domingo, 30 de setembro de 2018

Para recordar, em tempos de escolher candidatos

A primeira dentre todas as liberdades é a liberdade religiosa;
o ato mais fundamental do ser humano é a fé em Deus e a liberdade de professar essa fé publicamente, sem ser ridicularizado, coibido ou perseguido moral ou fisicamente.

É necessário que se compreenda que o valor incomensurável que é a liberdade religiosa não deve ser confundido com a privatização da fé e da religião; em outras palavras: a verdadeira liberdade religiosa se dá quando as pessoas têm direito de externar sua fé e trazer seus valores religiosos para, com eles, participar na edificação de uma sociedade plural e aberta para a Transcendência. 


A experiência religiosa é um valor imprescindível para a humanidade e a religião, como tal, pode e deve influenciar a consciência e o comportamento social, deve forjar um modo de ver o mundo e a vida, deve plasmar um jeito de encarar os problemas, realizar as escolhas e afrontar os desafios.

É verdade que a religião não pode nem deve impor, mas pode e deve propor, insistir, recordar valores, exigências éticas, critérios morais. Sem isso, é a barbárie! Sem Deus, o humanismo é capenga, falso, simples e pura ideologia! Não resiste muito uma afirmação da dignidade do homem que não se funde na consciência do seu ser-amado-por-Deus.

Temos, atualmente, no Brasil, uma tremenda batalha cultural. Ela é urgente, próxima de nós, às portas de nossas casas e extremamente violenta: deseja arrancar os pilares cristãos de nossa sociedade, deseja negar e reinterpretar de modo falso e parcial a nossa história. Este tema não pode ficar de fora destas eleições. Agora, é uma dos mais urgentes!

Família, vida, aborto, sexualidade,
liberdade de expressar sua fé versus agressão à fé e aos símbolos e valores dos demais,
escola como espaço de liberdade versus escola como lugar de lavagem cerebral ideologicamente direcionada,
verdadeira liberdade versus ditadura do politicamente correto...

Eis alguns dos verdadeiros temas desta eleição.
Estejamos atentos! Não sejamos inocentes úteis! Não sejamos tolos!
Atentos à agenda dos candidatos seja a que cargo for! Não dá mais para se fazer de inocente útil! A verdade é que, pouco a pouco, estão desconstruindo a nossa cultura cristã! Basta!


sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Homilia para o XXVI Domingo Comum - ano b

Nm 11,25-29
Sl 18
Tg 5,1-6
Mc 9,38-43.45.47-48

Tomemos o Evangelho deste hoje. Três coisas nos diz, três exortações nos faz.

A primeira delas é uma exortação à tolerância, a não querermos manipular Deus ou cair na ilusão de que O temos como uma propriedade, um monopólio. Eis: “João disse a Jesus: ‘Mestre, vimos um homem expulsar demônios em Teu Nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue’. Jesus disse: ‘Não o proibais. Quem não é contra nós é a nosso favor’”.
Vede, caríssimos, o Senhor nos convida a uma atitude de abertura, nos exorta a reconhecer o bem naqueles que não são dos nossos, que não estão na plena comunhão com a Sua Igreja católica. Não se trata de relativismo, não se trata de afirmar que todas as religiões são iguais nem que todas as denominações cristãs são legítimas. Nada disso! Trata-se de reconhecer o que de bom, pela graça de Deus, há nos outros.
Por exemplo: como não reconhecer que nossos irmãos protestantes, ainda que não estejam na plena comunhão com a Igreja de Cristo e tenham erros sérios de doutrina, amam sinceramente a Jesus? Como não nos alegrar pelo bem que vários deles fazem, pela proclamação de Jesus que testemunham, pelos dons e carismas que há entre eles? Ainda que fora da comunhão plena com a Igreja que o Senhor Jesus fundou e entregou a Pedro e aos Doze, eles são nossos irmãos verdadeiramente pela fé e o Batismo.
Outro exemplo: Como não nos alegrar porque tantos judeus procuram ser sinceramente fiéis ao Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó e, de todo o coração, procuram viver os preceitos da Lei e esperam o Messias? Ou ainda, como não reconhecer que é um bem que os muçulmanos adorem um só Deus e respeitem o Nome santíssimo de Jesus como de um profeta? Ou então, como não admirar sinceramente a idéia de compaixão que existe entre os budistas? E assim por diante... 
Também aí, em todas essas religiões, há elementos de verdade, mesmo que misturados a tantos erros de doutrina ou de prática... Mas, pelos acertos, pelo bem, pelos elementos de verdade, bendito seja Deus!
E, precisamente aqui, o Senhor nos convida ao respeito pelos outros, pelos que pensam e vivem e creem de maneira diferente da nossa... Também entre esses há bons sentimentos, há retidão de consciência, há bondade. Não reconhecer isso seria pecado de nossa parte! “E quem vos der a beber um copo de água porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. Vede, também o bem que fizerem, ainda que não sejam dos nossos, será recompensado pelo Senhor!

Meus caros, nossa primeira tendência é refutar quem não pensa como nós, é rechaçar o diferente, procurar logo os defeitos e condenar; nossa tentação é a dureza, a intransigência, a rejeição. Recordai a mesma atitude fechada de Josué, na primeira leitura. É zelo, mas zelo desorientado; é amor, mas amor que precisa ser evangelizado! Vede que o Senhor claramente nos convida a uma outra atitude. Repito: nada de relativismo, nada de nivelar as religiões com a fé católica, recebida dos apóstolos. Mas também nada de prepotência, orgulho ou intransigência mesquinha. Acolhamos a todos, a todos respeitemos, com todos procuremos a paz na verdade, sobretudo com aqueles que, sem ser dos nossos, adoram conosco o nosso Cristo Jesus como Deus e Salvador.

