sábado, 28 de junho de 2014

São Pedro e São Paulo, Apóstolos de Jesus Cristo

At 12,1-11
Sl 33
2Tm 4,6-8.17-18
Mt 16,13-19

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. – Estas palavras que o missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente o significado de São Pedro e são Paulo. A Igreja chama a ambos de “corifeus”, isto é líderes, chefes, colunas. E eles o são.

Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram. Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a Ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o Imperador Nero por volta do ano 64. Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez Seu apóstolo. Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do Império Romano e fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã, separando a Igreja da Sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma, sob o Imperador Nero por volta do ano 67.

O que nos encanta nestes gigantes da fé não é somente o fruto de sua obra, tão fecunda. Encanta-nos igualmente a fidelidade à missão. As palavras de Paulo servem também para Pedro: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. Ambos foram perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, como pastores solícitos pelo rebanho, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Não largaram o arado, não olharam para trás, não desanimaram no caminho... Ambos experimentaram também, dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o Seu anjo para me libertar...”

Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a vida, tudo dando por Cristo. Pedro disse com acerto: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo”; Paulo exclamou com verdade: “Para mim, viver é Cristo. Minha vida presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim”. Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus Cristo! Em Jesus eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da Cruz e da esperança da Ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de vida.

Finalmente, ambos derramaram o Sangue pelo Senhor: “Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. Eis a maior de todas a honras e de todas as glórias de Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos Seus sofrimentos, unindo a Ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de Sua glória. Eis por que eles são modelo para todos os cristãos; eis por que celebramos hoje, com alegria e solenidade o seu glorioso martírio junto ao altar de Deus! Que eles intercedam por nós na glória de Cristo, para que sejamos fiéis como eles foram.

Hoje também, nossos olhos e corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro. Alguns loucos, dizem, deturpando totalmente a Escritura, que ela é a Grande Prostituta, a Babilônia, confundindo, por ignorância ou malícia, a Roma imperial com a Roma dos Apóstolos! Nós sabemos que ela é a Esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste. Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o “Cristo, Filho do Deus vivo”. Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em Roma. 

Hoje, a missão de Pedro é exercida por Francisco, o Papa de Roma. Ao Santo Padre, nossa adesão filial, por fidelidade a Jesus, que o constituiu pastor do rebanho. Não esqueçamos: o Papa será sempre, para nós, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé apostólica e na unidade da Igreja de Cristo. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura daquilo que é ou não é conforme o Evangelho.

Rezemos, hoje, pelo nosso Santo Padre Francisco. Que Deus lhe conceda saúde de alma e de corpo, firmeza na fé, sabedoria e discernimento, constância na caridade e uma esperança invencível. E a nós, o Senhor, por misericórdia, conceda permanecer fiéis até a morte na profissão da fé católica, a fé de Pedro e de Paulo, pala qual, em nome de Jesus, “Cristo Filho do Deus vivo”, os Santos Apóstolos derramaram o próprio sangue.Ao Senhor, que é admirável nos Seus santos e nos dá a força para o martírio, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.


sábado, 21 de junho de 2014

XII Domingo Comum: O desafio da missão de ser discípulo

Jr 20,10-13
Sl 68
Rm 5,12-15
Mt 10,26-33

O Evangelho que escutamos neste Domingo é parte do capítulo décimo do Evangelho de São Mateus, que traz o Discurso Apostólico de Jesus: aí, ele chama os Doze, previne Seus discípulos para as incompreensões e perseguições que sofrerão, exorta-os a não terem medo de falar, afirma claramente que Ele mesmo, Cristo, é causa de divisão e, finalmente, renova o convite para segui-Lo. Então, estejamos atentos, pois o Senhor nos está falando dos desafios próprios da missão de ser cristão, ontem como hoje!

