terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Homilia para a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

Nm 6,22-27
Sl 66
Gl 4,4-7
Lc 2,16-21

Caríssimos em Cristo, certamente o pensamento mais presente neste hoje é o do início de mais um ano, que é sempre, para nós, cristãos, Ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo; mais um ano entre a primeira e a segunda Vinda do Senhor nosso Salvador.
Precisamente por este motivo, a primeira leitura da Missa invocou a bênção e a paz sobre nós: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a Sua Face e Se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o Seu Rosto e te dê a paz!” Três vezes foi pronunciado o Nome do Senhor! Começamos bem o ano este Novo Ano!
Mas, nunca esqueçamos quem é este Senhor: é o Menino que nos nasceu, o Filho que nos foi dado e que, precisamente, hoje, oito dias após o Seu admirável nascimento, recebeu o nome de Jesus, que significa Deus salva! Eis: em Jesus, Deus nos salva com a verdadeira paz, paz que brota da comunhão com o Senhor! Que Ele inunde com Sua doce paz os dias deste Novo Ano, criança como o Menino de Belém!

Mas, hoje, é também a Oitava do Santo Natal, dia no qual a Igreja volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o verdadeiro Deus feito homem. Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando o “Recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e, contemplando o seu filhinho, reconhecemos Nele o Deus perfeito e a proclamamos verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o Rei que governa o Céu e a terra pelos séculos eternos!’ – assim canta a Igreja hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria. Como exclamava São Gregório Nazianzeno, grande Bispo e doutor da Igreja no século IV: “Nós proclamamos, em sentido absoluto, que a santa Virgem é própria e verdadeiramente Mãe de Deus”.
Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no Natal, cantam assim: “Ó Cristo, que podemos oferecer-vos como dom por vos terdes manifestado sobre a terra na nossa humanidade? Com efeito, cada uma das Vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a Vós traz: os Anjos, o seu cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração; a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe!” Eis, pois, caríssimos irmãos, nosso presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa raça, a mais bendita entre as mulheres, o mais belo membro da Igreja, a Virgem Maria!

Comprometamo-nos, então, a viver os dias do Novo Ano com as mesmas atitudes de Nossa Senhora!
Primeiro, uma atitude de fé: ela escutou a Palavra, ela creu de todo o coração. Foi mulher totalmente aberta ao seu Senhor. Que neste tempo novo que hoje inicia, saibamos, também nós, viver de fé; mesmo quando tudo parecer escuro, mesmo nos dias difíceis, mesmos nos momentos de pranto e nossa inteligência não conseguir compreender nem nossa vista conseguir enxergar os passos do Senhor.
Em segundo lugar, uma atitude de disponibilidade à missão. Nossa Senhora não se furtou ao convite do Senhor, não se acomodou numa vida centrada nos seus próprios interesses: fez-se serva, fez-se disponível, fez-se ministra do plano salvífico do Senhor em nosso favor. Do mesmo modo, saibamos nós discernir o que o Senhor nos vai pedir e, sem medo, sem mesquinho fechamento, digamos-Lhe “sim”, mesmo quando tal resposta for difícil e sofrida!
Mas, tudo isso será impossível sem uma terceira atitude que devemos aprender da Mãe de Deus: aquela de escuta silenciosa e contemplativa. O Evangelho nos dá conta de que Maria “guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração!” Eis! A Virgem rezava, a Virgem pensava nos acontecimentos à luz de Deus, na presença silenciosa do Senhor, procurando entender o sentido profundo do que acontecia ao seu redor. Somente quem faz assim pode ver sempre Deus em todas as coisas e em todas as circunstâncias...

Caríssimos, certamente, haveremos de sorrir e chorar nestes dias do Novo Ano. Que lágrimas e sorrisos, vitórias e derrotas, abraços e separações, sejam vividos na luz do Senhor, do Menino que brilhou como Luz nas nossas trevas e que, Nele, encontremos sempre a paz. Para tanto, em cada dia deste Novo pedaço de tempo a que chamamos ano, valha-nos as preces da Toda Santa Mãe de Deus! Amém.


sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Homilia para a Festa do Batismo do Senhor - ano a

Is 42,1-4.6-7
Sl 28
At 10,34-38
Mt 3,13-17


A Festa de hoje encerra o sagrado tempo do Natal: o Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que Ele nos deu, o Menino que nasceu para nós: “Tu és o Meu Filho amado; em Ti ponho o Meu Bem-querer”, ou, segundo a versão de Mateus: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo!” (3,17).
Estas palavras contêm um significado muito profundo: o Pai apresenta Jesus usando as palavras do profeta Isaías, que ouvimos na primeira leitura da Missa. Mas, note-se: Jesus, nosso Senhor não é somente o Servo; Ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava é também o Filho amado eternamente! No entanto, é Filho que sofrerá como o Servo, que deverá exercer Sua missão de modo humilde e doloroso!

Hoje, às margens do Jordão, Jesus nosso Senhor foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, Aquele que as Escrituras prometiam e Israel esperava. Agora, Ele pôde começar publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus. Esta missão, Ele começou desde que Se fez homem por nós; agora, no entanto, irá manifestar-Se publicamente, primeiro a Israel e, após a Ressurreição, a toda a humanidade. É na força do Espírito Santo que Ele pregará, fará Seus milagres, expulsará Satanás e inaugurará o Reino; é na força do Espírito que Ele viverá uma vida de total e amorosa obediência ao Pai e doação aos irmãos até a morte e morte de Cruz.

Mas, atenção: como já dissemos, esse Jesus que é o Filho, é também o Servo sofredor, anunciado por Isaías. Hoje, o Pai revela ao Filho Jesus feito homem qual o modo, qual o caminho que Ele deverá seguir para ser o Messias como Deus quer: na pobreza, na humildade, no despojamento, no serviço, na vida doada até a morte de Cruz! É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo. Jesus, o Cristo do Pai, deverá ser manso: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas”. Deverá ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os pobres, os sem esperança: “Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega”. Ele irá sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no Seu Deus e Pai toda a Sua esperança, toda a Sua confiança: “Não esmorecerá nem Se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra”. O Senhor Deus estará sempre com Ele e Ele veio não somente para Israel, mas para todas as nações da terra: “Eu, o Senhor, Te chamei para a justiça e Te tomei pela mão; Eu Te formei e Te constituí como Aliança do Povo, luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.

