terça-feira, 31 de março de 2015

Retiro quaresmal - Terça-feira santa

Primeiro, concluamos o III Cântico do Servo Sofredor:

“Quem dentre vós teme o Senhor e ouve a voz do Seu Servo?
Aquele que caminhou nas trevas, sem nenhuma luz,
ponha a sua confiança no nome do Senhor,
tome como arrimo o seu Deus.
Mas, todos vós que acendeis um fogo,
Que vos munis de setas incendiárias,
Atirai-vos às chamas do vosso fogo
E às setas que acendestes.
Por Minha mão isto vos há de sobrevir:
Deitar-vos-ei no meio dos tormentos” (Is 50,10-11).


O Cântico termina com uma exortação que é também um desafio:
Quem crê realmente no Deus de Israel?
Quem é discípulo desse Servo feito trapo humano, homem de dores?
Pois bem: que mesmo nas trevas da vida, coloque, como o Servo, a sua confiança no Senhor, Nele tome arrimo, Nele alicerce a sua vida!

Que consolo, que exortação impressionante: venha o que vier na vida, estejamos na treva mais densa, se fixarmos os olhos nesse Servo bendito, se unirmos nosso coração ao Dele, não perderemos o rumo, não seremos tragados pelas ondas da morte e chegaremos nos braços do Deus Santo, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!

Mas, quanto aos que, de modo autossuficiente, fazem pouco do Santo de Israel e do Seu Servo, serão consumidos como palha inútil no próprio fogo de sua descrença e rebeldia. Pense nisto, meu Irmão! Pense nisto! Tome arrimo no Senhor, siga o Servo, Jesus nosso Senhor, e nada o derrubará, nada irá tirar o sentido da sua existência e prumo da sua vida!

Nunca esqueça, Irmão: haverá um juízo de Deus! Não são a mesma coisa ser amigo de Cristo ou Dele apartar-se; não são a mesma coisa ser por Cristo e ser contra Cristo! um dia haverá o Juízo divino... Para Judas, a palavra do Senhor foi clara: "Melhor seria não ter nascido!"

Os que se unem ao Servo na Sua morte e ressurreição, terão vida; os que combatem o Servo, serão destruídos como palha seca...

Pense nisto... Pense na sua vida...

Reze o Salmo 140/141

Agora, iniciemos, ainda neste Retiro, o Quarto Cântico do Servo. É o mais impressionante de todos!

“Eis que Meu Servo prosperará,
Ele Se elevará, será exaltado, será posto nas alturas” (Is 52,13).

Já foi descrito como a Paixão de Cristo segundo Isaías. Novamente, como no primeiro Cântico, é o Senhor Deus, o Santo e Israel quem fala... Fala garantindo o triunfo e a grandeza do Servo: Ele prosperará, elevar-Se-á, será exaltado! Mas, é surpreendente o caminho a ser percorrido para chegar a esta glória. É o tema deste poema...

“Exatamente como multidões ficaram pasmadas à vista Dele
- pois Ele não tinha mais figura humana
e Sua aparência não era mais a de homem –
assim, agora nações numerosas ficarão estupefatas a Seu respeito,
reis permanecerão silenciosos,
ao verem coisas que não lhes havia sido contadas
e ao tomarem consciência de coisas que não tinham ouvido” (Is 52,14-15).

Ainda é o Senhor Deus Quem fala, e Se refere a uma mudança radical, inesperada, impressionante no destino do Servo: fora visto antes como um homem desfigurado; tão desfigurado de causar admiração e espanto
Agora, Sua glória será tanta, que reis e grandes do mundo haverão de calar-se, admirados e temerosos, diante Dele! Só o Senhor pode mudar assim, de modo tão radical e permanente, a existência de alguém...

“Quem creu naquilo que ouvimos,
e a quem se revelou o braço do Senhor?
Ele cresceu diante Dele como um renovo,
como raiz em terra árida;
não tinha beleza nem formosura capaz de nos deleitar.
Era desprezado e abandonado pelos homens,
homem sujeito a dor, familiarizado com o sofrimento,
como pessoa de quem todos escondem o rosto;
desprezado, não fazíamos caso Dele” (Is 53,1-3).


Quem fala agora? Já não é mais o Senhor Deus. Falam agora aqueles que contemplaram a miséria, a dor, a ignomínia do Servo: descrevem todo o Seu sofrimento e revelam-lhe o sentido de Sua paixão e morte! Aí, por obra do Espírito de Cristo, está explicado muito do sentido da paixão e morte do nosso Salvador. Eis os pontos mais salientes deste trecho acima:

(1) Diante de Deus Ele cresceu, mas como um pequeno rebento, raquítico, pobre.

(2) Humanamente, não era grande coisa, chegando mesmo a tornar-Se desprezível e repugnante...

Impressiona como o Senhor Deus Se revela em alguém nesta situação! Como os caminhos de Deus não são os nossos! Para compreendê-los é preciso converter-se: Quem acreditou no que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor, que age de modo tão surpreendente?

Se não nos convertermos à lógica de Deus, jamais poderemos crer Nele de verdade ou compreender algo dos Seus caminhos!

Reze o Salmo 21/22

segunda-feira, 30 de março de 2015

Retiro quaresmal - Segunda-feira Santa

Continuemos nossa meditação do Terceiro Cântico do Servo Sofredor:

“O Senhor Deus abriu-Me os ouvidos
e Eu não fui rebelde,
não recuei.
Ofereci o dorso aos que Me feriam
e as faces aos que Me arrancavam os fios da barba;
não ocultei o rosto às injúrias e aos escarros” (Is 50,6).

É caro, sempre foi, o preço da fidelidade, da obediência ao Senhor!
Porque o Servo foi fiel, porque não recuou diante da missão que o Santo Lhe dera, teve como recompensa a rejeição, os flagelos, a abjeção e a ignomínia! Como não pensar em Jesus, o Servo Sofredor, inocente, manso e fiel ao Pai?
Ainda hoje, todo aquele que Lhe quiser ser fiel, tem um preço a pagar, às vezes dentro da Sua própria Igreja!

“O Senhor Deus virá em Meu socorro,
eis por que não Me sinto humilhado,
eis por que fiz do Meu rosto uma pederneira
e tenho certeza de que não ficarei confundido.
Perto está Aquele que defende a Minha causa.
Quem ousará mover ação contra Mim? Compareçamos juntos!
Quem é Meu adversário? Ele que se apresente!
É o Senhor Deus que Me socorrerá,
quem será aquele que Me condenaria?
Certamente, todos eles se desgastarão como uma veste:
a traça os devorará!” (Is 50,7-9).

Impressionante, surpreendente!
O Servo, mesmo sofrido, homem de dores, maltratado, flagelado, tem uma atitude triunfal!
Loucura? Insanidade? Falta de realismo? Alienação maluca, provocada por alucinação e idiotice religiosa?
Não! Força, segurança, certeza fundada Naquele que é o Deus fiel, o Santo de Israel! “O Senhor virá em Meu socorro! O Senhor defenderá a Minha causa! Ainda que todos Me condenem, se o Senhor Me absolver, se Ele estiver ao Meu lado, por que temer? Por que vacilar? Por que duvidar do caminho que escolhi e para o qual fui escolhido?”

Observe no Servo a profunda convicção do triunfo e da permanência em Deus daquele que a Ele se confia e, por outro lado, a ilusão, a fugacidade, daqueles que se voltam contra o Senhor e Seu Servo.

Pense, meu Irmão, no contraste entre a Sexta-feira e o Sábado Santo, por um lado, e o Domingo da Ressurreição, por outro! – Senhor, os que Te esperam não perecem, não se apagam na sua existência, mas brilham como o sol ao amanhecer! “Eu tranquilo vou deitar-Me e na paz logo adormeço, pois só Vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” (Sl 4).

Reze os Salmos 69/70 e 70/71. Que o Senhor nos conceda a graça de um abandono confiante em Suas mãos como aquela do Filho Jesus!

sábado, 28 de março de 2015

Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Is 50,4-7
Sl 21
Fl 2,6-11
Mc 14,1 – 15,47

Caríssimo Irmão, baste-nos alguns pensamentos, para a Eucaristia solene deste Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, que abre a Grande Semana da nossa fé, a Semana santíssima, que culminará com a Solenidade da Páscoa, Domingo próximo.

Primeiro faz-se, hoje, com uma procissão dos ramos, memória da Entrada do Senhor Jesus em Jerusalém.

Ele é o Filho de Davi, o Messias esperado por Israel, que vem tomar posse de Sua Cidade Santa, Jerusalém, Cidade de Davi, cidade do Messias.

Mas, que surpresa! Trata-se de um Messias humilde, que entra não a cavalo, mas num humilde burrico, sinal de serviço e pequenez! Ei-Lo: Seu serviço será dar a vida pela multidão!

Ele é Rei, mas rei coroado de espinhos e não de humana vanglória.

Seguir o Senhor nessa solene procissão com ramos é reconhecê-Lo como nosso rei, rei pobre e humilde. Segui-Lo me procissão é nos dispor a segui-lo nas pobrezas e humildades da vida, dispondo-nos a participar de sua paixão e cruz para ter parte na glória de Sua ressurreição.

