segunda-feira, 3 de junho de 2019

Ainda sobre o Mistério da Ascensão do Senhor

Ainda estamos envolvidos pelo mistério da Ascensão do Senhor. E precisamos meditar muto nele, porque é tão desconhecido e subestimado pelos cristãos!

Mistério da Ascensão! É mistério porque brota do Coração de Deus, o Santo, o Infinito, o Inabarcável, o Incompreensível, o Eterno, o Inefável, o Sábio, Aquele cujas profundezas jamais poderão ser sondadas pela mente e pelo coração humanos; é mistério porque ultrapassa tudo quanto possamos imaginar ou compreender, é mistério porque nos dá a Vida eterna, Vida divina, Vida que “os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu” (1Cor 2,9), é mistério porque se trata de uma realidade que somente pode ser compreendia no Espírito Santo de Cristo (cf. 1Cor 2,10) e jamais nos simples limites da humana razão.

A hodierna Solenidade, caríssimos, é uma só com a do Dia de Páscoa:

Aquele, feito homem igual a nós, morto como nós, que admiramos levantado dentre os mortos e constituído em Glória na Ressurreição, hoje, contemplamo-Lo à Direita de Deus, com a mesma autoridade do Pai, e O proclamamos Cabeça da Igreja, nosso verdadeiro e eterno Sacerdote e Mediador, Senhor sobre toda a criação, sobre toda a humanidade, Princípio e Fim da história humana e Juiz dos vivos e dos mortos.
No Dia da Páscoa contemplamos o Cristo resplandecente de Glória; na Solenidade de hoje, contemplamos o que essa Glória significa para nós todos, isto é, o que o Cristo, glorificado em Si mesmo, tornou-Se para nós e para toda a criação!

Eis, caríssimos Irmãos:

Primeiramente, a Ascensão do Senhor nos faz compreender, com o Coração guiado pelo Espírito Santo, que o Cristo que por nós Se fez homem, como um de nós viveu e por nós morreu, Ele mesmo, agora, com a Sua humanidade glorificada, está à Direita do Pai, isto é, compartilha plenamente todo o Poder que o Pai possui em plenitude.
Pensai bem, que isto é admirável: um da nossa raça, o homem Jesus, Criador feito criatura, participa agora do mesmo Poder divino, acima de todas as criaturas! Que mistério: Nele, a nossa humanidade está totalmente glorificada, encontra-se, para sempre, no seio da própria Trindade Santa!

Como dizia a oração inicial desta Santa Missa, “a Ascensão do Filho já é a nossa vitória” porque um homem, o homem Jesus, imolado e ressuscitado, entrou nos Céus – e “Céus” no plural, ali, onde somente Deus É, isto é, no interior da própria Vida do seio da Trindade Santa! O homem Jesus entrou no seio da Trindade e nós, enxertados Nele, a Ele unidos no Batismo e na Eucaristia, como membros do Seu Corpo, que é a Igreja, de modo misterioso, mas real, com Ele entramos no seio de Deus, com Ele nos sentamos nos Céus! Eis: nós sabemos: onde já está a nossa Cabeça, estaremos também nós um dia! Como diz o santo Apóstolo, na sua Carta aos Efésios, chegaremos “todos juntos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado do Homem perfeito e à estatura de Cristo em Sua plenitude” (cf. Ef 4,13).
Vede, portanto, caríssimos, que destino a Festa deste hoje nos revela: chegar à estatura do Cristo em Sua plenitude! Nada menos que isso pode saciar o coração humano; nada menos que isso pode nos contentar, pode nos dar paz! Olhai para o Cristo glorioso à Direita do Pai e vereis a que sois chamados… Contemplai, pois, o nosso destino!

Pensai que miséria, a do nosso mundo, que vive de bagatelas, empenha todo o seu afeto com futilidades e procura alegria e plenitude no que é efêmero! Tanto maior a grandeza que contemplamos em Cristo, mais deveria nos espantar a ilusão e alienação do mundo atual! Recordai, caros, a exortação do Apóstolo: “Esforçai-vos por alcançar as coisas do Alto, onde está Cristo, sentado à Direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Quando Cristo, vossa Vida, aparecer em Seu triunfo, então vós aparecereis também com Ele, revestidos de Glória” (Cl 3,1-4).

Em segundo lugar, sentado como Senhor à Direita do Pai, Jesus é o Senhor do universo e de toda a história.

Vede a criação, caríssimos! Pensai nas galáxias, recordai as estrelas, imaginai a riqueza de vida nas profundezas do mar, pensai ainda na sede de Infinito do coração humano…

De tudo isso Cristo é Senhor; tudo caminha para Ele, Ele é a Finalidade de tudo, também da história humana.

Por mais que o homem pecador trame contra Cristo, por mais que o mundo hodierno volte suas costas ao Senhorio do Ressuscitado, tudo caminha para Ele e Ele triunfará ao fim de tudo – Ele é o Alfa e o Ômega, o A e o Z, o Princípio e o Fim de todas as coisas! Hoje, mais que nunca, as palavras do Salmo 2 se mostram verdadeiras:

“Por que as nações se amotinam,
e os povos meditam em vão?
Os reis da terra se insurgem,
e, unidos, os príncipes conspiram
contra o Senhor e contra o Seu Messias!