Claramente, o Senhor nos previne sobre as dificuldades e perseguições: “Não existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao Seu Senhor. Se chamaram Beelzebu ao chefe da casa, quanto mais chamarão assim seus familiares” (Mt 10,24s). Estamos vivendo hoje, neste início de terceiro milênio, a verdade dessas palavras de Jesus!
Basta que recordemos as terríveis censuras à Igreja por suas posições o campo da moral sexual e da bioética... Num mundo que não aceita mais Deus e a religião – a não ser no âmbito da vida privada, sem nenhuma importância para a sociedade -, anunciar o Cristo e Suas exigências virou um crime insuportável para a sociedade neopagã! Quantos de nós, cristãos temos medo de dizer claramente a verdade do Evangelho! Quantas vezes nosso critério de ação é o politicamente correto e não mais a verdade de Cristo! Ai de nós se buscarmos o aplauso do mundo, a compreensão do mundo, os critérios do mundo!


Atentos, que a ordem que o Senhor nos dá é clara: “O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!”
A Igreja e cada cristão não podemos calar a novidade e a vida que encontramos em Cristo, não podemos passar por alto as exigências do amor ao Senhor!
E o sofrimento? E as incompreensões? Fazem parte do anúncio do Evangelho!
São Paulo claramente afirmava aos Gálatas: “Se eu quisesse agradar agradar aos homens não seria servo de Cristo” (1,10). Seria trair o nosso Senhor esconder, mascarar as exigências do Evangelho em nome de um falso diálogo com o mundo, de uma falsa misericórdia e de uma falsa compreensão do homem de hoje.

Somente Cristo liberta de verdade o ser humano – o Cristo inteiro, pregado integralmente, com todas as consequências do Seu Evangelho!
Qualquer um que deseje fiel a Deus experimentará a incompreensão e a solidão. Recordemos, na primeira leitura, a queixa do Profeta Jeremias, as calúnias por ele sofridas. Ora, a Igreja não pode fugir desse destino; o cristão – eu, você – não podemos fugir desse compromisso com Cristo!
Aliás, o século XX, há década e meia terminado, foi o século que mais matou cristãos, que mais os perseguiu e exterminou; e o século XXI vai caminhando na mesmo trilho. Só que os meios de comunicação e os governos politicamente corretos mudam e disfarçam a expressão “perseguição religiosa” com a mentira açucarada chamada “choque de culturas”. Não! É perseguição por causa do Evangelho, perseguição por amor a Cristo, perseguição que gera mártires! Também nós, estejamos prontos e nos acostumemos aos ataques contra a Igreja, que visam desmoralizar o cristianismo: na imprensa, muitas vezes, nas universidades, na opinião pública em geral...

Como responder a essa dolorosa realidade? Certamente, com uma atitude de fé,  colocando-se nas mãos do Senhor, como Jesus colocou-Se nas mãos do Pai: “Ó Senhor, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração... eu Te declarei a minha causa!” Não irá se sustentar na fé quem não cravar os olhos e o coração no Senhor crucificado por nós, quem não estiver disposto a participar do mistério de Sua Cruz!
As perseguições de hoje dão-nos a chance de testemunhar nosso amor ao Senhor e escutar aquelas comoventes palavras Suas aos discípulos: “Fostes vós que permanecestes Comigo em todas as Minhas tentações” (Lc 22,31). O que não podemos, caríssimos, é nos acovardar, negociar com um mundo que refuta Jesus: “Todo aquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante do Meu Pai que está nos céus!” Também não podemos pagar o mal com o mal, violência com violência, calúnia com calúnia, mentira com mentira! Não devemos nunca nos deixar vencer pelo mal: Cristo sofreu por vós, deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais Seus passos. Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava; antes, punha a Sua causa nas mãos Daquele que julga com justiça” (1Pd 1,21.23). A Igreja – e nós somos Igreja – não deve se  calar ante os inimigos do Evangelho! Com paciência, firmeza, coragem e amor à verdade deve fazer ouvir sua voz, quer agrada quer desagrade, quer aceitem quer não!

Mas – pode alguém perguntar -, por que essas dificuldades? Por que a rejeição ao anúncio do Evangelho? Se o Evangelho é o desejo do mais profundo do coração humano, por que motivo o homem o rejeitaria?