Após a Procissão de Ramos, que pensamentos poderíamos colher agora na Liturgia da Palavra da Missa da Paixão do Senhor? Eis alguns pensamentos:

Primeiro: O meio que Deus escolheu para nos salvar não foi o que é grande e vistoso, tão apreciado pelo mundo. Ao invés, o Pai nos salvou pela humilde obediência do Filho Jesus. Reconheçamos na voz do Servo sofredor da primeira leitura a voz do Filho de Deus:

“O Senhor Deus Me desperta cada manhã e Me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo. O Senhor abriu-Me os ouvidos; não Lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para Me baterem e as faces para arrancarem a barba. O Senhor é o Meu Auxiliador, por isso não Me deixei abater o ânimo, porque sei que não serei humilhado”.

Palavras impressionantes, caríssimo!

O Filho buscou humildemente, na obediência de um discípulo, a vontade do Pai – e aí encontrou força e consolo, encontrou a certeza de Sua vida. São Paulo, na segunda leitura de hoje, confirma isso com palavras não menos impressionantes: “Jesus Cristo, existindo na condição divina, esvaziou-Se de si mesmo, humilhou-Se, fazendo-Se obediente até a morte, e morte de cruz”. Caríssimo em Cristo, num mundo que nos tenta a ser os donos da verdade, desprezando os preceitos do Senhor Deus e Seus planos para nós, aprendamos a humilde obediência de Cristo Jesus, entremos em comunhão com o Cristo obediente ao Pai até a morte. Só então seremos livres realmente, somente então viveremos de verdade!

Um segundo pensamento: O breve e concreto relato da Paixão segundo São Marcos, apresenta-nos ao menos três modos de nos colocar diante do Cristo nosso Senhor. Dois modos inadequados, que deveremos evitar, apesar de tantas vezes neles cairmos; e um modo correto, a que somos continuamente chamados. Ei-los:

Primeiramente, o modo dos discípulos, tão vergonhoso: “Então todos o abandonaram e fugiram”. Oh! meu caro, que desde o início temos sido covardes, desde os princípios somos um mísero bando de infiéis! Fomos nós, os discípulos, que fugimos, que deixamos sozinho o Salvador, o nosso Mestre!

Quantas vezes, nos apertos da vida, fugimos e O abandonamos: no vício, no comodismo, na busca de crendices e seitas, no fascínio por ideologias, ideias e filosofias opostas à nossa fé! Como é fácil fugir, como é fácil, ainda agora, abandoná-Lo!

– Perdoa-nos, Senhor Jesus, porque ainda hoje somos assim, ainda somos como os primeiros discípulos: frágeis, inconstantes, covardes mesmo!

Perdoa-nos pelo pouco amor, pela falta de compromisso!

Perdoa-nos as juras de amor para sempre, que se desfazem na primeira dificuldade!



Depois, o modo de Pedro, que “seguiu Jesus de longe”. Atenção, caríssimos Pedros que neste espaço virtual me acompanham! Não se pode seguir Jesus de longe!

Quem O segue assim?

Aquele que pensa poder ser discípulo pela metade; que se ilude, pensando seguir o Senhor sem combater seus vícios e pecados; que imagina poder servir a Deus e ao dinheiro, ao Senhor e aos costumes e modos e pensamentos do mundo!

Como terminarão esses? Como terminou Pedro: negando conhecer Jesus!

– Senhor, olha para nós, como olhaste para Pedro; dá-nos o arrependimento e o pranto pela covardia e frieza em Te seguir! Faze-nos verdadeiros discípulos Teus, que Te sigam de perto até a cruz, como o Discípulo Amado, ao lado de Tua Santíssima Mãe!

Finalmente, uma atitude bela e digna de um verdadeiro discípulo do Senhor: aquele gesto, da misteriosa mulher, que ungiu a cabeça do Senhor com nardo puro, caríssimo!

Notou, querido Irmão em Cristo, o detalhe de São Marcos? “Ela quebrou o vaso e derramou o perfume na cabeça de Jesus”. Quebrou o vaso... Isto é, derramou todo o perfume, sem reservas, sem pena, com amoroso estrago... Para o Senhor, tudo; para o Salvador o melhor! E São João diz que “a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo” (Jo 12,3).

Ó mulher feliz, discípula generosa! Dando tudo ao Senhor, perfumou toda a casa com o bom odor de um amor ser reservas! Quanta generosidade dessa mulher politicamente incorreta! Quanta hipocrisia, quanta mesquinhez dos apóstolos politicamente corretos, que não compreenderam seu gesto de amor gratuito!

– Senhor Jesus, faz-nos generosos para Contigo! Que Te amemos como essa mulher: sem reservas, sem fazer contas!

Ó Senhor, que nos amaste até o extremo, ensina-nos a Te amar assim também, colocando nossos perfumes, isto é, aquilo que temos de precioso, a Teus pés! Então, o mundo será melhor, porque o bom odor do amor haverá de se espalhar como testemunho da Tua presença!

Eis, caríssimo Amigo! Fiquemos com estes santos pensamentos, preparando-nos durante toda esta Semana para o Tríduo Pascal, que terá seu cume na Santa Vigília da Ressurreição! 

Nós Vos adoramos, Senhor Jesus Cristo e Vos bendizemos,
porque pela Vossa santa cruz remistes o mundo.

Retiro quaresmal - sábado da V semana

Agora, iniciamos a meditação do Terceiro Cântico do Servo Sofredor:

“O Senhor Deus Me deu língua de discípulo
Para que soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto.
De manhã em manhã Ele Me desperta, sim, desperta o Meu ouvido
para que Eu ouça como os discípulos” (Is 50,4).


Assim começa este terceiro poema. Note-se bem o logo a afirmação inicial: é surpreendente!
O Servo afirma que o Senhor Lhe deu uma língua de discípulo. Discípulo é o que aprende, o que escuta, todo aberto ao que o mestre fala. O surpreendente é que não diz que o Senhor deu um ouvido ou um coração de discípulo, mas uma língua! Em outras palavras: tudo quanto o Servo diz é porque assim ouviu do Senhor, do Santo de Israel! Como não pensar no nosso Salvador, que tantas vezes insistiu: “Minha doutrina não é Minha: Eu digo como o Pai me ordenou! Meu alimento é fazer a vontade do Pai!” Assim, o Servo; assim Jesus: totalmente aberto, totalmente disponível, totalmente pobre ante a vontade santíssima do Pai!

Jesus, nosso Senhor, nunca teve pose de astro, de pop star! Não: tudo Nele remetia ao Pai. Era o Pai que importava, era a vontade do Pai, a glória do Pai, o interesse do Pai, o Reino do Pai que realmente contavam! E esta atitude do nosso Salvador foi a atitude fundamental de toda a Sua existência na nossa carne: “De manhã em manhã Ele Me desperta, sim, desperta o Meu ouvido para que Eu ouça como os discípulos!”

Jesus foi grande, foi livre precisamente porque nunca procurou Sua própria glória, Sua própria vontade, Seu próprio interesse, mas somente a vontade do Pai: “Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade!” Por isso mesmo, Ele teve que aprender a obedecer, conforme diz a própria Escritura (cf. Hb 5,8). E isto custou; foi um duro aprendizado, com as dolorosas circunstâncias da vida: a cada manhã, a cada nova ocasião, o Pai Lhe foi abrindo os ouvidos! Que mistério, este da obediência amorosa do Filho, do ajustamento contínuo da Sua vontade humana à vontade do Pai!

Por isso mesmo, pela Sua santíssima obediência, Seu ministério foi fecundo e tornou-se consolo, salvação e libertação para nós e para o mundo inteiro: “soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto”. Eis: foi para a nossa salvação, para nosso conforto no coração do Santo de Israel que o Filho Se submeteu!

Adoremos, Irmão, este mistério! Imitemos o que adoramos! Recebamos a graça do que imitamos no concreto da nossa vida!

Reze o Salmo 93/94

Algumas anotações litúrgicas para o Domingo de Ramos

(1) A cor dos paramentos é vermelho, cor da paixão, do sangue, do Espírito de amor que faz dar a vida pelos irmãos.

(2) Em cada igreja somente pode haver uma procissão de ramos, feita antes da missa principal. No caso de uma outra missa importante, pode-se fazer nova bênção dos ramos e a entrada solene, como está na "Segunda forma" do Missal Romano: à porta da igreja os fiéis se reúnem, trazendo ramos nas mãos. O celebrante dirige-se para lá com os acólitos, abençoa os ramos, lê o Evangelho próprio e entra com o povo para a missa.

(3) A igreja deve estar discretamente ornamentada com ramos, não com flores.

(4) Para a procissão, é aconselhável que o padre use o pluvial. Somente chegando à igreja, depois de beijar e incensar o altar, tira o pluvial e coloca a casula.

(5) Na procissão, o padre vai à frente, com um ramo na mão, precedido pelos acólitos e seguido pelo povo.