E Jesus nosso Senhor já começou cumprindo Sua missão na humildade: Ele entrou na fila dos pecadores, para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assumiu os nossos pecados, fez-Se solidário conosco; Ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo! “João tentava dissuadi-Lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti e Tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus Cristo Se humilhasse, Se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados! Ele veio não na glória, mas na humildade, não na força, mas na fraqueza, não para impor, mas para propor, não para ser servido, mas para servir. Eis o caminho que o Pai indica ao amado Jesus, eis o caminho que o Filho Jesus escolheu livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos, e não há outro!

Uma última observação, muito importante: João diz: “Eu vos batizo com água, mas virá Aquele que é mais forte do que eu. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. O batismo de João não é o sacramento do Batismo: era somente um sinal exterior, indicando que alguém se reconhecia pecador e queria preparar-se para receber o Messias. Ao ser batizado no Jordão, Jesus é ungido com o Espírito Santo para a missão. Esta unção será plena na Ressurreição, quando o Pai derramará sobre Ele o Espírito como Vida da sua vida. Então – e só então – Ele, pleno do Espírito Santo que O ressuscitou, derramará este Espírito, que será também Seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma nova Vida, Vida divina!
Para os cristãos, não há batismo nas águas, mas somente Batismo no Espírito, simbolizado pela água (cf. Jo 3,5; 7,37-39). Ao sermos batizados, recebemos o Espírito Santo de Jesus Cristo, o Filho amado e, por isso, somos feitos participantes da Sua missão de viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus, a Vida eterna, a Vida no amor a Deus e aos irmãos, que o Cristo veio anunciar ao Se fazer homem igual a nós! Mas este testemunho não é de uma festividade superficial, de uma alegria leviana, mas um testemunho dado na simplicidade, na pobreza e na humildade do dia a dia!

Eis! O Menino que nasceu para nós, a Criança admirável que cresceu em sabedoria, idade e graça, submisso aos Seus pais na família de Nazaré, o Deus perfeito, filho da Toda Santa Mãe de Deus, Aquele que com o brilho de Sua Estrela atraiu a Si todos os povos, hoje é apresentado pelo Pai: Ele é o Filho querido, Ele é o Servo sofredor, Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Ele é o Messias, o Ungido de Deus! Acolhamo-Lo na nossa existência e no nosso coração e nossa vida terá um novo sentido. Seguindo-O, chegaremos ao Coração do Pai que O enviou e é Deus com Ele e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.


Solenidade da Epifania do Senhor

Is 60,1-6
Sl 71
Ef 3,2-3a.5-6
Mt 2,1-12 

Este hoje é dia solene, de festa grande!
No santo tempo do Natal, a comemoração que agora celebramos somente perde em importância para aquela outra, da Natividade, no 25 de dezembro.
É que hoje, exultantes e gratos a Deus, celebramos a sagrada Epifania do Senhor! Epifania, Manifestação do Cristo Jesus! Nas palavras de Santo Agostinho:

“Este dia salienta a Sua grandeza e Sua humilhação:
Aquele que na imensidade do Céu Se revelava pelo sinal de um astro
era encontrado quando O procuravam na estreiteza da gruta.
Frágil em Seus membros de criança, envolto em faixas,
é adorado pelos Magos e temido pelos maus!”

Eis: no dia do Natal, Ele atraiu a Si, pela palavra dos anjos, aqueles que estavam perto: os pastores de Belém, membros do povo judeu, já tão conhecedor dos caminhos de Deus. Mas, agora, pela luz da Estrela, Ele Se digna, com infinita misericórdia, atrair-nos a nós: os que não somos judeus, os gentios, que estávamos longe, entregues ao culto dos ídolos, “sem Cristo... estranhos às alianças da Promessa, sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2,12)!
Pagãos nós éramos; pagão é ainda todo aquele que não conhece ou não reconhece o Cristo de Deus!
Idólatras eram nossos antepassados; idólatras continuam todos os que, sem conhecerem o Deus verdadeiro, adoram falsos deuses ou divinizam a natureza ou demais criaturas, endeusam coisas limitadas e efêmeras, doando-lhes a vida, o afeto, a atenção, o melhor de si... Tornando-se deles escravos, segundo a tremenda sentença das Escrituras:

“Os ídolos deles são prata e ouro,
obra de mãos humanas:
têm boca, mas não falam;
têm olhos, mas não veem;
têm ouvidos, mas não ouvem;
têm nariz, mas não cheiram;
têm mãos, mas não tocam;
não há murmúrio em sua garganta.
Os que os fazem ficam como eles,
todos aqueles que neles confiam!” (Sl 115/113B) 

Hoje, portanto, o Senhor atrai os pagãos do mundo todo à Sua salvação,
Hoje, realiza-se o que o nosso Deus predissera por Isaías profeta: “Fui perguntado por quem não se interessava por Mim, fui achado por quem não Me procurava. E Eu disse: ‘Eis-Me aqui, eis-Me aqui’ a pessoas que não invocavam o Meu Nome” (Is 65,1). O Senhor, cuja luz brilhou para todos os povos, continua e continuará sempre a iluminar, a atrair, a fazer brilhar de mil modos a Sua luz bendita no coração de todos filhos de Adão e filhas de Eva que vêm a este mundo, pois a todos o Santo criou à Sua imagem e semelhança e “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
- Obrigado, Senhor Jesus, porque vieste também para nós!
Obrigado porque nos arrancaste do poder das trevas, a nós que “éramos por natureza, como os demais, filhos da Ira” (Ef 2,4).
Obrigado, porque nos fizeste passar dos falsos deuses, dos ídolos falsos e mortos, ao Deus vivo e verdadeiro! 

Hoje, portanto, meus caros em Cristo, a festa é nossa!
Somos nós que vemos a Luz,
somos nós, convidados a seguir a estrela do Menino;
nós, convidados a adorá-Lo, presenteando-O com nossos melhores dons:
o ouro das nossas boas obras,
a mirra do nosso coração,
o incenso do nosso amor!

Somos hoje convidados a admirar o exemplo desses sábios do Oriente, que vendo no céu o sinal do Rei nascido, não temeram deixar tudo e, humildemente, seguir a Luz! Como foram sábios verdadeiramente, esses que, humildes, não hesitaram em se deixar guiar pela luz de Deus! Como Abraão, o pai de todos os judeus, deixara sua terra e partira à ordem de Deus, sem saber aonde ia, assim também, esses, que hoje são as nossas primícias para Cristo, partem, obedecendo ao apelo do Senhor, sem saber para onde vão!

