quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Redes e pérolas, tesouros e sementes...

Já escrevi algumas vezes sobre o encantador capítulo treze do Evangelho segundo São Mateus. É o Discurso das parábolas do Reino dos Céus. Em sete encantadoras estórias, o Senhor Jesus fala sobre alguns aspectos do que seja esse Reino dos Céus ou Reino de Deus que Ele veio anunciar.!

O Reino de Deus foi o centro da missão e da pregação de Jesus. Ele veio para anunciar e instaurar esse Reino. A expressão correta, para dizer a verdade, não seria “Reino”, mas “Reinado”, Reinado de Deus.
Jesus veio anunciar que o Deus grande e santo de Israel é, na verdade, um Pai cheio de misericórdia e ternura, de amor e compaixão – é o Seu Pai, que Ele chamava Abbá, Papai! Ao enviar Seu Filho único, esse Pai do Céu abriu as mãos e o coração para a humanidade cansada e ferida, de modo que o Reinado de Deus acontece onde a Pessoa e a mensagem de Jesus forem acolhidos. Aí Deus reinará de verdade!
Cada um de nós é convidado a acolher em Jesus esse Reinado: o Reino está onde o homem permite que Deus reine na sua vida, nos seus amores, na sua sensibilidade, nos seus afetos, no seu dinheiro, nos seus bens materiais, na sua sexualidade, na sua vida profissional, nos seus projetos, enfim, em todos os âmbitos da sua existência! Assim, não somos nós que entraremos no Reino; é o Reino que entrará em nós, que permeará toda a nossa existência. Isso mesmo: entrará no Reino quem deixar o Reino entrar em seu coração e em sua vida, começando já neste mundo uma tal comunhão com Deus em Jesus Cristo, que nem a morte poderá interromper!

Mas, essa história de Reino de Deus presta-se a tantos mal-entendidos... Os judeus enganaram-se com o Reino. Pensavam que ele seria vistoso, glorioso; que aconteceria imediatamente, que seria imposto por Deus de maneira grandiosa. Enfim, um Reino em grande estilo... Muitos confundiam facilmente o Reino de Deus com o Reino do Povo de Deus, com o seu próprio Reino; confundiam a vontade de Deus com a própria vontade e a glória de Deus com a própria glória. São tão fáceis essas confusões...

Nessas parábolas, o Senhor quer ensinar que o Reino não nasce da nossa iniciativa: Deus é quem o semeia, é quem o planta. O Reino não pode ser confundido com um simples projeto humano... Ninguém pode chegar a Deus se Deus mesmo não se der a nós. O homem não pode, sozinho, com suas forças, construir esse Reino. Toda vez que tentou, fracassou: mentiu e matou por um reino que não aconteceu... Basta recordar as promessas humanas, os projetos políticos e econômicos humanos...
O Senhor ensina também que o Reino passa pela nossa decisão, pelo terreno do nosso coração: se meu coração for desatento, o Reino será devorado em mim, como as sementes pelos pássaros; se meu coração for envolvido por mil paixões e desejos, a semente do Reino será sufocada por esses espinhos; se meu coração for superficial e leviano, a semente morrerá seca por falta de profundidade humana...
Jesus nos ensina que Deus é assim: aceita e deseja que seu projeto passe pela nossa liberdade, corra o risco de ser colocado a perder pelo nosso “não” aos Seus apelos. Que coisa impressionante: eu posso colocar a perder o projeto de Deus; eu posso me fechar, eu posso dizer “não” – fazer da minha vida um grande “não” a Deus!

Nosso Senhor é tão realista. Ele disse também nessas parábolas que o Reino dos Céus é frágil, é pobre, é pequeno como um grãozinho de mostarda, como um pouquinho de fermento que uma mulher colocou na massa... Ele não se manifesta na grandeza, na riqueza, no luxo, no poder, mas nas coisas pequenas e simples, como o amor desinteressado, o tempo dado aos outros, o sofrimento suportado com paciência e dignidade...
Mas, esse Reino tão simples haverá de levedar o mundo todo como o fermento na massa e haverá de crescer como o grão da mostarda e a passarinhada do céu, ou seja, toda a humanidade, haverá de nele fazer seus ninhos. Jesus afirmou também que, apesar de tantas vezes ter um destino inglório, como aquelas sementes do semeador, ao fim das contas, haverá terrenos bons, nos quais as sementes do Reino cairão e darão fruto: uns cem, outros sessenta, outros trinta por um... Não importa quanto cada um dê, importa que dê tudo quanto poderia ter dado...
Ele disse ainda que esse Reino é o maior tesouro que alguém pode achar, que é como uma pérola de grande valor - a mais bela de todas - e quem a encontra está disposto da dar tudo por ela... Ele ensinou que o mundo no qual Ele veio semear o Reino é como um campo... Aí, Ele semeou o Reino que é vida e verdade, amor e paz, mas o Diabo semeou o joio. Nossa impaciência quer arrancar logo o joio e reclama de Deus pelo mal do mundo, como se Deus fosse o culpado. A nossa impaciência ameaça arrancar o trigo junto com o joio; mas a paciência de Deus sabe esperar e, um dia, trigo e joio serão separados, um dia o trigo será recolhido nos celeiros do coração do Pai do Céu e o joio será enfeixado e queimado!
Finalmente, Ele ensinou que o Reino do Céu é como uma rede jogada no mar, nesse mar que é o mundo... Essa rede recolhe todo tipo de peixe; vai recolhendo, vida após vida, geração após geração... Mas, um dia, a rede será puxada e os peixes serão separados: os bons serão recolhidos em cestos e os maus serão jogados para o fogo queimar...

Jesus termina Seu Discurso perguntando: “Entendestes todas essas coisas?” – Quem dera que tenhamos compreendido...


A ressurreição da carne

Que significam as palavras do Credo que dizem: “Creio na ressurreição da carne”?

