Meditação VII - Quinta-feira da I semana da Quaresma
Reze o Salmo 118/119,49-56
Agora leia Gl 2,15-21
1. Atenção à afirmação de São Paulo: “Nós somos judeus de nascimento e não pecadores da gentilidade” (v. 15). Paulo nunca negou o privilégio, a graça de ser judeu, membro do antigo Povo de Deus. Os judeus são o povo querido de Deus (cf. Rm 11,28s); o povo que teve a graça de receber a Lei de Deus (cf. Br 4,4); o próprio Jesus nosso Senhor foi claro ao dizer que “a salvação vem dos judeus” (Jo 4,22). Então, compreendamos bem: ser judeu é uma graça, um privilégio, um dom! Enquanto os povos caminhavam nas trevas, na noite da idolatria, Israel caminhava na luz do Senhor (cf. Is 60,2).
Pense bem: Deus não é politicamente correto nem trata a todos igualmente! Ele ama; basta! Ama a quem quer e como quer. Amou Israel mais que a todos e fez dele o Seu filho primogênito, com ele fez uma aliança de amor, desse povo fez Sua posse, sua herança (cf. Os 11,1; Is 17,6; Jr 7,3; Ez 8,4;Am 7,8; Is 44,21;Os 2,4).
2. Ao lado de todo este amor de Deus pelo Seu povo, São Paulo afirma que “sabendo que o homem não se justifica pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras de Lei, porque pelas obras da Lei ninguém é justificado”.
Esta é uma das afirmações centrais na pregação de São Paulo. Compreendamo-la bem!
a) Os judeus do tempo de Jesus e de São Paulo julgavam-se justos, isto é, piedosos, amigos de Deus, em dia com Deus, cumprindo todos os preceitos da Lei de Moisés. Essa Lei era não somente composta pelos cinco primeiros livros da Bíblica, o nosso Pentateuco, como também pela Lei oral, as tradições dos antigos, as interpretações inumeráveis que os rabinos foram dando da Lei. O próprio Jesus respeitou e venerou a Lei de Moisés, mas nunca aceitou que este monte de preceitos fosse a essência da Aliança entre Deus e os Seu Povo. Para Ele, o coração da Lei era o amor; era o amor a Deus e ao próximo por amor de Deus que dava sentido a toda a Lei. Leia Mt 22,37-40.
Aqui uma pergunta: Qual a essência do cristianismo? Qual a atitude fundamental que o Senhor espera do seu discípulo e que faz de nós cristãos de verdade? Leia Mc 1,16-20; 8,34-38; Mt 10,37-39; Jo 13,12-15.35; Rm 13,8-10. Agora confronte com a sua vida!
b) São Paulo havia sido fariseu; colocava na prática da Lei de Moisés seus orgulho, sua segurança e sua esperança. Tendo sido alcançado por Cristo, ele agora percebe, descobre com o brilho de um raio, que não é a Lei de Moisés que salva, que não são as suas práticas que tornam o homem justo, agradável a Deus, mas unicamente crer em Jesus como o Cristo, o Messias de Deus, acolhendo-O na fé, entrando no Seu seguimento. Agora há uma outra Lei, a Lei de Cristo, fundada no próprio Espírito de Amor (cf. Gl 6,2).
c) Para São Paulo, tornar-se cristão não era trair a Lei de Moisés, mas cumpri-la, pois a Lei anunciava o Messias, a Lei preparava o Messias! Para o santo Apóstolo, a Lei era apenas uma preparação, um pedagogo que deveria guiar Israel até o Messias. Agora que o Messias chegara, o pedagogo perdera sua utilidade. Veja Gl 3,23-24.
Isto vale para a Lei com suas práticas e vale para todo o Antigo Testamento! Imagine que pensa quando vemos as seitas apegadas ao Antigo Testamento, cavando nele preceitos e normas caducas e gritando, espumando de raiva e prepotência ignorante: “Está na Palavra, está na Palavra!”
Mais adiante, vamos ver como e porque o Antigo Testamento continua valendo para os cristãos.
d) Por agora, é importantíssimo compreender isto: o verdadeiro judeu deve passar da Lei para Cristo para cumprir o que a própria Lei havia anunciado: uma Aliança nova e eterna no Espírito do Messias e não mais na letra da Lei de Moisés.