Caríssimos, partamos também nós!
Partamos de nossa vida cômoda,
partamos de nossa fé tíbia
partamos do nosso relativismo religioso,
partamos da nossa subserviência cômoda ao politicamente correto,
partamos de nosso cristianismo burguês, que deseja ser compreendido, aceito, e aplaudido pelo mundo!
Partamos, ou não veremos a luz do Menino! “Deus é luz e Nele não há trevas. Se andarmos na luz, como Ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros e o sangue de Seu Filho Jesus nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1,5b-7).
Partamos, pois, caríssimos, e encontraremos Aquele que é a Luz dos povos, a Luz do mundo!

Porque os Magos tiveram a coragem de partir, conseguiram atingir o Deus inatingível e O adoraram! Diz o Evangelho que eles, “ao verem de novo a Estrela, sentiram uma alegria muito grande!” Nós também, se encontrarmos de verdade o Senhor!
Mas, atentos! O que eles encontram? Pasmem! Encontram um menininho pobre, com uma pobre jovem do povo, Maria, Sua Mãe... Não O encontram num palácio, não O encontram numa corte! E, no entanto, com os olhos da fé, reconheceram o Rei verdadeiro, prostraram-se e O adoraram! 

Vede, caríssimos meus, somente quando nos deixamos guiar, podemos encontrar o Senhor; somente quando saímos dos nossos esquemas, dos nossos modos de pensar, de achar e de sentir, podemos de verdade ver naquilo que é pobre e pequeno, ver naquilo que não estava nos nossos planos e expectativas, a presença de Deus.
Depois, diz o Evangelho que eles voltaram por outro caminho... Sim, porque quem encontrou esse Menino, quem se alegrou com Ele, quem viu a Sua luz, muda de caminho, caminha na Vida!

Mas, nesta festa de tanta alegria, doçura e luz, há uma nota de treva: “Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda Jerusalém...” Jerusalém, que representa o povo judeu... Jerusalém, que deveria alegrar-se, perturba-se, hesita, não é capaz de reconhecer o tempo da visita de Deus!
E nós, caríssimos?
Nós, membros do Povo de Deus, não corremos o risco de nos acostumar de tal modo com o Senhor, a ponto de não mais reconhecer Suas visitas, Sua presença luminosa e humilde, Sua graça em nossa vida?
Não corremos o risco gravíssimo de domesticar o Evangelho e a fá católica, não mais nos deixando interpelar pela Sua Palavra?
Ah, que perigo que as mil palavras, as mil modas, as mil ideologias do mundo atual sufoquem a Palavra, na sua clareza, no seu frescor, na sua perenidade secular, na sua simplicidade, na sua radicalidade, na sua luz...
A festa de hoje, certamente mostra-nos a benignidade de Deus que a todos quer iluminar e salvar, mas também revela a concreta e tremenda possibilidade do homem: ser generoso e responder “sim” ou ser fechado e responder “não”!
Os judeus, o povo amado, começa a se fechar para o seu Senhor. É o início de um drama que culminará na Cruz... De modo grave, Santo Agostinho afirma:
“Ao nascer fez aparecer uma nova estrela, Aquele mesmo que, ao morrer, obscureceu o sol antigo! A luz da Estrela começou a fé dos pagãos; pelas trevas da Cruz foi acusada a perfídia dos judeus!”

E olhemos bem, que não somos melhores que o Povo da Antiga Aliança! Podemos recusar a Luz, podemos querer ofuscar a Luz com nossas ilusórias tochas ideológicas, podemos sufocar a Palavra com nossas vãs palavras travestidas de mentirosa sapiência, oca e mundana, podemos adulterar a nossa santa fé católica e apostólica, com remendos e deformações para adequá-la o mundo fechado para o Deus nascido da Virgem!
Uma coisa é certa: é impossível, meus caros, ficar indiferente ante este Menino, este pequeno Rei: ou nos abrimos para Ele e Nele encontramos a Luz e a Vida, ou para Ele nos fechamos e não veremos a Luz!
Acorda, cristão!
Sai do marasmo,
sai da tibieza,
sai da preguiça,
sai do pensamento vão,
sai do vício,
sai dos acordos mornos com o mundo!
Acorda!
Sai de ti e deixa-te iluminar pelo Salvador por ti nascido!

Finalmente, um último mistério. Se Jerusalém fechou-se para o Rei nascido, como pôde o profeta cantar a luz da Cidade santa na primeira leitura desta Missa?
“Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a Glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, mas sobre ti apareceu o Senhor!”
Esta Jerusalém santa, envolvida pela Glória do Senhor, esta Cidade fiel à qual se dirigem os povos, é a Igreja, o novo Israel, a Esposa de Cristo. É ela a Casa na qual, segundo o Evangelho de hoje, os Magos entraram e encontraram o Menino com Sua Mãe.
É na Igreja, na Mãe católica, una, única e santa, sempre fiel à fé apostólica, que os homens de todos os povos e de todas as raças podem encontrar o Salvador, tornado sempre presente no anúncio da Palavra segundo a perene Tradição que recebeu dos Apóstolos, nos sacramentos celebrados continuamente no Espírito do Senhor, na vida de comunhão fraterna dos discípulos do Deus nascido da Toda Santa! Esta é e será sempre a grande missão da Igreja: dar Jesus ao mundo, iluminar o mundo com a Luz do Senhor, ser casa espaçosa e aconchegante na qual toda a humanidade possa ver a salvação do nosso Deus!

Caríssimos, alegremo-nos! Daqui a pouco, o Menino por nós nascido, por nós oferecido na Cruz em sacrifício e, em nosso favor, ressuscitado dos mortos, mais uma vez, neste Altar eucarístico, será oferecido como hóstia ao Pai e dado a nós como alimento em comunhão.
Como os Magos, nos levantaremos,
como os Magos, acorreremos a Ele,
como os Magos, reverentes adorá-Lo-emos!
Que também, como os Magos, voltemos para nossas casas alegres de grande alegria, tomando outro caminho na vida!
Que no-lo conceda o Deus nascido da Virgem que hoje Se manifestou ao mundo. Amém.

Homilia para a Festa da Sagrada Família - ano a

Eclo 3,3-7.14-17a
Sl 127
Cl 3,12-21
Mt 2,13-15.19-23

“Vieram apressados os pastores, encontraram Maria com José, e o Menino deitado no presépio” (Lc 2,16).