Ouvimos São Paulo falar hoje, na segunda leitura, do mistério do pecado: “O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte”. O Apóstolo quer dizer que toda a humanidade encontra-se numa situação de fechamento em relação ao Deus, Senhor e doador da Vida, encontra-se, portanto, numa situação de morte! “Todos pecaram!” – quão triste é a condição do coração humano; quão triste, a situação do mundo! Pecaram os judeus, desobedecendo os preceitos da Lei; pecaram os pagãos, mesmo sem terem conhecido um preceito como aquele dado a Adão ou os preceitos da Lei de Moisés! Pecamos e embotou-se o nosso entendimento, a nossa sensibilidade para as coisas de Deus! O Senhor, tanta vez, parece-nos pesado demais; as exigências do Seu amor, às vezes parecem nos oprimir. É que somos egoístas, somos fechados sobre nós mesmos! Por isso, a primeira palavra de Jesus é “convertei-vos”!

E, no entanto, ainda que dirigido a um mundo fechado no seu pecado e na sua prepotência, o anúncio de Cristo é anúncio de uma maravilhosa novidade para a humanidade: se  nos primeiros homens, iniciou-se uma corrente maldita, uma cadeia de pecado, em Cristo, o novo Adão, iniciou-se a possibilidade de uma humanidade nova: “A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos”.

Eis! Ainda que incompreendida, o anúncio que a Igreja faz é de vida e salvação para toda a humanidade! O cristianismo não é negativo, nunca dirá que o mundo está perdido, que as coisas não têm jeito! É verdade que o mundo crucificou o Senhor Jesus – e nos crucifica com Ele; mas também é verdade que o Senhor ressuscitou, venceu para a vida do mundo e estará sempre presente conosco!


Caríssimos, vivamos com coerência, com coragem, com amor a nossa fé! Não tenhamos medo, não desanimemos, não vivamos como os que não conhecem a Cristo! Não nos fechemos em nós mesmos! De esperança em esperança, vivamos e anunciemos o Senhor, certos de Sua presença e de seu amor. Ele jamais nos deixará! A Ele a glória para sempre. Amém.


domingo, 15 de junho de 2014

O Deus chamado Comunhão, m Deus chamado Amor!

Ex 34,4b-6.8-9
Dn 3
2Cor 13,11-13
Jo 3,16-18

           
Após termos celebrado o Natal do Senhor, quando contemplamos o amor do Pai, que enviou Seu Filho ao mundo na potência do Espírito, que tornou fecundo o seio virginal de Maria Mãe de Deus; após a celebração do santo tempo pascal, quando fizemos memorial da paixão, morte, sepultura e ressurreição do Senhor, que por nós ofereceu-Se ao Pai num Espírito eterno; após concluirmos a Santa Páscoa com a celebração do dom do Espírito em Pentecostes, neste Domingo a Igreja nos faz proclamar a glória da Trindade Santa, o Deus uno e trino que é amor e deu-Se a nós e nos salvou por amor! Na Liturgia, no correr do ano, é o Mistério e a história do nosso Deus conosco que celebramos, contemplamos e experimentamos na nossa vida!

Mas, o que nos revela essa história de Deus, do Pai que nos enviou o Filho na força do Espírito Santo? Revela-nos que o Deus uno e único, o Santo Deus de Israel é, ao mesmo tempo e de modo misterioso e impenetrável, uma eterna e perfeita Comunidade de amor!
Ele é um só! Ele é comunidade de amor! Absolutamente Um e absolutamente comunidade!
Eis o Mistério que nem mesmo no céu, no face a face do o Deus Triuno, poderemos esquadrinhar!

