quarta-feira, 27 de março de 2019

Retiro quaresmal - A liberdade para a qual Cristo nos libertou

Meditação XVIII - quarta-feira da III semana da Quaresma

Reze o Salmo 118/119,137-144
Não estranhe, mas, nesta meditação e nas seguintes, vamos tomar com atenção e piedade os seguintes textos: Mt 5,17-48 e Mt 9,14-17 para aprofundar o pensamento exposto na Epístola aos Gálatas! Assim, leia agora, rezando, Mt 5,17-48.

1. Agora, meditaremos neste primeiro texto para colher nas palavras do próprio Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador bendito, aquilo que o Apóstolo São Paulo tem nos ensinado na Epístola aos Gálatas sobre o papel da Lei de Moisés e sua relação com a fé no Cristo Senhor e a salvação por Ele trazida.

2. Tomemos, pois, Mt 5,17-48. Vamos acompanhar passo a passo o ensinamento de Cristo:

a) O Senhor aí deixa claro Seu respeito pela Lei de Moisés: o Salvador ensina a santidade da Lei, também deixa claro sua durabilidade e sua eficácia, sua relação com o Reino dos Céus (quem é hostil ou desrespeitoso para com a Lei, não herdará o Reino dos Céus) e a necessidade de observá-la! Veja que, à primeira vista, pareceria que São Paulo não fora fiel a Nosso Senhor! Mas, vamos compreender as palavras de Cristo!

b) Realmente, o Senhor Jesus não veio revogar a Torá: sendo Palavra do Senhor Deus, ela não pode ser revogada, pois Deus não muda nem volta atrás no que disse e prometeu. Como ensinara São Paulo, Deus concedera a Lei a Israel para indicar-lhe o caminho, para regular sua vida, na perspectiva de uma Plenitude que viria depois: o cumprimento da Promessa em Jesus Cristo nosso Senhor, que daria a bênção da salvação a todo aquele que Nele cresse, fosse de que nação fosse, conforme a palavra do Senhor Deus a Abraão (cf. Gn 12,3)! Neste sentido veja o que diz o Apóstolo em Rm 7,12.14: a Lei é santa, porque vem do Deus santo e a Ele leva; a Lei é espiritual, porque é dada no Espírito de Deus e somente pode ser cumprida quando o homem é sustentado pelo Espírito!

c) O Senhor Jesus Cristo afirma ter vindo dar à Lei pleno cumprimento. Aqui está a chave para compreendermos toda esta questão. “Cumprir”, neste contexto, não significa obedecer, mas sim realizar, cumprir seu objetivo! Se a Lei foi o pedagogo de Israel para o Cristo, ela, entregando Israel a Cristo, cumpriu sua missão e Cristo deu descanso, realização, plenitude à Lei! Cristo, realizando o que a Lei previra, deu cumprimento e “repouso” à Lei!
Dou dois exemplos para ilustrar esta ideia:

(1) um botão de flor: ele não existe para permanecer botão, mas se cumpre na flor: quando a flor desabrocha, o botão desaparece: a flor dá-lhe pleno cumprimento. O botão não foi abolido, mas cumprido, realizado, pleno! Sem ele, a flor não existiria;

(2) os treinos de um time de futebol: a equipe treina, treina, em vista da partida decisiva e, no momento da partida, os treinos são cumpridos! Sem os treinos, a partida seria uma tragédia; sem a partida, os treinos seriam inúteis e sem sentido! No momento da partida, os treinos perdem a utilidade: foram cumpridos e podem passar!

É, precisamente, neste sentido que Cristo afirma não ter vindo revogar a Lei, mas cumpri-la!

d) Com Cristo, a Lei alcança sua gloriosa plenitude, porque sendo cumprida em Cristo, demonstra sua santidade, sua veracidade de pedagogo: o que o Antigo Testamento prometera realizou-se em Cristo Jesus uma vez por todas! A Lei estará garantida para sempre no seu cumprimento: nem um iota passará sem que tudo tenha sido cumprido (cf. Mt 5,18), pois Deus é fiel! Tanto que São Paulo mesmo afirma que Jesus Cristo é o “Sim” e o “Amém” do Pai (cf. 2Cor 1,19-22), pois tudo quanto o Senhor Deus prometera e anunciara na Lei, cumpriu-se em Jesus, nosso Senhor!