Uma segunda exortação do Senhor: o cuidado com os pequenos, os fracos na fé, os imaturos que estão na nossa comunidade: “Se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem , melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada  ao pescoço”.
Não basta ser tolerante com os de fora; é necessário mais ainda ser cuidadoso com os de nossa comunidade, de nossa paróquia, os nossos irmãos, filhos da mesma Mãe católica. Quantas vezes uma palavra dura, um mau exemplo, uma atitude de fechamento, podem fazer esfriar a fé do irmão que é fraco. Eis: é o escândalo, isto é, é se tornar causa de tropeço e de queda para os outros. Deus nos livre, caríssimos, de servir a Deus passando por cima dos outros! Deus nos defenda de uma santidade que não cuide do bem e da fé dos irmãos! Deus nos guarde de um cristianismo sem amor! Eis aqui: com os de fora, tolerância e respeito; com os de dentro, amor e cuidado fraterno! Quanta vezes somos tolerantes com os de fora e fustigamos com uma tremenda falta de caridade os de dentro!

É impressionante o quanto Jesus nos faz responsáveis uns pelos outros, o quanto pedirá contas da fé e da perseverança do nosso irmão! Ai de nós se escandalizarmos, ai de nós se desprezarmos, ai de nós se formos motivo de queda para os outros! – Senhor, tem piedade de nós, que somos fracos! Tem compaixão de nós, pois tantas vezes, sem querer, escandalizamos, sem perceber, fazemos os outros sofrerem!
Recordai, caríssimos da súplica do Salmo de hoje: “Quem pode perceber suas faltas? Perdoai as que não vejo! E preservai o Vosso servo do orgulho: não domine sobre mim!” Não aconteça que fiquemos sem ter o que responder quando o Senhor, no Dia final, nos perguntar como a Caim: “Onde está o teu irmão?”Cuidemos, caríssimos, uns dos outros e, na medida de nossa humana limitação, sejamos solícitos pelo bem de nossos irmãos!

Por último, uma gravíssima exortação do nosso Salvador: tudo quanto nos escandalizar, isto é, tudo quanto nos atrapalhar na vida cristã, tudo quanto nos fizer tropeçar, devemos ter a coragem de arrancar de nossa vida: “Corta-o! Arranca-o!”
Caro meu, o que te faz tropeçar no caminho do Senhor? Tens combatido, tens afastado, tens lutado contra esses empecilhos? Se combatermos nossos pedaços ruins, nossas más tendências, nossos vícios, saibamos que o Senhor não nos abandonará e estaremos caminhando para Ele. Mas, ao contrário, se descansarmos preguiçosamente no mal, então nosso coração irá sendo endurecido e afastado do Senhor, iremos nos enchendo de nós mesmos e nos esvaziando de Deus, ao ponto de termos de escutar a reprimenda duríssima de São Tiago, na segunda leitura: “Agora, ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós!” O Apóstolo convida-nos à retidão, à justiça, à uma vida segundo a verdade de Cristo! Ricos de pecados, ricos de uma vida soberba, ricos para si mesmos e não para Deus – se assim formos, morreremos para Cristo!

Eis, pois! Guardemos no coração estas advertências do nosso Salvador e vivamos uma vida nova, segunda a Sua santa vontade. Amém!


quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A propósito das eleições

Estamos novamente em período eleitoral. Elegeremos deputados estaduais, governadores, deputados federais, senadores e presidente da República.

Voltam os ingredientes de sempre para este tempo:
as promessas dos candidatos, as esperanças de mudança, as acusações, as compras de votos, os pactos eleitorais muitas vezes incompreensíveis, a demagogia, a mentira, o terrorismo eleitoral, o clima meio policial criado por uma lei eleitoral que trata o povo como bando de tolos com necessidade de tutela: "não pode isso, não pode aquilo"...

Mas, o que importa mesmo, o que deveria estar presente na consciência dos eleitores são algumas poucas e simples ideias. Ei-las, algumas, a seguir.

1. As eleições são parte importante da formação da nossa jovem democracia. Votando, aprende-se a participar, toma-se consciência de que o poder pertence originariamente ao povo e é este quem escolhe a quem confiá-lo. Os governantes são representantes da vontade do povo e a ele devem servir.

2. O período eleitoral deve ser ocasião para examinar com seriedade o caminho político dos candidatos. Distinguindo-se cuidadosamente os verdadeiros dos falsos argumentos da campanha, é necessário analisar atentamente a personalidade e o histórico de cada um dos que pleiteiam ser eleitos. Atenção que é importante para a democracia não somente votar, mas avaliar o que foi feito com o voto que se deu: foi ele honrado ou não no exercício do mandato anterior que tal político exerceu? Qual o histórico político do seu candidato: cesteiro que faz um cesto, faz um cento!

3. O eleitor deve votar pensando no bem comum, ou seja, nos grandes projetos para o bem da maioria. Seria imoral um voto dado pensando somente no próprio benefício! É preciso saber conjugar os legítimos interesses de cada um com o bem da sociedade em geral. No caso de um cristão, este nunca deve votar em quem defende valores contrários à fé: aborto, sexo "livre", dissolução da família, ideologia de gênero, artistas com shows imorais e que denigrem a fé, educação sexual aberrante nas escolas, laicismo, etc. A guerra contra o cristianismo é clara, pesada e metódica. Não dá para brincar com isto! Não vote em quem aprovou e defendeu leis contrárias aos valores cristãos! Não deixe que o cristianismo seja destruído em nosso País! Não vote, de modo algum, em quem é favorável ao aborto!

