sábado, 30 de novembro de 2019

O Advento: seu significado


A antífona que abre o Advento

“A vós, meu Deus, elevo a minha alma.
Confio em Vós, que eu não seja envergonhado!
Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido quem em Vós espera” (Sl 24,1-3).

Ah, a Liturgia! Que lições, que intuições, que sentimentos inexprimíveis de tão ricos, ela nos faz experimentar!

As palavras acima, do Salmo 24, são a antífona de entrada (o Intróito) da Missa do primeiro Domingo do Advento. Pare e pense um pouco, antes de continuar a leitura... Tente descobrir sozinho: o que estas palavras têm a ver com o Advento, com a Vinda do Senhor na Glória e com o Natal? Por que a Igreja as colocou aí? Pense um pouco... A Liturgia só pode ser saboreada se a gente aprender a pensar com o coração...

Observe bem: o Advento é tempo de preparar a celebração da Vinda do Senhor em Belém e de preparar-se para a Vinda dele na Parusia, na Glória final. Por isso, mesmo a primeira palavra da antífona é fortíssima: “A Vós, Senhor, elevo a minha alma!” É o fiel, é a humanidade, que tira o olhar do próprio umbigo, da própria autossuficiência, e, reconhecendo-se pobre, eleva a alma, a vida ao Senhor, esperando Dele a salvação!
Já aqui, se coloca a atitude fundamental com a qual devemos viver o Advento: a espera vigilante, como a amada que espera o amado, como a terra que espera o sol, como o vigia que espera a aurora...

Depois, a antífona nos joga em cheio no drama da vida: quantos inimigos exteriores e interiores temos, quantas contradições, quantos perigos de cair, de perder o rumo, de fracassar na existência! Somo tão pobres, tão quebrados, tão frágeis... Tão incerto é nosso caminho sobre esta terra de exílio... “Confio em Vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos!”

Esta consciência da nossa miséria, esta percepção de que temos um coração de água, olhos de águia, mas umas asinhas curtas apenas como as de pardal é a condição essencial para nos descobrirmos pobres diante de Deus e, então, gritar: “Senhor, vem salvar-nos! Senhor, precisamos de um Salvador! Sem, sem Tua presença, a humanidade se perde, o homem se destrói, seremos sempre frustrados, seres fracassados no mais profundo de sua existência!” É isto que esta antífona comovente nos quer fazer compreender e experimentar.

Mas, observe como ela termina com a proclamação de uma certeza certa: “Não será desiludido quem em Vós espera”. Não será desiludido quem coloca sua esperança no Senhor, quem vigia esperando o Cristo que vem!
Deus é fiel: mandou-nos o Seu Cristo e Ele estará para sempre em nosso meio! Aquele que sabe reconhecer a Sua presença e vive na Sua verdade, de esperança em esperança, não ficará envergonhado no Dia da Sua Manifestação gloriosa. Lições assim, tão profundas, tão saborosas, tão verdadeiras, somente a Liturgia pode nos dar! Quem dera que soubéssemos percebê-las e saboreá-las...

Um tempo, uma saudade...

Estamos começando hoje um novo Ano Litúrgico; é o princípio de mais um ciclo de tempo sagrado para celebrar na liturgia o santo mistério do Deus que nos salvou em Cristo Jesus. É isto o ano litúrgico: o arco de tempo no qual a Igreja celebra nos ritos, nas palavras, nos gestos da liturgia os próprios gestos salvadores do Redentor nosso!
Deste modo, celebramos o mistério de Cristo na sagrada liturgia e, com ela, enchemos nossa vida do bom odor de Cristo e do gosto das coisas do Céu! Cuidemos de viver piedosamente este novo ano que ora começa!

E o primeiro mistério que se celebra no arco do ano da Igreja é, precisamente, o santo Tempo do Advento, que, primeiramente, faz memória da Vinda do Cristo Senhor no final dos tempos para levar à plenitude a obra da salvação, iniciada na Sua piedosa Vinda entre nós na Sua Encarnação. Enquanto o Senhor não vier em Glória, o lobo não morará com o cordeiro e o leopardo não se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o gordo novilho não andarão juntos e um menino pequeno não os poderá guiá-los; enquanto o Senhor não vier sobre as nuvens, a vaca e o urso não pastarão juntos nem juntas se deitarão as suas crias. O leão não comerá forragem como o boi. A criança de peito não poderá brincar junto à cova da áspide... Ainda se fará mal e se destruirá e a terra não estará cheia do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o fundo do mar (cf. Is 11,6-9). Por isso, é preciso pedir esta Vinda, por ela é preciso rezar, para ela é preciso preparar-se! É necessário exclamar sempre: “Venha o Teu Reino”; e suplicar: “Maran atha!” – Vem, Senhor! É desta Vinda que fazemos memorial litúrgico na primeira parte do Advento!

Mas, como podemos celebrar o memorial do que ainda não ocorreu? No rito bizantino, após a consagração dos dons, o celebrante reza: “Recordando, pois, este preceito salvífico e de tudo aquilo que foi realizado por nós: da Cruz, da Sepultura, da Ressurreição ao terceiro dia, da Ascensão aos Céus, do trono à Direita, da Segunda e gloriosa Vinda, os dons que de Ti recebemos, a Ti oferecemos em tudo e por tudo”. É belíssimo: na Eucaristia, a Igreja já celebra a Vinda final do Senhor, pois, na força do Santo Espírito, já experimenta o mundo que há de vir, ali presente no Altar, nas aparências do pão e do vinho, Corpo e Sangue do Imolado-Ressuscitado! Ora, celebrar esta Vinda gloriosa nos impele a que nos preparemos para ela! Na primeira parte do Advento – do I Domingo ao 16 de dezembro – a Igreja nos recorda que estamos caminhando para o encontro do nosso Salvador, que nos haverá de julgar! Ele vem e nós devemos vigiar pela oração, pela escuta da Palavra, pela prática dos sacramentos, pelo amor fraterno...

Nunca esqueçamos: somos filhos da Luz, filhos do Dia que vem! Feliz daquele que o Senhor, ao chegar, encontrar vigilante!

Além deste aspecto de preparação para a Vinda gloriosa do Senhor, no Advento, a Igreja faz memorial da longa espera do povo de Israel e de toda a humanidade. Espera? Que espera?

Pensemos no coração humano, recordemos a história humana e veremos que toda a nossa existência é uma saudade, uma espera, uma ânsia. O homem é cativo da esperança! Espera a paz, espera a felicidade, espera a plenitude, espera a Vida, espera vencer a morte! Os pagãos, sem saber bem o que esperavam, ainda assim, esperavam... Esperavam e esperam!