O que habita nos Céus ri,
o Senhor Se diverte à custa deles.
E depois lhes fala com ira,
confundindo-os com Seu furor:

‘Fui Eu que consagrei o Meu Rei
sobre Sião, Minha montanha sagrada!’
Vou proclamar o decreto do Senhor:
Ele Me disse: ‘Tu és Meu Filho,
Eu hoje Te gerei.
Pede, e Eu Te darei as nações como herança
 e os confins da terra como propriedade!”

Por tudo isso, Ele é o Juiz de tudo quanto existe. Valerá a pena e durará para a Eternidade, terá sentido, tudo o que estiver sob o Seu Senhorio de paz, de amor, de vida, de justiça e de santidade. Tudo quanto não condisser com o Seu Reinado perecerá, passará, pois não servirá para mais nada a não ser para ser jogado fora e pisado pelos homens.

Mais ainda: o Senhor Jesus, hoje no mais alto dos Céus, é Cabeça da Igreja.

Aquele que é o Unigênito de Deus, pela Sua Ressurreição e pelo dom do Seu Espírito, tornou-Se o Primogênito de muitos irmãos, Cabeça do Seu Corpo, que é a Igreja.

Eis, meus irmãos: o Cristo pleno de Glória que está nos Céus, é nossa Cabeça e Dele continuamos recebendo a Vida, que é o próprio Espírito Santo. Esta Vida vem-nos, sobretudo, nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, na qual recebemos o Cristo morto e ressuscitado, pleno do Santo Espírito, Senhor que dá a Vida divina.

Olhando para Aquele que está à Direita do Pai e é nossa Cabeça e Princípio, como não nos alegrar? Como não nos encher de esperança? Como não ter a certeza que nossa vida caminha para a Plenitude?
Não estamos sozinhos, irmãos! A Igreja jamais estará sozinha – seu Senhor é o mesmo que está à Direita do Pai; seu Esposo e Cabeça é o Rei da Glória!

Há ainda, no tremendo mistério da Ascensão um aspecto que, frequentemente, passa despercebido aos cristãos: a Ascensão é a Festa da efetivação do sacerdócio de Cristo! Com a Sua gloriosa Ascensão Cristo Jesus torna-Se, efetivamente, nosso sumo e Eterno Sacerdote! O que diz a Escritura? “Levado à perfeição, Se tornou para todos os que Lhe obedecem princípio de salvação eterna, tendo recebido de Deus o título de Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 5,9s). O Cristo Jesus nosso Senhor foi levado à perfeição na Sua Ressurreição e glorificação à Direita do Pai. Então, Ele entrou no Santuário verdadeiro, que são os Céus, “a fim de comparecer, agora, diante da Face de Deus a nosso favor” (Hb 9,24)! Que mistério tão profundo, tão belo, tão consolador: pela Sua Encarnação, pela Sua Cruz e Ressurreição, agora, “depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-Se para sempre à Direita de Deus. De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, os que Ele santifica” (Hb 10,14). Assim, “Nele temos um caminho novo e vivo, que Ele mesmo inaugurou através do véu, quer dizer através da Sua humanidade. Temos um Sumo Sacerdote eminente constituído sobre a Casa de Deus” (Hb 10,20s).

Irmãos, queridos, percebeis isto? Compreendeis o mistério maravilhoso? Cristo, o Cordeiro imolado por nós, entrou na Glória de Deus, e, diante do Trono, como “Cordeiro de pé como que imolado” (Ap 5,6), apresenta, agora, de modo real e glorioso, o Sacrifício santíssimo que ofereceu por nós na Sua humanidade por nosso amor assumida! É no Santuário dos Céus, à Direita do Pai, diante do Trono, que Ele exercerá para sempre o Seu sacerdócio! E em cada celebração do Sacrifício eucarístico, Ele estará no Altar, “de pé, como que imolado” (Ap 5,6), tornando presente, atual e atuante o Seu Sacrifício por nós, por toda a Igreja e pelo mundo inteiro!
Irmãos, como não admirar? Como não adorar? Como não agradecer? Como não nos. rejubilar?

Por fim, caríssimos, a Festa de hoje – que, de certo modo já nos prepara para o encerramento do Tempo da Páscoa, com o Santo Pentecostes, no próximo Domingo -, a Festa de hoje nos convida a colocar os pés nas estradas do mundo – na nossa família, no nosso trabalho, entre os nossos amigos, na vida social -, pés nas estradas do mundo para proclamar o Senhorio de Cristo.
Lembrai-vos hoje da Sua promessa, lembrai-vos da Sua missão:“Recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes Minhas testemunhas até os confins da terra!” (At 1,8)
Coragem, pois, caríssimos! Se conhecermos Jesus de verdade, se O experimentarmos realmente na nossa vida, se crermos na Sua Glória e esperarmos com todo nosso coração participar dela, seremos, então, Suas testemunhas e nossa convicção, nosso amor e nossa esperança invencível contagiarão a muitos.

Portanto, “homens da Galileia, por que estais admirados, olhando para o céu? Este Jesus há de voltar, do mesmo modo que o vistes subir!” (At 1,11) Façamos, pois, como nossos irmãos das origens, que saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava Sua Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam. Que assim seja! Amém.



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