Com este artigo vou iniciar uma série de meditações sobre os sacramentos. O que são? Quem os instituiu? Qual o sentido de cada um deles? Como são celebrados? Como bem participar deles? São questões que veremos nesta série de temas teológicos.
Antes de mais nada é importante compreender que não podemos falar corretamente dos sacramentos sem começar falando de Jesus Cristo, somente Nele e a partir Dele os sacramentos têm sentido e eficácia: é Ele o Sacramento primordial, a fonte de todos os sacramentos. Vejamos bem isso!
Que é um sacramento? É um sinal eficaz, transformador, da presença de Deus, de Sua Vida e plenitude no nosso meio.
Observe bem: é um sinal, ou seja, indica, recorda, comunica, exprime, evoca, torna-nos presente uma realidade que de outro modo poderia estar ausente;
este sinal é eficaz: não somente recorda, indica, não somente torna presente na lembrança, mas realmente faz acontecer realmente, faz agir aquilo que significa.
É por isso que dizemos que o sacramento é um sinal eficaz, atuante, transformador.
Tomemos como exemplo a Bandeira do Brasil: “a lembrança da Pátria nos traz!” A Bandeira é um sinal do Brasil; mas não é um sinal eficaz: a Bandeira é a Bandeira e o Brasil é o Brasil! Ela é um sinal meramente convencional, exterior. Já com os sacramentos a coisa é diversa: a Eucaristia, por exemplo: aquele pão representa Cristo, indica Cristo, é sinal de Cristo... Mas, não é somente um sinal; é, realmente, Cristo presente, amante, atuante, no Seu Corpo ressuscitado! Então, o sacramento sinaliza e faz acontecer o que foi sinalizado! “Re-presenta”, ou seja, torna realmente presente!
É esta a primeira ideia que devemos ter quando falamos em sacramento.
Como foi dito acima, o Sacramento primordial é Cristo Jesus: Ele é o Sacramento do Pai: “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), “É Ele o resplendor da Sua Glória (do Pai), e a expressão da Sua Substância” (Hb 1,3), Ele é a presença real, eficaz, transformadora, verdadeira do Pai entre nós: “Quem Me vê, vê o Pai; Eu estou no Pai e o Pai está em Mim” (cf. Jo 14,9,10).
Nas palavras de Jesus, é o Pai Quem nos fala, nos Seus gestos é o Pai Quem nos estende a mão, no Seu carinho para com os pobres, os fracos, os pecadores, é o Pai Quem manifesta a Sua ternura... Em toda a Sua vida entre nós foi o Pai Quem nos reconciliou Consigo. Muitíssimas vezes a Escritura afirma isso: “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus... e o Verbo Se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória. A graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, Este O deu a conhecer” (Jo 1,1.14.17-18).
Jesus é Deus como o Pai; Nele, Filho amado, é a própria Vida, a própria presença do Pai que nos é dada; por isso o Evangelista diz: a graça e a verdade do Pai nos vieram por Jesus Cristo! Outro exemplo desta realidade maravilhosa está na exclamação do próprio povo diante das ações de Jesus: “Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16). Quando Jesus curou o endemoninhado de Gerasa, deu a seguinte ordem ao homem curado: “Vai para tua casa e para os teus e anuncia-lhes o que fez por ti o Senhor na Sua misericórdia” (Mc 5,19). Em Jesus nosso Salvador é o Senhor Deus (o Pai) Quem age! Por isso mesmo o próprio Jesus, quando foi criticado porque acolhia os pecadores, justificou Sua atitude contando as três parábolas da misericórdia, mostrando que Ele era amigo dos pecadores porque o Seu Pai também o era (cf. Lc 15). Tantas frases de Jesus mostram que Ele é esta presença de Deus: “O Meu Pai trabalha sempre e Eu também trabalho” (Jo 5,17); “Eu falo o que vi de Meu Pai (Jo 8,38); “Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. As palavras que vos digo, não as digo por Mim mesmo, mas o Pai, que permanece em Mim realiza Suas obras” (Jo 14,10-11).
Por tudo isso, Jesus Cristo é o Sacramento do Pai: Nele está a Vida que vem do Pai (cf. Jo 1,4). Entrar em contato com o Cristo morto e ressuscitado é entrar em contato com a Vida do próprio Deus, a Vida que o Pai derrama sobre o Seu Filho na potência do Espírito Santo. Já afirmei isto muitas vezes, em tantos dos meus escritos: o Filho Jesus morto e ressuscitado como homem, recebeu do Pai o Espírito Santo, Espírito de Vida divina, força e poder, e derramou sobre nós: “Exaltado pela Direita de Deus, Ele (Jesus) recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e O derramou” (At 2,33).
Então, o caminho pelo qual a humanidade pode caminhar para realmente encontrar Deus é Jesus Cristo, Sacramento (sinal eficaz, verdadeiro, potente, ativo) da presença divina entre nós. É por tudo isso que dissemos que Jesus é o Sacramente primordial de Deus! Não adianta pedir como Filipe: “Mostra-nos o Pai e isto nos basta!” (Jo 14,8) A resposta será sempre a mesma: “Quem Me vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em Mim. Eu e o Pai somos um! (Jo 14,9-11)
No próximo texto continuarei, desenvolvendo este tema!
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