Por sua vez, os judeus, o Povo da antiga aliança, esperava sabendo o que esperava... Sabia porque Deus prometera um Messias, um Salvador. Com esse bendito Enviado de Deus, toda graça e toda bênção seriam dadas a Israel e a toda a humanidade. Nos dias do Messias, o Senhor iria derramar o Seu Espírito sobre toda carne e Israel seria salvo e a humanidade descansaria em paz...

Pois bem, o Tempo do Advento celebra essa espera e coloca diante dos nossos olhos as promessas que Deus fez ao Seu Povo e a toda a humanidade. Ele começou a cumpri-la quando enviou o Seu Filho, nascido de Maria, a Virgem, fazendo Dele o nosso Salvador, morto e ressuscitado, doador do Espírito! Por tudo isto, celebramos e esperamos, na certeza da fé, na firmeza da esperança que não decepciona, porque suscitada e sustentada pelo Espírito (cf. Rm 5,5), aquela Vinda gloriosa do nosso Salvador, que levará à plenitude a obra iniciada com Sua Encarnação e piedoso Natal.
Exatamente porque é tempo de espera vigilante e teimosa, a cor deste período é o roxo, de quem vigia e aguarda; por isso também a ornamentação das igrejas deve ser simples, despojada, com a sobriedade de quem vai a caminho, ao encontro Daquele que vem...

É tempo de esperar, como o vigia espera pela aurora, como a amada espera pelo amado, como a flor espera pelo orvalho...

Um bom Domingo a todos, um santo Advento, um fecundo e agraciado Ano Litúrgico!


Por Ele esperem: Seu Dia vem!
Tenham coragem: Jesus já vem!

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Homilia para o I Domingo do Advento - ano a

Is 2,1-5
Sl 121
Rm 13,11-14
Mt 24,37-44

Com esta santa Eucaristia, estamos iniciando um novo ano litúrgico.
É este o primeiro Domingo do Advento, o tempo de quatro semanas que nos prepara para a Vinda do Senhor, no Dia final da Sua santa Manifestação gloriosa, e para a celebração solene do Dia do Seu Natal segundo a carne, no tempo da nossa história, há dois mil anos.
Tudo, na Liturgia, nos ajudará nessa santa preparação, na santa espera, cheia de esperança:
o roxo significa a vigilância de quem aguarda com desejo, com santa ansiedade,
a moderação das flores ajuda-nos a concentrar nossa atenção Naquele que vem para salvar e tudo levar à Plenitude,
o “Glória” não cantado prepara-nos para cantá-lo como novidade na Noite Santa do Natal.
Os sentimentos do nosso coração devem ser a vigilância, a disponibilidade para acolher o Salvador que Se aproxima, a piedade humilde de Maria Virgem, de José, dos pastores, de Simeão, Zacarias e Isabel, o espírito de conversão anunciado por João Batista, o sonho de um mundo “cheio da sabedoria do Senhor como as águas enchem o mar” (Is 11,9), como Isaías profetizou... Aproveitemos essas quatro semanas tão doces, que recordam no memorial litúrgico a espera de Israel e da humanidade pelo Messias e que nos fazem celebrar já, no mistério litúrgico, a Vinda gloriosa do nosso Salvador como Juiz e Senhor de todas as coisas! Como canta a Liturgia: “Ao simples ecoar, do Vosso Nome eterno,/ joelhos vão dobrando/ o Céu, a terra, o inferno./ Um Dia voltareis,/ Juiz e Rei de tudo./ Oh! Dai-nos hoje a graça,/ na tentação escudo!”

Nos textos bíblicos que a Igreja hoje nos propõe, o Senhor sonda as angústias e saudades do coração humano e nos fala precisamente da esperança: Ele é o Deus que vem ao encontro dos nossos anseios mais profundos... Mas também nos exorta a vigiar, a que nos preparemos para acolher o Dom esperado. Aliás, é esta a miséria do mundo atual: busca a paz, procura a vida, mas não as busca Naquele que é a saciedade do nosso coração e a salvação da nossa existência. O homem tem sede e Deus, misericordiosamente envia-lhe a água, que é o Messias; e o nosso mundo não O reconhece; antes, renega-O!
Vejamos se não é assim; recordemos a palavra do Profeta: “Acontecerá nos últimos tempos que o Monte da Casa do Senhor estará firmemente estabelecido no ponto mais alto das montanhas. A ele acorrerão todas as nações, para lá irão povos numerosos.. porque de Sião provém a Lei e de Jerusalém, a Palavra do Senhor”. Compreendamos bem: de Israel, Deus prepara uma salvação, uma luz, uma direção para toda a humanidade. O homem sozinho não encontra o caminho, por mais que teime em se julgar grande e autossuficiente. À nossa pobreza, o Senhor vem com uma promessa tão grande. E, se o coração da humanidade acolher a salvação que vem, a luz que brilha, então, encontrará a paz: “Ele há de julgar as nações e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros em não mais travarão combate”. Eis a promessa de Deus: dar-nos a salvação; eis o sonho do Senhor: encontrar uma humanidade que acolha o Salvador, dele bebendo a paz!

No nosso mundo, ferido, cansado, incerto, mundo que já não mais crê de verdade em nada, a promessa do Senhor é como um alento. Acreditemos, irmãos! Quão triste o mundo se os cristãos viverem sem esperança, sem certeza, sem ânimo, como os pagãos... Já nos tempos apostólicos, São Paulo exortava os cristãos a que não ficassem tristes “como os outros, que não têm esperança” (1Ts 4,13). Irmãos meus, em Cristo, temos esperança, em Cristo, sabemos para onde vamos, em Cristo, esperamos com serena e profunda certeza que o Senhor vem e nos salva!
Este Tempo do sagrado Advento quer levantar nosso ânimo: o Senhor, cujo Natal celebraremos dentro de quatro semanas, é o mesmo que virá um Dia, na Sua Manifestação gloriosa! Nossa vida tem rumo e sentido! Vigiemos: “Vós sabeis em que tempo estamos! Já é hora de despertar. Agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite deste mundo já vai adiantada, o Dia vem chegando” – o Dia é Cristo, Salvação que Deus nos prometeu e nos preparou! Então: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em pleno dia” – como quem vive já agora, durante a noite deste mundo, no Dia, que é Cristo-Deus: “nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo contrário: revesti-vos do Senhor Jesus”. Eis o modo de vigiar na noite deste mundo, eis o modo de testemunhar que esperamos, na vigilância, o Salvador que nos foi prometido e virá como nosso Juiz para levar à plenitude a Salvação iniciada com a Sua piedosa Vinda na nossa carne. É oportuno recordar que este texto da Carta aos Romanos foi o que provocou a conversão de Santo Agostinho, lá no distante século V. A Palavra de Deus é sempre um apelo gritante e forte para nós! Que ela nos converta também agora, neste tempo que se chama hoje!!