Como os pastores, é assim que também nós encontramos o Menino nascido para nós, o filho que nos foi dado: deitadinho no presépio, com Maria e José.
Neste Domingo dentro da Oitava do Santo Natal, a Igreja contempla o mistério da Sagrada Família de Nazaré. Mistério, sim! Vejamos senão: o Filho eterno, ao assumir nossa condição humana, encarnou-Se e nasceu, viveu e cresceu no seio de uma família humana. Para a fé cristã, este fato reveste-se de uma significação enorme: ao assumir a família, ao entrar nela e nela humanizar-Se, aprendendo a ser gente, o nosso Deus e Salvador, Jesus Cristo, santificou a família humana.
Já no princípio, quando Deus, na Sua sabedoria infinita, viu não ser bom que o homem estivesse só e deu-lhe a mulher por companheira, determinando que os dois fossem uma só carne, desde então, a família é sagrada. Isso mesmo: Deus pensou no ser humano nascendo e sendo formado no seio de uma família estável, aconchegante, amorosa. E compreendamos bem família: um homem e uma mulher gerando e educando filhos no amor! Uma família, do ponto de vista de Deus, é isto! Pois bem: a família, sonhada e instituída por Deus, foi definitivamente abençoada e levada à plena sacralidade pelo Filho eterno quando, fazendo-Se homem, santificou e consagrou a vida familiar.

Eis por que, para os cristãos, a família é sagrada: nasce do sacramento do Matrimônio, no qual o marido e a esposa recebem a graça de viverem como sinal da aliança de amor entre o Cristo-Esposo e a Igreja-Esposa. Nascida do matrimônio, a família vai crescendo pela fecundidade do amor humano, consagrado nas águas do Batismo de cada novo membro que nasce; e vai alimentando-se não somente da comida e da bebida da mesa de cada dia, mas, sobretudo, do pão e do vinho, Corpo e Sangue do Senhor, dado e recebido na Eucaristia.
Estejamos atentos a este fato importantíssimo! A família não é uma realidade simplesmente humana, sociológica! A família é sagrada: querida por Deus, amada por Deus, criada por Deus, sustentada por Deus! Quem destrói a família peca gravemente contra Deus! E mais ainda: a família como Deus a pensou, repitamos para que não haja dúvida, é composta nuclearmente por um esposo, uma esposa e os filhos! Os cristãos não poderão nunca pensar em outros modelos de convivência, contrários a este, como sendo uma família nos moldes desejados por Deus!

Essa família, se é cristã, é a primeira imagem da Igreja, é a primeira comunidade de cristãos. Pensemos bem na sublimidade de tal mistério: o pai, a mãe e os filhos, todos batizados em Cristo Jesus, são uma pequena Igreja, a Igreja doméstica! A esta comunidade familiar, na liturgia de hoje, na liturgia de hoje, palavras comoventes, conselhos e exortações insuperáveis. Pensando na nossa família, escutemos: “Vós sois amados de Deus, sois Seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. Que a paz de Cristo reine em vossos corações. E sede agradecidos! Que a palavra de Cristo habite em vós! Tudo que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em Nome do Senhor Jesus Cristo. Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor. Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais. Pais, não intimideis vossos filhos, para que eles não desanimem”. Vede, irmãos, o que é uma família cristã: uma pequena comunidade de irmãos no Senhor, um pequeno sinal do Reino de Deus, uma outra família de Nazaré! A família cristã é o primeiro lugar de evangelização, de experiência de amor ao Senhor e aos outros, é o primeiro lugar de oração comunitária e de santificação. A família é santa, a família é sagrada, o lar é um santuário!

Mas, hoje, o mundo tem como propósito sério, sistemático, persistente, inteligente e eficaz destruir a família e o seu significado. Os meios de comunicação invadiram nossas casas, com idéias, imagens e palavras eivadas de paganismo e anticristianismo. Querem nos fazer acreditar que a família é algo meramente humano, que pode ser definido a nosso bel prazer! Desejam que os cristãos achem normal a existência de ex-maridos, ex-esposas, ex-noras, ex-sogras, ex-genros, ex-sogros... Ex, ex, ex... Ex-cristão, é o que o mundo de hoje vai tornando cada vez mais! Ex-família é o que esses ajuntamentos de desajuntados são!

Os cristãos devemos respeitar os que pensam diferente de nós. É normal: o mundo não conhece o Evangelho, não conhece a Deus nem a luz do Seu Cristo. Tantos e tantos vivem à luz de sua própria escuridão e enxergam a vida com sua própria cegueira. Respeitamo-los... Mas, nós, nós somos cristãos! Nós vimos a Luz que brilhou em Belém, nós vimos o Menino com José e Sua Mãe, nós conhecemos o plano de Deus para o amor humano e para a família!

Caríssimos, lutemos por nossas famílias! Jovens, preparai-vos com responsabilidade para uma vida de família! Que a família não nasça das gravidezes precoces, das relações pecaminosas fora do casamento! Que a família não seja enfraquecida pelo materialismo que enche a casa de bens e a esvazia de amor, de convivência e de diálogo. Que os pais não deleguem a estranhos a educação humana e religiosa de seus filhos! Pais cristãos, que vossos filhos aprendam convosco a rezar e a viver! Estejamos bem conscientes: não há esperança para o mundo quando se destrói a família; não há futuro para a Igreja se perde a noção da sacralidade de nossos lares! É na família que se aprende a rezar, a amar, a dialogar, perdoar e conviver. É com o leite materno e o abraço paterno que devemos aprender a santa fé católica que o Senhor nos concedeu.

Voltemos nosso olhar e nosso coração para a família de Nazaré: pobrezinha, sujeita a conflitos e crises, feita de lágrimas e alegrias, de convivência e esperanças. Família de Nazaré, tão igual a nossa, tão diferente da nossa!
Santo Carpinteiro José, velai pelos esposos: que sejam fortes e suaves, que sejam responsáveis e fiéis, que sejam piedosos e cheios de doçura paterna, que sejam presentes ao lar e à educação de seus filhos.
Santíssima Virgem Maria, olhai para as mães: que sejam defensoras da vida, que nunca percam de vista a dignidade imensa da maternidade! Que nem o trabalho nem o sucesso profissional as façam perder de vista a prioridade e santidade de sua vocação materna e a necessidade de aquecer o lar e os filhos com seu amor e sua presença.
Senhor Jesus, Menino nascido para ser nossa paz, velai pelos filhos, velai pelas crianças e não permitais que a vida humana seja assassinada pelo aborto e pelas experiências sacrílegas com embriões humanos! Que os filhos cresçam como Tu cresceste: no calor de um pai e de uma mãe, no aconchego de um lar, na piedade da oração familiar e da simplicidade das lutas de cada dia!
E que possamos louvar-te eternamente, um dia, com José e Maria de Nazaré. Amém.


quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Homilia da Missa do Dia do Natal do Senhor

Is 52,7-10
Sl 97
Hb 1,1-6
Jo 1,1-18

Mais uma vez, caríssimos, a volta do ano trouxe-nos a santa Celebração do Natal do Senhor nosso Jesus Cristo. Historicamente, o natalício do Cristo nosso Deus ocorreu há dois mil anos; no entanto, na potência do Santo Espírito, o Natal acontece hoje sacramentalmente, nos santos mistérios que celebramos com piedade e unção: de modo misterioso e verdadeiramente real, a nós que participamos desta Eucaristia, é-nos dada a graça do Vinda, do Natal do nosso Salvador. Cada um de nós que participa desta Celebração sagrada, conserve no coração esta certeza: nos gestos, nas palavras, nos ritos da santa liturgia, a graça do santo Natal do Senhor faz-se realmente presente e verdadeiramente inunda a nossa vida! Para nós, aqui reunidos, o Natal é hoje, o Natal é agora!