Primeiramente é necessário compreender o significado da palavra “carne” no Antigo Testamento. Aí aparece o termo “basar” (= carne), que originalmente significa o corpo inteiro, bem como a pessoa toda. Para a Escritura, carne é o homem total e vivo, mas limitado, débil (cf. Gn 6,3) e, portanto, propenso ao pecado (cf. Sl 65,3s). O importante é deixar claro que, no pensamento bíblico, o homem não somente tem carne: ele é carne, isto é, limitado, frágil, não autossuficiente.
Sendo a carne uma dimensão do ser humano, pode designar o homem todo inteiro, de modo que minha carne significa não só meu corpo, meus músculos, mas também meu eu e não somente uma parte de mim. Fica, portanto, claro, que quando a Escritura fala em carne, não está falando somente de uma parte do homem, mas do homem todo, enquanto criatura débil e perecível.

Assim, por exemplo, quando a Escritura diz: “Chegou o fim de toda carne” (Gn 6,13), está querendo dizer que chegou o fim de todo homem, de toda a humanidade. O mesmo quando diz: “Toda carne bendiga o Seu santo Nome” (Sl 145,21), ou ainda: “A glória do Senhor há de revelar-se e toda carne, de uma vez, O verá”(Is 40,5). Em todas estas passagens “carne” é o homem todo e não uma parte do homem! Ainda um exemplo: “Toda carne é erva e toda a sua graça como a flor do campo” (Is 40,6). Esta afirmação quer dizer que todo homem é frágil, é como a erva.

Podemos, então compreender que quando o Credo diz “Creio na ressurreição da carne”, está dizendo “creio na ressurreição do corpo”, mas também e principalmente “creio na ressurreição do homem frágil”.
A Escritura ensina que o homem, por si mesmo não poderia ser imortal nem feliz eternamente. É Deus que, no Seu amor, vai nos ressuscitar, como ressuscitou o Seu Filho Jesus, feito homem como nós! O Senhor ressuscitar-nos-á com todo o nosso ser, corpo e alma. Notemos que o Credo não diz: “creio na ressurreição do corpo”, mas “creio na ressurreição da carne” ou - aquele Credo mais longo, o Niceno-constantinopolitano -“espero a ressurreição dos mortos”, sem distinguir corpo e alma. Portanto, tanto faz dizer: “creio na ressurreição da carne”, como “creio na ressurreição dos mortos”, ou “creio na ressurreição do homem”, do homem inteiro, corpo e alma.

A Sagrada Escritura imagina o homem como um todo; jamais pensa que o homem é formado por partes: uma espiritual e outra material. Este modo de pensar o homem em duas partes é grego e, de modo geral, da cultura indo-europeias, que é completamente pagã. No pensamento bíblico o homem é um todo com várias dimensões, vários aspectos, mas não partes. Assim, eu sou meu corpo, eu sou minha alma... E é todo o meu ser que ressuscitará e estará para sempre com o Senhor. Em outras palavras: ao pensar no ser humano, as Escrituras pensam-no como um todo, como uma unidade. Agora, certamente, uma unidade diferenciada, com dimensões, com “partes”, mas exprimindo fundamental e originariamente, um todo!

Daí a inaceitabilidade, segundo a concepção das Escrituras Santas, de quem crê na doutrina da reencarnação. Trata-se de uma doutrina presente em muitas culturas, mas alheia às Escrituras.
Quem abraça esta crença, pensa que o homem é somente espírito e esse espírito está preso num corpo. Assim, de acordo com esta doutrina errada, eu sou meu espírito, mas eu apenas tenho um corpo : não sou o meu corpo! Quando morremos, o espírito desencarna e o corpo vai para o lixo, como uma roupa velha! Tal doutrina é absolutamente incompatível com o ensinamento de Cristo! O Senhor Jesus prometeu que nos ressuscitará em todo o nosso ser - corpo e alma. Seremos completamente glorificados, como o foi o Senhor Jesus! Portanto, podemos afirmar que a esperança dos cristãos é a ressurreição da carne (= do homem todo, apesar de frágil)! Quem professa a reencarnação nega a ressurreição e já não tem como professar a fé católica nem ser realmente cristão!


sábado, 25 de agosto de 2018

Sobre a Igreja que chora...

"Ah! Senhor Deus, extinguirás todo o resto de Israel?" (Ez 11,13)
A devastação é tanta, o desamparo, a incerteza, os turbilhões externos e internos...

"É verdade, afastei-os para longe entre as nações, espalhei-os por terras estrangeiras...
mas, por esse pouco tempo, tenho sido para eles um Santuário, nas terras para as quais eles se mudaram" (Ez 11,16).
Estão desterrados, espalhados; nem parecem mais um povo... Mas, Eu mesmo sou sua casa, seu amparo, seu refúgio; mais ainda: seu Santuário! Eu Me exilo com eles; sou-lhes solidário!

"Eu vos ajuntarei de entre os povos, reunir-vos-ei das terras nas quais fostes espalhados e vos darei a terra de Israel. Chegando aí, removerão dela todos os objetos detestáveis do culto pagão e todas as abominações...
Eu lhes darei um coração UM, inteiro, íntegro, porei no seu íntimo um Espírito novo. Então, serão o Meu Povo, e Eu serei o seu Deus!" (Ez 11,17-20)

Há esperança!
No Senhor, há esperança!
Ele é fiel!
O Seu Nome é Fidelidade,
o Seu Nome é Amor!

Mas, a Fidelidade é exigente
e o Amor purifica, acrisola, queima!

Bendito seja o Senhor,
que não abandona o Povo que Ele conquistou com o sangue pascal do Seu Filho, nosso Salvador!
O Dragão persegue a Mulher...

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Homilia para o XXI Domingo Comum - ano B

Js 24,1-2a.15-17.18b
Sl 33
Ef 5,21-32
Jo 6,60-69

Nenhum cristão jamais poderá dizer que foi enganado pelo Senhor! Deus nunca Se mascarou para nós, nunca nos falou palavras agradáveis para nos seduzir, nunca agiu como os nossos políticos; Deus não usa maquiagem! Ele é um Deus verdadeiro, leal, honesto! Não esconde Suas exigências, não omite Suas condições para quem deseja segui-Lo e servi-Lo...