A grande tentação para os discípulos de Cristo, atualmente, é conformar-se com o marasmo do pecado do mundo, é viver burguesamente, uma vida cômoda e sem uma fé verdadeira e operante, sem aquela atitude de alegre expectativa por aquilo que o Senhor nos prometeu. Vamos nos ocupando e distraindo com uma vida fútil, dispersa em mil bobagens, esquecendo daquilo que realmente importa; vamos tomando como parâmetro o mundo e seus critérios, medidas e valores; vamos confundindo a Lei de Cristo com o politicamente correto, desatentos às Escrituras Santas! 
Vale para nós a advertência seríssima do Senhor Jesus: “A Vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé”: Naquele então, todos vivam tranquilamente: “comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até que Noé entrou na arca e eles nada perceberam...” Como agora: vive-se na farra do paganismo, do consumismo, do relaxamento moral, de tantos absurdos contrários ao Evangelho, ao gosto do mundo, e não percebemos que haverá um Juízo decisivo de Deus para nós e para o mundo, um Juízo no qual o bem e o mal, o santo e o pecador, serão separados: “um será levado e o outro será deixado”... Triste de quem for deixado, triste de quem perder a companhia do Senhor, nossa paz! Pois bem: logo neste iniciozinho de Advento, a advertência do Senhor é dramática: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor! Na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá!”

Então, enquanto o mundo dorme no seu pecado, na sua autossatisfação e autojustificativas, elevemos, humildemente nosso olhar e nosso coração para Aquele que vem: “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos, pois não será desiludido quem em Vós espera!” – “‘Sim, Eu venho em breve!’ Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20)


terça-feira, 26 de novembro de 2019

Sobre o Livro de Daniel - Dn 3,24-50


Esta perícope dá conta do cântico de Azarias e seus companheiros no meio das chamas. Coisa admirável: todo aquele que confia no Senhor é capaz de cantar os louvores de Deus mesmo por entre chamas intensas e ferozes! As chamas não queimam os servos do Senhor porque o “vento de orvalho refrescante” (Dn 3,50), que é o próprio Espírito de Cristo, faz com que o fogo não os atinja nem lhes cause qualquer incômodo (cf. Dn 3,50b). A lição, aqui, é tão bela, tão consoladora: O Senhor sustenta os Seus, o Senhor nos sustenta! “Não temas, porque Eu te resgatei, chamei-te pelo teu nome: tu és Meu. Quando passares pela água, estarei contigo, quando passares por rios, eles não te submergirão. Quando andares pelo fogo, não te queimarás; a chama não te atingirá. Com efeito, Eu sou , o teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador” (Is 43,1b-3). Por isso, esses amigos do Senhor cantam, mesmo em meio às chamas!

Ó Senhor Santo e Poderoso, ensina-me a cantar-Te, mesmo nos fornalhas da vida! Ensina-nos a ver a Tua presença e a Tua providência, mesmo quando tudo me for adverso, mesmo quando eu mesmo não compreender quase nada. Que eu diga: “Bendito és Tu, Senhor; Tu és digno de louvor! O Teu Nome é glorificado eternamente! És justo em tudo o que nos fizeste e todas as Tuas obras são verdadeiras, retos os Teus caminhos e verdade todos os Teus julgamentos. Tomaste decisões conforme a verdade em todas as coisas que fizeste cair sobre nós! Tudo o que fizeste sobrevir, tudo o que Tu mesmo nos fizeste foi num julgamento verdadeiro que o fizeste!” (Dn 3,26-28.31)


sábado, 23 de novembro de 2019

Homilia para o XXXIV Domingo Comum - Solenidade de N. Senhor Jesus Cristo Rei do Universo - ano c

2Sm 5,1-3
Sl 121
Cl 1,12-20
Lc 23,35-43

É este o último Domingo do Ano da Igreja. Na corrida, na fiada de dias iniciada no Advento do ano passado, celebramos e contemplamos o Cristo que Se fez homem por nós, por nós anunciou e tornou presente o Reino do Pai e, para nos dar esse Reino de modo definitivo, por nós entregou-Se na Cruz, morreu e ressuscitou, dando-nos de modo definitivo o Seu Espírito Santo.
Pois bem: depois de termos celebrado e contemplado todo este mistério, chegamos ao fim do caminho litúrgico e proclamamos o Senhor Jesus como Rei do Universo. Como afirma o Apocalipse, “Jesus Cristo fez de nós um Reino e sacerdotes para Deus, Seu Pai. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos!”

Mas, que significa afirmar esta realeza de Cristo Jesus? Pensando bem, é um título problemático, este, dado ao Senhor...
Ele é Rei mesmo? Rei do quê?
Rei num mundo que O rejeita, Rei de um Ocidente que cada vez mais Lhe volta as costas?
Rei de uma humanidade de coração fechado para o Seu senhorio?
Rei de tantos cristãos que desejam colocar outros reis e outros deuses e deusas ao Seu lado?

Não seria mais lógico, mais realista afirmar que os reis de hoje são os artistas da moda, os craques do momento, os poderosos de turno, os demagogos da última hora e os heróis de plantão?
Será que celebrar o Senhor Jesus com este título portentoso, “Rei do Universo”, não é mais uma prova de que os cristãos estão delirando, apegados a um passado glorioso, quando a sociedade era cristã e a Igreja tinha poder e os cristãos tinham clareza e certeza da sua profissão de fé?

Quando os cristãos confessamos que Cristo é Rei, de que Reinado estamos falando? A que Reino estamos nos referindo?
Nós, realmente, acreditamos com todo o coração e confessamos com toda a convicção que Jesus Cristo – e só Ele! – é Rei e Senhor: Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada pessoa humana, cristã ou não cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem, é, como diz a Escritura, Aquele “através de Quem e para Quem todas as coisas foram criadas, no Céu e na terra... Tudo foi criado através Dele e para Ele... Ele é o Primogênito dentre os mortos” (Cl 1,1518).