Assim, podemos, cheios de admiração, escutar o Evangelho que nos anuncia: “O Verbo Se fez carne e habitou entre nós!” Em outras palavras: o Filho eterno do Pai, Luz gerada da Luz, Deus verdadeiro gerado eternamente do Deus verdadeiro, para salvar o mundo com a Sua piedosa vinda, hoje nasceu homem verdadeiro, homem entre os homens, de Maria, a Virgem!
Caríssimos, quem poderia imaginar tal mistério, tal surpresa de Deus, nosso Senhor?
A Liturgia oriental exclama, admirada: “Vinde, regozijemo-nos no Senhor, explicando o mistério deste Dia. A Imagem idêntica do Pai, o Vestígio de Sua eternidade, toma forma de escravo, nascendo de uma mãe que não conheceu o casamento, e sem mesmo sofrer mudança! O que Ele era, permaneceu: Deus verdadeiro; o que não era, Ele assumiu: tendo-Se feito homem por amor dos homens” (Grandes Vésperas do Natal).
Eis o mistério: o Menino que nos nasceu para nós, o filho que nos foi dado, é Deus perfeito, é o Filho eterno, através de Quem e para Quem tudo foi criado no Céu e na terra. Ele não é uma pessoa humana; é uma Pessoa divina, a segunda da Trindade. Este menininho é adorável: deve receber toda nossa adoração, toda nossa louvor, todo nosso afeto. No entanto, sendo Deus perfeito, hoje, Ele saiu do seio da sempre Virgem Maria, como verdadeiro homem, homem perfeito, com um corpo igual ao nosso, com uma alma igual à nossa, com uma vida para viver igual à nossa pobre existência! Quanto amor, quanta bondade, quanta humildade! 

Caríssimos, neste Deus hoje nascido da Virgem, a nossa humanidade foi unida ao próprio Deus. 
Hoje a força do pecado começou a ser quebrada,
hoje a doença da nossa natureza humana, tão propensa ao pecado, ganhou seu verdadeiro remédio,
hoje, fazendo-Se homem mortal, o Salvador nosso veio trazer a medicina que cura a nossa morte! 
Bendita seja a Sua gloriosa vinda, o Seu virginal nascimento! Adoremo-Lo! Afirmemos com a Igreja, na sua santa Liturgia:
“Foi depositado num estábulo Aquele que contém o universo.
Ele descansa numa manjedoura e reina nos Céus.
É o Salvador dos séculos, o Rei dos Anjos, Aquele mesmo que a Virgem amamentava (Liturgia romana).

Caríssimos, por tudo isto, nunca percamos de vista a graça que recebemos pelo dom da fé! Vivemos num mundo confuso, de mentiras, de idolatrias, de relativismo, de imposição da religião do politicamente correto. O homem pensa poder fazer sozinho a sua vida, encontrar do seu modo a felicidade, fazer de seu jeito a sua própria existência. A Solenidade de hoje nos recorda que a humanidade precisa de um Salvador – e esse Salvador é Jesus, nosso Senhor!
Ele é a nossa única Verdade,
Ele, o nosso único Caminho,
Ele, a verdadeira Vida!
Não queremos outros mestres, não reconhecemos outros pastores, não admitiremos outros senhores, não buscaremos outras verdades. Mais que nunca, nesta quadra tão difícil da história, quando o cristianismo e a Igreja de Cristo são ameaçados externa e internamente, tão caluniados e perseguidos, quando a verdadeira fé é tão denegrida de tantos modos e os que a defendem são ridicularizados e vilipendiados, quando ser cristão tem se tornado motivo de chacota e gozação, queremos, uma vez mais, e com todas as nossas forças, proclamar nossa total e incondicional adesão ao nosso Deus e Senhor Jesus Cristo! Por isso, amados nos Senhor, o Filho de Deus fez-Se homem: para que o homem possa ver e ouvir claramente o que é ser homem, o que é viver de modo verdadeiramente digno, livre, maduro e feliz!

O mundo nos propõe uma liberdade torpe, fundada nos caprichos, na loucura de fazer aquilo que se quer;
o mundo nos tenta convencer que cada um é a sua própria medida, é o dono de sua própria vida;
o mundo atual nos ensina a viver entregue às próprias paixões, aos próprios desejos...
Aí estão: famílias destruídas, filhos sem pais, um rio de solidão e infelicidade, jovens sem esperança, uma sociedade sem valores nem critérios verdadeiramente dignos do homem criado à imagem de Deus...
Mas, outro é o caminho que o Salvador hoje nascido nos aponta. Aprendamos com Ele, o Homem perfeito; sigamo-Lo sem medo, coloquemos aos Seus pés a nossa vida e a nossa liberdade, os nossos desejos e os nossos afetos. Deixemos que Sua santa lei de amor e graça inunde nosso coração, penetre nas nossas famílias, modele o nosso modo de viver! Então, seremos realmente humanos, seremos realmente livres, seremos realmente felizes!

Alegremo-nos, caríssimos, pela hodierna Solenidade!
“Que desapareça toda enfermidade: hoje, o Salvador apareceu.
Não haja guerra, cale-se a discórdia: hoje, a verdadeira paz desceu dos Céus.
Desapareça toda amargura: hoje por todo o universo os Céus destilam mel.
Fuja a morte, pois hoje a vida nos é dada dos Céus...
Hoje, os cegos recobram a vista, os surdos ouvem, os coxos e os leprosos são curados, aqueles que estavam na tristeza estão na alegria, os enfermos encontram a saúde, os mortos ressuscitam. 
Somente o Diabo e seus demônios – e o mundo que os serve – tremem de cólera, pois sua derrota é a restauração do gênero humano.
Hoje, o Cristo nos apareceu como Salvador” (Homilia de um Anônimo do século V).