(6) Os cânticos devem ser os próprios para esta celebração. Estão no missal. Existem CDs com composições próprias para esta momento.

(7) O padre, após revestir-se com a casula, já inicia a missa com a oração da Coleta.

(8) Importante: Ainda que não haja bênção dos ramos, o Evangelho da Missa é sempre a Paixão e nunca o da entrada de Jesus em Jerusalém. Nunca se deve esquecer: não há missa de ramos! A missa é da Paixão; de ramos é a procissão!

(9) A Paixão pode ser lida por várias pessoas, mas nunca dramatizada! A liturgia não é um teatro! Isso seria uma completa e total deturpação do que é uma celebração litúrgica!

(10) Os ramos devem ser levados para casa, colocados num lugar digno e devolvidos à paróquia antes da Quarta-feira de Cinzas do ano seguinte, para ser transformado em cinzas.

O Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Procissão dos Ramos e Missa da Paixão

Com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, inicia-se a Semana Santa, que os antigos cristãos chamavam Grande Semana.
Neste dia, a Igreja celebra dois mistérios bem distintos e complementares: (1) a entrada solene de Jesus em Jerusalém para celebrar sua última e definitiva Páscoa e
(2) a Sua Paixão e morte.
A entrada é celebrada com a bênção dos ramos e a procissão; a paixão e morte é celebrada na missa. Então, não existe uma Missa de Ramos; de ramos é a Procissão; a Missa é da Paixão do Senhor.

Isso tem um motivo histórico. Em Roma, não havia uma Semana Santa. Celebrava-se no sexto domingo da Quaresma a Paixão e Morte de Cristo e, no domingo seguinte, a Páscoa do Senhor. Somente no século XI é que a Procissão de Ramos, costume nascido em Jerusalém, passado para a Espanha e, depois, para a Gália (atual França), chegou a Roma, entrando na liturgia romana.

Participar da Bênção e Procissão dos Ramos:
(1) Significa reconhecer e proclamar que Jesus é o Messias prometido a Israel, o Descendente de Davi; o Salvador;
(2) Também significa reconhecer que Ele não é um Messias glorioso, mas humilde – vem num burrico e não num potente cavalo! -, um Messias que vem para servir e dar a vida: Seu trono será a cruz; Sua coroa, de espinhos, Seu cetro, uma cana colocada em Suas mãos em tom de zombaria!
(3) Participar da Procissão significa que queremos nos colocar debaixo do senhorio desse Messias pobre e humilde e desejamos participar da Sua sorte: ir com Ele até a cruz para participar da Sua vitória: “Fiel é esta palavra: se sofrermos com Ele, com Ele reinaremos; se morrermos com Ele, com Ele viveremos!” (2Tm 1,11s).

No contexto da Bênção dos Ramos, lê-se o Evangelho da entrada do Senhor em Jerusalém e faz-se uma pequena homilia explicando os três aspectos acima elencados.

Os ramos da Procissão devem ser guardado em casa, num lugar visível, para recordar que participamos dessa Profissão, proclamando que estávamos dispostos a ir até a cruz com o Senhor. E nas dores e sofrimentos da vida, olhando os ramos, vamos nos lembrar que as dores e feridas da existência são um modo de participar da Paixão do Senhor. Entremos com Ele em Jerusalém!

Terminada a Procissão, termina também toda referência que a liturgia faz aos Ramos. Então, tudo se volta para a Paixão do Senhor. A primeira leitura, é o Terceiro Canto do Servo Sofredor de Isaías (Is 50,4-7), recordando que o Senhor Jesus Se fez obediente ao Pai, um verdadeiro discípulo, aprendendo com o sofrimento, e encontrou forças na confiança no Seu Senhor e Deus.
O salmo responsorial é o Sl 22, aquele que Jesus rezou na cruz. Rezar esse salmo é ler os pensamentos de Jesus no momento da cruz!
A segunda leitura é o profundo hino de Filipenses 2,6-11: O Filho, sendo Deus, humilhou-Se até a morte de cruz e foi exaltado pelo Pai acima de tudo.
Finalmente, a Paixão segundo o Evangelista de cada ano – este ano de 2005 é o Evangelho segundo Marcos. Esta Missa tem um Prefácio próprio, que resume de modo admirável o mistério pascal: “Inocente, Jesus quis morrer pelos pecadores. Santíssimo, quis ser condenado a morrer pelos criminosos. Sua morte apagou nossos pecados e Sua ressurreição nos trouxe Vida nova”. A homilia dessa missa não deve deter-se sobre o tema dos ramos e sim no mistério do amor do Senhor que Se entregou ao Pai por nós até a morte e morte de cruz.

Sugestões de leituras bíblicas para bem celebrar a Semana Santa

Caro Irmão, nas mensagens seguintes, ofereço-lhe aqui um esquema de leituras da Sagrada Escritura para os dias do Santo Tríduo Pascal, para que você possa estar unido ao Cristo na celebração solene dos mistérios de sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Os números dos salmos entre parênteses são da Vulgata (e da Ave Maria). Os números fora dos parênteses são da Bíblia hebraica (e da Bíblia de Jerusalém, da Bíblia do Peregrino , da CNBB e da TEB).

Quinta-feira Santa

Neste dia, toda a atenção da Igreja se volta para o Cristo que, na Ceia, celebrou ritualmente a Páscoa com Seus discípulos: “Desejei ardentemente comer convosco esta Páscoa antes de sofrer...” (Lc 22,15).
Aquilo que o Senhor fizera nos gestos rituais (lavar os pés aos Seus, entregar-Se no pão e no vinho) na Quinta, Ele realizou realmente na Sexta-feira.
Recordemos que o Senhor fez Sua despedida no contexto da ceia pascal judaica, na qual os judeus faziam memorial da saída do Egito, libertação do povo de Israel. Jesus, agora, sairia do mundo, passando ( = fazendo a Páscoa) para o Pai, após atravessar o profundo e tenebroso mar da morte. Por tudo isso, para a Quinta-feira são recomendáveis os seguintes textos:

Para serem lidos antes da Missa na Ceia do Senhor:

1. Jo 13,1 – 14,31
É a emocionante narração da Ceia segundo João. Procure unir-se aos sentimentos de Cristo; procure entrar no clima de despedida e comoção daquela Ceia derradeira.

2. Sl 113(112) – Sl 118(117)
Estes seis salmos formam o Hallel Emoticon smile Louvor: Hallelu-Iah: louvai o Senhor) que os judeus cantavam na Ceia pascal judaica. Jesus cantou-os neste dia, recordando tudo quanto Deus fizera pelo Seu povo, ao tirá-lo do Egito: “Depois de terem cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras” (Mc 14,26). Se não for possível rezar estes salmos antes da Missa na Ceia do Senhor, que eles sejam rezados logo após.

Para serem lidos após a Missa na Ceia do Senhor:
3. Jo 15,1 – 17,26
Estes discursos de Jesus devem ser lidos após a Missa na Ceia do Senhor e dos Salmos do Hallel. Procure lê-los com o coração, devagar, curtindo, como em câmara lenta, cada palavra do Senhor que se entregou. É um discurso de despedida, que termina com a Oração Sacerdotal de Jesus. Antes de ser entregue, ele se oferece por nós e por nós reza ao Pai.

4. Salmos 6, 32(31), 38(37), 51(50), 102(101), 130(129) e 143(142)
Após a Ceia, Jesus entrou numa profunda agonia, no Horto das Oliveiras. Seria ótimo terminar o dia com estes sete salmos. São os salmos penitenciais da Igreja. Reze-os por você, pela Igreja e pelo mundo inteiro, pelos quais o Cristo sofreu e Se entregou à morte. Reze-os como se fosse o próprio Cristo rezando pela sua voz. É verdade que Ele não teve nenhum pecado, mas nunca esqueça: Ele assumiu os nossos...

Sexta-feira da Paixão do Senhor

Neste santíssimo dia de jejum e abstinência de carne, devemos manter um respeitoso recolhimento, unindo-nos piedosamente Àquele que por nós Se entregou até a morte. Nada de atividades inúteis, nada de músicas profanas, nada de televisão dispersiva, nada de conversas inúteis!

Antes da Celebração da Paixão
Pela manhã, preparando-se para participar à tarde da Solene Ação Litúrgica da Paixão do Senhor, reze o seguinte:
1. Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-10; 52,13 – 53,12
São os quatro cânticos do Servo Sofredor. Eles prenunciam a paixão do Senhor e revelam os sentimentos do Seu coração bendito. Esses cânticos devem ser rezados com o “coração na mão”, com toda unção e devoção!

2. Salmos 21(22), 31(30) e 69(68)
Destes três salmos, dois (o 21 e o 31) foram citados por Jesus na cruz. Os três revelam os seus sentimentos, Ele, que tomou sobre Si todos os nossos pecados! Estes salmos devem ser rezados como que emprestando nossa voz ao próprio Cristo, reproduzindo em nós os Seus sentimentos benditos!

