sábado, 16 de março de 2019

Retiro Quaresmal - A liberdade para a qual Cristo nos libertou

Meditação IX - Sábado da I semana da Quaresma

Reze o Salmo 118/119,65-72
Agora leia Gl 3,1-5

1. Impressiona o modo como Paulo reprova os gálatas: “Insensatos!” Por que insensatos? Porque se deixaram fascinar, seduzir por pessoas que, chegando com novidades doutrinais, com doutrinas estranhas, facilmente afastaram os cristãos da Galácia da verdade do Evangelho. Ainda hoje vemos isto de modo tão repetido: qualquer um que passe pelas portas alheias, ensinando doutrinas exóticas, falsas, novidadeiras, fundamentalistas ou prometendo milagres, benefícios materiais e curas em programas pagos de televisão, arrasta um sem número de insensatos!
Sim, merecem bem este adjetivo “insensatos” porque são daqueles que “não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, segundo seus próprios desejos, como que sentindo comichão nos ouvidos, se rodearão de mestres. Desviarão os ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas” (2Tm 4,3-4).
E você, procura realmente aprofundar seu conhecimento da fé católica e apostólica? Sabe fundamentar com firmeza a fé católica nas Escrituras Santas, nos Santos Padres da Igreja antiga e no Catecismo da Igreja? Sabe se manter firme na doutrina perene da Igreja ou corre atrás de teólogos e mestres novidadeiros, que se afastam e afastam outros da perene e exigente verdade de Cristo com a desculpa de diálogo com o mundo, compreensão e caridade e outras armadilhas vazias? Cuidado: “Vede cuidadosamente como andais: não como tolos, mas como sábios, tirando bom proveito do período presente, porque os dias são maus. Por isso, não sejais insensatos, mas procurai conhecer a vontade do Senhor!” (Ef 5,15-17).

2. São Paulo, com zelo, delineou aos gálatas os traços de Jesus Cristo crucificado: Sua Morte e Ressurreição pelos judeus e pelos gentios, incluindo os gálatas, é o centro da fé e da esperança dos cristãos: Ele, livre e amorosamente, se entregou pela humanidade, se entregou por nós até a morte e morte de Cruz (cf. Fl 2,8).
Leia com calma e piedade estes textos: 1Cor 15,1-8; 2Cor 5,14-21; Ef 2,11-22
Jesus nosso Senhor, com Sua Paixão, Morte e Ressurreição salvou a humanidade inteira! Ele é o sim de Deus ao homem (cf. 2Cor 1,19-20; Ap 3,14) e, feito homem, tornou-Se o sim do homem a Deus; verdadeiro (cf. 2Cor 1,20), suficiente e único instrumento da nossa salvação!
Leia ainda: 2Tm 2,8-13. Como puderam os gálatas esquecer toda esta grandeza de amor, de misericórdia, de doação gratuita e salvífica do Senhor para, deixando de lado a obra salvadora de Cristo irem se apegar à Lei de Moisés? Por isso a indignação de Paulo; a mesma que ele sentiria vendo cristãos de Bíblia debaixo do braço, apegados de modo fundamentalístico ao Antigo Testamento, deturpar a verdade de Cristo, cujos traços foram-nos delineados pela Igreja nestes dois mil anos de história e evangelização!

3. Para chamar os gálatas à razão, o Apóstolo recorda a experiência do Espírito que eles fizeram logo quando abraçaram o Evangelho, resultado da pregação de Paulo. Fruto imediato da fé em Cristo Jesus é o dom do Espírito, que pode ocorrer de dois modos: o primeiro é a recepção do próprio Espírito de Cristo que passa a habitar no discípulo como Vida do próprio Senhor Jesus Cristo, unindo o cristão ao seu Senhor. Isto se dá ordinariamente com todos os cristãos, sem exceção, nos sacramentos, na água do Batismo e no Sangue da Eucaristia (cf. Jo 3,6s; 6,56-68.63; 19,19,33ss; 1Jo 5,5-13; 1Cor 12,13; 2Cor 1,21s), de modo que o cristão fica enxertado em Cristo como a os ramos à Videira e os membros ao Corpo, numa união vital, dinâmica, real, transformadora com o Senhor (cf. Jo 15,1-8; 1Cor 12,12-13). Mas, pode acontecer também de modo livre, extraordinário, inesperado e carismático em várias experiências visíveis e extáticas provocadas pela presença do Espírito (cf. 1Cor 12-13) com o objetivo de convencer interiormente os discípulos de que Jesus Cristo é o Senhor e proclamá-Lo diante do mundo no Seu senhorio de Ressuscitado e glorificado pelo Pai no Espírito.
Uma pergunta: Você e sua comunidade são abertos à surpreendente ação do Espírito, que suscita continuamente na Igreja dons e carismas, ministérios e talentos para a edificação do Corpo de Cristo que é a Igreja e a glorificação do Senhor? Pense bem: é um pecado grave querer uma Igreja do nosso tamanho, da qual sejamos os donos! Há tantos que caem neste erro, sobretudo pastores da Igreja...