Eis, pois, quantos motivos para nossa alegria, quantos, para nosso júbilo! Que pessoalmente e em família, celebremos de modo santo e devoto a Vinda do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, a Quem seja dada a glória com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Homilia para a Missa da Noite do Natal do Senhor

Is 9,1-6
Sl 95
Tt 2,11-14
Lc 2,1-14

“A Graça de Deus Se manifestou trazendo salvação para todos os homens!” Esta palavra da segunda leitura desta Noite santíssima exprime de modo admirável o sentido da hodierna Solenidade.

Vinde, caríssimos, aproximemo-nos do Presépio!
Para nossa surpresa, encontraremos, envolto em faixas, reclinado na manjedoura, Aquele que é a Graça de Deus feita carne, feita gente, feita humilde criança, feita um de nós; a Graça de Deus com rosto humano, com humano choramingar, com sorriso humano!
Que Mistério tão grande e tão doce!

Andávamos todos perdidos, como tantos ainda hoje – cada vez mais, ainda hoje! Não tínhamos um sentido para a vida; éramos presos por nossas paixões, escravos de nossos desejos desencontrados, entregues aos nossos próprios pensamentos, que levam ao nada.
Orgulhosos, seguíamos, cada um de nós, suas próprias ideias. Como os pagãos de hoje, pensávamos que éramos livres por fazermos o que queríamos, por seguir nossa tênue e obscura luz...
E, no entanto, éramos escravos de nós mesmos e de um mundo cego e perverso... Não sabíamos o que fazer com a vida, com a dor, com nossos instintos e tendências, com as feridas da existência; não compreendíamos o sentido do nosso caminho, não conseguíamos vislumbrar a estrada para a verdadeira felicidade e a verdadeira paz. Andávamos nas trevas, irmãos! E tão nas trevas, que nem sabíamos que nelas estávamos metidos, nelas miseravelmente mergulhados!
É que o homem sozinho não consegue se vencer, não consegue se superar, não consegue se libertar, não consegue enxergar com clareza o sentido...
Nossa vida parecia, como a dos pagãos de hoje, uma fiada de futilidades vazias de verdadeira alegria e nosso destino seria a morte, vazia e sem sentido. Ainda hoje, tantos pagãos, nossos amigos e familiares, nossos distantes e nossos próximos, vivem assim! Ainda hoje, há tantas lâmpadas na nossa cidade e tão pouca luz! 

Mas, para nós, nesta Noite mil vezes abençoada, “a Graça de Deus Se manifestou”!
Nós vimos a Luz, Aquela que é capaz de iluminar a nossa existência! Jesus – eis o mais doce dos nomes; eis o nome dessa Graça bendita, Graça com jeito, choro, e sorriso de recém-nascido! 
Vinde, vinde contemplá-Lo! Ele veio para nossa salvação! Veio para nos arrancar de nós mesmos, de nosso horizonte fechado e estreito; veio para abrir nosso pensamento, nosso sentimento, nossa vida, abri-los à dimensão do Coração de Deus, fazendo-nos felizes e verdadeiramente humanos! Não seremos nós mesmos, não seremos realizados, não seremos livres, a não ser abrindo-nos para Ele!
Acolhamos a graça e vivamos uma vida nova: “Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo, com equilíbrio, justiça e piedade!” Ele veio, irmãos, porque, sozinhos, não conseguimos encontrar a verdade de nossa vida... Ele é a nossa Verdade, Ele é a nossa Vida!

Caríssimos, cada vez mais o mundo cai na treva, no paganismo, na cegueira. Tocamos, mais que nunca, a descristianização, a dissolução da família, a propagação do mal, a desmoralização de toda moral, de toda dignidade, de todo valor verdadeiro, a difusão de um pensamento anticristão e contrário aos perenes e santos ensinamentos da Igreja de Cristo ao longo dos séculos.
Nesta Noite sacratíssima, quantos estão se embriagando, quantos adulterando, quantos, pelas emissoras de rádio e televisão, pela internet, esbaldando-se em uma programação mundana; quantos, nesta Noite esplendorosa e doce, nem sabem que existe uma esperança, um sentido, uma mão de Deus estendida para toda a humanidade! Quantos, amados irmãos, dizendo-se ainda cristãos, vivem no pecado, aplaudem o que condenável pela santa Palavra de Deus, o que é vil aos olhos do Senhor; quantos há que se dizem cristãos e pensam e sentem e vivem como o mundo que não viu nem conheceu a Graça de Deus que hoje nos apareceu! Quantos, ainda que pareçam de Cristo, advogam e promovem um cristianismo mundano, relativista, vazio, à procura somente da compreensão e dos aplausos do mundo!
Eis que a Graça de Deus, hoje nascida do ventre da Sempre Virgem, convida-nos à conversão, convida-nos a uma séria mudança de modo de viver. Não seremos cegos, se vivermos na Sua luz; não seremos perdidos, se seguirmos Seus passos; não viveremos na morte, se nos abrirmos para Sua Vida!

Num de seus sermões para esta Festa solene, Santo Agostinho de Hipona assim exclamava: “Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo” - “Desperta, ó homem, porque por ti Deus Se fez homem!”! E o santo Bispo de Hipona continuava: "Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá! Por tua causa, repito, Deus Se fez homem. Estarias morto para sempre, se Ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se Ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a Sua misericórdia. Não voltarias à Vida, se Ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se Ele não te socorresse. Estarias perdido, se Ele não viesse salvar-te".

Caríssimos, tomemos consciência de tão grande graça! Nesse Menino que repousa no presépio foi-nos dada a força para sair do sono miserável de uma vida medíocre e vazia, de uma existência morna e sem elã.
Desperta, ó cristão, porque hoje brilhou para ti a Luz! Por ti, o Filho eterno fez-Se um de ti! Até onde Deus está disposto a te mostrar o Seu amor, a tirar-te de tua vida vazia!
Como exclamava a Liturgia medieval na Noite de hoje:
“Aquele que deu forma a todas as coisas recebe a forma de escravo;
Aquele que era Deus é gerado na carne;
eis que Ele é envolvido em panos, Aquele que era adorado no firmamento;
e eis que repousa numa manjedoura Aquele que reinava no Céu”.

Despertemos, caríssimos!
Que nossa alegria desta Noite, que a paz que inunda o nosso coração, transborde numa vida mais comprometida com o Cristo Jesus!
Que nossa existência seja realmente conforme a santidade e a liberdade Daquele que hoje nasceu da Virgem Santíssima!
“Porque nasceu para nós um Menino, foi-nos dado um Filho; Ele traz nos ombros a marca da realeza; o Nome que Lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”.
A Ele a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.


Meus augúrios natalinos...