No entanto, é necessário compreender a natureza do Reinado de Jesus. A Liturgia de hoje coloca como antífona de entrada do Missal romano uma frase do Apocalipse que é surpreendente: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A Ele a glória e poder através dos séculos!” Frase surpreendente, sim!
Quem é Aquele que proclamamos Rei? O Cordeiro; e Cordeiro imolado.
Cordeiro evoca mansidão, paz, fragilidade... Nosso Rei não é aquele que faz e acontece, aquele que passa por cima feito trator...
Nosso Rei é o Cordeiro que foi esmagado na Cruz, Aquele que foi imolado pelo pecado do mundo. O mundo passou e passa por cima do nosso Rei, refuta o Seu Evangelho, desdenha de Sua Palavra, ridiculariza Seus preceitos, calunia Sua Igreja, deturpa e adocica falsamente o Seu Anúncio... Esse Rei é Aquele que foi crucificado, que foi derrotado e terminou sozinho, é o homem de dores prenunciado por Isaías. No Evangelho, escutamos que zombaram e zombam Dele: “A outros Ele salvou. Salve-Se a Si mesmo, se de fato é o Cristo de Deus, o Escolhido! Tu não és o Cristo? Salva-Te a Ti mesmo e a nós!” (Lc 23,35.39)

Não! Decididamente, Jesus não é Rei nos moldes dos reis da terra! Não podemos imaginar os reis, presidentes e manda-chuvas deste mundo, para depois enquadrar Cristo nesses modelos. O Reinado de Cristo somente pode ser compreendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). Eis o modo que Cristo tem de reinar: servindo, dando Vida e entregando a própria vida. Tão diferente dos reis da terra, dos políticos e líderes de ontem e de hoje: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim...” (Mc 10,42s).
Cristo é Rei porque Se fez solidário conosco ao fazer-Se um de nós,
é Rei porque tomou nossa vida sobre Seus ombros,
é Rei porque passou entre nós servindo, até o maior serviço: entregar-Se totalmente na Cruz.
É Rei porque, agora, nos Céus, Deus e homem verdadeiro, é Cabeça e Princípio de uma nova criação, de uma nova humanidade, de uma nova história, que se consumará na Plenitude final.

A festa de Cristo Rei recorda-nos uma outra: a do Domingo de Ramos, quando, com palmas nas mãos, cantamos o Reinado de Cristo, que entrava em Jerusalém num burrico – animal de carga, de serviço – para ser coroado de espinhos, morrer e ressuscitar.

Tudo isto nos coloca em crise, pois este Rei-Messias olha para nós, cristãos, Seus discípulos, e nos convida a segui-Lo por esse caminho: não o da glória, mas o da humildade; não o do sucesso a qualquer custo, mas o da fidelidade a todo preço; não o das honras, mas o do serviço; não o da imposição, mas o da proposta humilde, não o da popularidade do consenso barato, mas o da trabalhosa e humilde fidelidade.

Quantas vezes os cristãos pensaram o Reinado de Cristo de modo demasiado humano, quantas vezes a Igreja pensou que o Reino do Senhor estava mais presente quando ela era honrada, reverenciada, presente nos corredores dos palácios, nos palanques dos grandes do mundo ou no aplauso raso das multidões... Quantas vezes vemos o Reinado do Senhor quando tudo sai bem para nós... Ilusão; tentação diabólica!

Nosso verdadeiro Reinado, nosso real serviço, nossa inalienável dignidade é unirmo-nos a Cristo no Seu caminho de humilde serviço ao Evangelho, seguindo os passos do nosso Senhor: “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos. Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,11). Todas as vezes que esquecemos isto, fomos infiéis e indignos de reinar com Cristo.
Houve tempos gloriosos na nossa história de Igreja de Cristo: já fomos perseguidos pelos romanos, já fomos perseguidos em tantos lugares da terra: já nos mataram, torturaram, pisaram, discriminaram... Houve tempos tristes: quando estivemos de bem com o mundo, perseguimos, torturamos e discriminamos; pensando, assim, manifestar o Reino de Cristo! Que engano! Que ilusão!

Hoje, temos uma nova chance. Nos países muçulmanos e budistas, somos cidadãos de segunda classe, perseguidos e mortos (ninguém divulga isto!), na China, somos colocados na prisão e os Bispos fieis são condenados a trabalhos forçados entre nós, na nossa Terra de Santa Cruz, somos chamados de reacionários, medievais, obscurantistas, anacrônicos, integristas, contrários à ciência e ao progresso, porque cremos que Jesus, nosso Senhor, é a Verdade única da humanidade, porque não aceitamos o aborto, a eutanásia, o assassinato de deficientes, a dissolução da família, a deturpação da sexualidade humana...
Para nós, é, mais uma vez, a chance de testemunhar o Reinado de Cristo, de permanecermos firmes no combate, com a humildade que é capaz de dialogar e ouvir, mas também com a firmeza que não arreda o pé da fidelidade ao Senhor: “Vós sois os que permanecestes constantemente Comigo em Minhas tribulações; também Eu disponho para vós o Reino, como Meu Pai o dispôs para Mim, a fim de que comais e bebais à Minha mesa em Meu Reino” (Lc 22,28-30). Que missão, que chance, que desafio, que graça! Com serenidade e firmeza, na palavra, na vida e na morte, testemunhemos: Jesus Cristo é Rei e Senhor, Princípio e Fim de todas as coisas.

Humildemente, elevemos, cheios de confiança, o nosso olhar para Ele, e como o Bom Ladrão, supliquemos: “Jesus, lembra-Te de mim, lembra-Te de nós, quando entrares no Teu Reino!” Só Tu és a Verdade, só Tu és o Senhor, só Tu és o Deus verdadeiro, Deus vindo de Deus, Luz provinda da Luz! A Ti a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.


Sobre o Livro de Daniel - Dn 3,1-23

O capítulo 3 do Livro de Daniel é tragicômico: a mania tola que os grande têm de desejarem ser tidos por importantes, ser adorados, bajulados, elogiados, louvados... Nabucodonosor quer porque quer que todos se ajoelhem diante da sua estátua...

Tantas vezes isto aconteceu e acontece na história, nos mais variados âmbitos, fora e até mesmo dentro da Igreja... E os prepotentes sempre pensam: “E qual deus que poderia livrar-vos das minhas mãos?” (Dn 3,15) Assim julgam sempre os que se sentem grandes, com poderes de vida e de morte sobre os outros...
A resposta de Daniel e seus companheiros é libertadora, daquela liberdade que somente a verdadeira confiança em Deus pode proporcionar: “O nosso Deus, a Quem servimos, tem o poder de nos livrar da fornalha acesa e nos livrará também da tua mão, ó rei. Mas, se Ele não o fizer, fica sabendo que não serviremos o teu deus, nem adoraremos a estátua de outro que levantaste” (Dn 3,18).

Quanta liberdade, fruto de uma fé arraigada no Senhor somente! Eis: aqueles jovens sabem, com o profundo saber da fé, que tudo está nas mãos do Senhor: Ele pode nos livrar de todas as fornalhas, por maiores e mais acesas que estejam; e mais: ainda que não nos livre, Ele continua sendo o Senhor, sendo Deus, sendo o Único, Aquele que, amorosamente, tem a nossa vida em Sua mãos benditas! A esse Deus tão grande e misterioso, os jovens dizem: “És justo em tudo que fizeste e todas as Tuas obras são verdadeiras, retos os Teus caminhos e verdade todos os Teus julgamentos. Tudo o que nos fizeste sobrevir, tudo o que Tu mesmo nos fizeste, foi num julgamento verdadeiro que o fizeste” (Dn 3,26s.31).