4. Os candidatos dignos do nosso voto devem ter preocupações com políticas públicas: saúde, educação, segurança pública e infraestrutura para o País. As promessas feitas pelos candidatos devem passar pelo crivo do realismo: donde virão os recursos para se cumprir o que se está prometendo? É uma promessas factível ou demagógica?

5. Deve-se prestar muita atenção no quesito corrupção, que tem causado enormes danos econômicos, morais e institucionais ao Brasil. Hoje, nosso País é uma nação desmoralizada pela praga da corrupção. A Lava Jato foi e é um bem enorme para o País; no entanto, muitos nela implicados são candidatos e muitos serão eleitos, constituindo uma tremenda desmoralização do próprio povo e para o próprio povo! Que vergonha para os brasileiros! Qual o futuro de um povo que escolhe ser governado e representado por ladrões? Que honra tem um povo assim? Merece ser roubado e espoliado, merece descambar para o atraso, o clientelismo e, por fim, para um regime ditatorial!

6. Nunca se deve trocar voto por benefícios particulares. Isto seria uma indigna compra de votos! Para o cidadão é imoral, para o eleitor é crime, para o cristão é pecado.

7. Nunca se deveria pensar que político algum presta. Há políticos melhores e piores. Nenhum político e perfeito; nenhum candidato é isento de defeitos; nenhum programa de governo é ideal! Mas, há melhores e piores! Devemos escolher os melhores com consciência, responsabilidade, reflexão e liberdade! No limite, escolhamos os menos ruins!

8. Finalmente: a democracia deve ser construída passo a passo pela sociedade toda, de modo que os melhores sejam eleitos, as instituições sejam fortalecidas, todos tenham oportunidades na vida, os culpados sejam punidos, o cidadão tenha seus direitos respeitados, a corrupção seja coibida e o País seja a pátria de todos.

Uma coisa é certa: será o povo a decidir quem o governará. O povo quer dizer nós, eu e você. Mais que Lei da Ficha Limpa, mais que a dureza quase ditatorial da lei eleitoral e os mil modos de se tentar proteger e tutelar os eleitores, é o povo quem decidirá, quem aprovará ou reprovará os pleiteantes, de modo que teremos os governantes que escolhermos e, portanto, que merecermos.
Eis a dura realidade da grande responsabilidade que nos será confiada no pleito que se aproxima!
Pense bem: na próxima eleição daremos mais um passo na construção ou destruição da nossa Pátria!
Seja cidadão, seja responsável, vote de modo decente!



Observação:
Se alguém desejar transcrever este texto, transcreva-o todo, sem instrumentalizá-lo, recortando-o. E cite a fonte, para que os leitores possam verificar a fidelidade ao que escrevi.

sábado, 22 de setembro de 2018

Homilia para o XXV Domingo Comum - ano b

Sb 2,2.17-20
Sl 53
Tg 3,16 - 4,3
Mc 9,30-37

No domingo passado – deveis recordar - Jesus anunciou aos Seus discípulos que Ele era um Messias não de glória, mas de humildade e serviço até à morte de Cruz. Ao final, triunfaria pela Ressurreição. Pedro havia se escandalizado com tais palavras. Hoje, Jesus continua Sua pregação.
Ele ensinava a sós a Seus discípulos: “’O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens e eles O matarão. Mas, três dias após, Ele ressuscitará’. Os discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar”.

Vede, caríssimos, é a mesma atitude da semana passada.
O ensinamento do Senhor tem como seu centro o Reino de Deus que viria pela Sua Cruz e Ressurreição.
Entrar no Reino é tomar com Jesus a Cruz e com Ele chegar à Glória!
Estejamos atentos: este não é apenas mais um dos muitos ensinamentos de Cristo; este é o ensinamento por excelência, a mensagem central que o Senhor veio nos revelar e mostrar com Sua palavra, Suas atitudes e Sua própria vida, Sua existência entre nós.
Repito: eis o que Jesus ensina: que o caminho do Reino passa pela Cruz, passa pela Morte e chega à plenitude da Vida na Ressurreição.
Observai que Ele ensina isso de modo insistente e prepara particularmente os discípulos para esse caminho... E, no entanto, os discípulos não compreendem a linguagem de Jesus, não compreendem Sua missão, Seu caminho! Esperavam um messias glorioso, cheio de poder, que resolvesse todos os problemas e reafirmasse orgulhosamente a glória terrena de Israel... Um messias na linha da teologia da prosperidade de tantos pregadores de televisão. Nada mais distante de Cristo que esse tipo de coisa!
Observai que, enquanto Jesus caminha adiante ensinando isso, os discípulos, seguindo-o com os pés, próximos fisicamente, estão com o coração muito longe do Senhor. No caminho, vão discutindo sobre quem deles era o maior! Jesus fala da humilhação e do serviço até à Cruz; Seus discípulos, nós, falamos de quem é o primeiro, o maior... Que perigo, caríssimos, pensarmos que somos cristãos, que seguimos Jesus, e estarmos com o coração bem longe do Mestre amado!

