Meditação X - Segunda-feira da II semana da Quaresma
Reze o Salmo 118/119,73-80
Releia a exortação queixosa de São Paulo em Gl 3,1
Releia novamente!
1. O santo Apóstolo repreende duramente os gálatas: “Ó gálatas insensatos, quem vos fascinou, a vós, ante cujos olhos foram delineados os traços de Jesus Cristo Crucificado?” É preciso voltar sempre a escutar esta dura e indignada censura de São Paulo, hoje mais que nunca! Infelizmente, é tentação contínua nossa e é demoníaca insensatez tirar do centro da nossa fé os escandalosos traços do Cristo crucificado! Não é por acaso que junto ao Altar de cada Eucaristia, ao centro, não ao lado, deve estar fincado o crucifixo com o Crucificado nele pendurado. O próprio Apóstolo recordava aos coríntios tentados ao mundanismo, a concessões ao espírito do mundo, tentados a uma doutrina e a uma salvação de bem com o pensamento mundano e com as modas de momento: “Não quis saber de outra coisa entre vós a não ser de Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1Cor 2,2).
Cristo! Cristo! Cristo! O único Nome no qual a humanidade encontra o caminho, a verdade e a Vida (cf. Jo 14,6)!
Cristo, o único Nome no qual está a Luz que dissipa a humana treva (cf. Jo 8,12)!
Cristo, o único Nome no qual podemos ser salvos (cf. At 4,12)!
Cristo, o Salvador do mundo inteiro (cf. Jo 12,32; 1Jo 2,2; Ap 5,9)! O Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de tudo quanto existe (cf. Ap 3,14; 22,13)!
E Cristo Jesus não é outro que Aquele que foi rejeitado pelo mundo, pois “veio para o que era Seu e os Seus não O receberam” (Jo 1,11); Aquele que o mundo não aceita que reine sobre ele (cf. Jo 19,15; Sl 2,1-3), pois esse mundo já tem o seu príncipe e seu deus (cf. Jo 16,11; 8,44; 1Jo 3,8-10; 2Cor 4,4). Não deixe de ler estas últimas citações; elas mostram quem é o deus, quem é o príncipe deste mundo mundano!
2. Mas, podemos perguntar: Por que esta centralidade de Cristo crucificado?
Por que o Seus traços benditos têm que ser continuamente delineados ante nós, recordados perenemente ao nosso coração, gravados no nosso afeto?
Por que todos nós devemos gloriar-nos na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Gl 6,14)?
Eis, de modo simples e direto a resposta: porque Nele, Homem de dores, esmagado pelo sofrimento (cf. Is 53,3), o pecado é revelado, é desmascarado e aparece com toda a sua maldita força e toda a sua horrenda feiura; e, ao mesmo tempo, e de modo ainda mais forte, neste Homem de dores, consumado pelo sofrimento, o amor e a graça de Deus nosso Senhor se manifestam com toda a sua potência!
a) Primeiro se manifesta o pecado. Aquele Crucificado, Homem de dores, deformado, é ícone claro do que o pecado faz: é capaz de matar Deus no coração do homem, de querer eliminar Deus no coração do mundo e, eliminando Deus, destrói, deforma o homem, desumanizando-o. Aquele Homem de dores é isto tudo: mostra o perigo, a força, a feiura do pecado, a sua ameaça letal para o homem! Por isso, a Cruz do Senhor é dolorosa, é “feia”, fá-Lo “apavorar-Se e angustiar-Se” (Mc 14,33). O pecado é destrutivo, provoca dor, dilaceração, morte! O pecado é capaz de matar Deus! Certamente, não O mata em Si mesmo, pois Ele é a Vida, o Vivente e Vivificante, a perene Fonte da Vida! Mas, mata Deus em nós, no nosso coração, na nossa sociedade, no nosso mundo, nas nossas instituições... E, assim, nos mata, faz de nós mortos-vivos, ossos ressequidos, vida inumana. Leia e medite atentamente em Ez 37,11-14 e Br 3,1-8!
b) Mas, nos traços de Jesus Cristo crucificado delineia-se sobretudo o amor misericordioso e invencível do Senhor Deus: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida eterna. Pois Deus não enviou o Seu Filho para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 16s). A Cruz do Senhor, Sua ignominiosa Paixão, Sua Morte e Sepultura revelam até onde Deus está disposto a ir para nos salvar, para procurar o homem que se perdera e se perde como o filho mais novo da parábola, como a ovelha perdida (cf. Lc 15).
c) Por tudo isto, os traços feridos de Cristo crucificado nos impedem de tomar o pecado com leviandade, nos proíbem de pensar num perdãozinho a preço baixo, numa misericordiazinha festiva e pueril: “Não foi com coisas perecíveis , isto é, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes de vossos pais, mas pelo sangue precioso, como de Cordeiro sem defeito e sem mácula, Cristo” (1Pd 1,19). Cravar os olhos nos traços do Cristo crucificado nos impede de falar de uma falsa misericórdia sem conversão, de uma falsa esperança de perdão sem arrependimento, de um falso amor sem a entrega da vida nas mãos Daquele que Se entregou por nós.
