sexta-feira, 18 de abril de 2014

Retiro Quaresmal - A Paixão segundo Mateus (6)

Tríduo Pascal: Sexta-feira da Paixão – XXXIX Dia de Penitência
 Mt 26,57-68


57Os que prenderam Jesus levaram-No à casa do sumo sacerdote Caifás, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos. 58Pedro seguia Jesus de longe, até o pátio do sumo sacerdote. Entrou e sentou-se com os guardas para ver como terminaria tudo aquilo.
59Ora, os sumos sacerdotes e o Sinédrio inteiro procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de condená-Lo à morte. 60E nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, vieram duas testemunhas, 61que afirmavam: “Este homem declarou: ‘Posso destruir o Santuário de Deus e construí-lo de novo em três dias’”. 62Então o sumo sacerdote levantou-se e perguntou a Jesus: “Nada tens a responder ao que estes testemunham contra Ti?” 63Jesus, porém, continuava calado. E o sumo sacerdote disse-Lhe: “Eu te conjuro, pelo Deus vivo, dize-nos se Tu és o Cristo, o Filho de Deus”. 64Jesus respondeu: “Tu o disseste. Além disso, Eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à Direita do Todo-Poderoso, vindo nas nuvens do céu”. 65Então o sumo sacerdote rasgou suas vestes e disse: “Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Pois agora ouvistes a blasfêmia. 66Que vos parece?” Responderam: “É réu de morte!” 67Então cuspiram no rosto de Jesus e bateram Nele. Outros O golpearam, 68dizendo: “Profetiza para nós, Cristo! Quem é que Te bateu?”


 Comentando:

Inicia-se o processo de julgamento de Jesus. Na verdade não se pode considerar este como um julgamento propriamente dito, pois contrariava as normas que o Sinédrio deveria seguir, como, por exemplo, a proibição de realizar um julgamento à noite. Aqui foi mais realizada uma investigação informal, certamente com o intuito de encontrar em Jesus elementos que pudessem alicerçar uma acusação diante do Governador romano visando uma condenação à morte. Na raiz do julgamento de Jesus há, já, um pré-julgamento: Ele deve morrer porque é um perigo seja para a religião judaica seja para a ordem estabelecida que, uma vez tumultuada, poderia levar os romanos a uma reação violenta contra o povo judeu e contra os seus líderes, sobretudo os sacerdotes, que eram saduceus, e os anciãos do povo, a elite judaica, em geral também ligada ao partido dos saduceus.

Jesus é levado a José Caifás, sumo sacerdote e genro do cacique político-religioso de Jerusalém, Anás. Observe, meu Leitor, como Pedro segue Jesus: de longe, como o discípulo covarde, que não tem a coragem de realmente envolver-se com Senhor, deixando que a própria vida seja unida à vida do Salvador.
É esta uma questão séria para todos nós: como seguimos Jesus? De perto, deixando que Ele realmente entre e transforme a nossa existência ou, ao invés, de longe, como um cristão frio, que não muda quase nada no seu modo de viver, de maneira que o Evangelho pouco ou nada incide sobre nossa vida? É interessante como São Mateus usa palavras que mostram o papel do discípulo descomprometido: Pedro “entrou, e sentou-se... para ver como terminaria tudo aquilo”. Um discípulo que parece mais um espectador que alguém realmente comprometido com Jesus... Quantas vezes é esta a nossa atitude naquilo que diz respeito a Cristo e à Sua Igreja... Pedro, nesta noite, sou eu, é você, muitas vezes...

No Sinédrio, discute-se, procurando uma acusação que fosse sólida o bastante para levar Jesus à morte. Aparece uma, meio confusa: Jesus ameaçara destruir o Templo. Certamente é uma deturpação e uma extrapolação do fato de Jesus ter expulsado os vendedores do Templo e do fato de Ele afirmar que chegaria o tempo de um novo culto, que já não mais teria como centro o Templo de Jerusalém. É a velha e medonha tática: deturpar as palavras e intenções de alguém para poder acusá-lo!