4. Paulo acusa os gálatas de tendo começado com a experiência do Espírito terminarem apegados à carne, isto é, aos preceitos legais do Antigo Testamento... Há muitos que fazem isto: apegam-se ao Antigo Testamento ou de modo fundamentalístico, para ficar falando em imagens, dietas de alimentos impuros, proibição de transfusão de sangue e outras insensatezes... Mas, há também aqueles que ficam presos a uma leitura sócio-política do Antigo Testamento para defender no cristianismo luta política e social e movimentos revolucionários. No fundo, sonham com uma teocracia, só que sem Deus, meramente humana e ideologizada! Tudo isto é volta à carne, é deturpação da Palavra de Deus! No primeiro caso, por ignorância e ingenuidade; no segundo caso por esperteza e desonestidade intelectual e teológica. Mas, há ainda um terceiro modo de começar no Espírito e terminar na carne: é começar a vida cristã inebriados na alegria e na generosidade pelo fervor do Espírito, procurando uma vida santa, de amor ao Senhor e perseverança na oração, nas virtudes, nas boas obras, no amor fraterno, na prática dos sacramentos e, aos poucos, ir se tornando um cristão morno, simplesmente de cumprir o mínimo de suas obrigações, sem entusiasmo nem amor, muitas vezes até sem romper com os pecados e vícios...
Façamos um exame de consciência: vivemos realmente na alegria e doçura e simplicidade do Espírito do Cristo que foi delineado diante de nós com Seus traços de amor imolado e ressuscitado?

5. Nunca esqueçamos que poderemos tornar vã a obra de Deus, inutilizando-a com nosso pecado e infidelidade (cf. v. 4; Ef 4,30). Há pessoas que fazem tão bela e profunda experiência do Espírito, experimentam a presença e ação do Senhor de modo tão intenso em suas vidas e, depois, por falta de generosidade, por preguiça, por condescendência para com os antigos vícios e pecados, terminam por perder tudo isto (cf. Mt 13,18-23). A Escritura tem palavras duras para estes, comparando-os a cães que voltam ao vômito (cf. 2Pd 2,20-22). Não esqueçamos: nenhum de nós tem a salvação e a perseverança assegurada! O Reino de Deus sofre violência em nós (cf. Mt 11,12); é necessário vigiar e lutar pela oração (cf. Mt 26,41), pois somente será salvo quem perseverar até o fim (cf. Mt 24,13)!

6. Finalmente, o Apóstolo desafia os gálatas com uma questão: o Espírito é dado pela Lei de Moisés ou pela fé em Cristo Jesus, como já expliquei logo acima? A Lei previu o tempo da efusão do Espírito (cf. Jr 31,31ss; Ez 37; Jl 3), mas ela mesma não dá o Espírito! Somente o Ungido com o Espírito, o Cristo, pode dar o Espírito em abundância, pois “Aquele que Deus enviou... dá o Espírito sem medida” (Jo 3,34).

7. Medite e reze Jl 3. Reze também o Sl 103/104


Um comentário:

  1. Observo muito nas dissiminações protestantes falam muito de discernimento do Espírito,porém caem facilmente em contradições adequando os dons a feitos mágicos, com local e hora de fazer milagres, coisas absurdas, hoje mesmo ouvi um falando de manter a unidade e de heresias, como? Se os mesmos são a própria heresia, e como manter a unidade, onde cada um tem suas próprias interpretações tornando-se mini deuses? Que Deus o abençoe Dom Henrique, tem nos ensinado muito. Parabéns pela visão cristã.

    ResponderExcluir

Caro Irmão, serão aceitos somente comentários que não sejam ofensivos ou desrespeitosos.
Nem sempre terei como responder ao que me perguntam, pois meu tempo é limitado e somente eu cuido deste Blog.
Seu comentário pode demorar um pouco a ser publicado... É questão de tempo...
Obrigado pela compreensão! Paz no Senhor!