Não é a toa que, na primeira leitura de hoje o Senhor Se revela Se escondendo na noite e na nuvem: “Ainda era noite... e o Senhor desceu na nuvem e permaneceu com Moisés”. Eis! Nosso Deus Se faz próximo, desce até nós por amor, mas não podemos compreendê-Lo, domá-Lo, domesticá-Lo! Ele Se revela como amor puro e generoso: Seu Nome é Amor e Misericórdia: “Senhor, Senhor! Deus misericordiosos e clemente, paciente, rico em bondade e fiel...”, mas para experimentá-Lo, para caminhar com Ele, e preciso a atitude de Moisés: “Ele curvou-se até o chão, prostrado por terra... E disse: ‘Senhor, acolhe-nos como propriedade Tua’”.
Nosso Deus nos ama, nosso Deus faz-Se próximo, mas jamais será nosso parceiro, nosso amiguinho, nosso coleguinha, que pode por nós ser subornado e com o qual podemos negociar! Não! Ele é Deus! O Seu Nome é Eternidade, o Seu Nome é Infinitude, o Seu Nome é Amor! Ele é Deus!

E, no entanto, Ele quis caminhar conosco, veio a nós e revelou-Se no Mistério da Sua intimidade. Que coisa: um Deus que nos procura e quer nos unir a Ele! Como dizia Santa Teresa: “Juntais aquela que não é com a Plenitude acabada: sem acabar, acabais; sem ter que amar, amais, e engrandeceis nosso nada!” Ele, gratuitamente, deu-Se a nós, para nos salvar, fazendo-nos viver com Ele, participando da Sua vida: por isso o Pai entregou ao mundo o Seu Filho amado: para viver conosco, sonhar conosco, sofrer e morrer conosco e, assim, dar-nos Sua vitória e Seu céu: “Deus, o Pai, amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho unigênito, para que não morra quem Nele crer, mas tenha a Vida eterna. Pois Deus não enviou o Seu Filho para condenar o mundo, mas que o mundo seja salvo por Ele”.
No Filho único, Jesus, o Pai mostrou o Seu rosto, o Pai mostrou Sua bondade, o Pai mostrou o Seu amor. Jesus mesmo disse: “Quem Me vê, vê o Pai. Eu e o Pai somos uma só coisa! (Jo 14,9s).
Mas, não bastava para Deus viver no nosso meio, entre nós! Ele quis viver em nós, dentro de nós, sendo mais íntimo de nós que nós mesmos! Por isso, o Filho Jesus, Deus entre nós, Deus conosco, após Sua morte e ressurreição, deu-nos o Seu Espírito Santo, que Ele mesmo recebera do Pai: “Porque sois filhos, Deus, o Pai, enviou aos vossos corações o Espírito do Seu Filho, que clama: Abbá, Pai! (Gl 4,6).
Deus foi grande para conosco! Foi bom demais! Não só nos revelou coisas, mas revelou-Se a Si mesmo. Ele, no mais íntimo de Si, sem deixar de ser um só, é Pai, eterno Amante, é Filho, eterno Amado, é Espírito, eterno Amor! E não somente revelou-Se a nós como é, mas deu-Se a nós: o Pai, pelo Filho, no Espírito deu-nos a própria Vida divina! Deus veio a nós, quis fazer história na nossa história, quis viver a nossa vida para nos elevar à vida dele, vida feliz, vida plena, vida eterna!

É nessa fé que vivemos, é na Vida desse Deus uno e trino que fomos batizados. Aquele amor eterno entre o Pai, o Filho e o Espírito, é o amor que nos invade e que devemos viver entre nós! A Trindade não é uma teoria para os doutores em teologia. Ela é uma realidade concreta que deve invadir a nossa vida e a vida da Igreja: “Amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor!” (1Jo 4,7-8). Porque somos cristãos, nascidos nas águas batismais, em Nome da Trindade, nossa vida deve ser vida e comunhão de amor: “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” Estas palavras de São Paulo revela o que nós somos, o que devemos ser, o que devemos testemunhar diante do mundo: uma comunidade que nasceu do amor, vive no ninho do Deus de amor e caminha para o Deus de amor. Por isso o Apóstolo recomenda-nos: “Alegrai-vos, cultivai a concórdia, vivei em paz, saudai-vos com o ósculo santo!”