O silêncio de Jesus, tantas vezes sublinhado pelos evangelistas, revela a atitude do Servo Sofredor, que não abriu a boca: “Oprimido, Ele Se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, Ele ficou calado, sem abrir a boca” (Is 53,7). Este silêncio revela Sua total entrega ao Pai, Sua confiante obediência, sabendo que o Pai é o Seu defensor e que aquilo que agora estava acontecendo fazia parte do misterioso desígnio do Pai. Depois da oração angustiada no Horto, Jesus sabe, agora, qual a vontade do Pai, e está disposto a cumpri-la até o fim!
É assim: quando rezamos, quando colocamos de verdade nas mãos de Deus tudo quanto nos diz respeito, vamos percebendo a presença do Senhor Deus na nossa vida e, com serena liberdade interior, vamos enfrentando as situações da vida. Jesus havia pedido ao Pai que afastasse o cálice. Entregou ao Pai a decisão final... Agora sabe qual a resposta do Pai: Ele deverá beber Seu cálice até o fim. E o fará em amorosa obediência!

Finalmente, o Sumo Sacerdote O interroga de modo solene, oficial: “Eu Te conjuro pelo Deus vivo: dize-nos se Tu és o Cristo, o Filho de Deus!” É preciso ter consciência da solenidade deste momento: a máxima autoridade religiosa e política judaica, o Sumo Sacerdote, em nome do Sinédrio e de todo o Israel, intima Jesus de Nazaré a dizer se Ele é o Messias prometido por Deus, anunciado pelos profetas e esperado por Israel. Jesus responde de modo surpreendente: Ele é o Cristo, o Messias, como Caifás acabara de afirmar! Mas, Jesus vai além e faz uma afirmação surpreendente, que revolta o Sinédrio: “Além disso, Eu vos digo que de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à Direita do Todo-Poderoso, vindo nas nuvens do céu!”
É impressionante: Ele não só é o Messias esperado, mas é também o Filho do Homem que aparece na profecia de Daniel (cf. Dn 7,13), um ser que vem de junto de Deus com todo o poder. Note bem, meu Leitor: Jesus nunca dissera antes que era o Messias.
Chamava-Se sempre a si de “filho do homem”. Era um apelativo misterioso, pois poderia ter o significado presente em Ezequiel, indicando simplesmente que Ele era homem, frágil filho de Adão ou, por outro lado, poderia ter o significado de Daniel: aquele ser que vem de Deus, com poder e pertence ao mundo divino (= sobre as nuvens).
Agora, de modo oficial, diante do Sumo Sacerdote, Jesus Se declara Messias e Filho do Homem, Messias-Filho do Homem glorioso, como Daniel profetizou, mas também pobre e frágil filho de Adão, amarrado e vilipendiado, como Ezequiel utilizou o título. Ele é também o Servo Sofredor prenunciado por Isaías. É realmente impressionante: Nele, as Escrituras se cumprem e como vários afluentes, encontram-se todos no mesmo leito fecundo do rio de água viva que é Jesus de Nazaré, Messias, Filho do Homem glorioso e humilhado, Servo Sofredor!

A resposta de Jesus é tão espetacular, tão surpreendente, tão inesperada, tão clara, que o Sumo Sacerdote, indignado e furioso, rasga as vestes. Fazia-se isso diante de uma tristeza grande ou de uma blasfêmia. É um modo de demonstrar dor, luto, indignação... Jesus apresentou-Se oficialmente; oficialmente Israel o rejeitou: “Blasfemou! É réu de morte!” A blasfêmia não foi ter dito que era o Messias – isto seria somente impostura de falso profeta. A blasfêmia é Se ter apresentado como Filho do Homem que viria sobre as nuvens! Para o Sinédrio, Jesus não passava de mais um falso messias com ilusões político-messiânicas, apenas mais um agitador político com ideias religiosas exaltadas; um verdadeiro perigo para a ordem religiosa e política estabelecida.


Assim, para os judeus, representados pelo Sumo Sacerdote e todo o Sinédrio, Jesus era réu de morte. Só havia um problema: os judeus não podiam executar uma sentença de morte. Roma lhes tinha tirado este poder. Então, era preciso levá-Lo ao Governador romano, Pôncio Pilatos. Mas, atenção: que não se fosse a ele com argumentos religiosos! Pilatos era pagão, romano, e não tinha simpatia alguma pela religião dos judeus. Era necessário, então, apresentar um crime que convencesse Pilatos...



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