Após a Celebração da Paixão do Senhor:
3. Salmos 3, 5, 7, 10, 13(12), 17(16), 25(24), 27(26), 28(27), 35(34), 38(37), 42(41), 43(42), 54(53), 55(54), 56(55), 57(56), 59(58), 61(60), 63(64), 70(69), 71(70), 86(85), 88(87), 120(119), 140(139), 141(140), 142(141), 143(142)
Após a celebração da Paixão, ainda na Sexta-feira, procure rezar todos estes salmos. São muitos, mas recorde que este é um dia de penitência e oração.
Estes salmos devem ser rezados em união com o Cristo, que assumindo nossos pecados, tomou toda nossa dor, todo nosso medo, toda nossa infidelidade, toda nossa fraqueza. Se você rezar todos estes salmos, terá a graça imensa de compreender por dentro os sentimentos do Cristo na Sua paixão e morte e irá dormir em paz, como Ele: “Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9).

Sábado Santo

Neste dia tremendo, a Igreja permanece em profundo silêncio, unida a Maria, Virgem da Soledade, no dia mais difícil de sua vida: dia de solidão imensa, de vazio sem fim, mas também dia de teimosa esperança na fidelidade do Senhor Deus.
Os mais generosos devem jejuar - este é um dia de jejum total: até de comunhão eucarística!
Deve-se manter um respeitoso recolhimento; nada de atividades mundanas e dispersivas! Hoje, é proibida a comunhão eucarística até mesmo aos doentes. Somente os doentes moribundos, às portas da morte, podem comungar.
A Igreja une-se a Cristo na Sua descida aos infernos, ao sheol, habitação dos tragados pela morte: Ele entrou de verdade na situação de cadáver, de defunto, de nada... Durante todo o dia, vá distribuindo os seguintes textos:

1. Todo o Livro das Lamentações
Neste livro, o Profeta canta a miséria e a esperança de Jerusalém e a sua própria. É Cristo, Quem canta a miséria e a esperança da Igreja, da humanidade toda e de cada um de nós: tudo assumido por Ele, todo o peso do mundo sobre Ele desabou! Reze as lamentações durante todo o dia, repartindo-a em cinco partes, de acordo com os capítulos.

2. Salmos 4, 16(15) e 139(138)
Estes três salmos devem ser rezados no sábado à tardinha ou no início da noite, mas antes da Santa Vigília Pascal. Os três já prenunciam a Ressurreição:
“Em paz Me deito e logo adormeço, porque só Tu, Senhor, Me fazes viver em segurança” (Sl 4,9),
“Bendigo ao Senhor que Me aconselha, e mesmo à noite, Meus rins Me instruem. Meu coração exulta e Minha carne repousa em segurança.. Ensinar-Me-ás o caminho da Vida” (Sl 16[15], 79) e
“Senhor, Tu conheces quando Me deito (na morte) e Me levanto (na ressurreição)... Sobre Mim Tu pões a Tua mão!” (Sl 139[138],2.5).

Domingo de Páscoa

Neste Dia santíssimo, "Dia que o Senhor fez para nós!" – o mais sagrado de todos, prenúncio do Dia sem fim, do Dia final – pode-se retomar os salmos da Santa Vigília pascal!

Durante o dia todo, vá curtindo os textos que narram as aparições do Ressuscitado. Não tente compará-los nem fazer uma sequência histórica dos fatos. É impossível! Aqui, cada texto tem sua mensagem, sua característica própria, sua vibração, seu encanto... 

São textos para serem curtidos com pura emoção e gratidão, com pura louvação ao Deus fiel, que ressuscitou o Seu Filho dentre os mortos, como primícias da ressurreição nossa e do mundo!

Leia-os na ordem que eu coloco aqui:

Mt 18,1-20; Lc 24,1-53; Mc 16,1-20; Jo 20,1 – 21,25

Durante toda a Oitava de Páscoa devemos nos desejar ardentemente “Feliz Páscoa!” Nossos irmãos orientais saúdam-se assim uns aos outros: “O Irmão Jesus ressuscitou!” e o outro responde: “Ressuscitou verdadeiramente!”

Eis agora a Páscoa, nossa Festa!

“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).

Está próxima a festa da Páscoa; não a dos judeus, mas a de Cristo, motivo e garantia da nossa. Toda a Igreja está se preparando para a Celebração, para a grande Festa, a maior dos cristãos: Cristo, nosso Cordeiro pascal, imolado por nós, para nossa salvação. Ele fez Sua Páscoa quando, na força do Espírito Santo, passou deste mundo para o Pai, desta vida mortal, para a plenitude da Glória imperecível: está sentado à direita de Deus Pai, todo-poderoso!

Ressuscitado, Ele nos deu o Seu Espírito: derramou-O sobre Seus discípulos, sobre toda a humanidade, sobre toda a criação. Pela força desse Espírito, o mesmo que ressuscitou Jesus dentre os mortos, tudo será, um dia transfigurado, plenificado, ressuscitado: nós, o mundo, toda a criação – será a nossa Páscoa, pois na força do Espírito do Ressuscitado, passaremos deste mundo, desta vida, para a Glória. Por isso a grandeza desta festa – a Páscoa, a Passagem!

Pensemos bem: celebrá-la significa proclamar que a criação tem um rumo, um caminho, um destino: a glória do Pai, pois ela toda será plenificada pelo Espírito que ressuscitou Jesus dentre os mortos. O cosmo caminha, portanto, para o Cristo glorificado: Ele que é o Alfa, o Princípio de tudo, é também o Ômega, o Fim, a Finalidade de toda a criação. O universo, então, não caminha para o acaso, para o indeterminado, o imprevisível. E o Ressuscitado, Senhor do cosmo, que é nosso porto, destino e descanso. É Ele Quem entregará, um dia, aquele Dia final, tudo ao Pai, para que o Pai seja tudo em todos!

Também a história humana – esta história tão marcada por realizações e lágrimas, momentos belos e ocasiões tão negras! É Cristo, o injustiçado, o macerado, o derrotado pela maldade do mundo, é Ele o Triunfador, o Vivente, o Príncipe morto que agora reina vivo. É Ele Quem tem nas mãos o livro selado, o livro da história humana. É Nele que um dia, no Último Dia, toda a história será passada a limpo. Por isso o cristão vive na esperança: ele sabe que vale a pena lutar para construir um mundo melhor, pois é para o Cristo que esse mundo caminha. A história não é uma realidade cega, sem lógica... Em Cristo tudo será iluminado: todo pranto será enxugado, toda injustiça será reparada, toda morte e as mortes todas serão vencidas!

Finalmente, celebrar a Páscoa significa crer que nossa vida pessoal e eclesial também caminha para o desabrochar na glória! A glória do Espírito de ressurreição, que o Pai derramou sobre o Filho, o Filho no-la dá: “Eu lhes dei a glória que Tu Me deste!” Nós ressuscitaremos, como Jesus e por causa de Jesus – é Ele nosso Destino, Modelo e Caminho! Então, nossa vida tem sentido, nossos sonhos e desafios são cheios de esperança, são promessa de futuro! Nós e toda a Igreja seremos transfigurados, plenificados: a Igreja será plenamente Esposa sem mancha do Cordeiro imolado e nós, completando o caminho iniciado no Batismo, traremos em nós a imagem perfeita e madura de Jesus Ressuscitado, o Homem Perfeito!

Eis a Páscoa nossa Festa, Festa da Igreja, Festa da humanidade, Festa da criação!
Tristes de nós, triste da Igreja, se celebrar a Páscoa ficando sempre a mesma, sem se contagiar pela esperança, sem a teimosia de construir, sem a força de recomeçar sempre, sem a graça de crer na vida, no bem e no amor. Ela, a Igreja, deve ser a primeira testemunha do Ressuscitado, e não somente na evocação do rito sagrado, na sonoridade da proclamação, mas também e sobretudo no compromisso e testemunho de seu modo de viver e no esforço de uma conversão contínua! Aí a Páscoa não será uma festa anual, mas será presença constante na nossa vida, numa vida pascal, que desembocará na Páscoa da glória!

Eis! Que nossa Páscoa permaneça para sempre!

sexta-feira, 27 de março de 2015

Retiro quaresmal - sexta-feira da V semana

Concluamos agora a nossa meditação sobre o Segundo Cântico do Servo Sofredor, viva profecia sobre o nosso Jesus:

“Assim diz o Senhor, o redentor, o Santo de Israel
Àquele cuja alma é desprezada, vilipendiada pela nação,
Ao Servo dos tiranos:
Reis o verão e se erguerão, príncipes o verão e se prostrarão,
Por causa do Senhor, que é fiel, do Santo de Israel, que Te escolheu!” (Is 49,7).


É assim que termina este segundo Cântico: de modo triunfante e dramático!
O Servo será humilhado, vilipendiado, rejeitado pelo Seu próprio povo. Os tiranos zombarão Dele – Herodes, Pilatos, os chefes do Sinedrio e tantos grandes de todos os tempos, grandes do poder político, econômico, grandes das ciências e universidades, grandes dos meios de comunicação...