Caríssimos, crer e experimentar que Deus é uno e trino é viver no amor que nos faz uma só coisa no Filho Jesus e nos conserva respeitosos das diferenças e diversidades entre nós. Uma comunidade que não seja unida e respeitosa das diferenças de dons, carismas, ministérios e sensibilidades, não é uma comunidade realmente nascida da Trindade, que vive o Mistério da Trindade e caminha para a Trindade. Nunca esqueçamos: vimos do Pai pelo Filho no Espírito; caminhamos, peregrinos, para o Pai, pelo Filho no Espírito. A Trindade é nosso berço, nosso ninho e nosso destino. Contemplá-La e adorá-La é viver o amor. Como dizia Santo Agostinho: viste o amor, viste a Trindade. “Bendito seja Deus Pai, bendito seja o Filho unigênito, bendito seja o Espírito Santo! Deus foi misericordioso para conosco!” A Ele, Trindade santa, indivisa e consubstancial, a glória pelos séculos. Amém.


domingo, 8 de junho de 2014

Santo Paráclito do Ressuscitado: Vida da Igreja, Vida dan ossa vida!

At 2,1-11
Sl 103
1Cor 12,3b-7.12-13
Jo 20,19-23

Caríssimos em Cristo, hoje a Mãe católica celebra a Solenidade de Pentecostes, o Dom do Espírito de Vida e Ressurreição, que Cristo, o Ungido do Pai, derramou sobre a Sua Igreja.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” – diz-nos a Escritura Sagrada. Que Espírito é este, que encheu hoje os Apóstolos e a inteira Igreja de Cristo?

Ele é o Espírito do Ressuscitado, soprado pelo Cristo Senhor: “Jesus disse: ‘Como o Pai Me enviou (no Espírito Santo), Eu também vos envio (neste mesmo Espírito)!’ Depois soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo!’”

Nesse Santo Espírito, tudo fora criado desde o princípio: “O Espírito do Senhor encheu o universo; Ele mantém unidas todas as coisas e conhece todas as línguas” (Sb 1,7). Somente no Santo Espírito podemos compreender que toda a criação e toda a história são penetradas pela vida de Deus que nos vem pelo Cristo; somente no Santo Espírito podemos perceber a unidade e bondade radicais da criação que nos cerca, mesmo com tantas trevas e contradições. É o Santo Espírito, doce Consolador, que nos livra do desespero e da falta de sentido!

Nele tudo se mantém, tudo tem consistência, tudo é precioso: “Encheu-se a terra com as Vossas criaturas: se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam para o pó de onde vieram. Enviais o Vosso Espírito e renascem e da terra toda a face renovais”. É por sua ação constante que tudo existe e persiste no ser. Sem Ele, tudo voltaria ao nada e nada teria consistência real. Nele, tudo tem valor, até a mais simples das criaturas...

Sem ele, Espírito criativo, de vigor, de força, de sabedoria, nada, absolutamente, podemos nós: “Sem a Luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele!” Por isso Jesus disse: “Sem Mim, nada podeis fazer (Jo 15,5)”, porque sem o Seu Espírito Santo que nos sustenta e age no mais íntimo de nós, tudo quanto fizéssemos não teria valor para o Reino dos Céus. Jesus é a videira, nós, os ramos, o Espírito é a seiva que, vinda do tronco, nos faz frutificar...

Ele é a nova Lei – não aquela inscrita sobre tábuas de pedra, mas inscrita no nosso coração (cf. Ez 11,19; Jr 31,31-34), pois “o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (Rm 5,5). A lei de Moisés, em tábuas de pedra, fora dada no Sinai em meio a relâmpagos, trovões, fogo, vento e terremotos (cf. Ex 19); agora, a Nova Lei, o Santo Espírito nos vem em línguas de fogo e vento barulhento e impetuoso, para marcar o início da Nova Aliança, do Amor derramado no íntimo de nós!

Ele tudo perdoa e renova em Cristo, pois é Espírito para a remissão dos pecados: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados!” É, pois, no Espírito que a Santa Igreja anuncia a paz do Evangelho do perdão de Deus para a humanidade em Cristo Jesus!

