoria, Anatole France, escritor francês, afirma que Pilatos, questionado sobre Jesus, respondera simplesmente: “Jesus? Jesus de Nazaré? Não, não me lembro...” É difícil pensar que as coisas tenham andado assim... Certamente Pilatos jamais esqueceria Jesus e aquele julgamento dramático e aquelas mãos covardemente lavadas, deixando para sempre manchados o coração e a consciência...

A réplica dos líderes judeus a Pilatos é tremenda: “Que o sangue Dele recaia sobre nós e nossos filhos!” Em outras palavras: a culpa pelo julgamento desse homem recaia sobre nós e nossos filhos! São palavras de uma gravidade tremenda!
Muitíssimas vezes foram usadas para alimentar o ódio contra o povo de Israel. Mas, não! Não devem jamais, em hipótese alguma ser usadas para tal finalidade miserável!
Primeiro porque o povo de Israel continua a ser povo de Deus, amado pelo Senhor (cf. Rm 9 – 11); depois, o sangue de Jesus nunca recai sobre alguém como maldição e condenação! Esse sangue bendito cai como perdão, misericórdia e redenção que salva! Esse sangue sacratíssimo é e será sempre motivo de perdão: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). A oração de Jesus vale muito mais que a autoimprecação dos judeus!

– Senhor, que o Teu sangue caia sempre sobre cada geração de judeus, de filhos do povo de Israel, povo que escolheste desde os tempos mais antigos! Que o Teu sangue caia sobre eles e seus filhos, como sangue que lava, que purifica, que perdoa, que torna sagrado e bendito!
Que um dia, no Dia final, Dia que só Tu conheces, também o Israel da Antiga Aliança, Teu povo amado, contemple a Ti que foste traspassado e Te proclame Messias, Rei de Israel, Salvador, Filho de Deus!
Senhor Jesus, guarda o Israel segundo a carne no Teu coração, esse povo tão misterioso, que escolheste como primogênito, como raiz santa da Tua Igreja, Novo Israel!
Que pelo Teu sangue venha a paz para Israel – o da Antiga Aliança e o da Nova Aliança, que é a Tua Igreja! Lembra-te, Senhor, que morreste por essa Nação e por todos os filhos do Pai que estavam dispersos (cf. Jo 11,51-52).


Pilatos, então, soltou Barrabás, o malfeitor, o bandido... E entregou Jesus para ser crucificado... O Justo pelo injusto, o Inocente pelo culpado, o Santo pelo pecador, pelos injustos e culpados e pecadores de todos os tempos... Por mim, por você, pelo mundo inteiro...


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