Cristãos,
Estamos na vigília do santo Natal de nosso Senhor Jesus Cristo segundo a carne.
Não importa nem um pouquinho a data histórica desse Nascimento bendito. Importa que, na celebração dos Mistérios litúrgicos, cheios do Espírito do Encarnado, Imolado e Ressuscitado por nós, a Sua Vinda faz-se presente, a Sua salvação torna-se-nos contemporânea, atuante, efetiva na nossa vida e na vida do universo inteiro. Natal é agora, Natal é hoje, Natal é aqui, Natal é no Altar da Eucaristia, quando vem, em Nome do Senhor, realmente, divinamente humano e humanamente divino, o Salvador do universo!

Para todos quantos celebraremos os Santos Mistérios será Natal, é Natal! Ouviremos logo mais à noite: “Hoje, na Cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador!” Para nós! Para mim, para você, para a humanidade, para o universo!
No Espírito Santo de Deus que o Menino feito homem, feito Cristo-Senhor à Direita do Pai, derramará, o universo inteiro, e eu e você, receberemos a Vida divina, a Plenitude do ser, a Salvação!

É Natal! É visita do Infinito! É vinda de Deus, pessoalmente, feito homem, feito gente, feito mundo, feito criação! O Criador torna-Se criatura! “Ó Deus beato, quanto Te custou nos ter amado!”

Cristãos, que nada nem ninguém nos distraia, nos desvie do sentido desta Solenidade, da razão da nossa fé: é somente Jesus Cristo, Deus nascido da Virgem!
Cuidado com o natal politicamente correto, cuidado para o natal fútil, raso, cuidado com o natal que fala mais do homem que de Deus, cuidado com o natal que fala mais em solidariedade ou filantropia ou mesmo dos pobres do que de Cristo! O centro é unicamente Cristo, o fundamento é unicamente Cristo, o motivo da alegria é somente Cristo, a causa da esperança é tão-somente Cristo! “Quanto ao Fundamento, ninguém pode pôr outro diverso do que foi posto: Jesus Cristo” (1Cor 3,11).
Ele é tudo! E tudo mais somente ganha sentido, importância, valor por causa Dele e Nele! Neste dia santíssimo, seja Ele aquele a quem amamos simplesmente por Ele mesmo, por ser Ele quem é! E todo o restante ganhará, Nele, seu sentido e sua importância por acréscimo, naturalmente!

Cristãos! Católicos no Senhor!
Ânimo! Coragem! Olhos e corações fixos no Senhor!
Nada de desânimo: “Ele não Se cansa nem Se fatiga, Ele dá força ao cansado, prodigaliza vigor ao enfraquecido. Os que põem a sua esperança no Senhor renovam as suas forças, abrem asas como as águias, correm e não se esgotam, caminham e não se cansam!” (Is 40,28.29.31)

Feliz Natal, de todo o meu coração!
Que pelas preces do justo José, o Carpinteiro, e de sua santa Esposa,
o Deus nascido da Virgem derrame sobre nós todos a doçura da Sua luz, a abundância da Sua paz e o firme penhor da Sua Vida eterna que já nos faz pregustar na terra a plenitude do Reino dos Céus, que teremos um dia, na Glória imperecível!

Mais uma vez: feliz e abençoado Natal!

+ Henrique, de Palmares




segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

As Antífonas Ó - Ó Emanuel

Ó Emanuel,

nosso Rei e Legislador,

esperança e Salvador das nações;

vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!


Esta última das Antífonas Ó é inspirada em Isaías e tem o sabor do Evangelho segundo Mateus, os dois livros da Escritura nos quais aparece o título de Emanuel para designar Jesus nosso Senhor.

Ele é Rei porque é o Messias filho de Davi prometido pelo Senhor Deus e anunciado pelos profetas de Israel; Ele é o Legislador porque é o novo Moisés, o verdadeiro Moisés, tema muito presente no Evangelho de Mateus (aí Jesus faz cinco discursos, como Moisés é o "autor" dos cinco livros da Torá; Jesus fala no monte, como Moisés, no monte recebeu a Lei).

Mas, sobretudo, coroando todos os títulos dados ao Senhor que vem, a Antífona refere-se ao Cristo como "Senhor nosso Deus". Eis o que Ele é para nós, eis o motivo da esperança que Nele temos e da alegria pelo Seu Nascimento! "Esperança e Salvador das Nações" - esperança e Salvador de toda a humanidade: é isto, essencialmente, que Aquele que a Virgem concebeu é para a fé cristã!

Que fique no nosso coração a certeza expressa na frase formada pela primeira letra de cada antífona, tomada de trás para frente: Emanuel, Rei das Nações, Oriente, Chave de Davi, Raiz de Jessé, Adonai, Sabedoria - ERO CRAS, isto é "Amanhã Eu virei"!

Vem, Senhor Jesus, Deus fiel, e confirma o Teu rebanho na paz! Maranatha! Amém!

Feliz Natal a todos!

Que o Santo Emanuel, nosso Messias, encha de plenitude a nossa vida!


O Mistério da nossa salvação

Dos sermões de São Leão Magno, Papa (séc. V):

De nada serve afirmar que nosso Senhor, filho da Virgem Maria, é verdadeiro e perfeito homem, se não se acredita que Ele também pertence a essa descendência proclamada no Evangelho.
Escreve São Mateus: “Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1,1). E, a seguir, apresenta a série de gerações desde os primórdios da humanidade até José, com quem estava desposada a Mãe do Senhor.
 São Lucas, porém, percorrendo em sentido inverso a ordem dos descendentes, chega ao começo do gênero humano, para mostrar que o primeiro e o último Adão têm a mesma natureza.

Observação minha:
O fato de o Verbo eterno do Pai ter-Se feito homem torna-O solidário com toda a humanidade e até mesmo com toda a criação. Fazendo-Se homem, o Verbo fez-Se mundo, fez-Se parte do universo, entrou no tempo, tudo assumindo da criação, tudo elevando, tudo revestindo de uma nova dignidade, tudo levando à plenitude que o Criador, desde o princípio, desejou para a Sua criatura.
Mas, este mistério de salvação estaria escondido, desconhecido à humanidade, caso não tivesse sido preparado na história do Povo de Israel e não tivesse sido anunciado e explicado pelos profetas e pelos textos sagrados do Antigo Povo. Nesses textos santos havia duas promessas claras: através da descendência de Abraão toda a humanidade seria abençoada (cf. Gn 12,3) e da descendência de Davi, da sua casa real, nasceria o Rei Messias (cf. 2Sm 7,12-16). Por isso, São Leão Magno insiste na importância de se afirmar que Jesus é filho de Abraão e filho de Davi; por isso também mostra a importância da alusão de São Lucas ao fato de Jesus ser filho de Adão. Como filho de Adão, é humano e salvador da humanidade, como filho de Abraão, é israelita e portador da bênção a toda a humanidade, como filho de Davi, é Messias, Rei de Israel, cheio do Espírito Santo e consumador do desígnio salvífico de Deus.