Ele nos une no Corpo de Cristo, que é a Igreja, pois “fomos batizados num único Espírito para formarmos um só corpo...” – Neste Corpo, Ele nos enche de dons, carismas e ministérios, pois
“a cada um é dada a manifestação do Espírito para o bem comum”. É no Espírito que a Igreja é una na diversidade de tantos dons e carismas; una nas diferenças de seus membros...

Ele faz a Igreja falar todas as línguas, fá-la abrir-se ao mundo, procurar o mundo com “santa inquietude”, não para render-se ao mundo ou imitá-lo ou perder-se nele, mas para “anunciar as maravilhas de Deus” em Cristo Jesus, chamando o mundo à conversão e à vida nova em Cristo! Espírito de doçura, Misericórdia divina, Ele é o próprio Amor misericordioso do Pai que, pelo Filho, é derramado continuamente sobre a humanidade!

Enfim, Ele torna Jesus sempre presente no nosso coração e no coração da Igreja e nos testemunha incessantemente, sempre e em tudo que Jesus é o Senhor, pois “ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo!” – para a glória de Deus Pai. Amém.




domingo, 1 de junho de 2014

Ascenção do Senhor: nossa Vitória!

At 1,1-11
Sl 46
Ef 1,17-23
Mt 28,16-20

Estamos ainda nos dias pascais, nas alegrias da Ressurreição do Senhor. A Solenidade que hoje celebramos – a Ascensão – e aquela do Domingo próximo – Pentecostes - são ainda partes, aspectos do mistério da Páscoa: Ressurreição, Subida ao Céu e Dom do Espírito são três aspectos do mesmo Mistério. Celebramo-lo num arco de cinquenta dias porque, enquanto o Senhor Jesus deixou este nosso tempo, feito de ontens, de hojes e de amanhãs, nós continuamos presos às horas, dias, meses e anos deste mundo...

Eis: Jesus ressuscita no Pai; não ressuscita para depois ir ao seu Deus e Pai! Ressuscitar é, precisamente, sair da morte, entrando na Vida, que é o Pai. Isso aparece claro em alguns textos dos próprios evangelhos. Em Lc 24,44, Jesus ressuscitado, conversando com Seus apóstolos e sendo tocado por eles, diz claramente que com eles não está mais: “São estas as palavras que Eu vos falei quando estava convosco...” No próprio Evangelho deste hoje, o Senhor, aparecendo aos Seus sobre o monte, dá a entender que já está no céu: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra!” Vede: Ele já recebeu tal autoridade! Ele, durante quarenta dias aparece aos Seus, mas já não está entre os Seus do modo como estava antes! Seu novo modo de permanecer conosco é na potência do Seu Espírito Santo, também fruto da Sua Ressurreição e entrada no Pai...

Se é assim, qual o sentido desta Solene Ascensão do Senhor? Eis o seu significado, tão importante para nós e para a nossa salvação: ressuscitado, Jesus foi glorificado na Sua Pessoa, isto é, em Si mesmo. Na Ascensão, aparece o que Sua Ressurreição significa para nós, o que o Cristo Se torna em relação a nós. Vejamos:

Em primeiro lugar, a Ascensão marca o fim daquele período de encontros que o Ressuscitado teve com Seus discípulos para fortalecer-lhes a fé explicar-lhes a missão. É, portanto, uma despedida! Como já foi dito, a partir desse momento o Senhor estará com os Seus e poderá ser por eles percebido de uma forma nova: na potência do Seu Espírito Santo, presente na força da Palavra anunciada e nos sacramentos da Igreja. É assim, que a Ascensão abre caminho para o Pentecostes, quando o Espírito, de um modo visível e barulhento, marca a inauguração da missão da Igreja, que é testemunhar e anunciar o Senhor, tornando-O presente nos gestos sacramentais.