Escutamos na primeira leitura de hoje Josué mandando o povo escolher: seguir os ídolos, que são de fácil manejo, que não exigem nada ou, ao invés, seguir o Senhor, que é exigente, que é Santo e corrige os que Nele esperam? O próprio Josué dirá: “Não podeis servir ao Senhor, pois ele é um Deus santo, um Deus ciumento, que não tolerará as vossas transgressões, nem os vossos pecados!” (Js 24,19)
Vede, meus caros, que o nosso Deus não Se preocupa com popularidade, não faz conta do número de fieis, não abranda Suas exigências para ser aceito, mas sim, faz conta da fidelidade ao Seu amor e ao Seu chamado!

O que aparece na primeira leitura torna-se ainda mais claro e dramático no Evangelho. Após dizer claramente que Sua Carne é verdadeira comida e Seu Sangue é verdadeira bebida, muitos discípulos se escandalizaram com Jesus (há cristãos que ainda hoje se escandalizam e não creem nesta Palavra do Salvador...).
E Jesus, o que faz? Muda Sua Palavra? Volta atrás no ensinamento para ser popular, para ser compreendido e aceito, para encher as igrejas? Não! Popularidade, aceitação, bom-mocismo nunca foram Seus critérios! Ainda que Sua palavra escandalize, Ele nunca volta atrás. O Senhor nunca Se converte a nós; nós é que devemos nos converter a Ele! Pode-se manipular os ídolos; nunca o Deus verdadeiro!

É importante prestar atenção! Diante dos discípulos escandalizados e murmuradores, que faz Jesus? Apresenta o critério decisivo: a Cruz!
Escutai, irmãos, o que diz o Senhor: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?” Lembremo-nos que, para o Evangelho de São João, a subida de Jesus para o Pai começa na Cruz: ali Ele será levantado!
Vede bem, meus irmãos, que não poderá seguir o Senhor, não poderá suportar as palavras do Senhor, aquele que não estiver disposta a contemplá-Lo na Cruz! E Jesus previne: “O Espírito é que dá Vida; a carne não adianta nada! As palavras que vos falei são Espírito e Vida!” Compreendei, caríssimos meus: somente se nos deixarmos educar pelo Santo Espírito, somente se deixarmos os pensamentos e a lógica à medida da carne, isto é, à medida da mera razão humana, é que poderemos compreender as coisas de Deus, coisas que passam pela Cruz de Cristo! Quando se trata do escândalo do Evangelho, “a carne não adianta nada”, a lógica humana não conta!
Não nos iludamos: entregues à nossa própria razão, pensaremos como o mundo e jamais acolheremos Jesus e Suas exigências! Como compreender um Amor – aquele do Verbo feito carne – que Se entrega eucaristicamente, que Se dá todo, que Se esconde em aparências tão triviais, tão humildes como o pão e o vinho porque Se escondeu na nossa pobre carne humana, nos insossos dias de uma vida como a nossa ao Se fazer homem?
E, no entanto, o Senhor continua: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a Mim, na existência e no Altar, a não ser que lhe seja concedido por Meu Pai!” Vede bem, meus caros: acolher Jesus, compreender Suas palavras e acolhê-las, por quanto sejam difíceis e duras, é graça de Deus e somente abertos para a graça poderemos realizá-lo!
Como acolher a linguagem da Cruz, sem mudar de vida? Como acolher as exigências do Senhor, sem a conversão do coração, sem nos deixarmos guiar pela imprevisível liberdade do Santo Espírito? Quando isso acontece, experimentamos como o Senhor é bom, o quanto é suave, o quando é doce segui-Lo! Assim, o mesmo Espírito de Cristo que transfigura o pão e o vinho na Carne e no Sangue do Senhor imolado e ressuscitado, nos transfigura, em cada comunhão, dando-nos os sentimentos de Cristo, as atitudes de Cristo, a vida de Cristo!

Um belíssimo exemplo disso, a Palavra de Deus nos dá hoje recordando a vida da família cristã. São Paulo pensa o lar cristão como uma pequena comunidade de discípulos de Cristo, plasmada no Espírito de Cristo, plasmada eucaristicamente, uma pequena Igreja e dá conselhos estupendos! O sentimento que deve nortear o comportamento familiar é o amor. Que amor? O das músicas e das novelas? Não! Aquele amor manifestado na Cruz, aquele entre Cristo e a Igreja! Que beleza, que desafio, que sonho: marido e mulher se amando como Cristo e a Igreja se amam, marido e mulher sendo felizes na felicidade um do outro: “Sede solícitos uns para com os outros!” Marido e mulher que se tornam uma só carne no amor, como Cristo e a Igreja em cada Eucaristia, quando o Esposo Cristo dá Sua Carne à Esposa Igreja, e os dois se tornam uma só carne!

Para o cristianismo, meus caros, a família cristã não é primeiramente uma instituição humana, mas uma instituição divina, um sacramento da Igreja. Mais ainda: a família é a primeira Igreja, a primeira comunidade de irmãos em Cristo. Ali, é Jesus Quem deve reinar, ali é o santo e doce temor de Deus quem deve regular a convivência. Que desgraça hoje em dia a paganização, a secularização, a banalização da família cristã!
Atentos, cristãos: a família é santa, a família é sagrada, a família não pode ser profanada pelo desamor, pela indiferença, pela imoralidade, pela violência, pelo consumismo, pela opressão, pela divisão, pela vulgarização! Que beleza, meus caros, um homem e uma mulher unidos no amor com a bênção do Senhor gerando filhos, gerando amor feito carne, feito gente, para o mundo, para a Igreja, para a vida! Este é o sonho do Senhor para a família! Este e só este! Aos olhos de Deus, não há outra forma legítima e aceitável de união familiar! Um homem, uma mulher; um esposo, uma esposa e os filhos, e outros ainda, que a Providência de Deus e o amor que acolhe for agregando a essa comunidade doméstica – eis o sonho, eis a bênção, eis a felicidade quando se vive isso de acordo com o amor de Deus em Cristo! Que bênção a convivência familiar! Que doçura poder partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e dificuldades num lar cristão, onde juntos se reza, juntos partilham, juntos vencem-se as dificuldades! São Paulo, encantado com essa realidade, exclama: “É grande este mistério!” Que mistério? O mistério do amor entre marido e mulher, da sua união que gera vida, que é doçura e complementaridade. E o Apóstolo continua: “E eu o interpreto em relação a Cristo e à Igreja!” Atenção! São Paulo está dizendo que a comunhão familiar é imagem da comunhão entre Cristo e a Igreja!

