“Se
morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com Ele, sabendo que Cristo,
uma vez ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem mais
domínio sobre Ele. Porque, morrendo, Ele morreu para o pecado uma vez por
todas; vivendo, Ele vive para Deus. Assim, também vós considerai-vos mortos
para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus” (Rm 6,8-10).
Na Epístola da Vigília
Pascal, ouvimos todos estas palavras. Por que a Igreja latina as escolheu para
sua celebração litúrgica mais importante? O que significam mesmo?
Comecemos com a triunfal
afirmação do Apóstolo: “Cristo, uma vez
ressuscitado dentre os mortos, já não morre, a morte não tem mais domínio sobre
Ele”. Eis o seu significado: Cristo foi ressuscitado pelo Pai, que sobre
Ele enquanto homem (corpo e alma humanos) derramou a plenitude do Espírito
vivificante. A segunda Pessoa da Trindade, na Sua natureza humana – corpo e
alma – agora Se encontra totalmente divinizada, totalmente glorificada, plena
de uma Vida que não é mais esta nossa, mas a própria Vida divina, que um dia
também nos será dada em plenitude.
Assim, Jesus, nosso Senhor,
o Ressuscitado, não simplesmente vive daquela vida que vivia antes, vida igual
à nossa; Ele é, ao invés, “o Vivente”,
que esteve morto, mas está vivo pelos séculos dos séculos, e tem nas mãos as
chaves da Morte e do Sheol (cf. Ap 1,18); Ele, o Vivente, já não pode ser
alcançado pela morte: agora, na Sua alma e no Seu corpo humanos, Ele é todo
plenitude, todo saciedade, todo Vida, todo fonte de Vida! Tudo quanto sonhamos
de vida, Ele tem, Ele é e é ainda muito mais que possamos pensar ou desejar!
Mas, surpreendente é o
motivo que São Paulo dá para toda essa Glória de Cristo: “Porque, morrendo, Ele morreu para o pecado uma vez por todas; vivendo,
Ele vive para Deus”. Sim, tais palavras se referem ao Cristo! Ele morreu
para o pecado e morreu uma vez por todas? Que significa isto? Cristo, por
acaso, tinha pecado? Não: “Ele não
cometeu pecado algum; mentira alguma foi achada em Sua boca” (1Pd 2,22). Pecado,
aqui, diz respeito à natureza humana que Ele assumiu quando se fez homem. Sua
natureza humana não era pecadora como a nossa, mas Ele entrou num mundo marcado pelo pecado, entrou humilhando-Se,
entrou experimentando as consequências dolorosas das relações com os outros e
com o mundo todo poluído pelo pecado, entrou num ambiente, numa esfera de
pecado. “Morrendo, Ele morreu para o
pecado uma vez por todas”, pois Ele nunca mais voltará a esta vida mortal,
vida de humilhação... Nem Ele nem ninguém volta, pois só se vive uma vez e,
depois, tem-se o julgamento (cf. Hb 9,27). Para o Cristo morto e ressuscitado,
adeus morte, adeus humilhação... Morto, Jesus saiu, naquela cruz, deste mundo
de pecado, morreu para o pecado, enfrentando a consequência mais radical de
pertencer a um mundo e a uma humanidade marcados pela desordem da
pecaminosidade: a morte!
Ele, que morreu uma vez por
todas, agora, “vivendo, Ele vive para
Deus!” Em outras palavras: vivendo agora como Ressuscitado, pleno do
Espírito Vivificador, Ele vive na esfera de Deus, Ele vive como Deus na Sua
natureza humana, Ele vive para o Pai: “Subo
a Meu Pai e vosso Pai; ao Meu Deus e vosso Deus!” (Jo 20,17). É o Filho de Deus feito homem
glorificado, ressuscitado, transfigurado em Glória divina Quem diz estas palavras!
Agora, podemos compreender o
restante do pensamento do santo Apóstolo: no Batismo e Eucaristia nós somos
configurados realmente à morte e ressurreição de Cristo: no Batismo somos
mergulhados na Sua morte e ressurgimos na Sua ressurreição; na Eucaristia,
comungamos com Ele imolado e ressuscitado. Assim, estes dois maiores
sacramentos, os fundamentais, configuram-nos ao mesmo tempo na morte e
ressurreição do Senhor; por isso, “se
morremos com Cristo, temos fé que também viveremos com Ele”... Realmente,
nos sacramentos algo concreto, verdadeiro, efetivo, acontece conosco: a morte e
a vida nova, ressuscitada, de Cristo passam a trabalhar em nós: todas as mortes
desta vida vãos se tornando morte em Cristo e com Cristo e tudo isto vai se
tornando ressurreição em Cristo, até a Ressurreição final! Ora, essa
configuração a Cristo não pode ser somente algo no plano concreto do nosso ser,
mas deve esparramar-se e mostrar-se no nosso agir, no nosso modo de viver: “Assim, também vós considerai-vos mortos para
o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus”. A nossa vida nova com Deus em
Cristo revela-se numa contínua procura de rompimento com tudo quanto em nós é
pecado, superando a tendência para as várias paixões que ainda opera em nós. Essa má tendência chama-se concupiscência
e será ocasião de luta para nós até o fim da vida...
Então, cristão, vivamos a
como novas criaturas no Senhor, pois “Cristo,
nosso Cordeiro Pascal, foi imolado. Celebremos, portanto, a festa, não com o
velho fermento, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com pães
ázimos: na pureza e na verdade!” (1Cor 5,7-8)
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