O verdadeiro crente, o verdadeiro amigo do Senhor, como Abraão (cf. Dn 3,35), crê incondicionalmente, colocando todo a fundamento da sua existência na fidelidade certíssima do Eterno!

Que pena, que hoje temos tão poucos crentes assim... São tantas muletas, tantas necessidades de provas, de favores, de milagres e sentimentos... Todo tão distante da verdadeira fé e da autêntica relação com Deus...


quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Sobre o Livro de Daniel - Uma meditação do Padre Antônio Vieira

Caro Leitor, eis um trecho maravilhoso do Padre Antônio Vieira, do Sermão da Quarta-feira de Cinzas, em 1672. Recorda a estátua de Nabucodonosor: outro, prata, bronze, ferro, argila: tudo transformado em pó de terra... Pó, somente pó! Vale a pena ler!

Aos vivos, que direi eu?
Digo que se lembre o pó levantado que há de ser pó caído. Levanta-se o pó com o vento da vida, e muito mais com o vento da fortuna; mas lembre-se o pó que o vento da fortuna não pode durar mais que o vento da vida, e que pode durar muito menos, porque é mais inconstante.

O vento da vida por mais que cresça, nunca pode chegar a ser bonança;
o vento da fortuna, se cresce, pode chegar a ser tempestade, e tão grande tempestade que se afogue nela o mesmo vento da vida.
Pó levantado, lembra-te outra vez que hás de ser pó caído, e que tudo há de cair e ser pó contigo.

Estátua de Nabuco: ouro, prata, bronze, ferro, lustre, riqueza, fama, poder, lembra-te que tudo há de cair de um golpe, e que então se verá o que agora não queremos ver: que tudo é pó, e pó de terra.

Eu não me admiro, senhores, que aquela estátua em um momento se convertesse toda em pó: era imagem de homem; isso bastava. O que me admira e admirou sempre é que se convertesse, como diz o texto, em pó de terra: In favillam aestivae areae (Dn. 2,35: Como a palha miúda na eira de verão).

A cabeça da estátua não era de ouro? Pois por que se não converte o ouro em pó de ouro?
O peito e os braços não eram de prata? Por que se não converte a prata em pó de prata?
O ventre não era de bronze, e o demais de ferro? Por que se não converte o bronze em pó de bronze e o ferro em pó de ferro?
Mas o ouro, a prata, o bronze, o ferro, tudo em pó de terra?
Sim. Tudo em pó de terra!

Cuida o ilustre desvanecido que é de ouro, e todo esse resplendor, em caindo, há de ser pó, e pó de terra.
Cuida o rico inchado que é de prata, e toda essa riqueza em caindo há de ser pó, e pó de terra.
Cuida o robusto que é de bronze, cuida o valente que é de ferro, um confiado, outro arrogante, e toda essa fortaleza, e toda essa valentia em caindo há de ser pó, e pó de terra: In favillam aestivae areae.


Sobre o Livro de Daniel - Dn 2,31-45

O sonho de Nabucodonosor, a estátua impressionante: cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de bronze, pernas de ferro, pés de ferro e argila... São os reinos do mundo, os impérios que os homens constroem e construirão sempre, enquanto o mundo for mundo, pensando que são eternos, imaginando que durarão para sempre, em segurança, felicidade, poder, força e prosperidade...
Quantos impérios a história humana já viu? Dos antigos egípcios e assírios, passando pelo impressionante Império Romano, o Império Chinês, os impérios Inca e Asteca, o Império Otomano, o extenso Império Britânico, o Impérios Soviético, aos impérios econômicos e culturais, como o dos Estados Unidos... Impérios: grandes empresas, governos ditatoriais, grandes sucessos...

E, no entanto, todos desabaram e desabarão: “Então se pulverizaram ao mesmo tempo o ferro e a argila, o bronze, a prata e o ouro, tornando-se iguais à palha miúda na eira de verão: o vento os levou sem deixarem traço algum” (Dn 2,35). Tudo passa; tudo se esfarela, é pulverizado; tudo quanto o homem construa sem Deus ou contra Deus...

Há sempre “uma Pedra, sem intervenção de mão humana”, fruto da ação direta e discreta do Senhor Deus, que tritura tudo. Trata-se daquela Pedra, rejeitada pelos construtores, ignorada ou subestimada pelos homens, e que se torna sempre “Pedra angular” (cf. Sl 117/118,22s); a Pedra é o Cristo nosso Deus: “Notei, vindo sobre as nuvens do Céu, um como Filho de Homem. A Ele foi outorgado o poder, a honra e o Reino, e todos os povos, nações e línguas O serviram. Seu Império é império eterno que jamais passará e Seu Reino jamais será destruído” (Dn 7,13a.14). É Cristo a pedra que tudo destrói, porque, na Sua verdade, na Sua solidez, na Sua gloriosa consistência, tudo tritura de inconsistente, de produto da soberba humana!

Que os fieis de Cristo saibam: todos os impérios deste mundo haverão de ser pulverizados! Tudo passa! Somente o Cristo que “estando na forma de Deus, despojou-Se, tomando a forma de Servo e tornando-Se semelhante aos homens, abaixou-Se, tornando-Se obediente até a morte e morte sobre uma cruz e por isso Deus soberanamente O elevou e Lhe conferiu o Nome que está acima de todo nome” (Fl 2,6-9), somente Ele permanecerá! Precisamente no nosso tempo, “no tempo desses reis, o Deus do Céu suscitará um Reino que jamais será destruído, um Reino que jamais passará a outro povo. Esmagará e aniquilará todos os outros reinos, enquanto ele mesmo subsistirá para sempre” (Dn 2,44).

Este é o Reino de Deus, do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo; este é o Reino que o Senhor Jesus Cristo anunciou e inaugurou com a Sua piedosa Vinda, com a Sua bendita Paixão e Morte e com Sua gloriosa Ressurreição; este é o Reino que recebemos em nós quando, nos sacramentos instituídos por Cristo na Igreja, recebemos o Espírito Santo como (1) Vida, (2) força, (3) perdão, (4) amor que se imola, (5) amor de aliança, (6) amor que une ao Cristo na Sua Paixão, completando as Suas dores e (7) unção que habilita para agir na Pessoa do Cristo Cabeça e Esposo! 

Eia, cristão! Não te impressiones com os reinos deste mundo, por grandes, poderosos ou ameaçadores que pareçam! Não os temas a ponto de desesperar-te e não os admires a ponto de divinizá-los! Nunca te esqueças: tudo quanto esteja fora de Cristo ou contra Cristo perecerá! A Ele – e só a Ele – a glória e o poder, a honra e o louvor de Eternidade em Eternidade! Amém.