É fácil, caríssimos, viver a família assim? Não! Como não é fácil levar a sério a Palavra do Senhor! E Jesus, mais uma vez, nos pergunta: “Isto vos escandaliza?” Escandaliza-vos o matrimônio ser indissolúvel? Escandaliza-vos a fidelidade conjugal? Assusta-vos o dever de gerar filhos com generosidade e educá-los com amor e firmeza? “Quereis também ir embora?” 

Caríssimos, que nossa resposta seja a de Pedro, dada em nome dos Doze e de todos os discípulos: “A quem iremos, Senhor? Caminhar contigo não é fácil; acolher Tuas exigências nos custa; compreender Teus motivos às vezes é-nos pesado; comungar, na Tua Eucaristia, Contigo imolado, dado, e, assim, dar, entregarmos nós mesmos a própria vida... Mas, a quem iremos? Só Tu tens palavras de Vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que Tu és o Santo de Deus!”. Que as palavras de Pedro sejam as nossas e, como Josué, possamos dizer: “Eu e minha família serviremos o Senhor!” Amém.
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domingo, 19 de agosto de 2018

A Arca, a Mulher e a Virgem Maria

Na Assunção de Nossa Senhora, celebrada neste hoje, a Igreja nos faz contemplar aquela estupenda visão do Apocalipse: “O Templo de Deus que está no céu se abriu, e apareceu no templo a Arca da Sua aliança”.

Eis aqui uma primeira imagem da Virgem Maria: Arca da Aliança. Não é invenção da Igreja não! O próprio Evangelho de Lucas faz esta leitura da Virgem como nova Arca da Aliança.
É só comparar 2Sm 6,1-15 com Lc 1,39-45:
(1) a Arca vai para Jerusalém, na região montanhosa de Judá; a Virgem vai à região montanhosa de Judá;
(2) Davi diz: “Como virá a Arca do meu Senhor para ficar na minha casa?”; Isabel diz: “Donde me vem que a Mãe do meu Senhor venha à minha casa?”;
(3) A Arca fica três meses na casa de Obed-Edom; Maria fica três meses na casa de Isabel.
Como a Arca trazia em si as tábuas da Antiga Aliança, a Virgem traz em si Aquele que é a Nova Aliança de Deus com o Seu Povo.
Neste sentido, a Arca era um sinal do amor perene do Senhor pelo Seu Povo, pela Sua Igreja. É isto também que é a Virgem Maria, enquanto Mãe Daquele que é a nossa Aliança.

A Mulher grávida, vestida de sol, pisando a lua e coroada com doze estrelas é, ao mesmo tempo, a Igreja e a Virgem Maria, Mãe do Messias: Maria é personificação e imagem da própria Igreja.
A Liturgia da Assunção contempla nesta Mulher (cf. Gn 3,15; Jo 2,4; 19,26) a própria Virgem Maria:
(1) vestida de Cristo, Sol de justiça, Nele glorificada;
(2) ela entra naquilo que é definitivo: pisa a lua, sinal da inconstância e mutabilidade da vida;
(3) coroada com doze estrelas, número do antigo e do novo Israel, que é a Igreja.
(4) Mas, sempre grávida, sempre exercendo sua função materna de gerar Cristo em nós pela sua oração maternal, como nova Arca da Aliança de Deus com o Seu Povo, que é a Igreja.
Na luta que atravessa a história, luta entre o Reino de Deus e o reino de Satanás, a Virgem Maria estará sempre presente, como consolo, força e intercessão materna!

Num mundo tão desafiador, nos embates da vida por vezes tão dramática, nas tantas marcas de escuridão e falta de esperança que nos rodeiam e ameaçam, olhemos para o Céu, onde está em corpo e alma a Virgem Santíssima: o que ela foi nós somos: peregrinos neste mundo; o que ela é nós seremos: totalmente glorificados na Glória de Cristo! 

Que a Virgem Maria assunta ao Céu seja para cada um de nós e para a inteira Igreja de Cristo, vivo e forte sinal de esperança, animando-nos e sustentando-nos no seguimento e no testemunho do Senhor nosso Jesus Cristo!

Assunta ao Céu, rogai por todos nós, que recorremos a vós!


sábado, 18 de agosto de 2018

Viver de fé

Crer,
empregar toda uma existência,
empenhar projetos, sonhos, ideais,
queimar, como holocausto, amores e afetos,
viver a vida em êxodo, saindo de si,
em direção ao Eterno,
em cujos braços se jogou...

Crer...
em Jesus, o Cristo de Deus,
o Enviado do Pai...

E em troca, o quê?
Como?
Quando?

Em troca,
a Vida, plena, de encher coração e ultrapassar todo desejo!

Deixando-se com Cristo, deixando-se em Cristo,
com Ele morrendo e com Ele e Nele vivendo,

já agora, na penumbra da fé,
e no Dia de Cristo, na Plenitude da Eternidade,
no Face a face da Glória!
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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Homilia para a Solenidade da Assunção da Virgem Maria

Hoje celebramos a maior de todas as solenidades da Mãe de Deus: a sua Assunção gloriosa ao Céu.

A oração inicial da Missa hodierna pediu: “Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do Vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua glória”.A Liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, resumiu aqui o essencial desta solenidade santíssima.
Com efeito, Deus elevou à glória do Céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, ela, tão pequena, tão humilde, foi eleva a Deus, ao Céu, à plenitude em todo o seu ser, corpo e alma!
Como isso é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? Isso dizem os pagãos, isso dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, aqueles que não têm esperança em Cristo Jesus, os que se conformam com a morte...
Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a Vida, nosso ponto final é a Glória no Coração de Deus: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isso que Deus nos preparou por meio de Cristo Jesus, nosso Senhor – bendito seja Ele para sempre!