No entanto, Ele triunfará: os grandes haverão de se prostrar diante Dele, conforme as palavras do Salmo 2:

“Os reis da terra se insurgem,/ e unidos os príncipes enfrentam/ o Senhor e o Seu Messias.../ O que habita nos céus ri,/ o Senhor Se diverte às custas deles.../ Publicarei o decreto do Senhor:/ Ele Me disse: ‘Tu és o Meu Filho, Eu hoje Te gerei!’”.

Sim, o Senhor Deus é fiel e não abandonará o Seu Servo, mas, atenção: não O livrará de passar pelo fogo e pelas águas profundas da privação e da morte!

- Senhor, Teus caminhos são misteriosos!
Teus desígnios, ó Deus bendito, nos são tão incompreensíveis;
deixam-nos confusos, inseguros, perplexos!
Até mesmo o Teu Servo, o Teu Bendito e Santo Filho,
Jesus nosso Senhor,
experimentou humanamente a vertigem de caminhar na Tua presença!
Por que és assim? Por que fazes assim?
Silêncio, mistério!
Quem pode caminhar Contigo,
a não ser o de coração de pobre, que se abandona nos Teus braços?
Quem pode confiar em Tu,
senão quem tem um coração de criança, que confia e espera contra toda a esperança?
Senhor, Deus Santo, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
ensina-me os Teus caminhos para que eu ande na Tua vontade;
dá-me um coração pobre, simples, inteiro,
que tema o Teu Santo Nome e em Ti me abandone,
por Cristo,
com Cristo,
em Cristo,
mesmo até a cruz
e até a ressurreição!

Reze os Salmos 37/38 e 38/39...

quinta-feira, 26 de março de 2015

Retiro quaresmal - quinta-feira da V semana

Mais um dia rumo à Páscoa... Continuemos seguindo o Servo Sofredor, ainda no segunda cântico de Isaías Profeta:

“Mas, Eu disse: ‘Foi em vão que Me fatiguei,
Debalde, inutilmente, gastei as Minhas forças’.
E, no entanto, Meu direito está com o Senhor,
Meu salário está com o Meu Deus!” (Is 49,4).

Palavras impressionantes! O Servo entra em crise! Sua missão é árdua e Ele Se sente fracassado: tudo parece inútil, tudo parece perdido.
E, no entanto, contra toda esperança, Ele espera no Senhor Deus; contra toda lógica, Ele coloca no Senhor a Sua recompensa.
Assim, vai aparecendo que o Servo não cumprirá Sua missão sem passar pelo sofrimento e a aparente derrota!

“Mas agora disse o Senhor,
Aquele que Me modelou desde o ventre materno para ser Seu Servo,
Para reconduzir Jacó a Ele,
Para que a Ele se reúna Israel;
Assim serei glorificado aos olhos do Senhor,
Meu Deus será a Minha força!
Sim, Ele Me disse: ‘Pouca coisa é que sejas o Meu Servo
Para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os sobreviventes de Israel.
Também Te estabeleci como luz da nações,
A fim de que a Minha salvação chegue até as extremidades da terra’” (Is 49,5-6).

Note como o Servo vai narrando o diálogo que o Senhor Deus tem com Ele. Depois que o Servo apresentou ao Deus Santo Sua queixa, Seu cansaço, Sua terrível sensação de trabalhar por nada, de gastar a vida a toa, num vazio desolador, o Senhor O confirma na missão e lhe revela um horizonte largo, tão largo quanto o mundo!

Releia o texto e responda:
Quem é o Servo: todo o povo de Israel ou um personagem individual?
Observe que o Servo é Israel todo e também um personagem misterioso que o personifica, o concentra, dá-lhe sentido último. Já falei sobre isto numa das últimas meditações do nosso retiro.

Recoloco aqui o que apresentei antes: o próprio Cristo é a personificação de todo o povo de Israel, de modo que Israel se realiza, se cumpre, chega à sua plenitude em Cristo Jesus. Dou-lhe quatro exemplos dessa misteriosa realidade:

1. O filho chamado do Egito – referindo-se a Israel, quando era escravo no Egito e foi trazido pelo Senhor Deus para a Terra Santa, o profeta Oséias diz, em nome do Senhor: “Quando Israel era menino, Eu o amei e do Egito chamei Meu filho” (Os 11,1).
Ora, o Evangelho Segundo Mateus, narrando a volta de Jesus Menino do Egito, afirma que isto aconteceu “para que se cumprisse o que dissera o Senhor por meio do profeta: ‘Do Egito chamei o Meu Filho’” (Mt 2,15).
Em outras palavras: Jesus é o verdadeiro Israel, Israel se cumpre, se realiza, encontra o seu sentido último em Jesus, o Salvador de todos os povos! Tudo quanto aconteceu com Israel era já mistério de Cristo!

2. A vinha amada – Em várias passagens do Antigo Testamento Israel é comparado a uma vinha amada por Deus: “A vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são Sua plantação preciosa” (cf. Is 5,1-7; Ez 15,1-8; Sl 80,9-19). Pois bem, no Evangelho Jesus afirma de modo surpreendente: “Eu sou a verdadeira videira!” (Jo 15,1).
Em outras palavras: não que Israel seja uma videira falsa, mas Israel é uma videira provisória. É Jesus a videira definitiva! A primeira era apenas imagem da segunda! Tudo quanto aconteceu a primeira preparava a segunda!

3. O servo sofredor – Na profecia de Isaías aparece a misteriosa e impressionante figura do Servo sofredor, que ora é o povo todo, ora é alguém que morrerá pelo povo (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11; 52,13 – 53,12).
Este Servo que personifica todo o povo de Israel e o redime é Jesus nosso Senhor, que dá a vida por toda a humanidade e vem a ser luz da nações para que a salvação chegue até os confins da terra (cf. Mt 12,18-21; 11,1-9; Mt 3,16-17; Lc 2,32; Mt 8,17; 1Pd 2,24-25; At 8,32-33; Mt 27,38; Mc 15,28, etc).

4. O ressuscitado ao terceiro dia – Depois das provações do Exílio, que serão como uma morte, Deus promete ressuscitar o Seu povo: “Ele nos despedaçou, Ele nos curará; Ele feriu, Ele nos ligará a ferida. Depois de dois dias nos fará reviver, no terceiro dia nos levantará” (Os 6,1-2). Essa morte e ressurreição de Israel cumpriu-se na própria morte e ressurreição do Senhor, ressuscitado ao terceiro dia “conforme as Escrituras”.

Vamos adiante. “Assim serei glorificado aos olhos do Senhor!” Não tem jeito: mesmo com todo o sofrimento, com toda a dificuldade, com toda a tentação de desânimo, a glória do Servo está em ser fiel até o fim, em realizar a vontade do Senhor Deus... Como diz o Autor da Carta aos Hebreus, Ele terá de aprender a obedecer pelo sofrimento e somente assim tornar-se-á perfeito na glorificação que o Pai lhe dará (cf. Hb 5,8-9). Mas, esse Servo bendito não precisa ter medo: o Senhor Deus, que é fidelíssimo, estará com Ele, será a Sua força e o Seu amparo. O Servo deverá aprender a confiar no Eterno, a colocar Seu arrimo no Deus Santo de Israel!

Finalmente, o Santo revela ao Seu Servo toda a grandeza da Sua missão: Ele será o Salvador de Israel, mas isto ainda é pouco! Agora cumprir-se-á, naquele Servo humilhado e frágil, a promessa feita a Abraão: “Todas as nações da terra serão abençoadas em ti!” Sim: é pouco que o Servo resgate Israel do seu pecado! Ele será feito pelo Deus de Israel luz das nações, de modo que a salvação do Senhor chegue até os confins da terra. O Deus de Israel será conhecido por todos os povos, graças ao sofrimento do Seu Servo! Profecia impressionante, repetida pelo Velho Simeão: “Meus olhos viram a Tua salvação, Senhor: luz para iluminar as nações e glória do Teu povo, Israel!” (Lc 2,32). Eis, que mistério: a glória de Israel não está em fechar-se em si mesmo, mas em acolher o Messias-Servo e fazê-Lo conhecido de todos os povos! Israel não foi chamado por Deus para si mesmo, mas para ser ministro da salvação de todos os povos! Foi isto que o antigo povo não compreendeu...

Reze o Sl 34/35

quarta-feira, 25 de março de 2015

Retiro Quaresmal - quarta-feira da V semana

Continuemos nosso caminho para a Grande Semana. Contemplemos o Senhor na Sua Paixão, meditando agora o segundo Cântico do Servo Sofredor (cf. Is 49,1-7):

“Ilhas, ouvi-Me!
Povos distantes, prestai atenção!”

Enquanto no primeiro Cântico era o Senhor Deus quem falava, apresentando o Seu Servo, agora, neste segundo Cântico, é o Servo quem fala, apresentando a Sua missão; e dirige-Se não a Israel, mas a todos os povos da terra.

É impressionante esta dimensão de universalidade da missão do Servo. Este personagem tão misterioso viria, certamente de Israel e para a salvação de Israel, mas também e de modo final, para toda a humanidade!
É o mundo inteiro que necessita de salvação, de sentido, de abrir-se para o Eterno para não perecer sufocado pela mesmice dos estreitos labirintos da humana existência...
Pense bem: o quanto o homem sozinho é incapaz de encontrar um sentido profundo para sua vida, seus atos, seu caminho, sua dor, sua solidão, sua morte...