Segundo: a Ascensão nos revela aquilo que aconteceu no Céu com Jesus e que, na terra, somente pela fé podemos saber e crer, isto é, Sua glorificação como Senhor do Céu e da terra, Senhor da história humana e da Igreja. Ele ressuscitou e subiu ao céu para tudo recapitular e de tudo ser a Cabeça, fonte de vida e salvação! São Paulo nos disse na segunda leitura que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a Quem pertence a glória ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos e fê-Lo sentar-se à sua direita nos céus. Ele pôs tudo sob os Seus pés e fez Dele, que está acima de tudo, Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo...” É assim que hoje, cheios de alegria, proclamamos Jesus ressuscitado como Cabeça de toda a criação, Cabeça da humanidade toda, Cabeça e sentido da história humana. E tudo isso Ele o é enquanto Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo! Isso significa que toda a criação caminha para Ele e Nele será um dia glorificada; que toda história somente Nele encontra a direção e o sentido profundo; e que a Igreja participa da Sua obra universal de salvação! Se toda salvação neste mundo somente pode vir através de Cristo, vem desse Cristo que é, inseparavelmente, Cabeça da Igreja. Assim, podemos e devemos dizer que sem o ministério da Igreja não há salvação possível! Isso mesmo: fora da Igreja não há salvação, porque ela é o Corpo do Cristo, sua Cabeça e único Salvador. Em outras palavras: todo ser humano de boa vontade e consciência reta pode salvar-se, mas pode-o somente porque Cristo, Cabeça da Igreja, morreu e ressuscitou e está à Direita do Pai em favor de toda a humanidade, até de quem não crê Nele!

Em terceiro lugar, glorificado, o Senhor é nosso Juiz! Para Ele caminham a história humana e as nossas histórias. Somente Ele pode ver nosso caminho neste mundo com Seu sentido profundo, somente Ele nos julgará, porque, à Direita do Pai, somente Ele abarca toda a história com o Seu Espírito e desvela seu sentido pleno. Quarto: desaparecendo de nossa vista humana, ele nos dá o seu Espírito, inaugurando um novo modo de estar presente entre nós, mais profundo e eficaz: agora Ele nos é interior, age em nós pela energia do Seu Espírito Santo: “Eis que Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo!” – Essa promessa não é palavra vazia; é, sim, uma impressionante realidade!

Em quinto lugar, Sua presença na glória, à Direita do Pai, o constitui para sempre como nosso Intercessor, como diz o Autor da Epístola aos Hebreus: “Cristo entrou no próprio Céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor!” (9,24)

Caríssimos, a hodierna Solenidade é também nossa festa e motivo de alegria para nós! Aquele que hoje sentou-Se à Direita do Pai é o Filho eterno feito homem, é um de nós! Que coisa impressionante: hoje, a nossa humanidade foi colocada acima dos Anjos! Aquele que, como Deus, foi colocado no presépio e no sepulcro, hoje, como homem, foi colocado acima dos anjos, à Direita do próprio Pai! Ora, alegremo-nos: onde já está o Cristo, nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós, membros do Seu Corpo! Era isso que rezava a oração inicial da Missa de hoje: “Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do Vosso Filho já é a nossa vitória: membros do Seu corpo, somos chamados a participar da Sua glória!” E a oração que faremos após a comunhão dirá claramente que junto do Pai já se encontra a nossa humanidade, no Cristo glorificado.


Irmãos e irmãs! Elevemos o olhar para o Céu: à Direita do Pai, Deus como o Pai, encontra-Se o homem Jesus, nosso irmão, um de nossa raça... Ele é o objetivo para o qual se dirigem a nossa existência e a historia humana, Ele é o nosso Juiz, Ele é o nosso Intercessor! Que nossa vida, neste mundo que passa, seja cheia do gosto da eternidade, porque Nele, nossa esperança é certíssima! Não temamos: Aquele que está no céu Se nos dá em comunhão para que o experimentemos, O anunciemos e O testemunhemos, até sermos plenamente unidos a Ele quando aparecer em Sua Glória e entregar o Reino a Deus Seu Pai. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; Ele o será por toda a eternidade” (Hb 13,8). Amém.