Mas, repetimos, insistimos: como isso é possível?
A Palavra de Deus deste hoje no-lo afirma, de modo admirável. Escutai, irmãos, escutai, irmãs, consolai-vos todos vós: “Cristo ressuscitou dos mortos, primícia dos que morreram. Em Cristo todos reviverão, cada qual segundo uma ordem determinada; em primeiro lugar Cristo, como primícia!”
Eis por que ressuscitaremos: porque Cristo ressuscitou! Eis como ressuscitaremos: como Cristo ressuscitou!
Jesus de Nazaré, feito humano como nós, caríssimos, imolado por nós e, por nossa causa, ressuscitado, agora é o Senhor!
O nosso Jesus é Deus bendito e foi ressuscitado pela Glória do Pai!
O nosso Senhor Jesus venceu e nos faz participantes da Sua vitória, dando-nos o Seu Espírito Santo!

Credes nisto, meus caros? Neste mundo que só crê no que vê, que só leva a sério o que toca, que só dá valor ao que cai no âmbito dos sentidos, credes que Cristo está vivo e é Senhor, primícia, princípio de todos os que morrem unidos a Ele?
Pois bem, escutai: o Cristo que ressuscitou, que venceu, concedeu plenamente a Sua vitória à Sua Mãe, à Santíssima Virgem Maria, que esteve sempre unida a Ele.
Ela, totalmente imaculada, nunca afastou-se do filho: nem na longa espera do parto, nem na pobreza de Belém, nem na fuga para o Egito, nem no período de exílio, nem na angústia de procurá-Lo no Templo, nem nos anos obscuros de Nazaré, nem nos tempos dolorosos da pregação do Reino, nem no desastre da Cruz, nem na solidão do sepulcro no Sábado Santo... Nem mesmo após, nos dias da Igreja, quando discretamente, ela permanecia em oração com os irmãos do Senhor... Sempre imaculada, sempre discípula perfeita, sempre perfeitamente unida ao Senhor! Assim, após a sua preciosa morte, ela foi elevada à glória do Céu, isto é, à glória de Cristo que ressuscitou e é primícia da nossa ressurreição!

A presente solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: Nele está a Vida e a ressurreição; Nele, a esperança de libertação definitiva! Por isso, todo aquele que crê em Jesus e é batizado no Seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor. Quanto ao nosso corpo, será destruído e, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós.
Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte! Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi ressuscitada, glorificada em corpo e alma, foi elevada ao Céu! Podemos, portanto, exclamar como Isabel: “Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o Fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!” Inundada da Glória do Cristo Jesus, cumpre-se em Maria Virgem, de modo admirável, a palavra da Escritura Santa: “Fiel é esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos; se com Ele sofremos, com Ele reinaremos!” (2Tm 2,11)Quem mais plenamente morreu com Cristo naquela Cruz? Que mais perfeitamente sofreu com o Senhor naquela Paixão? Pedro, crucificado de cabeça para baixo? Paulo, decapitado? Lourenço, queimado vivo? Inácio de Antioquia, devorado pelas feras? Benditos todos esses e todos quantos morreram pelo Senhor! Mas, somente a Virgem sofreu com Ele como mãe: Mãe do Condenado, Mãe do Crucificado, Mãe do Homem de Dores, Mãe Daquele que pendeu na dura Cruz! A Ele perfeitamente unida na dor – Virgem das Dores na Paixão, Virgem da Piedade com o filho morto nos braços, Virgem da Soledade no tremendo Sábado Santo -, ela é, agora, Virgem da Glória, totalmente transfigurada na Glória do seu filho glorificado! A Palavra do Senhor não engana, não mente: “Se com Ele sofrermos, com Ele reinaremos; se com Ele morrermos, com Ele viveremos!”Reina com Ele a Virgem que com Ele sofreu! Vive com Ele a Mãe santíssima que com Ele morreu na sua maternidade naquele Calvário tremendo!

Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada a Glória, no seu destino pleno de criatura. Nela aparece claro a obra da salvação que Cristo realizou! Ela é aquela Mulher vestida do sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja! A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do Seu Cristo!”Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela!

Caríssimos, quanto nos diz esta solenidade! A oração inicial, citada no início desta homilia, pedia a Deus: “Dai-nos viver atentos às coisas do Alto, a fim de participarmos da sua glória”.Eis aqui qual deve ser o nosso modo de viver: atentos às coisas do Alto, onde está Cristo, onde contemplamos a Virgem já totalmente glorificada em Cristo.
Caminhar neste mundo sem no prendermos a ele... Aqui somos estrangeiros, aqui estamos de passagem, aqui somos peregrinos; lá é que permaneceremos para sempre: nossa pátria é o Céu, onde está Cristo, nossa Vida!
O grande mal do mundo atual é entreter-se com suas malditas ideologias, com seu consumismo, com sua tecnologia, com seu bem-estar, com seu divertimento excessivo e esquecer de viver atento às coisas do Alto. Mas, pior ainda, os cristãos também muitas vezes são infectados por essa doença! Nós, que deveríamos ser as testemunhas do Mundo que há de vir, quantas vezes vivemos imersos, metidos somente nas ocupações deste mundo – muitos até com o pretexto de que estão trabalhando pelos irmãos e por uma sociedade melhor. Nada disso! Os pés devem estar na terra, mas o coração deve estar sempre voltado para o Alto! Não esqueçamos: nosso destino é o Céu, participando da Glória de Cristo, da qual a Virgem Maria já participa plenamente! Aí, sim, poderemos cantar com ela e como ela: “A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador: o poderoso fez em mim maravilhas!”Ele, que glorificou a Virgem Imaculada e haverá de nos glorificar, seja bendito agora e para sempre. Amém.


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Luz para os meus passos

"A Sabedoria é um Espírito amigo dos homens,
não deixa impune o blasfemo por seus propósitos;
porque Deus é a testemunha dos seus rins,
perscruta seu coração segundo a verdade
e ouve o que diz a sua língua" (Sb 1,6).

Na Escritura Sagrada, no Livro da Sabedoria, aparecem a Sabedoria e o Espírito. Os cristãos, relendo esta Palavra de Deus à luz do Cristo Jesus, discernem na Sabedoria ora o Verbo eterno que Se fez carne, ora o Espírito Criador, que o Cristo derramou sobre nós.