“Desde o seio materno o Senhor Me chamou,
desde o ventre de Minha mãe pronunciou o Meu nome.
De Minha boca fez uma espada cortante,
Abrigou-Me à sombra de Sua mão;
Fez de Mim uma seta afiada,
Escondeu-Me na Sua aljava” (Is 49,1b-2).

O Servo não vem por Ele mesmo, autônomo, para viver e fazer do Seu modo: foi escolhido pelo Senhor Deus, foi por Ele plasmado e enviado.
Como Jeremias e tantos outros profetas, foi conhecido pelo Senhor e Dele recebeu o nome antes mesmo de nascer. Seu caminho está traçado, Sua missão está definida.
Cabe ao Servo sê-lhe fiel e realizar plenamente o quanto o Deus de Israel determinou.

É este tremendo caminho de obediência que Jesus fará: Ele sabe e diz todo o tempo que não veio por Si mesmo, mas veio do Pai e fala e realiza somente aquilo que o Pai Lhe determinou.

Por isso mesmo, esse Servo manso – como se viu no primeiro Cântico – tem uma palavra que é espada cortante, porque Palavra do próprio Deus, que ilumina, julga, denuncia e salva. O Servo é como uma flecha na mão do Santo de Israel: Ele é Sua arma, pela qual o Senhor Deus triunfará no Seu desígnio.

Para cumprir Sua missão, o Servo pode contar com a proteção do Senhor, que o protege com Sua mão, que O abriga e socorre; o Senhor guarda o Seu Servo como um guerreiro guarda sua arma na aljava. Que acontecerá com esse Servo, de missão tão árdua e tão protegido pelo Senhor?

“Disse-Me: ‘Tu és Meu Servo, Israel,
Em quem Me glorificarei’” (Is 49,3).

Quem é o Servo? É uma pessoa ou é o inteiro povo de Israel? Guarde bem esta pergunta!
Aqui aparece como sendo Israel. No entanto, no primeiro Cântico, o Senhor já disse que este Servo será aliança com o povo de Israel... Guarde bem estas coisas!
Agora basta observar como o próprio Servo testemunha o que Ele mesmo escutou do Senhor Deus: Tu és o Meu Servo! Eu vou Me glorificar em Ti!

Pense em Jesus, que em todo o tempo procurou sempre a glória do Pai: Pai, glorifica o Teu Nome! Toda a vida do Servo, toda a Sua missão será render glória ao Pai, obedecendo-O, realizando plenamente a Sua santa vontade.

Agora pense na sua vida:
Tem sido uma procura de Deus?
Sua existência é vivida na obediência ao Senhor ou na rebeldia, como se você fosse autônomo? Hoje vivemos no mundo da autonomia diante de Deus... O homem se pensa autônomo; esse bicho do qual se Deus retirasse a chuva, o sol e o ar, pereceria na morte...

Reze o Salmo 39/40

segunda-feira, 23 de março de 2015

Retiro Quaresmal - Terça-feira da V semana

Meditemos ainda sobre os versículos do I Cântico do Servo Sofredor:

“Eu sou o Senhor; este é o Meu Nome!
Não cederei a outrem a Minha glória,
Nem a Minha honra aos ídolos.
As primeiras coisas já se realizaram,
Agora vos anuncio
Outras, novas;
Antes que elas surjam,
Eu vo-las anuncio!” (Is 42,8-9).


Trata-se da conclusão soleníssima! deste primeiro poema!

O Senhor Deus empenha o Seu Nome, a Sua glória, a Sua grandeza na missão do Servo!

O verdadeiro Deus – não os ídolos! – Se revela no Servo manso e humilhado. O Deus de Israel nada tem a ver com a “teologia da prosperidade”, com o pensamento de um Messias poderoso, guerreiro, triunfante dos triunfos deste mundo! Tudo isto é idolatria, é imagem de um falso deus! O Deus único e verdadeiro é o que Se manifesta na pobreza humilde do Servo sofredor!
A lógica de Deus é impressionante; dá um nó na nossa lógica! Somente nos convertendo poderemos acolhê-la!

O Senhor termina recordando a Sua fidelidade: o que Ele afirmou no passado cumpriu-se: Ele fez Israel sair do Egito, Ele deu a terra ao Seu povo, Ele o libertou dos seus inimigos, Ele castigou Israel por sua infidelidade... Tudo cumpriu-se...

Que ninguém duvide: o que Ele agora anuncia, tão misterioso, tão inesperado, tão escandaloso (Seu Servo pobre e humilde, que vai triunfar trazendo a salvação) acontecerá sem dúvida alguma! É, realmente, uma coisa nova, inesperada, nunca imaginada pela humanidade!

Reflita: os pensamentos do Senhor, os Seus modos, não são os nossos... Você está disposto a se converter aos modos, aos tempos, à lógica do Senhor?

Reze o Salmo 30/31, unindo-se a Cristo no mistério da Sua paixão.

Retiro quaresmal - segunda-feira da V semana

Ainda estamos meditando sobre o I Cântico do Servo Sofredor:

"Não vacilará nem desacorçoará
até que estabeleça o direito na terra;
e as ilhas aguardem Seu ensinamento” (Is 42,4).

Se o Servo é humilde e manso, mas que ninguém se iluda: Ele não desiste! 
Confiando no Senhor Deus, persistirá na Sua missão de levar o direito de Deus, a adoração, o serviço e a verdade amorosa do único Deus até os confina da terra. As ilhas, no Antigo Testamento, significam as nações mais distantes, os extremos da terra.

É impressionante como já o Antigo Testamento previa sua própria superação. Quando viesse o Servo-Messias, o Deus de Israel seria o Deus de toda a humanidade, graças a obra do Ungido, Daquele sobre quem o Senhor Deus derramara o Seu Espírito!
Vá observando, caro Amigo, como tudo isto se cumpriu de modo impressionante no Senhor nosso Jesus Cristo!

Continuemos ainda escutando a Escritura:

"Assim diz Deus, o Senhor,
que criou os céus e os estendeu,
que firmou a terra e o que ela produz,
que deu o alento aos que a povoam
e o sopro de vida aos que se movem sobre ela:
‘Eu, o Senhor, Te chamei para o serviço da justiça,
Tomei-te pela mão e Te modelei,
Eu Te constitui como aliança do povo,
como luz das nações,
a fim de abrires os olhos aos cegos,
a fim de soltares do cárcere os presos,
e da prisão os que habitam nas trevas!’” (Is 42,6-7).

O Senhor Deus agora, de modo soleníssimo, faz uma declaração ao Seu Servo. Observe: Deus recorda que Ele é o Altíssimo, o Senhor de tudo, Senhor de Israel, mas ainda mais: Senhor de toda a terra, de todo o ser vivente!
O Servo não terá uma missão simplesmente circunscrita a Israel, o povo da antiga Aliança. Sua missão atingirá todos os seres e toda a humanidade, que vive porque o Senhor Deus a todos criou e a todos dá o sopro de vida.

Que diz o Senhor Deus ao Seu Servo?

(1) “Eu Te modelei!” Que mistério! O Filho eterno, Deus igual ao Pai, foi realmente criado na Sua humanidade igual à nossa! Sendo Deus, fez-Se homem; sendo Senhor, fez-Se servo; sendo rico, fez-Se pobre; sendo eterno, fez-Se criança; sendo infinito, fez-Se mortal limitado! Estas palavras impressionantes encontram eco nas palavras do próprio Cristo Jesus ao entrar no mundo: “Tu não quiseste sacrifícios e oferenda. Tu, porém, formaste-Me um corpo. Holocausto e sacrifícios pelo pecado não foram do Teu agrado. Por isso Eu digo: Eis-Me aqui – no rolo do Livro está escrito a Meu respeito – Eu vim, ó Deus, para fazer Tua vontade!” (Hb 10,5-7). O Filho toma a forma de Servo e vem para obedecer, para humanamente entregar-Se de modo total ao Pai em nosso favor. Vem corrigir com o seu “sim” o “não” que Adão (e Adão somos todos nós!) disse a Deus, perdendo o rumo de sua existência e o caminho da salvação.

(2) “Eu Te chamei para o serviço da justiça!” Não se trata aqui de qualquer justiça. A justiça, nas Escrituras Sagradas, é, sobretudo, e radicalmente a obediência ao Senhor Deus. O justo é o obediente ao Senhor, o que cumpre Sua santa vontade. É esta a justiça que é raiz de toda outra justiça. A justiça humana que não brota da justiça (retidão) para com Deus é capenga, tem pernas curtas! O Servo vem para levar a vontade de Deus a toda a humanidade e chamar todos à obediência da fé!

