sábado, 7 de março de 2015

Retiro quaresmal - Sábado da II semana

Tomemos hoje, para o nosso retiro, Hb 2,9-11. Trata-se de um texto rico e de grande intensidade:


“Vemos a Jesus, que foi feito, por um pouco, menor que os anjos, por causa dos sofrimentos da morte, coroado de honra e de glória. É que pela graça de Deus Ele provou a morte em favor de todos os homens. Convinha que Aquele por Quem e para Quem todas as coisas existem, querendo conduzir muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o Autor da salvação deles. Pois tanto o Santificador quanto os santificados, todos, descendem de um só; razão por que não Se envergonha de os chamar irmãos”.

Que nosso coração e nosso olhar se dirijam a Jesus, neste tempo santíssimo de preparação para a Páscoa Sagrada!

1. “Vemos a Jesus, que foi feito, por um pouco, menor que os anjos, por causa dos sofrimentos da morte, coroado de honra e de glória”. Eis, que visão impressionante: o Filho eterno, esplendor da glória do Pai e expressão do Seu ser, que sustenta o universo com o poder de Sua palavra (cf. Hb 1,3), o Filho que é Deus bendito, eterno, santo, imortal, onipotente, vemo-Lo feito pouco menor que os anjos. É o mistério da Encarnação, esvaziamento do nosso Salvador que, fazendo-Se homem, humilhou-Se, murchou na Sua glória para nos salvar. Ele Se fez verdadeiramente homem, tomando sobre Si tudo quanto é realmente humano: nossa limitação, nossa angústia, nosso sonho, nossa carência, nossa pobreza, nossa morte... E por isso, porque humilhou-Se em amorosa obediência ao Pai, está agora, na Sua humanidade igual à nossa, coroado de honra e de glória.

2. “É que pela graça de Deus Ele provou a morte em favor de todos os homens”.

Eis o motivo dessa humilhação: o Pai, na Sua graça inesgotável, entregou o próprio Filho pela descendência de Abraão e pela humanidade toda. E O entregou até a morte! Poupou o filho de Abraão, mas não poupou o Seu próprio Filho: Ele, de fato, experimentou a terrível realidade da morte.


Morreu como nós, com tudo que a morte tem de amedrontador, de triste, de violento, para que nós não morramos sozinhos, mas morramos Nele e com Ele!

Cada um de nós, a Ele unido no Batismo e na Eucaristia, da Sua vida participando pelos demais sacramentos, pode dizer, na hora da morte: “Já não sou eu quem morre, é Cristo que morre em mim!”




3. “Convinha que Aquele por Quem e para Quem todas as coisas existem, querendo conduzir muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o Autor da salvação deles”. Coisas misteriosas nos são ditas aqui! O Pai, por Quem e para Quem tudo existe, quis nos salvar, quis nos dar a plenitude de Sua Vida divina, levando-nos à perfeição, através do Seu Filho. Mas, de que modo?

Primeiro, o Filho fez-Se homem, assumindo nossa pobre condição de criaturas limitadas. Humanamente, o Filho limitou-Se, tornando-Se mesmo menor que os anjos e esvaziando-Se totalmente durante toda a Sua existência humana, até o esvaziamento total na cruz.
Assim, esse Filho bendito e santo, na Sua natureza humana igual à nossa, seria preenchido da vida divina do Pai; então, pleno de divindade na sua pobre humanidade, poderia derramar essa divindade (que é o próprio Espírito Santo) sobre nós, pobres e limitados humanos, levando-nos à plenitude criatural, aquela plenitude que desde o princípio Deus sonhou em nos dar.


E qual o caminho para o Filho chegar a essa plenitude? Eis a surpreendente reposta: o esvaziamento até a morte numa cruz! Esvaziando-Se totalmente de Si até a morte de cruz, o Filho, na Sua humanidade, Ele foi totalmente preenchido pelo Pai, foi transfigurado em glória divina e pode, então, derramar sobre nós essa glória, que é o próprio Espírito Santo.

Mas, nunca esqueçamos: o caminho para isso foi a terrível experiência do sofrimento físico, moral, psicológico e espiritual – foi isso todo o mistério da vida do Senhor, até a sepultura!
Foi assim que Jesus se tornou o Autor da nossa salvação: Ele Se fez um de nós, desposou a nossa humana aventura, partilhou o nosso sofrimento até a morte, numa misteriosíssima solidariedade entre Santificador e santificados! Por isso mesmo Ele é nosso modelo, é Autor e Consumador da nossa fé (cf. Hb 12,2) e “levado à perfeição, Se tornou para todos os que Lhe obedecem princípio de salvação eterna” (Hb 5,9). Obedecer aqui significa Nele crer, em Seu nome ser batizado, participar do Seu Corpo e Sangue e viver na Sua palavra.




4. “Pois tanto o Santificador quanto os santificados, todos, descendem de um só; razão por que não se envergonha de os chamar irmãos”.

Eis: fazendo-Se um de nós, Jesus tornou-Se verdadeiramente Cabeça de toda a humanidade. Pela Sua morte e ressurreição e o dom do Espírito, Ele Se uniu a nós para sempre, de modo que Suas dores tornam-se nossas e Seu triunfo é penhor do nosso. Também nossas dores tornam-se Dele, de modo que podemos “completar na nossa carne o que faltou da Sua paixão” (Cl 1,24), enquanto esperamos a graça de participar plenamente da Sua vitória. Trata-se aqui de uma profunda e real comunhão nossa com o Senhor Jesus; comunhão que se dá no Espírito Santo recebido no Batismo e demais sacramentos.


Que consolo estarmos unidos ao Salvador, seja no sofrimento seja na alegria, seja na morte seja na vida! E isso é uma real e consoladora realidade!
Reze o Salmo 39/40

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