Temos nós essa tentação também? Certamente! A linguagem da Cruz continua difícil, dura, inaceitável para nós. É claro que não teoricamente: persignamos-nos com a cruz, beijamos a cruz, trazemo-la pendurada ao pescoço, veneramos a cruz... Mas, o caminho da Cruz se faz na vida, não na teoria!
Essa bendita Cruz de Cristo está presente nas dificuldades, no convite à renúncia de nossa vontade para fazer a vontade do Senhor, na aceitação dos caminhos de Deus, na doença e na morte, nas perdas que a vida nos apresenta, nos momentos de escuridão, de silêncio do coração e de aparente ausência de Deus... Todas essas coisas nos põem à prova, como o justo provado da primeira leitura deste hoje. É a vida, são os acontecimentos, são os outros que nos provam: “Armemos ciladas aos justos... Vamos pô-lo à prova para ver sua serenidade e provar a sua paciência; vamos condená-lo à morte vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém em seu socorro”. Jesus é o Justo, o Santo, perseguido: passou por esse caminho, fez essa experiência em total obediência à vontade do Pai. E nos convida a segui-Lo no hoje, no aqui da nossa vida. Nossa tentação é a dos primeiros discípulos: um cristianismo fácil, de acordo com a mentalidade do mundo atual; um cristianismo a baixo preço – isso: que não custe o preço da Cruz! Se assim for, como estaremos longe de Jesus, como não O conheceremos! Ele nos dirá: “Apartai-vos de Mim! Não vos conheço!” (Mt 7,23).

Caros irmãos, ouvindo isso, talvez digamos: mas, como suportar a dureza da Cruz? Como amá-la? Não é possível! É que ninguém pode amar a Cruz pela própria cruz, caríssimos. Cristo amou Sua Cruz e a abraçou por amor total e absoluto ao Pai, por fidelidade ao Pai. Nós, também, somente poderemos compreender a linguagem da Cruz e somente não nos escandalizaremos com ela se for por um amor apaixonado pelo Senhor Jesus, para segui-Lo em Seu caminho, para estarmos em união com Ele. Eis, portanto: é o amor ao Senhor que torna a Cruz aceitável e até desejável! Sem o amor ao Senhor, a Cruz é destrutiva, é louca, e desumana! Com Jesus e por causa de Jesus, a Cruz é árvore bendita de libertação e de Vida eterna. É o amor a Jesus que torna doce o que é amargo neste vida!

O problema é que precisamos redescobrir a experiência tão bela e doce de amar Jesus. Não se pode ser cristão sem paixão pelo Senhor, sem um amor sincero entranhado para com Ele!
Como se consegue isso? Estando com Ele na oração, aprendendo a contemplá-Lo no Evangelho, alimentando durante o dia, dia todo, Sua lembrança bendita, procurando a Sua graça nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia, lutando pacientemente para vencer os vícios e colocar a vida, os sentimentos, os instintos e a vontade em sintonia com a vontade do Senhor Jesus... Sem esses exercícios não há amor, sem amor não há como compreender a linguagem da Cruz e sem tomar a Cruz com e por Jesus não há a mínima possibilidade de ser cristão! Quando vier a crise, largaremos tudo, trairemos o Senhor e terminaremos por fazer do nosso jeito, salvando a pele e fugiremos covardemente da Cruz...

Então - pode ser que perguntemos – por que o Senhor quer nos fazer passar pela Cruz?
Por que escolheu e determinou um caminho tão difícil?
Eis a resposta: porque somos egoístas, imaturos, quebrados interiormente! O pecado nos desfigurou profundamente! São Tiago traça um perfil muito realista e muito feio da nossa realidade: guerras interiores, paixões, disputas, autoafirmação doentia, desordens e toda espécie de obras más... Quem tiver a coragem de entrar em si mesmo, quem for maduro para se olhar de frente verá em si todas essas tendências. Quantas vontades, quantas guerras interiores! Ora, isso tudo nos fecha para Deus, nos joga na idolatria do ter, do poder, do prazer, da autossuficiência de pensar que somos deuses...
É a Cruz do Senhor quem nos purifica, nos corrige e nos liberta de verdade. Não há outro modo, não há outro caminho. Somente sentimentos, risos, cantorias e boa vontade não nos construiriam, não nos colocariam de verdade em comunhão com o Senhor no Seu caminho. O mistério do pecado é sério demais, profundo demais para ser tratado com leviandade... “Quem quiser seu Meu discípulo tome a Sua Cruz e siga-Me” – diz o Senhor!

Caríssimos, tenhamos coragem! Na docilidade ao Espírito Santo que o Senhor nos concedeu, teremos tal união com o Senhor Jesus, que tudo poderemos e suportaremos. Foi esse o caminho dos santos de Deus de todos os tempos; é esse o caminho que agora nos cabe caminhar... Que o Senhor no-lo conceda por Sua graça, Ele que é Deus com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Continuando o XXIV Domingo:

Para não ser proibido,
severamente,
de falar do Messias
é preciso aprender,
severamente!

"E começou a ensinar-lhes".
Para poderem falar Dele.

O quê?
Qual o ensino?
"O Filho do Homem deve sofrer muito,
ser rejeitado,
ser morto
e ressuscitar".

Eis o ensino!
Impressionante.
Desconcertante,
"Severamente".

"O Senhor abriu-Me os ouvidos,
Eu não fui rebelde,
não recuei:
não ocultei o rosto às injúrias e aos escarros.
O Senhor Deus virá em Meu socorro!"

Só depois de aprender isto,
de colocar isto no coração,
de aceitar isto,
de vê-Lo na Cruz,
na Paixão,
na Morte,
Ressuscitado,
de corpo glorioso
e chagas abertas para sempre,
poderão falar Dele,
do Messias,
o Verdadeiro!

Não o curandeiro,
não o milagreiro,
o que, simplesmente, resolve
nossos mil problemas.

Ele, o Messias,
o do Pai,
o que pelo Amor e no Amor
entrega toda a vida!