(3) “Eu Te constitui como aliança do povo, como luz das nações”. Impressionante! O Servo primeiro vem para o povo de Israel. A nova e eterna Aliança que Ele traz é primeiro ofertada aos judeus (cf. Mt 10,5-6). Se o povo de Israel desejar realmente fazer a vontade do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, deve acolher Jesus como Messias e entrar na nova Aliança no Seu sangue. Mas, Jesus veio também para todos os povos: “Eu sou a luz do mundo!” Como profetizou o Velho Simeão: “Luz para iluminar as nações e glória de Teu povo, Israel” (Lc 2,32).

(4) “A fim de abrires os olhos aos cegos, a fim de soltares do cárcere os presos, e da prisão os que habitam nas trevas”. Eis aqui: o Servo vem para salvar, para libertar uma humanidade presa em tantos cárceres, cega de tantas cegueiras, privada de luz, porque confia em suas próprias trevas. Ainda hoje é esta a missão do Senhor. Aquele que Nele crê e o acolhe, aquele que cumprindo Seu desejo, recebe o Batismo e ingressa na Sua santa Igreja, aquele que comunga Seu Corpo e Sangue na Eucaristia e vive na Sua vontade, livra-se das cadeias da morte, do poder das trevas e vive na luz!

Reze o Salmo 71/72, pensando no Cristo humilhado e glorioso: é Ele o Rei verdadeiro nosso e do mundo.

domingo, 22 de março de 2015

V Domingo da Quaresma: Elevado para atrair e salvar!

Caríssimos, às portas da Semana Santa, concentremos, neste Domingo, todo o nosso olhar no Senhor nosso, Jesus Cristo, e na Sua missão salvadora.

Para isto, comecemos pelo belíssimo evangelho deste hoje. Contemplemos o Senhor! Contemplemo-Lo com os olhos, contemplemo-Lo com a fé, contemplemo-Lo com o coração!

Jesus estava no interior do Templo de Jerusalém, no pátio interno, chamado Pátio de Israel. Ali, nenhum pagão podia entrar, sob pena de morte. Pois bem, dois gregos, dois pagãos que certamente habitavam na Terra Santa, provavelmente na Gelileia, aproximaram-se de Filipe, que certamente estava na parte mais externa, no chamado Pátio dos Gentios, até onde qualquer pessoa podia chegar.

Dois gentios, chamados “tementes a Deus”, que procuravam com fervor o Deus de Israel, tanto que “tinham subido a Jerusalém para adorar durante a festa”.

Com humildade, eles pedem: “Gostaríamos de ver Jesus!” Eles não podiam entrar no Templo, não poderiam ver Jesus, a não ser que Este saísse e viesse aonde eles estavam.

Filipe, então, foi a Jesus e Lhe relatou o pedido dos gregos.

O Senhor não responde de modo direto; com palavras misteriosas, afirmou: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado!”

Que mistério, caríssimos: para que os pagãos vejam Jesus, isto é, para que O contemplem com os olhos da fé, para que Nele creiam e Nele tenham a Vida eterna, é necessário que Jesus seja glorificado pela cruz e pela ressurreição! É necessário que Jesus, grão de trigo, que se faz Eucaristia, morra e dê fruto – e este fruto é toda a humanidade, judeus e gentios que Nele acreditarão e Nele serão o novo Povo, da Nova Aliança e por causa Dele terão a Vida eterna: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz fruto”.

Jesus entregará ao Pai a Sua vida, para frutificar em salvação para nós, para que possamos vê-Lo, contemplá-Lo e experimentá-Lo como nossa Luz e nossa Vida! Quanto custosa foi a nossa redenção! Quão doloroso o sim de Deus à humanidade: entregou o Seu Filho, glorificando-O na cruz e na ressurreição, para que Nele tivéssemos Vida divina!

Como não pode ser banal a nossa resposta a um amor assim!

Como não podemos brincar de ser cristãos!

Como não podemos crer de faz de conta e de seguir a Jesus nosso Senhor sem renunciar ao pecado por Ele!

Irmãos, não foi fácil a Sua missão! A vida de Nosso Senhor foi toda ela uma entrega de amor, que culminou com a entrega mais absoluta na cruz. E isso custou!

Como não nos impressionar com as misteriosas palavras da Epístola aos Hebreus? “Cristo, nos dias de Sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas com forte clamor e lágrimas, Àquele que era capaz de salvá-Lo da morte. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que Ele sofreu. Mas, na consumação de Sua vida, tornou-Se causa de salvação eterna para todos os que Lhe obedecem!”

Que mistério tão grande, tão adorável!

O Filho foi se consumindo durante toda a vida, fazendo-Se, por nós, obediente ao Pai, até a morte e morte de cruz! O Filho amado, durante toda a sua existência humana foi, humildemente, buscando a vontade do Pai e a ela Se entregando, mesmo quando foi percebendo que a vontade do Pai querido apontava para a cruz! Assim, tornou-Se causa de salvação para todos nós, para os judeus e para os pagãos! Quanto tudo isso custou: “Agora sinto-Me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-Me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que Eu vim. Pai, glorifica o Teu Nome!” 

Em Cristo, caríssimos, vai cumprir-se a promessa que o Senhor fizera pelo Profeta Jeremias: “Eis que virão dias em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança: imprimirei minha lei em suas entranhas e hei de inscrevê-la em seu coração. Todos Me reconhecerão, pois perdoarei sua maldade e não mais lembrarei o seu pecado”.

Eis, irmãos e irmãs: é na glorificação de Cristo – Sua morte e ressurreição - que judeus e gentios entrarão para a nova e eterna Aliança no sangue do Senhor!

Quanto somos valiosos, quanto custamos em dores e sacrifício, em doação e trabalhos ao Senhor! 

Quanto deveríamos amar Àquele que nos amou até a morte e morte de cruz!

Por isso mesmo São Pedro exclamará: “Sabeis que não foi com coisas perecíveis, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo” (1Pd 1,18).

E, no entanto, caríssimos em Cristo, é a cruz do Senhor, é Seu sacrifício amoroso ao Pai por nós, o critério do julgamento do mundo.

Não são os grandes, os crucificadores, que salvam, mas o pobre e impotente Crucificado: “É agora o julgamento deste mundo. Agora o Chefe deste mundo vai ser expulso, e Eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a Mim”.

Compreendeis, meus caros, o que o Senhor está dizendo?

Sua cruz é o critério do julgamento do mundo: tudo aquilo que não couber na cruz, tudo aquilo que fugir da lógica da cruz, é lixo, é palha para ser queimada!

É o amor manifestado e derramado na cruz que vence Satanás, que vence o pecado, que vence a morte e nos dá a Vida plena.

Não são a força, o sucesso, as razões humanas, o prestígio que salvam!

Eis a loucura de Deus: é Cristo elevado na cruz Quem libertará os gregos que estavam do lado de fora, sem poder entrar no povo da antiga aliança.

Cristo morrerá por eles, por nós, para que todos, atraídos a Ele, formemos um novo povo, a Igreja, povo da Nova e Eterna Aliança, selada no sacrifício do Senhor, neste mesmo Sacrifício Eucarístico que neste Domingo sagrado estamos celebrando nos ritos da sagrada liturgia!

Quanta bondade, quanta misericórdia! Que dom tão grande recebemos do Senhor! Na cruz, de braços abertos, o Salvador nosso une judeus e pagãos num só povo, o novo Povo, a Igreja, Sua amada esposa una, santa, católica e apostólica!

É este, caríssimos, o mistério que a Palavra do Senhor nos convida a contemplar neste último Domingo antes do início da Grande Semana. Mas, do alto da contemplação, o Senhor nos surpreende com um convite, um desafio, quase que uma ordem inesperada: “Se alguém Me quer servir, siga-Me, onde Eu estou estará também o Meu servo”.

– Nós queremos, sim, Te servir, Senhor nosso!

Dá-nos a força de Te seguir até onde estás: estás na cruz e estás na Glória.

Jamais chegaremos a esta sem passar por aquela, porque quem não ama a Tua cruz não verá a Tua luz, a luz da Tua Glória!

Senhor, concede-nos, como fruto da santa Quaresma, um coração generoso para ir Contigo, fazendo, como Tu, a vontade do Pai na nossa vida!

Senhor, dá-nos a graça de unirmo-nos mais intensamente a Ti nestes benditos e santos dias que se aproximam, nos quais faremos memorial nos santos mistérios, da Tua Paixão, Morte e Ressurreição, pelas quais fomos salvos e libertos! “Dai-nos caminhar com alegria na mesma caridade que Te levou a entregar-Te à morte no Teu amor pelo mundo”.

A ti a Glória, ó Cristo Deus Bendito e Santo, Santo e Santificador, hoje e para sempre! Amém.

sábado, 21 de março de 2015

Retiro quaresmal - sábado da IV semana

"Ele não clamará, não levantará a voz,
não fará ouvir a voz nas ruas;
não quebrará a cana rachada,
não apagará a mecha bruxuleante,
com fidelidade trará o direito (Is 42,2-3).


O Santo de Israel, o Deus vivo de Abraão, de Isaac e de Jacó, vai apresentando o Seu Servo, vai traçando Seu perfil.