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Sobre o Livro de Daniel - Dn 2,20.22s

“Que o Nome de Deus seja bendito de eternidade em eternidade! Ele revela as profundezas e os segredos, Ele conhece o que está nas trevas e junto Dele habita a luz. A Ti, Deus de meus pais, dou graças e Te louvo por me teres concedido sabedoria e força”.

Para um cristão, a sabedoria consiste em ver os acontecimentos e situações da existência com os olhos e o entendimento do Senhor Deus. Ver na perspectiva de Deus, ver com o mesmo olhar e os mesmos sentimentos do Cristo Jesus!
A sabedoria não tem nada a ver com a inteligência no sentido humano; não tem nada a ver com esperteza humana ou a cultura ou estudo que alguém possa ter...
Ser sábio é ver na perspectiva do Senhor e, assim, compreender o sentido das coisas...

Daniel pede ao Altíssimo uma sabedoria assim. Ele precisava descobrir e interpretar o sonho do rei, o seu segredo (cf. 1,10), os pensamentos do seu coração (cf. 2,30). Quem pode chegar aí? Quem tem nas mãos o coração dos filhos de Adão? Quem perscruta os corações? O Senhor! E Ele pode dá a sabedoria para descobrir e desvelar tais mistérios.

O belo é que, para isto, Daniel reza, implorando a misericórdia do Deus do Céu (cf. 1,18). Rezar, colocar-se diante do Senhor humildemente, diante das vicissitudes da vida, para compreendê-las em profundidade, isto é, em conexão com a providência divina, para saber como agir, tendo a força do Altíssimo, de modo a não temer, a não fazer de menos, a não exceder na justa medida...

Nos tempos que correm, o homem tem a tendência de se julgar o critério, a medida, a solução. Isto é ilusão! E o triste é que até mesmo muitos dos que dizem crer e servir a Cristo vivem intoxicados desta miopia prepotente!
Que tenhamos nós a consciência de que tudo está nas mãos do Senhor e quando nos abrimos para Ele no silêncio da oração, na humildade da súplica, na disponibilidade de acolher a vontade Dele e não a nossa, poderemos sim, compreender, discernir e agir de modo útil em vista do Reino de Deus, Ele, “que muda tempos e estações, depõe reis e entroniza reis, dá aos sábios a sabedoria e a ciência aos que sabem discernir” (cf. Dn 2,21).


Sobre o Livro de Daniel - Dn 1,8a.17

“Daniel havia resolvido em seu coração não se contaminar com as iguarias do rei nem com o vinho de sua mesa. Deus concedeu a ciência e a instrução...”

Ontem como hoje, o desafio de crer e ser diferente; a santa teimosia de não se contaminar com o mundo no seu afastamento de Deus, na sua soberba revolta contra o Senhor.
Resistir, dizer "não", não por se sentir melhor que os outros, não por se sentir superior ou mais santo, mas unicamente por amorosa fidelidade ao Senhor.

Os que forem fieis, os que rejeitarem se contaminar com o mundo e o seu politicamente correto, serão criticados, atacados, ridicularizados, até mesmo dentro da Igreja, até mesmo por quem deveria incentivar e defender que um cristão não é melhor que ninguém, também não é pior, mas deve, necessariamente ser diferente...

Ataques, perseguições claras ou veladas, reprovações, zombarias...
Mas, o Senhor é fiel: a estes, Ele concede a divina ciência que faz compreender e a sabedoria que dá a paz que vem do Alto! E isto basta!



sábado, 16 de novembro de 2019

Homilia para o XXXIII Domingo Comum - ano c

Ml 3,19-20a
Sl 97
2Ts 3,7-12
Lc 21,5-19

Estamos no penúltimo Domingo do ano litúrgico. Domingo próximo celebraremos Cristo-Rei e, daqui a precisos quinze dias, estaremos entrando no santo tempo do Advento, que nos faz celebrar na Liturgia a Vinda do Cristo Senhor no final dos tempos e nos prepara também, a partir do dia 17 de dezembro, para o santo Natal do nosso Salvador.
Pois bem, o final de um período sempre nos deve fazer recordar que o tempo corre e a vida passa veloz. Isto deve nos levar a refletir seriamente sobre o fim de todas as coisas e da nossa vida. “Fim” não somente como final, mas “fim” também como finalidade, sentido, objetivo... Sim, caríssimos, nossa vida neste mundo terá um “fim” um final: “Todos os nossos dias passaram... consumimos nossos anos como um sopro. A soma dos nossos anos chega a setenta; ou, para os mais robustos, oitenta anos. A maior parte deles é fadiga e sofrimento pois passam depressa, e é como se voássemos. Ensina-nos a contar os nossos dias, para que nosso coração a sabedoria alcance”. (Sl 89/90,9s.12) É diante desta realidade que a Palavra de Deus nos quer colocar nestes últimos dias do presente ano litúrgico.

No Evangelho, Jesus, nosso Senhor, nos recorda que nossa existência é tão breve, tão fugaz, tão incerta, tão provisória... Por que temos tanto medo de recordar que aqui estamos de passagem e que lá, na Casa do Pai, é que permaneceremos para sempre? Àqueles que se encantavam com o aspecto majestoso do Templo, o Senhor recordou que tudo passa, tudo é relativo, fugaz, passageiro. Isso vale ainda hoje: para a nossa casa bonita, para o nosso carro, para o nosso dinheiro, nossa profissão, para as pessoas às quais amamos, os projetos que temos, nossas crenças políticas, a nossa própria vida neste mundo: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído!” Aqui, o Senhor não deseja ser um desmancha-prazer, não nos quer arrancar o gosto de viver; deseja tão somente recordar que nossa vida deve ser vivida na perspectivada Eternidade, daquilo que é definitivo, que durará para sempre. Irmãos, haverá um momento final, haverá um Juízo do Senhor sobre a história humana e sobre a história de cada um de nós, quando, então, ficará claro o que serviu e o que não serviu, o que teve valor ante os olhos de Deus e o que não passou de ilusão e falsidade. Nunca esqueçamos disto: nossa vida caminha para esse momento final, o mais importante, o mais solene e definitivo de todo o nosso caminho existencial. Haverá, sim, um Juízo de Deus: “Eis que virá o Dia, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse Dia vindouro haverá de queimá-los... Para vós, que temeis o Meu Nome, nascerá o Sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. Este Juízo, portanto, será discriminatório: pode significar Vida ou morte, salvação ou condenação!