Neste versículo 6, poder-se-ia compreender a Sabedoria como sendo o Espírito Santo de Deus ou como o Verbo, cheio do Espírito, doador do Espírito, que Dele procede vindo do Pai como Sua fonte última. Em todo caso, é da ação do Espírito que o versículo fala: Ele é Amigo dos Homens! Título belíssimo: Filantropo! Nossos Irmãos do Oriente muitas vezes referem-se assim ao Cristo: Amigo dos Homens!

Deus ama a humanidade, Deus criou o homem à Sua imagem, criou-o para a comunhão com Ele, criou-o para que ele traga em si a bendita imagem do Cristo morto e ressuscitado, o Homem perfeito, o modelo, critério e medida de cada homem! (cf. Ef 4,13-15)

Para nós, cristãos, que é o homem? O ser criado através de Cristo e para Cristo,
o ser que somente será ele mesmo à medida que traz em si a imagem bendita do Cristo Jesus!

Para nós, cristãos, qual o critério, a medida do homem? Quem diz o que é verdadeiramente humano ou não, o que é normal ou não, o que é correto ou não, o que é lícito ou não, o que é ético e moral ou não, o que é bem ou mal?
Eis a resposta: o Cristo Jesus!
Ele é a Medida, o Critério, o Sentido: "Até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo. Assim, não seremos mais crianças, joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e da sua astúcia que nos induz ao erro. Mas, segundo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção Àquele que é a Cabeça, Cristo!" (Ef 4,13-15).

Certamente, a humanidade como se encontra agora - eu, você, todo ser humano - é uma humanidade ferida, cheia de cacoetes, manifestações tortas, patológicas, conflituosas...
O homem e os critérios dos homens, mesmo que "doutos", nunca podem ser o critério último do ser e do agir humano: só Cristo, o Homem Perfeito, é a medida do homem, como reconhecia a Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II: O mistério do homem somente se ilumina à luz do mistério do Verbo Encarnado! Somente Cristo revela de modo pleno o homem ao próprio homem! (cf. GS 22).

Menos que Cristo não realiza o homem, não o humaniza verdadeiramente! Qualquer proposta de humanização que seja fora de Cristo ou contra Cristo é desumanizante!
Por isso, o Espírito "Amigo dos Homens", de que fala o Livro da Sabedoria, "não deixa impune o blasfemo por seus propósitos".

O amor de Deus para conosco, Sua bendita, santa e inefável filantropia, não nos dispensa de caminhar na verdade do Criador, mas, pelo contrário, exige que nos coloquemos no caminho da conversão! Somente nos convertendo ao que o Senhor pensou para nós é que seremos nós mesmos e viveremos na verdade de Deus, que é a nossa verdade!

Atenção: não é a nossa "verdade" que se torna Verdade de Deus, mas a Verdade de Deus, que deve plasmar a nossa verdade... Caso contrário, nossa verdade não passa de mentira, ilusão, idolatria e, portanto, blasfêmia!

"Salvação" é a palavra chave do Evangelho, pois "o desejo de Deus é que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2,4); "conversão" é a palavra indispensável, que diz se alguém aceita ou rejeita a salvação! Não há, não pode haver salvação sem conversão! E conversão significa sair de mim do meu jeito
para ir para mim mesmo do modo de Cristo, significa sair da minha lógica para entrar na lógica de Cristo!

E qual é a lógica de Cristo?
Aquela que aparece nas Escrituras como escutadas, cridas, rezadas, contempladas, vividas e ensinadas perenemente pela Igreja, dentro da Tradição Apostólica!
Fora disso, não há Escritura: há confusão, há arbitrariedade, há fantasias humanas,
há manipulação miserável da Palavra de Deus, mesmo com capa de piedade ou erudição!

Assim, o Deus que pelo Espírito de Sua Sabedoria (isto é, o Pai, que pelo Espírito do Seu Filho) a todos deseja salvar, espera de nós uma resposta de conversão! E quando o homem se fecha na sua própria lógica, no seu próprio critério, no seu próprio pensamento levado pelo vento, é punido, recebe na própria carne da vida a correção do Senhor Deus!
O Senhor nos conhece, mais que nós mesmos nos conhecemos,
o Senhor sabe a medida do homem, mais que os filósofos, os psicólogos, o antropólogos, os sociólogos, os teólogos...

"Porque Deus é a testemunha de seus rins", isto é, dos seus instintos, dos seus impulsos mais profundos, dessas tendências mais ancestrais,"perscruta seu coração segundo a verdade",isto é, perscruta o pensamento do homem, sua lógica, seus critérios e intenções, medindo-os não pelo que o homem pensa, não pelas opiniões da maioria, não pelo politicamente correto, não pelas taras da moda, criadas pela cegueira humana e por sua estreiteza de coração, mas medindo-os "segundo a Verdade", isto é, segundo o critério do próprio Deus, que é Amor e Verdade: Amor verdadeiro e Verdade amorosa! "E ouve o que diz a sua língua": então, o Senhor é testemunha dos nossos rins (instintos, impulsos, tendências, paixões, perscrutador do nosso coração (pensamento, raciocínio, projetos, lógica que nos move) e conhecedor das nossas palavras (aquilo que exprimimos, comunicamos, difundindo a comunhão ou a divisão, a verdade ou a mentira, o amor ou o ódio).

Bendita seja a santa Palavra do Eterno, que é luz para nossos passos nos escuros caminhos da história! "Quem Me segue, não andará nas trevas, mas terá a luz da Vida" (Jo 8,12).

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terça-feira, 14 de agosto de 2018

A propósito de Ez 1,2-28

Nesta última segunda-feira, XIX do Tempo Comum, começamos, na Missa, a escutar trechos do Profeta Ezequiel.

Ele encontrava-se em Babilônia, no Exílio, com os exilados. Era por volta do ano 592 aC. E, num êxtase, o Profeta teve uma tremenda experiência do Deus Santo de Israel. Se olharmos bem o texto (Ez 1,2-5.24-28), ele revela escondendo e diz sem dizer sobre o Deus Vivo, o Santo, o Deus de Israel.