e) Com Cristo, a Lei foi consagrada para sempre e jamais passará no seu objetivo: o que ela preanunciara, prometera e preparara realizou-se para sempre no Cristo, agora imolado e ressuscitado para sempre à Direita do Pai! Assim, o Senhor Jesus Cristo não aboliu a Lei, mas cumprindo-a, validou-a para sempre, por toda a eternidade!

f) Jesus, nosso Senhor, sempre submeteu-Se a Lei (cf. Lc 2,22; Gl 4,4), era um judeu observante e praticante. Basta ver como, costumeiramente, ia aos sábados à sinagoga (cf. Lc 4,16), peregrinava a Jerusalém para as grandes festas judaicas (cf. Jo 2,13;5,1;7,2.14) e tinha respeito pelo Templo (cf. Jo 2,13-17). Além do mais, sempre recomendou aos judeus Seus contemporâneos que cumprissem a Lei (cf. Mc 10,17-19). Esta obediência à Lei de Moisés fazia parte do mistério da nossa salvação, pois o Senhor Se esvaziou de Si próprio, tomando a condição se Servo e fazendo-Se obediente e pobre. Leia Fl 2,5-8; 2Cor 8,5.

g) Jesus, nosso Senhor, rejeitava a importância e a centralidade que os fariseus davam à Lei oral (cf. Mc 7,1-8), bem como a absolutização dos preceitos da Lei sem que a prática brotasse do seu espírito, é que o amor a Deus e ao próximo (cf. Mc 12,28-34). Aqui já se percebem as raízes dos embates que São Paulo terá com os cristãos judaizantes, como aparecem na Epístola aos Gálatas!

h) Pela consciência profunda que Nosso Senhor tinha de ser o próprio Filho do Deus Santo de Israel, Ele sabia que estava acima da Lei e dar-lhe-ia a interpretação plena e definitiva (cf. Mt 5,21-48). É impressionante quando Ele diz repetidamente: “Ouvistes o que foi dito... Eu porém vos digo!” Ninguém em Israel, absolutamente, jamais teria esta ousadia! Somente Deus poderia aperfeiçoar a Lei de Moisés, Lei do próprio Deus! Por isso mesmo a pergunta dos judeus incrédulos de todos os tempos a Jesus: “Quem pretendes ser?” (Jo 8,53)

i) Por outro lado, como São Paulo, o Senhor nosso deixou claro aos judeus que eles deveriam crer Nele, se desejassem, de verdade cumprir as obras da Lei de Moisés! As muitas obras e práticas da Lei, agora, transformam-se numa obra só: “A obra de Deus é que creiais Naquele que Ele enviou!” (Jo 6,29) Além do mais, Jesus Cristo exortou os judeus a serem verdadeiros filhos de Abraão, crendo na Promessa e no Prometido, Descendente de Abraão: “Se fôsseis filhos de Abraão, praticaríeis as obras de Abraão”. Qual foi a obra de Abraão? Abraão creu (cf. Gn 15,6). Ao invés, os judeus procuravam matar o Prometido: “Vós, porém, procurais matar-Me, a Mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto Abraão não o fez! Vós fazeis as obras do vosso pai!” (Jo 8,39-41a). Compreendamos bem o sentido: Abraão creu e é pai de quem crê em Cristo-Isaac, realização da Promessa na qual Abraão creu (cf. Gn 15,5s); quem deseja matar Jesus nosso Senhor é filho de outro pai: “Vós sois do Diabo, vosso pai, e quereis realizar os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade... Não credes em Mim!” (Jo 8,44.45)Assim, com palavras diferentes, o Senhor Jesus ensinara e proclamara o mesmo que Seu discípulo fiel, Paulo Apóstolo, gritou aos ouvidos dos gálatas!

3. Paremos por aqui. Na próxima meditação, farei ainda algumas considerações sobre este texto e passaremos ao segundo: Mt 9,14-17.

4. Agora reze o Sl 104/105, cantando a fidelidade de Deus a Israel. Tudo isto preparando o cumprimento da Promessa em Cristo!
Infelizmente, Israel foi como uma vinha infiel. Leia Is 5,1-7.
Reze o Sl 79/80: observe que a vinha é Israel; o “Homem da Tua direita, o Filho de Adão” do v. 18 é o Messias prometido, no qual a vinda de Israel deveria ter acreditado em peso!

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