3. Nunca esqueça: ninguém pode se considerar justo diante de Deus simplesmente pela sua força, pela sua prática religiosa. Leia o Sal 142/143,12. Assim, para São Paulo, é preciso em Cristo superar a mera prática da Lei de Moisés para cumprir e receber o que a Lei de Moisés anunciara e prometera! Imagine a confusão que isto daria! Releia com atenção os vv. 15-16.
3. Agora leia os vv. 17-21! Siga o seguinte raciocínio:
a) Os judeus piedosos, sobretudo os fariseus, esforçavam-se para cumprir integralmente a Lei escrita e a Lei oral, a tradição dos antigos. Pensando em cumprir tudo, eles se julgavam justos diante de Deus, merecedores da salvação. A salvação nem parecia um dom, mas o pagamento obrigatório pelo merecimento da justiça, da religiosidade dos piedosos. Ora, a questão não é somente cumprir preceitos, mas o amor com que se os cumpre, o amor a Deus, sem medida, sem cálculo! Esse amor aparece em Cristo, que se entregou por nós, para nos salvar, já que ninguém cumpre totalmente os preceitos da Lei! Leia Mt 23. Aí está um bom exemplo do apego exterior à tradição dos antigos, procurando nelas a justificação, isto é, garantir como direito a salvação!
b) Um judeu poderia pensar: “Então esse Cristo é ministro do pecado! Esse Cristo encobre e justifica, acoberta o pecado, o desleixo!” São Paulo responde: Não! Vendo o amor de Cristo, Nele crendo, Nele sendo batizado, Nele vivendo uma vida nova, vida no amor a Deus e aos irmãos, somos uma nova criatura! Lembre: “Se alguém está em Cristo é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas, eis que se fez realidade nova” (2Cor 5,17). Na verdade, a fé em Cristo, a adesão a Cristo não encobre o pecado: ela revela o pecado, pois mostra o quanto não amamos o suficiente e o quanto o nosso pecado é tão profundo a ponto de necessitar da entrega do Salvador. Mais ainda: a fé em Cristo destrói o pecado no Espírito de Amor de Cristo! Não somos mais escravos do pecado, mas “escravos” do amor de Cristo e, portanto, livres para amar! Então, passa-se de uma Lei de preceitos para a Lei do Amor – e este Amor é o Espírito de Cristo em nós! Veja um belo exemplo de tudo isto em Jo 8,1-11. O perdão exige não mais pecar!
4. O cristão, judeu ou gentio, agora é morto, isto é, livre para a dinâmica da Lei de Moisés – no caso do judeu – e da Lei do pecado – no caso do gentio -, morto para os preceitos da Lei, vivo agora para Cristo: a união total com Ele por amor (cf. 1Cor 6,17), união à Sua Morte e Ressurreição de amor é o cumprimento da Lei:, pois no plano de Deus, era isto que a Lei deveria preparar: para Cristo, para a união com Ele, tanto dos judeus quanto dos gentios (cf. Ef 1,3-14)! Nele tudo se realiza e se cumpre em plenitude; a Lei não é eliminada, mas realizada cumprida superada, realizando no objetivo final de Deus!
5. Dante disto, fica para São Paulo uma questão: quem salva: os preceitos da Lei de Moisés ou o Preceito do Amor de Cristo? O judeu deve parar na Lei de Moisés ou ser fiel ao que a Lei prometera e profetizara e preparara e crer, agora em Jesus como Messias, abraçando a Lei do Espírito Santo que dá Vida divina? Esta é a questão! Se o judeu for salvo pela Lei, não é necessário Cristo! Bastariam as obras da Lei! Se a Lei está em pleno vigor, não seria necessário pregar Cristo aos pagãos; basta fazê-los se tornar judeus, circuncidando-os e fazendo-os cumprir os preceitos legais dos judeus... E aí, Cristo e o cristianismo seriam totalmente dispensáveis. Agora releia os vv. 15-21.
6. Lembre: Nós, cristãos, podemos cair na mesma armadilha dos judeus quando colocamos preceitos, normas, observâncias, tradições no lugar da adesão apaixonada e amorosa por Cristo! É Cristo doador do Espírito de Amor que nos salva. Tudo quanto leva a Cristo é bom; tudo quanto toma o lugar de Cristo deve ser descartado! Pense nisto!
Imagine a aberração de litigar e agredir por causa de Cristo! Por causa de Cristo negar Cristo!
6. Reze o Sl 65/66
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