Em todo o texto as expressões são: “algo como a forma de”, “a aparência fazia lembrar”, “semelhante a”, “se assemelhavam a”, “uma forma com a aparência de”, “algo semelhante a”... Em outras palavras: Deus é o Misterioso, o Santo! Não pode ser circunscrito, não pode ser descrito, não pode ser enquadrado! Ele é o que É, o Vivente, o “Sente”, isto é, “O que está sendo continuamente, sempre estável, sempre em movimento, sempre de novo, sempre o mesmo”!

Impressiona, no texto, as imagens ligadas ao fogo, à luz, ao brilho... Elas evocam a Glória do Senhor Deus, evocam o Seu Espírito, que é luz, vitalidade, vigor, movimento, dinamicidade, variedade, liberdade, criatividade, energia... O fogo ilumina, purifica, devora, transfigura, impregna, incandesce... O Fogo de Deus é o Seu Espírito: Ele é Presença de Deus, Potência de Deus, Energia de Deus, Glória de Deus, Dinamismo de Deus, Vitalidade de Deus, Misteriosidade de Deus!

Impressiona ainda, na perícope, que esse Deus tão misterioso e imenso tenha “uma forma com aparência humana” (v.26). Ele não é humano, Ele não tem forma, Ele não pode ser visto, descrito, circunscrito e, no entanto, no meio do Fogo, todo de Fogo, deixa-Se entrever numa forma de fogo como que numa aparência humana... Santo Irineu diria, no século II, que era já o Verbo “acostumando-Se” a caminhar com o homem e “acostumando” o homem a receber Deus!

Deus tão imenso, Deus tão próximo,
Deus tão compreensível, Deus tão incompreensível!

Mas, onde se deu tal visão?
Resposta surpreendente: no Exílio, em Babilônia, longe do Templo, longe de Jerusalém, distante da Terra Santa!

Que coisa!
O Deus de Israel não é o Deus da Terra Santa! Não é o Deus de Jerusalém! Não é o Deus do Templo!

A Terra Santa é de Deus; e só é “santa” porque é de Deus;
mas Deus não é o Deus da Terra Santa! Ela não pode retê-Lo!
Jerusalém é de Deus; e é Cidade Santa da Antiga Aliança, porque ali reside o Nome do Eterno!
Mas, o Eterno não é de Jerusalém, não é o Deus de Jerusalém, não pode ser aprisionado nos muros da Cidade!
O Templo é de Deus: ali Ele repousa os Seus pés, ali habita o Seu Nome...
Mas, Ele mesmo, não está preso ao Templo, não precisa do Templo, não Se limita a ele...

Assim, Deus aparece no Exílio!
Deus exilado com o Seu Povo!
Deus que padece com o Seu Povo padecente!
Deus solidário, Deus próximo, Deus providente!

E, no entanto, Israel não pode dominá-Lo, não consegue engaiolá-Lo, não poderá nunca manipulá-Lo, barganhar com Ele, usá-Lo para sua própria satisfação!

Eis o Deus de Israel, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!
Eis o nosso Deus:
Em Jesus nosso Senhor, Ele veio, Ele Se deu todo, Ele revelou Seu Nome de Abbá, Ele Se fez ternura, proximidade, misericórdia, ternura, compaixão, piedade,
mas permanece misterioso, inapreensível, indisponível para quaisquer manipulações!

A Ele somente se pode acolher, não reter;
A Ele somente se pode admirar, não compreender;
Por Ele somente se pode deixar-se envolver, não abraça-Lo;
Dele somente se pode intuir, não esquadrinhar!

Ele É!
O Santo!

Bendito seja o Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
assim como era no princípio, agora e sempre
e por todos os séculos dos séculos.

E a Igreja, admirada e exultante, diga: Amém!


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sábado, 11 de agosto de 2018

Homilia para o XIX Domingo Comum - ano b

1Rs 19,4-8
Sl 33
Ef 4,30 – 5,2
Jo 6,41-51

A Liturgia da Palavra deste Domingo ainda está ligada ao Evangelho da multiplicação dos pães. Jesus reclama porque os judeus não quiseram compreender o sinal da multiplicação. Claramente, Ele afirma: “Eu sou o pão que desceu do Céu! Quem dele comer, nunca morrerá!”Eis aqui a grande revelação do Senhor! Os judeus só conseguem ver a superfície, somente compreendem que Ele é o filho de José; não percebem, não creem que Ele vem do Pai, como alimento de nossa existência: Ele é o sustento, o alimento da nossa vida.
Afinal, que é viver? Será simplesmente existir, respirar, sobreviver, de qualquer modo, sem rumo, sem sentido, sem uma finalidade para a existência? Que vida seria essa? Não uma existência assim, miserável, que vemos tantos e tantos hoje vivendo!
Pois bem, Jesus afirma que Ele dá o sustento verdadeiro à nossa vida;
com Ele, a vida tem sentido, tem rumo, tem razão de ser;
com Ele, descobriremos porque vivemos, descobrimos de onde vimos e para onde vamos, descobrimos que somos amados e somos fruto de um sonho de amor;
com Ele, finalmente, temos a paz!
“Eu sou o pão da vossa vida! Precisais mais de Mim que vosso corpo do pão de cada dia. Quem come desse pão que sou Eu, isto é, quem se alimenta de Meu amor, de Minhas palavras, de Meu caminho, nunca viverá uma vida de mentira, de ilusão, de morte; antes, viverá de verdade!