"E vós, perguntou Ele, quem dizeis que Eu sou?"



quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Ainda sobre a Palavra deste XXIV Domingo:

Pedro rápido, imediato na resposta,
certeiro, preciso:
"Tu és o Cristo!"
O Messias de Deus,
prometido,
anunciado,
esperado,
apontado,
agora, chegado!
Tu és o Salvador do mundo,
o Redentor da humanidade,
o Revelador do Pai,
o abraço de Deus,
o Amém,
o Sim,
o Cumprimento que supera toda promessa.
"Tu és o Cristo!" Mas, Pedro sabia o que isto significava?
Tantos dizem que Ele é o Cristo,
mas não sabem o conteúdo disto!
Por isso, silêncio!
Calados!
"Então proibiu-os severamente
severamente!
severamente!
severamente!
de falar a alguém a Seu respeito!"
Nada de falar Dele,
se não sabe o que Ele é,
Quem Ele é,
que tipo de Messias Ele é!
Silêncio!
Nada de améns, aleluias,
glorias a Deus!
Silêncio!
Nada de promessas vãs:
sucesso,
bens materiais,
empregos,
problemas resolvidos,
curas por atacado!
Silêncio!
Severamente!
Não sabeis o que é Messias!
Não sabeis o que dizeis!
Silêncio! Severamente!
Severamente!
Severamente!
Mente...
Messias!
Que Messias?
Qual Messias?
Que tipo de Messias?
Silêncio,
se não sabeis a resposta1
Silêncio!
Silêncio!
Cuidado com os falsos messias!
Messiânicos...


Sobre a Palavra santa deste XXIV Domingo

Depois da pergunta,
A Pergunta,
fundamental, inapelável, decisiva:
"E vós, quem dizeis que Eu sou?"
é pergunta para mim,
para você,
para cada discípulo,
para todo discípulo.
E não tem como calar,
como não responder.
Não responder é dar a pior resposta,
a pior de todas:
dos covardes, que pensam poder sair de fininho...
E a resposta compromete,
porque só pode ser dada com a vida:
não é teórica, não é abstrata:
com a vida, com o modo de proceder
em relação ao Senhor e em relação aos próximos.
São Tiago falou disto na leitura de hoje:
fé sem obras,
amor sem vértebras:
inútil, à toa, inexistente.
Então:
"E vós, quem dizeis
e tu, quem dizes
que Eu sou?"
Cuidado com a resposta!
"Eu sou!"


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Sobre hoje, na Liturgia da Palavra - XXIV Domingo

Jesus no caminho:
Ele, na frente, adiante,
sempre;
os discípulos, atrás, seguindo-O.

No caminho,
uma pergunta:
"Quem dizem os homens que Eu sou?"

Quais as opiniões,
as apostas,
os titubeios,
as apalpadelas?

Judeus,
muçulmanos, hinduístas, budistas,
historiadores,
psicanalistas,
sociólogos,
filósofos da religião,
filósofos de quaisquer coisas,
de quaisquer escolas...

O que dizem Dele?

Aí vêm, aos montes, as opiniões:
unilaterais,
incompletas,
insuficientes,
erradas,
contraditórias...

No caminho...

Alguém é capaz de dar a resposta correta,
completa,
cabal?
Levante a mão e diga!

Quem Eu sou?
EU SOU!


sábado, 15 de setembro de 2018

Homilia para o XXIV Domingo Comum - ano B

Is 50,5-9a
Sl 114
Tg 2,14-18
Mc 8,27-35


O Evangelho que acabamos de ouvir apresenta-nos, caríssimos, alguns dos aspectos mais essenciais da nossa fé cristã, aspectos que jamais poderemos esquecer se quisermos ser realmente fieis a Nosso Senhor. Vejamo-los um a um:

Primeiro. A pergunta de Jesus: “Quem dizem os homens que Eu sou?”
Notem que as respostas são muitas: umas erradas, outras imprecisas, nenhuma satisfatória. Estejamos atentos a este fato: somente a razão humana, entregue às suas próprias forças, jamais alcançará verdadeiramente o mistério de Cristo. A verdade sobre o Senhor, Sua realidade mais profunda, Sua obra salvífica, o mistério de Sua Pessoa e de Sua missão, Sua absoluta necessidade para que o mundo encontre salvação, vida e paz somente podem ser compreendidos à luz da fé, isto é, daquela humilde atitude de abertura para o Senhor que nos vem ao encontro e nos fala. O homem fechado em si mesmo, preso no estreito orgulho da sua razão, jamais poderá de verdade penetrar no mistério de Cristo e experimentar a doçura da Sua salvação.
Quanto já se disse de Jesus; quanto se diz hoje ainda: já tentaram descrevê-Lo como um simples sábio, como um homem bom e justo, como uma espécie de pacifista, como um pregador de uma moral humanista, como um revolucionário, o primeiro comunista, como um hippie, etc.
Nós, cristãos, não devemos nos iludir nem nos deixar levar por tais visões do nosso Divino Salvador. Jesus é e será sempre aquilo que a Igreja sempre experimentou, testemunhou e ensinou sobre Ele: o Filho eterno do Pai, Deus com o Pai e como o Pai, o Messias, o único Salvador da humanidade, através de Quem e para Quem tudo foi criado no céu e na terra. Qualquer afirmação sobre Jesus que seja menos que isso, não é cristã e deve ser rejeitada claramente pelos cristãos!

Segundo. Ante as opiniões do mundo, o Senhor dirige a pergunta a nós, Seus discípulos: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”Pergunta tremenda!
Em cada geração, todos nós e cada um de nós devemos responder quem é Jesus. Não se trata de uma resposta somente teórica, teológica, digamos assim. Trata-se de uma resposta que deve ter sérias repercussões na nossa vida.
Então: quem é Jesus para mim? Que papel desempenha na minha vida? Como me relaciono com Ele? Amo-O? Procuro-O na oração, procuro de todo o meu coração viver na Sua palavra? Estou disposto a construir minha existência de acordo com a Sua verdade? Deixo-me julgar por Ele ou eu mesmo, discretamente, procuro julgá-Lo? São perguntas muito atuais, caríssimos, sobretudo hoje, quando nossa sociedade ocidental vira as costas para o Cristo, julgando-O anacrônico e ultrapassado. Agora que a nossa cultura já não considera mais Jesus como Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, mas julga que a própria razão humana, com seus humores e pretensões, é que é a Verdade e a Luz, é, mais que nunca, essencial que nós proclamemos com a vida, com a palavra e com os costumes que Jesus é realmente o nosso Senhor, o nosso critério, a nossa única Verdade!

