sexta-feira, 15 de março de 2019

Retiro Quaresmal - A liberdade para a qual Cristo nos libertou

Meditação VIII - Sexta-feira da I semana da Quaresma

Reze o Salmo 118/119,57-64
Agora leia mais uma vez, com atenção, como se fosse a primeira vez, Gl 2,15-21

1. Vamos responder a algumas questões para que fiquem bem claras as ideias de São Paulo. Atenção, que não se trata aqui de um simples estudo, mas de uma leitura orante, de uma contemplação da obra salvífica de Deus em favor de mim, de você e de toda a humanidade! A finalidade deste retiro é fazer-nos rezar, é nos levar a contemplar a maravilhosa obra do amor salvador de Deus! Então:

2. Qual a vantagem de ser judeu?
Os judeus têm todas as vantagens diante de Deus: são membros do Povo amado, do Povo escolhido em Abraão, Povo que recebeu a Lei no Sinai e com o qual o Senhor Deus selou a Aliança. Basta ler estes textos: Is 44,1-5; Is 41,8-2-; Br 3,36 – 4,4; Rm 9,1-5.
Enquanto Israel conhecia o Deus verdadeiro, os pagãos, caminhavam nas trevas da idolatria. Leia Dt 4,32-40; 7,6-11; 1Cr 1626s; Sl 113B/115.

2. A que Lei o judeu estava submetido?
Desde a Aliança no Sinai, o Povo de Israel estava submetido à Lei de Moisés, à Torá, com seus preceitos e suas normas. Da obediência a esta santíssima Lei de Deus e suas obras dependeria a vida e a morte de Israel. Leia Dt 5,32 – 6,9; Ex 24,1-18; Dt 30,15-20.
Nunca esqueça: a Lei que o Senhor Deus dera ao Seu Povo é santa e é boa! Israel nela encontrou sempre o caminho, a força, a inspiração para viver com o seu Deus. Mas, esta Lei é toda baseada, estruturada em preceitos; preceitos e normas que o Povo de Deus violou muitas vezes. Para completar, os rabinos acrescentaram ainda mais preceitos e fardos à Lei originária dada por Moisés. Se fosse olhar a prática de Lei, Israel estaria sujeito à condenação e não à vida!

3. A que Lei o gentio, isto é, o não-judeu, estava submetido?
Também os pagãos, os não-judeus tinham uma lei. Não uma lei escrita e dada explicitamente por Deus, como Israel! Era uma lei de outra natureza: a lei que Deus inscrevera no íntimo da consciência, no coração de todo homem que vem a este mundo. Esta lei dá ao homem de boa vontade uma noção de que existe um Deus bom, que criou tudo com bondade e sabedoria; essa lei nos impele a fazer o bem e evitar o mal, nos convida a sermos bons, retos, solidários. Por exemplo: fazer o bem e evitar o mal; não fazer aos outros o que não quer que nos seja feito, proteger os fracos, buscar a justiça e a verdade, são preceitos colocados por Deus no íntimo de todo ser humano que vem a este mundo... Leia Sb 13,1-9; Eclo 17,1-14.

4. Por que judeus e gentios não se salvam, não são justificados diante do Senhor Deus simplesmente pelas leis a que estão submetidos?
Os judeus falharam no cumprimento da Lei do Senhor: conhecendo o Senhor Deus, tantas vezes caíram na infidelidade, na injustiça, na imoralidade, na ganância, num culto somente exterior, na desconfiança e até mesmo na idolatria.
Os gentios, mesmo sem ter uma lei como a de Moisés, tinham a lei da consciência, inscrita no seu coração. Falharam do mesmo modo: idolatria, injustiça, violência, imoralidade, etc. O homem, por si só, é um fracasso.
Leia com atenção a situação da humanidade, judeus e gentios, tal como descrita por São Paulo: a infidelidade e deficiência grave dos gentios, a promiscuidade, as aberrações, como ainda hoje constatamos, com gritante atualidade! Veja Rm 1,18-32!
Quanto aos judeus, a situação não é melhor! Sendo o Povo escolhido e santo, tendo a luz e orientação da Lei de Deus, esse Povo foi infiel. É mesmo impressionante o número de ateus no atual Povo de Israel e a secularização em que vive a maioria dos judeus! Leia Rm 2,17-29.
E a conclusão do Apóstolo é tremenda. Leia Rm 2,1-16.
Resumo triste: “Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus!” (Rm 3,23). Em outras palavras: o ser humano somente com suas forças, sua boa intenção e sua bondade, não alcança a salvação, não é justo diante de Deus! O estrago na humanidade é tremendo! O ser humano foi criado bom, mas não é bonzinho e nem merece a salvação. Ponto e basta! Esta é a revelação e a sentença de Deus; e qualquer outra é falsidade, engano e vã esperança! Cuidado com os cristãos que querem justificar o pecado e vivem proclamando que o homem é bonzinho! É mentira! Somente em Cristo somos justificados, Nele crendo e a Ele nos convertendo!
Olhe para você mesmo. Leia Rm 7,14-25. Reze. Reze o Sl 50/51.