Para ilustrar isso, basta pensarmos na situação de Elias, na primeira leitura de hoje.
Ele havia matado os profetas de Baal no monte Carmelo. Jezabel, a rainha idólatra, tinha prometido vingança e queria matá-lo. O profeta sentiu medo e fugiu, procurando esconder-se no deserto do Sinai para encontrar inspiração e consolo no monte Horeb (outro nome para o monte Sinai), o Monte de Deus. E lá vai Elias... Mas, o caminho longo, os dias quentes do deserto, a solidão, a tensão da fuga, tudo isso trouxe desânimo e depressão ao profeta. A vida lhe pareceu dura, amarga, sem sentido. Cansado, ele se rendeu e pediu a morte: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais...Sou igual a todo mundo, não sou a palmatória do mundo... Cansei! Quero morrer!”
Quantas vezes somos como Elias, quantas vezes a existência nos pesa, o sentido da vida parece se nos esconder, quantas vezes parece que apenas sobrevivemos, mas não temos ideia de para onde vai o caminho... O desengano do profeta é tão profundo que ele, deprimido, caiu no sono. E o Senhor enviou-lhe um anjo: “’Levanta-te e come!’ E ele viu junto à sua cabeça um pão assado... ‘Ainda tens um longo caminho a percorrer’. Elias levantou-se, comeu e bebeu e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus”.
Caríssimos, também nós estamos a caminho, também nós precisamos de um pão como o de Elias. Esse pão o Senhor nos dá, esse pão é o próprio Cristo, que hoje nos diz: “Eu sou o pão da vossa vida!” Infelizmente para nós, caríssimos, nos iludimos, procurando saciar nossa fome de vida com coisas que não alimentam o coração. É aquela antiga queixa de Deus, pela boca do profeta Isaías: “Ah! Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite. Por que gastais dinheiro com aquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho com aquilo que não pode satisfazer? Ouvi-Me com toda atenção e comei o que é bom. Escutai e vinde a Mim, ouvi-Me e havereis de viver!” (Is 55,1-3).

Mas, o Senhor é bondoso e Sua misericórdia é sem limites! Quem pode pôr medida à Sua bondade? Ele não somente é pão e sustento de nossa vida de modo figurado. Para surpresa nossa, para escândalo do mundo – e até de tantos cristãos que estão separados da comunhão visível com a Igreja de Cristo – o Senhor revela: “O pão que Eu darei é a Minha Carne para a vida do mundo!”
É demais, caríssimos! É surpreendente, é inesperado! Aqui, o Senhor está falando claramente da Eucaristia: “Eu sou o pão da vossa vida, eu vos alimento de Vida e de sentido de viver; e Eu fico entre vós, fico convosco, alimento-vos de um modo que não esperáveis: Minha união convosco é total, absoluta: Eu vos dou verdadeiramente Minha carne, Meu corpo morto e ressuscitado, como Vida da vossa vida!”

Meus irmãos, não pode haver maior dom, maior intimidade, mais revigorante alimento! Os judeus murmuravam, cristãos de várias denominações murmuram, mas Cristo nosso Deus, que tem palavras de Vida eterna e para quem nada é impossível, nos garante: “O pão que Eu darei é a Minha Carne para a Vida do mundo!”
Caríssimos, estejamos atentos para nos aproximar frequentemente desse alimento de Vida eterna; com frequência e com dignidade. Privar-se da comunhão eucarística quando se poderia comungar é fazer pouco caso do dom do Senhor, é ser autossuficiente, é não reconhecer que somente Jesus nos alimenta e nos sustém com a Sua graça. Não cuidar de comungar é um orgulho que nos coloca debaixo da terrível sentença do nosso Salvador: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes do Seu sangue, não tereis a Vida em vós!” (Jo 6,53). Por outro lado, aproximar-se do Corpo do Senhor sem se examinar; comungar sem estar em comunhão com o Senhor e com os irmãos é mentir contra a Eucaristia, é comer e beber a própria condenação!
Comunguemos sempre, caríssimos; mas, comunguemos estando preparados, conforme a santa Palavra de Deus nos exorta! Recordemos a grave palavra do Apóstolo: “Que cada um se examine a si mesmo antes de comer desse Pão e beber desse Cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o corpo come e bebe a própria condenação” (1Cor 11,28s).

Meus caros, a Eucaristia, comunhão no santíssimo Corpo do Senhor, não somente é alimento para o nosso caminho, não somente á sustento da nossa vida, não somente é penhor de Vida eterna, como também nos dá a graça do Santo Espírito, que nos faz ser um só corpo em Cristo. Eis, que mistério tão profundo: comungando do Corpo do Senhor na Eucaristia, nós nos tornamos cada vez mais unidos no corpo do Senhor, que é a Igreja! Comunguemos, pois, e teremos força para viver o belo caminho que a segunda leitura deste hoje nos aponta: “Vivei no amor,como Cristo nos amou e Se entregou a Si mesmoa Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”.Eis aqui: a nossa participação no Sacrifício eucarístico de Cristo, a nossa comunhão no Seu Corpo sacrificado e entregue amorosamente, devem nos levar a um novo modo de viver, um modo que consiste na docilidade ao Espírito do Senhor morto e ressuscitado, que significa comunhão com Deus e com os irmãos: “Sede bons uns para com os outros, sede compassivos; perdoai-vos mutuamente, como Deus vos perdoou por meio de Cristo”.

Portanto, seja Cristo, que Se oferece por nós em sacrifício e Se dá a nós em comunhão, o pão, o sustento, o sentido da nossa vida, para podermos caminhar, entre as lutas, desafios e cansaços desta vida, até o Monte de Deus, que é a Pátria celeste. Amém.


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Cristo, o Senhor da vida!

Não ao aborto!
Não ao assassinato de crianças embrionárias!

Não à confusão entre direitos humanos
e aberrantes pautas de minorias ideologicamente motivadas!
Não à ditadura de minorias raivosas e destrutivas!

Não à hipocrisia em curso na audiência abortista do STF.
Não a instituições nossas e poderes da República totalmente contaminados pela maldita pauta do politicamente correto e da ditadura laicista de uma minoria intolerante!

Não à ONU ideologicamente aparelhada!

Sim à vida em todas as suas etapas!
Sim a uma sociedade na qual os valores fundantes da nossa cultura sejam respeitados!
Sim ao diálogo aberto e respeitoso!
Sim a instituições fortes, transparentes e respeitadoras do Povo ao qual devem servir verdadeiramente!


Ó Cristo nosso Deus,
Senhor da vida,
Vencedor do pecado e da morte,
acolhe na Tua Glória
os inocentes
que foram sacrificados no altar
do maldito ídolo do
politicamente correto.
Ó Cristo Deus,
salva a nossa Pátria, socorre o Brasil!