Terceiro. Pedro respondeu quem é Jesus: “Tu és o Messias!”, isto é, “Tu és o Cristo, o Esperado de Israel, Aquele que Deus prometera aos nossos Pais!”
Recordai, meus caros, que na mesma passagem, em São Mateus, Jesus declara claramente: “Não foi carne nem sangue que te revelaram isto, mas o Meu Pai que está nos Céus” (Mt 16,15). Insisto: somente o Pai, na potência do Santo Espírito que habita em nós e na Igreja como um todo, é que pode revelar-nos quem é Jesus. A fé não é uma experiência acadêmica, não é fruto de estudos, não se resume a uma especulação teológica. Para um cristão, crer é entrar na experiência que há dois mil anos a Igreja vem fazendo na Palavra, nos sacramentos, na vida de cada dia: a experiência do Cristo Senhor, que foi morto pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa Vida e justificação. Quem se coloca fora dessa fé, da fé da Igreja, já não é realmente cristão! Aqui é muito importante compreender que a nossa fé é pessoal, mas nunca individual: cremos na fé da Igreja, cremos no Cristo da Igreja, cremos como Igreja e com a Igreja, a de hoje e dos séculos passados. Uma outra fé, um outro Cristo seriam triste ilusão!

Quarto. O Evangelho nos surpreende com uma afirmação: “Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a Seu respeito”. Por quê? Porque havia o perigo de pensar nele como um messias glorioso, um messias como os sonhos dos judeus haviam fabricado: o messias do sucesso, das curas, dos shows da fé, dos palanques políticos, etc. Jesus somente afirmará de modo público que é o Messias quando estiver preso, amarrado, diante do Sumo Sacerdote. Aí já não haverá ocasião para engano. Mas, aqui a pergunta? Também nós, muitas vezes, não temos a tentação de querer um Cristo do nosso modo, sob a nossa medida, para nosso consumo? Amamos o Cristo como Ele é ou O renegamos quando não faz como gostaríamos? Estamos realmente dispostos a ir com Ele até o fim, crendo Nele e Nele nos abandonando?

Quinto. Exatamente para deixar claro que tipo de Messias Ele é, Jesus começa a dizer “que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado; devia ser morto e ressuscitar depois de três dias. Ele dizia isso abertamente”. Eis, caríssimos, o tipo de Messias, o tipo de Salvador, o tipo de Deus que Jesus é! Será que nos interessa? Estamos nós dispostos a seguir um Mestre assim? Ele não é o cara legal, Ele não nos propõe um caminho popular, desses que os meios de comunicação e as redes sociais irão aplaudir... O caminho que o Messias enviado pelo Pai nos apresenta não é óbvio, não é assimilável pela nossa razão num nível simplesmente humano. Exige conversão!

Sexto. Não será a nossa a mesma atitude de Pedro, que repreende Jesus, que desejaria um mestre mais racional, mais palatável, menos radical, mais dentro da nossa lógica, mais compreensível ao mundo? Não é essa a maior tentação nossa: um Cristo sem cruz, um cristianismo sem renúncia, uma vida cristã que não nos custe nada, um seguimento de Cristo sem conversão?

Sétimo. A resposta de Jesus é clara, curta e dirigida perenemente a todos nós: “Se alguém Me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem quiser perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, vai salvá-la!” O caminho é este, sem máscara, sem acordos, sem jeitinhos! Nosso Senhor nunca nos enganou; sempre disse claramente quais as condições para segui-Lo... E não há como negociar esta tremenda realidade!

Caríssimos, saiamos hoje daqui com estas palavras que nos incomodam, nos provocam e nos desafiam. Que Ele nos conceda a graça de reconhecê-Lo como nosso único Salvador, de segui-Lo como nossa única Verdade e de Nele viver como nossa única Vida, Ele que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém.


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Absurdos sem limites numa sociedade que se tornou absurda

Escrevi há algum tempo... Escreveria de novo, cada palavra:

Aonde vamos? Até onde chegará a vulgaridade da nossa sociedade de consumo, que tudo consome e extingue de moral, de respeitabilidade, de senso de vergonha, de pudor, de limite que constrói e amadurece, de tudo quanto aprendemos dos nossos antepassados que era justo, reto, belo, louvável, digno?

Eis a sociedade ocidental: perdeu sua matriz geradora, a fé cristã. Foi o cristianismo a principal seiva a alimentar a consciência do Ocidente, foi a fé cristã a raiz que sustentou nossa civilização e deu-lhe em grande medida os parâmetros morais que a fez valorizar a dignidade da pessoa, o sentido da liberdade, a compaixão e a responsabilidade em favor dos mais fracos, a dignidade da mulher, o valor do corpo, etc. É esta moral que vai desaparecendo na sociedade ocidental pós-cristã, agora moribunda e irremediavelmente condenada à morte em seus valores.
Assim, tudo se pode esperar de deriva, de confusão moral, de leviandade, de inversão de valores! Pode alguém não concordar, mas afirmo: não se mantém a longo a moralidade de um povo se se elimina sua matriz religiosa. Ocidente ateu, Ocidente em franca decadência moral!