Ante esta realidade, os discípulos perguntam a Jesus: Mestre, quando acontecerá isso? Qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” A curiosidade de ontem é a mesma de hoje... A resposta do Senhor Jesus contém dois significados:

Primeiro: observemos que o Senhor dá sinais que se referem à natureza (“Haverá grandes terremotos... acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos nos céus.”), sinais que se referem à história humana (“Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país”) e sinais referentes à própria vida dos discípulos – vale dizer, à nossa vida (“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em Meu Nome, dizendo: ‘Sou eu!’ ou ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente”).
Isto quer dizer que a manifestação final do Senhor vai marcar tudo: a história, a criação e a vida de cada um de nós; nada ficará fora do Juízo de Deus que haverá de se manifestar em Cristo! Tudo será confrontado com o amor manifestado na Cruz do Senhor. A história humana será passada a limpo e o que foi pecado, desamor, maldade será destruído; a criação será transfigurada: passará a figura deste mundo como é agora e, no Espírito do Cristo, haverá um novo Céu e uma nova terra; os discípulos – cada um de nós – serão examinados pelo Senhor de acordo com sua perseverança na fé verdadeira, sem se deixarem levar pelas novidades religiosas, pura falsificação, como as que estamos vendo hoje em dia...

Há ainda um segundo significado: observemos que os sinais que o Cristo Jesus dá, acontecem em todas as épocas: sempre houve e haverá convulsões na natureza, guerras e revoluções na história humana, hereges e falsos profetas, falsos pregadores e falsos pastores no caminho da Igreja. Tem sido assim desde o início...
Então, por que o Senhor apontou esses sinais? Para deixar claro que cada geração deve estar vigilante, cada geração deve recordar sempre que haverá de estar, um dia, diante do Senhor e, portanto, deve levar a sério sua fé e sua adesão a Jesus nosso Senhor. Sobretudo num mundo como o atual, que nos quer fazer perder de vista o essencial e nos quer fazer esquecer que caminhamos para o encontro com Cristo como um rio corre para o mar. Vale-nos, então, o conselho de São Paulo, a que vivamos decentemente, trabalhando pelo pão cotidiano, sem viver à toa, mas construindo a vida com a dignidade de cristãos. O Senhor nos previne que não é fácil: o mundo não nos amará, porque seus pensamentos não são os do Cristo – e isto mais que nunca é claro hoje, numa sociedade consumista, paganizada, relativista, amante do conforto e da imoralidade, onde cada um vive do seu modo, como se Deus não Se tivesse revelado e nem mesmo existisse... Ouçamos a advertência tão sincera e franca de Cristo: “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. Todos vos odiarão (vos amarão menos, não vos terão entre seus amigos) por causa do Meu Nome... É permanecendo firmes que ireis ganhar a Vida!” Vivemos de modo dramático, atualmente, estas palavras, mesmo dentro da Igreja! Quantos cristãos há que desejam fazer um cristianismo do seu modo, sob medida, como se o Senhor não nos tivesse falado pela Sua Palavra, não nos tivesse dado claros preceitos pelo Seu Cristo Jesus! Ai, ai! Quantos querem hoje um catolicismo sob medida – a medida do mundo! Desejam um catolicismo de encomenda – a encomenda da conivência com o pecado e a frouxidão moral e espiritual! Por fidelidade a Cristo, nosso Juiz, nossa resposta deverá ser sempre um claro “não”! Nossa fidelidade é ao Senhor, pois somente Ele é a nossa Vida, somente Ele é o nosso Juiz! Nele, nosso Céu ou nosso Inferno serão uma tremenda realidade!

Eis aqui! Vivamos fielmente a nossa vocação cristã, não tenhamos medo de ser fiéis e de dar o bom testemunho de Cristo, para que possamos ser aprovados ante o tremendo Tribunal de Cristo. Nossa vida neste mundo é semente de eternidade; nossas escolhas e atitudes terão conseqüências eternas. Que o Senhor nos conceda a graça da perseverança que nos fará ganhar a vida. Amém.


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Sobre o Livro de Daniel - Dn 1,1-3

Estamos nas últimas semanas do Ano Litúrgico. Ao findar de um ano da Igreja e ao começar um outro, preparando-nos para a Vinda do Senhor nos final dos tempos e para celebrar o Santo Natal no tempo deste mundo, as leituras da Liturgia nos fazem pensar sobre o Tempo do Fim. Pois bem, aproveitando esta pedagogia da Igreja, gostaria de propor-lhes, caros Amigos, algumas simples meditações sobre o Livro de Daniel.

“No terceiro ano do reinado de Joaquim, rei de Judá, o rei da Babilônia, Nabucodonosor, marchou contra Jerusalém e pôs-lhe cerco. O Senhor entregou-lhe nas mãos Joaquim, rei de Judá, assim como boa parte dos utensílios do Templo de Deus. Ele os transportou à terra de Sanaar, depositando esses utensílios na sala do tesouro de seus deuses” (Dn 1,1-3).

A Palavra de Deus é assim: tão poucos versículos e dá tanto o que pensar... E nos questiona, nos testa a fé, nos escandaliza...

Veio Nabucodonosor, feroz, conquistador... Destruiu o Templo, colocou os tesouros do Templo do Deus vivo no tesouro dos falsos deuses.... Um desastre; um escândalo!
E a Escritura Sagrada, com os olhos da fé, afirma: “O Senhor entregou-lhe...” Simples assim, escandaloso assim: tudo está nas mãos de Deus, tudo entra na Sua providência, nada escapa do Deus sábio e do Seu providente desígnio...

Devemos sempre fazer a nossa parte, devemos sempre lutar contra o mal e procurar o bem... Mas, haja o que houver, não esqueçamos nunca de que tudo está nas mãos de Deus: Ele pode tudo, Ele sabe tudo... Como dirá o próprio Daniel em 2,28: “Há um Deus no Céu que revela os mistérios...” 

Certamente, até mesmo para muitíssimos cristãos de hoje, esta visão é conformista, alienada, fatalista...
Um visão da vida e da história provinda de fé rasa e de muito condicionamento ideológico baseado nas chamadas filosofias do progresso e num marxismo explícito ou disfarçado, consciente ou inconsciente, pensa que o homem é o senhor dos planos e dos projetos e o artífice único de sua própria história: “Esperar não é saber.... Quem sabe faz a hora; não espera acontecer”....
Mas, a realidade e a fé nos ensinam diferente... Há um Deus nos Céus que tudo  sabe, tudo dirige, é Senhor dos tempos e das horas e, respeitando a liberdade humana e exigindo nossa responsabilidade, sabe, no entanto, tirar até mesmo dos males, o bem.