Nestes versículos aparece clara a Sua mansidão: Ele não vem de modo vistoso, imponente, mas humilde, brando, manso: não grita, não aterroriza, não ameaça.
Mais ainda: é misericordioso, pois vem para sarar, para recompor: não quebra a cana que já está rachada ou a chama que ainda fumega.

Foi assim que o nosso Jesus se comportou: acolheu publicanos, prostitutas, pecadores de toda espécie...
Nunca justificou o pecado, mas sempre procurou acolher e perdoar os pecadores, já feridos, já rachados, titubeantes pelos pesos, erros e ferimentos da vida...
Com toda fidelidade, Jesus defendeu o direito de Deus: Sua santidade, Sua exigência de um amor verdadeiro, total e absoluto, Sua misericórdia e desejo de dar vida ao pecador...

Medite, contemple o Senhor Jesus!
Reze o Salmo 31/32, um dos salmos penitenciais da Igreja.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Retiro quaresmal - sexta-feira da IV semana

Aproximamo-nos da Grande Semana. A Liturgia da Igreja começa agora a colocar toda a sua atenção em Jesus, o nosso Salvador, que por nós e pela nossa salvação, sofreu tão grande contradição, até a morte e morte de cruz.

Assim, meu caro Amigo, como continuação do nosso Retiro Quaresmal apresentarei por estes dias vários textos para sua meditação. Sobretudo, colocarei os quatro cânticos do Servo Sofredor, procurando comentá-los. Hoje, o Primeiro Cântico (Is 42,1-9), lido como primeira leitura da Missa da Segunda-feira Santa. Que o nosso olhar se dirija a Jesus; que o nosso coração se fixe no Senhor!

"Eis o Meu Servo que Eu sustento,
o Meu Eleito, em quem tenho prazer.
pus sobre Ele o Meu Espírito,
Ele trará o direito às nações" (Is 42,1).

Assim começa o primeiro dos quatro cânticos do Servo sofredor.
Aqui o Deus de Israel apresenta o Seu Servo.

Observe, meu Leitor, que são as mesmas palavras ditas no batismo de Jesus: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mt 3,17).
E enquanto diz isto, o Pai derrama sobre Ele o Seu Espírito. É o cumprimento desta profecia. E mais: aqui o Pai revela ao Filho que tipo de Messias Ele deve ser: o Messias Servo, apresentado no Livro de Isaías profeta.
Por isso mesmo a Igreja, durante toda esta Semana Santa, na Missa cotidiana, apresenta a figura do Servo sofredor. Toda a missão do nosso Salvador foi vivida como Servo sofredor e é assim que O contemplamos nestes dias santíssimos.

Ele é o Ungido ( = Messias) pelo Espírito Santo para ser o Servo salvador de Israel e do mundo inteiro.
Observe como já aqui está anunciado o alcance universal da Sua missão: “Ele trará o direito às nações”. Qual direito? O direito de Deus, do Deus Santo de Israel. Este direito que nossa sociedade ocidental agora rejeita e joga no lixo de sua existência e muitas vezes também nós, que trazemos o nome santo de cristãos, quando queremos viver do nosso modo, à margem ou contra a vontade do Senhor...

Pense nisto!
Reze o Salmo 6, o primeiro dos salmos penitenciais

Preparando a Grande Semana

Meu caro Amigo, uma das características essenciais do cristão é o constante processo de identificação com Jesus nosso Senhor. Não se trate de algo sentimental, psicológico, digamos assim. Desde o Batismo e passando por todos os sacramentos, tendo como cume a Eucaristia, por obra do Espírito Santo do Senhor imolado e ressuscitado, o cristão vai se tornando uma só coisa com o seu Senhor, a ponto de exclamar com toda verdade “Já não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim!”.

Mas este processo que se dá no nível do ser, deve invadir todos os âmbitos da nossa existência: também o nosso psiquismo, nossa imaginação, nossa memória, nossos afetos e sentimentos. “Tende em vós os mesmos sentimentos do Cristo Jesus!”


Pois bem, nestes dias que antecedem a Grande Semana ou Semana Santa, convido-o insistentemente a deixar-se inundar pelos sentimentos do nosso Salvador no Seu caminho para o Calvário e a Ressurreição. Convido-o a viver a Páscoa por dentro, tanto nos ritos sagrados da Liturgia, que nos fazem contemporâneos dos gestos salvíficos de Cristo, como também tornando seus o sentimentos e atitudes interiores do Salvador. Para isto, eis o que deve ser feito:

1. Procure ler e meditar os textos evangélicos da Missa de cada dia, começando pelos da segunda-feira passada: segunda-feira da IV semana da Quaresma. Eles são todos do Evangelho segundo João e vão mostrando a forte disputa entre Jesus e os judeus; disputa que terminará no teibunal de Pilatos.

2. Leia, meditando e tendo sempre o Cristo diante dos olhos e no coração, os quatro cânticos do Servo Sofredor: eles falam do Senhor nosso Jesus Cristo: Is 42,1-9; 49,1-7; 50,4-11; 52,13 – 53,12.

3. Reze os Salmos de súplica individual do Saltério. Reze-os emprestando a sua voz a Cristo; deixe que Cristo fale por você; reviva em você os sentimentos Dele. Eis os Salmos: 5; 6; 7; 13; 17; 22; 25; 26; 28; 31; 35; 36; 38; 39; 42; 43; 51; 54; 55; 56; 57; 59; 61; 63; 64; 69; 70; 71; 86; 88; 102; 109; 120; 130; 140; 141; 142; 143. A numeração dada aqui é a hebraica; isto quer dizer que, por exemplo, o Salmo 51 é o Salmo 50 da “Ave Maria”. Importante: quando o salmista reconhecer seus pecados, tal afirmação deve ser compreendida como Cristo que toma sobre Si as consequências dos pecados do mundo inteiro, pois o nosso Salvado nunca teve pecado: é santíssimo e Deus perfeito.

Bom exercício de oração! Boa preparação para a Semana Santa. Depois darei outras sugestões!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Retiro quaresmal - quarta-feira da IV semana

Comecemos com a Palavra de Deus:

"Naqueles dias, 4um grupo de pessoas que estava no meio deles foi atacado de um desejo desordenado, e os filhos de Israel começaram a lamentar-se, dizendo: “Quem nos dará carne para comer? 5Vêm-nos à memória os peixes que comíamos de graça no Egito, os pepinos e os melões, as verduras, as cebolas e os alhos. 6Aqui nada tem gosto ao nosso paladar, não vemos outra coisa a não ser o maná" (Nm 11,4-6).


Israel foi atacado de desejo desordenado. Já tinha o maná, o Senhor o sustentava, tinha a água do rochedo...

Mas, Israel é guloso: nunca está satisfeito; corre atrás de suas mil vontades, de seus mil interesses contraditórios e mortais. Na sua gula por satisfazer seus desejos, por seguir sua lógica, por ir atrás de seus apetites, o povo recorda a antiga escravidão e, seduzido pelo diabo e por suas próprias paixões, tem a ilusão de que o tempo do Egito fora um paraíso! Eis: a obra do Diabo é seduzir, mentir, enganar o homem!
O pecado nos faz isto: o mal parece bem, o feio parece belo, o errado parece louvável, o que leva à morte parece nos realizar a vida!

Repito: o pecado é, primeiramente, um mistério de sedução, é uma maldita miragem que nos afasta de ver e avaliar a realidade como ela é.

O resultado é sempre trágico: a morte, afastamento de Deus! Israel comeu carne, como desejava... A carne lhe trouxe náuseas e morte!

Aqui, a nossa meditação deste hoje quaresmal:

1. Você tem vigiado seus impulsos e desejos? Não se trata de sufocá-los simplesmente, mas procurar compreender donde vêm e orientá-los, disciplinando-os e rejeitando tudo quanto possa ferir sua opção por Cristo nosso Senhor.

2. Você tem procurado educar sua imaginação, sua memória, seus pensamentos, evitando "castelar", isto é, entregar-se a pensamentos e sentimentos inúteis?

3. Você tem um diretor espiritual, alguém que o ajude no caminho do Senhor?

4. Você tem procurado educar sua vontade e tem se esforçado para ser aquele que dirige a própria vida sob a luz do Senhor? Lembre: somente somos verdadeiramente livres quando todos os aspectos da nossa vida são ordenados de acordo com a nossa opção fundamental e somente somos plenos diante de Deus quando nossa opção fundamental é radicada no Cristo que o Pai nos enviou. Nisto, somos unificados, fora disto, somos quebrados em mil vontades contraditórias!

5. Deixo-lhe dois pensamentos:
Um é da Regra de São Bento: "Afasta-te de tuas vontades!" - assim, no plural, pois nossas vontades são muitas, desagregadoras e contraditórias. Quem vive na única vontade de Deus unifica o coração e a vida.

Outro, dos Provérbios, também citado pela Santa Regra: "Há caminhos que parecem bons aos homens e vão terminar no fundo dos infernos". Qual o modo de evitar essa tragédia? Viver na obediência aos preceitos do Senhor!

Reze o Salmo 69/70 - é um salmo para quem se sente e se sabe envelhecido pelo pecado...