Com efeito, seria possível à onipotência do Filho de Deus, para ensinar e justificar os homens, manifestar-Se do mesmo modo que aparecera aos patriarcas e profetas, como, por exemplo, quando travou uma luta ou manteve uma conversa, ou quando aceitou os serviços da hospitalidade a ponto de tomar o alimento que Lhe apresentaram.
Mas essas aparições eram imagens, sinais misteriosos, que anunciavam a realidade humana do Cristo, assumida da descendência daqueles antepassados.

Observação minha:
Era pensamento comum dos Santos Padres da Igreja que as várias manifestações do Senhor Deus no Antigo Testamento eram, na verdade, misteriosas e preparatórias manifestações do próprio Verbo, preparando-Se para fazer-Se carne no ventre da Virgem. Assim, o Anjo do Senhor que falou na sarça e a tantos personagens, Melquisedec, a Anjo que combateu com Jacó, era sempre o Verbo. Esta ideia vem de uma convicção muito profunda dos Padres da Igreja: o Pai é absolutamente transcendente: ninguém pode vê-Lo ou ouvi-Lo diretamente. Sua voz é o Filho, o Verbo, Sua manifestação é sempre o Filho; é através do Filho sempre e somente que o Pai Se dirige à criação e revela-Se à humanidade! Santo Irineu, no século II, dizia de modo admirável: “A Realidade invisível que Se manifestava no Filho era o Pai; e a Realidade visível na qual o Pai Se revelou era o Filho” (Contra as Heresias, IV). No entanto, para os nossos Santos Padres, todas estas manifestações, estas cristofanias, eram apenas preparações para o mistério da Encarnação, quando o Filho eterno, o Verbo do Pai, pessoal e realmente, assumiria a nossa natureza humana e, através dela, entraria pessoalmente na criação, assumindo-a e elevando-a à Sua Vida divina.

Nenhuma daquelas figuras, entretanto, poderia realizar o mistério da nossa reconciliação, preparado desde a eternidade, porque o Espírito Santo ainda não tinha descido sobre a Virgem Maria, nem o Poder do Altíssimo a tinha envolvido com a Sua sombra; a Sabedoria eterna não edificara ainda a Sua casa no seio puríssimo de Maria para que o Verbo Se fizesse homem; o Criador dos tempos ainda não tinha nascido no tempo, unindo a natureza divina e a natureza humana numa só Pessoa, de modo que Aquele por Quem tudo foi criado fosse contado entre as Suas criaturas.

Observação minha:
Muito importante a percepção de São Leão: a salvação que provém do Pai através do Filho, somente pode dar-se no Espírito Santo. É a ação do Espírito Criador, Espírito no qual tudo foi criado e é sustentado, que cria em Maria Virgem a natureza humana, corpo e alma, do Verbo eterno do Pai. Aqui, este Santo Espírito é chamado Sabedoria, aquela que no Livro dos Provérbios (cf. 9,1) edificou Sua casa. No pensamento de São Leão Magno, a casa é a Virgem Maria: nela habitando, o Espírito torna-a fecunda do próprio Filho eterno, feito pessoalmente homem, assumindo uma natureza humana completa (corpo humano e alma humana) sem deixar a Sua natureza divina, ambas unidas na divina Pessoa do Verbo eterno, segunda da Trindade Santa.

Se o Homem Novo, revestido de uma carne semelhante à do pecado (cf. Rm 8,3), não tivesse assumido a nossa condição, envelhecida pelo pecado; se Ele, consubstancial ao Pai, não Se tivesse dignado ser também consubstancial à Mãe e unir a Si nossa natureza, com exceção do pecado, a humanidade teria permanecido cativa sob o jugo do demônio; e não poderíamos nos beneficiar do triunfo do Vencedor, se esta vitória fosse obtida numa natureza diferente da nossa.

Observação minha:
Aqui, basta sublinhar a afirmação de que o Cristo Jesus é consubstancial ao Pai e fez-Se consubstancial à mãe. Em outras palavras: Cristo Jesus é realmente verdadeiro Deus, da mesma substância divina do Pai, e verdadeiro homem, da mesma substância humana da Virgem. A Virgem não foi somente a “casa” na qual o Verbo encarnado habitou: o Verbo-Deus recebeu dela, realmente, a natureza humana, de modo que ela é verdadeiramente Mãe de Deus feito homem, Mãe da Pessoa divina na Sua natureza humana! Ainda uma observação delicada, talvez um pouco complicada para quem não é estudioso da teologia: Jesus não é consubstancial ao Pai como é consubstancial à mãe... A união da natureza divina do Filho com o Pai é não somente genérica (gênero divino), mas também numérica: não são duas naturezas divinas iguais, mas uma só natureza divina, infinitamente simples e igual. Já a união da natureza humana de Jesus com Sua mãe, conosco é somente genérica (Ele pertence ao gênero humano, como cada um de nós, mas em cada um de nós, a natureza humana pertence de modo próprio a cada pessoa. Em nós, a unidade da natureza não é numérica; é somente genérica)...

Dessa admirável união, brilhou para nós o sacramento da regeneração, para que renascêssemos espiritualmente pelo mesmo Espírito por quem o Cristo foi concebido e nasceu.
Por isso diz o Evangelista, referindo-se aos que creem: “Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo” (Jo 1,13).

Observação minha:
É digno de atenção como o Papa Leão refere-se ao mistério da Encarnação: sacramento, isto é, ação pela qual o Senhor Deus realmente concede a Sua graça salvífica! Sacramento da regeneração, porque o Filho eterno feito homem, como homem morreria, como homem seria ressuscitado pelo Pai na potência vivificante do Espírito Santo e, como homem glorificado à Direita do Pai, derramaria o Seu Espírito sobre a Igreja, que, através dos sacramentos, sobretudo do Batismo e da Eucaristia, daria continuamente aos fieis o Vida nova, Vida divina, Vida eterna, que é dom do próprio Santo Espírito do Deus nascido da Virgem, morto, ressuscitado e glorificado nos Céus, na plenitude do Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo! Assim, o mistério do Santo Natal do Senhor é o princípio, o sacramento da nossa salvação: o filho de Adão, filho de Abraão e filho de Davi, veio para que, no Seu Santo Espírito de Filho, sejamos tornados verdadeiramente filhos de Deus! Esta é a salvação! Este é o Reino de Deus!