Leia Hb 5,7-10 e Rm 12,1-2.
3. No entanto, nunca nos esqueçamos, não sejamos ingênuos: a Cruz de Cristo será sempre escândalo – também para muitos cristãos, que se portam “como inimigos da Cruz de Cristo” (cf. Fl 3,18s)! O mistério da Cruz, de um caminho de salvação que passe pelo concreto da vida, que exija conversão concreta, trabalhosa, que exija sair de si mesmo, deixar seus vícios e suas próprias medidas, jamais poderá ser compreendido pelo mundo e pelos cristãos mundanos! Estes querem dobrar o Evangelho à sua medida mundana, querem reduzir Cristo ao mundo: um Cristo para cada época, um Cristo para cada gosto, um Cristo para cada freguês, simpático, palatável, aceitável ao mundo, indolor e inofensivo!
A verdade é que nem o homem carnal nem o homem psíquico podem guardar no coração “os traços de Jesus crucificado”. Estes desejam um Cristo sem Cruz, um Cristo deformado, mundano, falseado, inexistente. Leia Mt 16,24ss.
a) Aqui, é preciso ter sempre presente que o homem carnal, isto é, o homem mundano, fechado para Deus, não poderá nunca compreender a linguagem da Cruz.
b) Mas, atenção: também o homem psíquico, isto é, o homem bom de uma bondadezinha natural, o homem somente no nível da sua racionalidade, o homem do politicamente correto e do sorrisinho simpático para o mundo, esse também é incapaz de acolher a loucura da Cruz!
c) Somente o homem “espirituado”, isto é, o homem impregnado do Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, pode acolher a linguagem da Cruz e sua loucura! E isto exige contínuo esforço de conversão! Conversão, é a primeira exigência do Evangelho, conversão é a atitude fundamental de quem deseja seguir o Cristo de Deus (cf. Mc 1,14s)!
4. Leia com toda atenção 1Cor 2,11-16; 15,45-49.
O homem somente no nível da natureza, da razão deste mundo, da filosofia, não é nem será nunca capaz de chegar às alturas do Cristo Jesus e da loucura da Sua Cruz. Leigos, religiosos, ministros ordenados, todos precisamos de contínua conversão à lógica da Cruz do Senhor! O resto é disfarce e falseamento do Evangelho de Cristo, é insensatez, como a dos gálatas!
5. É preciso repetir sempre, insistir: somente o homem espiritual, o homem “espirituado”, isto é, impregnado pelo Espírito de Cristo e por Ele guiado e iluminado, pode compreender o mistério da Cruz, pode guardar no coração “os traços de Jesus Cristo crucificado” (Gl 3,1), pode realmente considerar “atentamente Jesus, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé” (Hb 3,1), “que nos dias de Sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, Àquele que O podia salvar da morte... E, embora fosse o Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento” (Hb 5,7s)!
6. Leia atentamente Rm 8,12-15.
Somente o homem aberto constantemente à conversão, somente o homem que se deixa iluminar e conduzir pelo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, pode compreender e saborear a lógica da Cruz do Senhor.
Leia Ef 4,17-24 e se deixe realmente interpelar por estas palavras da boca de Deus!
7. Concluindo: atenção para o contínuo perigo do “fascínio” sedutor do mundo e suas ideologias, suas modas, seus raciocínios, suas justificativas, que deixam de lado “os traços de Jesus Cristo crucificado”...
Cuidado você, Irmão, para não estar infectado!
O antídoto é e sempre foi o mesmo: as Escrituras Sagradas como foram sempre, nestes dois mil anos, lidas, ouvidas, interpretadas, vividas e ensinadas pela Igreja inteira, Corpo de Cristo e Templo do Espírito! Este ensinamento está contido nos textos do Magistério perene da Igreja, sobretudo dos concílios no decorrer dos séculos. Ninguém é dono da fé do Povo de Deus, ninguém pode adulterar o Evangelho, isto é, a doutrina e a moral católicas que brotam dos “traços de Jesus Cristo crucificado”! E, como diz o Apóstolo, quem pregar diferente “seja anátema” (Gl 1,8s)!
8. Conclua esta meditação rezando pela Igreja o comovente texto de Is 63,7 – 64,11. Recorde sempre: no Senhor está a nossa esperança!
Já presenciei a tristeza de alguns cristãos agradecer a Deus pela sua conversão, como ser grato pelo processo que só termina com o último suspiro? Como não ter consciência das consequências do pecado? Como virar as costas para uma cruz diária? Como não contemplar um amor que se manifesta para além do que a lógica do mundo nos diz ser contrária? Que Deus o abençoe sempre Dom Henrique.
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