Por que escrevo isto? Pelo leilão de virgindade! Isto mesmo – e imagino que você, meu Leitor, já tenho visto a internet: um jovem russo de 23 anos e uma jovem brasileira de 20 anos estão leiloando sua virgindade. Ela quer construir casas para os pobres(!) com o dinheiro arrecadado; ele, tímido(!), heterossexual, pede que respeitem(!) sua sexualidade e os homossexuais não façam lance como candidatos a parceiros do moço virgem – até agora os maiores lances são de homens!

Que pensar de tudo isto? É condenável do ponto de vista humano, do ponto de vista cristão e de todos os pontos de vista que partam de algum critério de decência!
O nome disso? Prostituição vulgar e grosseira falta de pudor e de vergonha, falta de senso de limite e de ridículo!

Nada justifica que pessoas brinquem assim com sua sexualidade e, pior ainda, num tremendo mau exemplo, difunda sua imoralidade como algo louvável. E mais um detalhe: os familiares apoiam ou, no mínimo, respeitam! Eis aonde chegamos! Nem Roma no seu período de degradação moral pagã chegou a estes requintes!

Um outro exemplo: nesta semana, uma menina norte-americana de apenas 15 anos, foi candidamente à escola vestindo uma camisa com sugestiva inscrição: “Eu gosto de vagina”. A menina é homossexual e faz questão de propagar sua situação. A escola pediu que ela não mais vestisse aquela camisa no ambiente escolar. A reação foi decidida: a garota considerou-se tolhida no seu livre direito de expressão e acusou a escola de hipocrisia! Sua mãe, inacreditavelmente, concordou com a filha!

Basta! Não me alongarei mais! Não merece! Somente chamo atenção para a triste situação moral em que nos encontramos e da qual coisas desse tipo são sintomas. Mas, se olharmos bem, em maior ou menor escala, a mentalidade pagã e imoral (e não somente no aspecto sexual) está por toda parte, aplaudida, endossada, defendida e difundida.
Não é de se estranhar: tire Deus como absoluto; onde ancorar, como alicerçar qualquer moralidade? Se não há o Bem, a Verdade, então tudo pode ser bem – o meu bem –, tudo pode ser verdade – a minha verdade!

Como pode um cristão aplaudir um mundo assim? Pense nisto, porque tal mundo o cerca, o instiga a posicionar-se nas suas decisões, bate à porta da sua vida e não permite, na prática que você seja neutro. Não é possível ser neutro! Como você se coloca, meu Leitor amigo?
Certamente, um discípulo de Cristo não deve se amargurar, não deve ser soberbo, não deve se julgar melhor que ninguém, não deve condenar em bloco o mundo, não se arvora em juiz mesquinho, feito beata de novela, não demoniza tudo e todos. Mas, sabe distinguir o bem do mal – e seu critério é Cristo, o Filho de Deus, que a todos julgará.
O cristão não deve ter medo de dizer claramente que o mal é mal e que o bem é bem! Deve respeitar e dialogar com todos, mas deve também, serena e fortemente, lutar, combater para que a sociedade, se não consegue mais ver a Deus como inspirador de sua valoração moral, ao menos se inspire e se fundamente no que de mais nobre, sóbrio e belo a consciência humana retamente formada pode produzir.
Uma coisa é carta: uma moral e uma ideia de liberdade que tenham como centro a realização da pessoa sem limite algum, como um absoluto desvinculado de qualquer referência e compromisso com o bem, a sensibilidade e a consciência dos outros, são moral e liberdade doentias: moral imoral e liberdade escrava do próprio eu, num solipsismo insuportável, imaturo e destrutivo.
Estejamos atentos para não cair nessas loucuras nem deixar que nossa sociedade enverede ainda mais por este mau caminho em que, infelizmente, já anda metida...


sábado, 8 de setembro de 2018

Homilia para o XXIII Domingo Comum - ano B

Is 35,4-7a
Sl 145
Tg 2,1-5
Mc 7,31-37

O Evangelho deste Domingo apresenta-nos um homem surdo e gago que é colocado diante de Jesus para que Ele o cure.

Quem é o surdo-gago?
É a humanidade, enquanto fechada para o dom de Deus que Jesus nos traz.
Surda, porque incapaz de ouvir a Palavra, ouvi-la compreendendo-a, acolhendo-a no coração, deixando-a verdadeiramente impregnar toda a existência: “tem ouvido para ouvir, mas não ouve” (Jr 5,21; cf. Mt 13,14-15).
Esta é a tendência do coração humano, que a Escritura sempre denunciou: o fechamento para não acolher a proposta que Deus nos faz, de um caminho com Ele, a tendência de nos fechar em nós e viver a vida como se fosse nossa de modo absoluto: “Escutai, prestai ouvidos, não sejais orgulhosos, porque o Senhor falou!” (Jr 13,15); “Ah! Se meu povo Me escutasse, se Israel andasse em Meus caminhos... Mas Meu povo não ouviu a Minha voz, Israel não quis saber de obedecer-Me; então os entreguei ao seu coração endurecido: que sigam seus próprios caminhos!” (Sl 81/80,14.13). Assim, no fundo, é o fechamento para Deus, para um Deus verdadeiro, a resistência em realmente levar a sério o primeiro mandamento: “Ouve, ó Israel!” (Dt 6,4).

Nossa civilização ocidental, do alto da sua ilusória autossuficiência, tem sido particularmente fechada à Palavra do Senhor: construímos a sociedade e construímos nossa vida privada, nossos valores morais, nossas escolhas, do nosso modo, sem realmente ouvir a proposta e o caminho que o Senhor nos indica. Reunimos e escutamos os especialistas: economistas, antropólogos, sociólogos, sexólogos, psicólogos, cientistas da religião... mas, para nós, o Senhor não tem mais nada a dizer! Os gurus são os economistas e psicólogos, é o intelectual de moda, o sabichão de plantão, são os livros de autoajuda... Somos uma geração de surdos!