Os babilônios invadiram Judá, derrubaram as muralhas de Jerusalém, destruiram o Templo santo de Deus, levaram muitos para o exílio... Quanta dor, quanta lágrima, quanta tragédia, quanta impiedade... Deus permitiu... Ele pode tudo, Ele sabe tudo, na vida humana e na minha vida! Bendito seja hoje e sempre o Seu santo Nome!


sábado, 9 de novembro de 2019

Homilia para o XXXII Domingo Comum - ano c

2Mc 7,1-1.9-14
Sl 16
2Ts 2,16 – 3,5
Lc 20,27-38

Estamos já próximos do final do Ano Litúrgico. De hoje a 15 dias, estaremos celebrando a Solenidade de Cristo-Rei, que marca o final do ano da Igreja. Pois bem, a Liturgia nos vai educando, irmãos amados, fazendo-nos pensar no fim de nossa vida, fim no sentido de final e fim no sentido de finalidade – fim que, em todo caso, nos obriga a nos perguntar pelo sentido da nossa existência e pelo que estamos fazendo dela. Neste sentido, tivemos a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração dos Fiéis Defuntos... E hoje a Liturgia fala-nos da ressurreição.

O Evangelho nos apresenta uma disputa entre o Senhor Jesus e os saduceus, que não acreditavam na ressurreição. O Senhor confirma: há, sim ressurreição! Os mortos ressurgirão, mas de um modo que nós não podemos descrever nem imaginar: “Os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e da Vida futura, nem eles se casam nem elas dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram”. Em outras palavras: estaremos em tal comunhão com o Deus vivente, Deus da vida plena, em tal proximidade Dele – como os anjos – que, a morte nunca mais nos poderá atingir: nem a morte física, nem a morte da dor, nem a morte da tristeza, do medo, da saudade, nem a morte do pecado! Como diz o Salmista: “Eu verei, justificado, a Vossa Face e ao despertar me saciará Vossa presença!”

Caríssimos, quando a Escritura fala em ressurreição, não está pensando simplesmente em voltarmos a esta nossa vida, deste nosso modo atual, somente que habitando no Céu... De modo algum! Nós seremos glorificados em corpo e alma! Ressuscitar é receber em todo o nosso ser a Vida de Deus, que Cristo, o Primogênito dentre os mortos, nos conquistou e já derramou em nós no Batismo. Semente dessa Vida é o Espírito Santo vivificador – o mesmo em Quem o Pai ressuscitou o Filho Jesus! É Jesus Quem nos ressuscita, Ele que disse a Marta: “Eu sou a Ressurreição!” (Jo 11,25) É somente Nele e por causa Dele que esperamos vencer a morte!
Na primeira leitura deste Domingo escutamos, impressionados, o testemunho dos sete irmãos, filhos de uma corajosa mãe viúva, que incentiva seus filhos a entregarem a vida por amor da Lei de Deus. Donde lhes vinha tanta coragem? Donde, tanta disponibilidade para serem fiéis até o fim? Da certeza de que ressuscitariam: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia nos ressuscitará!” – disse um deles. E o outro, pensando na ressurreição da carne, afirmou sem medo: “Do céu recebi estes membros; por causa de Suas leis os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo!” Vede, meus caros, o quanto a certeza da Vida eterna muda nosso modo de enfrentar os revezes da vida! A este propósito, poderíamos perguntar: Tanta frouxidão na nossa fé, tanto relaxamento nos nossos costumes, tão pouca seriedade na prática da religião, tanta condescendência com os vícios, a comodidade e a tibieza, não seriam causados por uma fraca e sem convicção fé na ressurreição, na Vida eterna? Atenção, que quando, de verdade, cremos numa recompensa celeste, quando verdadeiramente levamos a sério o juízo de Deus e a ressurreição, tudo muda de figura no nosso modo de agir e reagir aos desafios e dificuldades da vida, “pois nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno de Glória que elas preparam até o excesso. Não olhamos para as coisas que se veem, mas para as que não se veem; pois o que se vê é passageiro, mas o que não se vê é eterno” (2Cor 4,17s).

A nossa esperança é firme: fomos criados para Deus, para Deus estamos a caminho... Um dia morreremos, terminará nosso caminho neste mundo tão incerto. E, imediatamente após a morte, em nossas almas, estaremos diante do Cristo, nossa Salvador e Juiz, cumprindo o ardente desejo do Apóstolo e de todo cristão: “Meu desejo é partir para estar com Cristo, pois isto me é muito melhor, pois, para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,23.21). Se tivermos sido abertos ao Seu Espírito Santo, se Lhe tivermos sido realmente fiéis, Ele, nosso Senhor, no Seu abraço eterno, glorificará com o Seu Espírito Santo a nossa alma e, então, estaremos para sempre com o Senhor, onde ninguém mais vai sofrer, ninguém mais chorar, ninguém vai ter saudade, ninguém mais vai ficar triste, pois “nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,38s). No final dos tempos, quando Cristo nossa vida, glorificar todo o universo, também nossos pobres corpos ressuscitarão, pela força e ação do mesmo Espírito Santo vivificador, que o Senhor tem em plenitude, como diz a Escritura: “Se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no Céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas. Porquanto, todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,1.10). Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos para sempre com o Senhor! Eis por que somos cristãos, eis por que temos esperança! Eis por que queremos viver com retidão, sobriedade, abertura de coração para os irmãos e santo temor em relação a Deus. É o que exprime ainda São Paulo na segunda leitura: “Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou em Sua graça e nos proporcionou uma consolação eterna e feliz esperança, animem os vossos corações e vos confirmem em toda boa ação e palavra. O Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo!”

Caríssimos, em Cristo, se fomos criados para Deus, para a comunhão com Ele no Céu, tenhamos, no entanto, o cuidado de não O perdermos para sempre no inferno. O inferno existe, é real e pode ser nossa miserável herança! Pode dar-se que, logo após a minha morte, não exista nenhuma comunhão com o Cristo que é Vida, mas somente o “Apartai-vos de Mim, malditos! Não vos conheço”; e nossa alma caia na eterna tristeza, na depressão sem fim, que devora, como verme e queima como fogo! Não aconteça que, no fim dos tempos, também nosso corpo tenha de padecer também este triste destino!

Eis, amados em Cristo, que o Senhor nos adverte! Procuremos, pois, viver de tal modo, que possamos ser considerados dignos de viver para sempre com Ele. Para isso, pautemos nossa vida pelo amor e obediência ao Senhor. Assim poderemos dizer como o Salmista, tendo os olhos fixos em Cristo nosso Deus e nossa vida: “Os meus passos eu firmei na Vossa estrada,/ e por isso os meus pés não vacilaram./ Eu Vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis,/ inclinai o Vosso ouvido e escutai-me!/ Protegei-me qual dos olhos a pupila/ e guardai-me, à proteção de Vossas asas./ Mas eu verei justificado a Vossa Face/ e ao despertar me saciará Vossa presença!”
Que o Senhor, que tudo pode, confirme a nossa esperança! Amém.