segunda-feira, 9 de março de 2015

Retiro Quaresmal - Segunda-feira da III semana

No tempo quaresmal, a Igreja, Povo de Deus do Novo Testamento, Povo da nova e eterna Aliança, selada no sangue de Cristo, toma sobretudo a travessia de Israel no deserto como orientador do caminho até a Páscoa. As provações, lutas, fracassos e vitórias do Antigo Povo nos servem de lição. A própria Escritura Sagrada ensina-nos isto: 

“Esses fatos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de que não cobicemos coisas más, como eles cobiçaram. Não vos torneis idólatras como alguns dentre eles, segundo está escrito: “O povo sentou-se para comer e beber; depois levantaram-se para se divertir”. Nem nos entreguemos à fornicação, como alguns deles se entregaram (...), nem tentemos o Senhor, como alguns deles O tentaram, de modo a morrer pelas serpentes. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, de modo a perecerem... Estas coisas lhes aconteceram para servir de exemplo e foram escritas para a nossa instrução, nós que fomos atingidos pelo fim dos tempos...” (1Cor 10,6-11).

Ora, no caminho de Israel, há um momento particularmente grave. Foi em Rafidim: o Senhor havia guiado os israelitas para uma região particularmente seca. Não havia água, não havia esperança de sobrevivência. O povo bem que poderia ter erguido os olhos para o alto e rezado, como o Salmista, no Salmo 120/121: “Eu levanto os meus olhos para os montes: de onde pode vir o meu socorro? Do Senhor é que me vem o meu socorro...”

Mas, não! Sedento e cansado do caminho, Israel murmurou gravemente contra o Senhor:
“Toda a comunidade dos israelitas partiu do deserto de Sin, seguindo as etapas indicadas pelo Senhor, e acamparam em Rafidim. Mas não havia água para o povo beber. Então o povo pôs-se a discutir com Moisés, dizendo: “Dá-nos água para beber!” Moisés respondeu-lhes: “Por que vos meteis a discutir comigo? Por que tentais o Senhor? ”. Mas o povo, sedento d’água, reclamava contra Moisés e dizia: “Por que nos fizeste sair do Egito? Para matar-nos de sede junto com nossos filhos e o gado?” Moisés clamou ao Senhor, dizendo: “Que vou fazer com este povo? Por pouco que não me apedrejam”. O Senhor disse a Moisés: “Passa à frente do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Pega a vara com que feriste o rio Nilo e caminha. 6 Eu estarei na tua frente sobre o rochedo, lá no monte Horeb. Baterás no rochedo e sairá água para que o povo possa beber”. Moisés assim o fez na presença dos anciãos de Israel. Chamou o lugar com o nome de Massa e Meriba, por terem os israelitas discutido e tentado o Senhor, dizendo: “O Senhor está ou não está no meio de nós?” (Ex 17,1-7).

Observe bem, meu Amigo:

1. É verdade que Israel se encontrava numa situação crítica, no limite de suas forças e sem humana saída possível. A situação era realmente desesperadora. Mas, o que Israel faz? Não reza, não clama ao Senhor, não pensa Nele, a Ele não se confia! O que faz? Preso em si próprio, nos seus limites, na sua limitada análise de conjuntura, somente vê a si próprio, na sua medida superficial e estreita...

2. Resultado: Israel murmura... A murmuração será uma constante no comportamento desse povo. Ela é sinal de esquecimento, ingratidão e falta de fé, sinal de um coração velhaco e leviano! Murmuração é aquela reclamação, em geral em voz baixa, contínua, com um e com outro; aquele comentário azedo, aquela crítica, aquela visão sempre negativa e mesquinha...
A murmuração brota da incapacidade de contemplar, de pensar e sentir em profundidade, de descobrir o sentido por trás dos acontecimentos! Como não se vê as coisas com os olhos da fé, não se reza, não se abra ao Senhor; como o Senhor desaparece do horizonte, resta somente falar sozinho, envenenando-se e envenenando os demais, pois a boca fala do que o coração está cheio! Na região donde eu vim, minha Alagoas natal, se diz: “Quem fala sozinho, fala com Cão!” Falar sozinho é ruminar as coisas e situações de si para si próprio, sem se abrir para Deus. É aí que entra o Diabo com seu veneno e nos prende na nossa própria visão, no nosso próprio cálculo... Daí nasce a murmuração: ela destrói a fé, destrói qualquer comunidade e envenena os corações. Israel murmurará contra a sede, contra a fome, contra os perigos da guerra. Também serão uma constante as provas pelas quais o Senhor fará Israel passar, para que ele conheça o fundo de seu próprio coração: somente se conhecendo a si, Israel será capaz de conhecer realmente o seu Deus e entrar em comunhão com Ele.

3. Veja só o que faz a murmuração: Israel se queixa de Moisés, discute com ele, pedindo água para beber! No fundo é contra o Senhor que está reclamando, mas não assume isto, porque a murmuração o faz leviano e superficial! Quantas vezes murmuramos... Quantas vezes críticas, reclamações, comentários disfarçados de maturidade e percepção elevada não passam de murmuração, de falta de fé, de capacidade de avaliar as coisas da perspectiva de Deus! É forte como Moisés desmascara os israelitas: “Por que tentais o Senhor?”

4. Por sua murmuração, Israel termina por fazer a pergunta mais grave do seu tempo de deserto: O Senhor está ou não no nosso meio? – É assim: a murmuração, a leviandade faz o Senhor desaparecer do nosso horizonte: não conseguimos enxergá-Lo, não conseguimos mais discernir Sua ação na nossa vida! Em outras palavras: para um coração descrente, Deus desaparece do horizonte da vida... O contrário do murmurador é a Virgem Maria, que sabia ouvir, guardar no coração e meditar sobre o sentido profundo dos acontecimentos, compreendendo-os à luz do Senhor. Então, sim: se pode ver a santa Presença do Senhor em todas as coisas!

Neste hoje quaresmal, pense:

a) Tenho conseguido enxergar os acontecimentos da vida, as situações e pessoas à luz do Senhor ou, ao invés, prendo-me em mim mesmo, resmungo comigo mesmo e murmuro?

b) Tenho rezado, colocado diante do Senhor as situações e acontecimentos do meu caminho?

c) Sei ver o Senhor em tudo quanto me acontece? Ah, se o Povo de Deus cresse no Senhor! Ah, se ouvisse realmente a Sua voz!

d) Tenho o vício da murmuração, criticando, reclamando, jugando, comentando sobre tudo e sobre todos, como se eu fosse o juiz de todas as coisas?


Reze o Salmo 94/95

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