Ora, se somos surdos, também não podemos falar com clareza: nossas ideias são embotadas, nossos debates, nossas palavras, não chegam ao essencial da vida, do sentido da existência, não podemos proclamar de verdade a alegria da salvação, da plenitude de quem sabe de onde vem e para onde vai. A comunicação se torna oca, alienada e alienante; a palavra, ao invés de comunicar, serve à mentira, ao engano, à divisão, à violência. Basta observar o que os meios de comunicação veiculam, o que as redes sociais comunicam e as mentiras dos programas eleitorais! Por isso, Jesus cura primeiro a surdez e, depois, a gagueira do homem. Quando ele puder ouvir o Senhor, tornando-se discípulo pela fé, também poderá falar, proclamar a ação de Deus em Jesus: do Deus que salva e nos mostra o sentido da vida, abrindo-nos a esperança eterna!

Sigamos agora os detalhes da narração de Marcos:

(1) Trouxeram o homem surdo-gago para que Jesus o curasse. “Jesus afastou-Se com o homem para fora da multidão” – bem ao contrário dos curadores de televisão, que exploram seus “milagres” e “curas” como shows, Jesus procura evitar todo sensacionalismo: Ele quer Se encontrar realmente com aquele homem, pessoa a pessoa, coração a coração, quer que aquele homem O descubra como sua salvação;

(2) “Em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele” – o homem, sendo surdo, somente poderia compreender a linguagem dos símbolos, dos sinais; é a que Jesus empregou: toca os dedos que, para os antigos, transmitiam poder (cf. Ex 8,15) e, depois, toca sua língua com a saliva, significando o dom do Espírito que cura e liberta. Para os antigos, a saliva era o Espírito em estado líquido (a ideia é estranha, mas é preciso que nos transportemos para o modo de pensar semítico)!

(3) “Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Ephatà’”. Assim, Jesus indica que a salvação que Ele traz procede do Pai, que O enviou, é sinal do Reino do Pai, trazido pelo divino Filho na potência, na energia, na vitalidade do Espírito. Mais ainda: ao suspirar, ao gemer, Ele exprime Sua compaixão, Sua dor pela situação humana;

(4) “Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”. Somente Jesus, com o poder do Seu Espírito, pode curar o homem de seu fechamento para escutar e para proclamar. Sim, porque também nossa geração cristã é, muitíssimas vezes, além de lenta para escutar, covarde para proclamar, para professar sem medo e respeito humano nossa fé. O cristão ou é testemunha ou não é cristão: “Não podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos. Nós somos testemunhas destas coisas, nós e o Espírito Santo” (At 4,20; 5,32).

Este caminho do surdo-gago é urgente para o cristão: reaprender a escutar de verdade Jesus (crer Nele de verdade) e falar Dele ao mundo no testemunho corajoso, pois, somente assim, a humanidade atual encontrará a paz que tanto almeja.
Somente em Cristo aquilo que a primeira leitura vislumbra e anuncia de modo tão belo, pode realizar-se: “Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede! É o nosso Deus que vem; é Ele que vem para salvar!’ Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terá árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água” – Que imagens impressionantes, belas, evocativas! Quando Deus vem, quando Ele está presente, tudo é vida, tudo é plenitude, tudo canta de alegria! Não é disso que nosso mundo atual tanto precisa? Mas, o homem fechado na sua soberba – nós, fechados na nossa autossuficiência e no nosso comodismo! – jamais vai experimentar isso!

Para acolher na alegria e simplicidade, é necessário reconhecer-se necessitado, como o surdo-gago, que procurou Jesus, para que lhe impusesse as mãos: somente quem é pobre diante de Deus, quem se reconhece pequeno diante do Altíssimo, pode abrir-se para a salvação e recebê-la do Senhor! Daí a lembrete de São Tiago: “Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que O amam?” São palavras que nos incomodam e até escandalizam: Deus prefere os pobres, porque os pobres são abertos para Deus. Eles conseguem experimentar dolorosamente na carne aquilo que nós tentamos esquecer ou temos dificuldades para compreender: que somos todos pobres, necessitados, pequenos diante de Senhor Deus, único Bem e fonte de todo bem, única Riqueza e fonte de toda riqueza verdadeira! Com nossas posses, nossa ciência, nossa tecnologia e nossas seguranças, apoiamo-nos em nós mesmos, tornando-nos surdos e mudos para o Senhor!
O pobre é profético sempre, porque recorda o que nós somos e, quando descobrimos isso, podemos ser curados de nossa autossuficiência surda e libertados de nossa preguiça muda. O salmo da Missa de hoje canta exatamente esta experiência: Deus salva o pobre, o pequeno, o desvalido!

Se o pobre é sempre profeta, sempre uma palavra de Deus ao nosso lado e, mais ainda, é presença do próprio Cristo, que sendo rico Se fez pobre (cf. 2Cor 8,9) - “O que fizestes ao menor dos Meus irmãos, a Mim o fizestes” (Mt 25,40) -, então, o nosso modo de tratar o pobre, de ver o pobre, de nos aproximar do pobre – seja pessoal, seja comunitariamente – diz muito daquilo que nós e nossa Comunidade somos em relação a Deus; diz muito dos nossos critérios: se são segundo Deus ou segundo nosso coração mundano!

Que o Senhor nos cure da surdez e da gagueira; faça-nos atentos à sua Palavra e ao Seu testemunho; dê-nos olhos para reconhecê-Lo nos irmãos, sobretudo nos pobres, seja de que pobreza for!