5. Quem liberta judeus e gentios do jugo da Lei? Como faz isto?

a) O homem não pode se libertar sozinho do atoleiro do seu pecado. O pecado é uma realidade profunda, que não eliminou a imagem de Deus no homem, mas o danificou seriamente.
Leia Gn 6,5-6: de modo poético e trágico o Autor sagrado mostra o desmantelo do homem e o desgosto de Deus! Nunca esqueça: o pecado não é uma brincadeira. O mundo de hoje – e até muitos cristãos – não levam a sério esta realidade tremenda chamada pecado! O pecado mata o corpo e a alma no inferno, o pecado nos traz a Morte eterna, fazendo-nos perder para sempre a Vida de Deus!

b) Ora, o homem sozinho não pode se libertar desta situação: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida eterna”, a Vida divina (Jo 3,16). Ao invés das obras da Lei de Moisés, que preparavam para o Cristo, há agora uma obra só: “A obra de Deus é que creiais Naquele que Ele enviou!” (Jo 6,29).
Esta será a luta de São Paulo: explicar aos judeus e aos cristãos vindos do judaísmo que a Lei de Moisés cumprira a sua missão de levar o Povo de Israel a Cristo e que agora é o acolhimento de Jesus como o Cristo do Pai que traz o perdão dos pecados e a salvação! E isto vale para os judeus e os gentios! Com Sua Morte e Ressurreição em amor obediente ao Pai, em nosso nome, o Senhor Jesus eliminou nossa situação de pecado e nos reconciliou com Deus, o Pai, no Espírito!
Leia com atenção Rm 1,21-31. Reze! Louve e agradeça ao Pai por nos ter dado Jesus, o Seu Filho! Louve, adore e agradeça ao Senhor Jesus Cristo que por nós e pelo mundo inteiro Se entregou!

6. Voltemos ao texto de Gálatas. O que São Paulo quer dizer com esta afirmação: “Pela Lei eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus” (v. 19)? Paulo afirma que morreu para a Lei por dois motivos:

a) Ele morreu para a Lei de Moisés porque a própria Lei de Moisés, Leia da Antiga Aliança, anunciava uma Nova Aliança e uma Nova Lei, no Espírito de Deus, Espírito do Messias. Vale a pena ler estes textos, como exemplos: Jr 31,31-34; 3,14-17; Ez 36,25-38; 37,11-14.21-28; Is 59,21; 55,1-5. Assim, seguindo o que a própria Lei anunciava, pela Lei, Paulo superou a Lei, morreu para a Lei de Moisés! Em outras palavras: para cumprir a Lei, que previa a superação da Lei, eu morri para a Lei; em obediência à Lei, eu superei a Lei!

b) Mas, há mais ainda; muito mais! Crendo em Jesus como Senhor e Messias, o cristão é Nele batizado, recebendo o Seu Espírito. Assim, é mergulhado em Cristo: ele morre e ressuscita com Cristo, ele vive realmente com Cristo, pois o Espírito do Cristo morto e ressuscitado habita realmente nele, fazendo dele uma nova criatura!
Paulo morreu para a letra da Lei, Paulo morreu para os preceitos da Lei; Paulo morreu para a observância da Lei! A vida de Paulo agora não é mais a vida psicofísica que ele tinha. Ele agora, no seu corpo e na sua alma, vive da misteriosa e potente Vida divina de Cristo morto e ressuscitado, vive do próprio Espírito de Cristo. Por isso, pelo Batismo e a Eucaristia, ele pode dizer: “Fui crucificado com Cristo. Já não sou eu que. Vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que Me amou e Se entregou a Si mesmo por mim”.
Atenção: aqui não se trata de uma experiência psicológica, emocional! Nada disto! Crendo em Jesus como Senhor e Messias, o cristão é inserido Nele pelo Batismo e cresce nesta inserção em cada Eucaristia, “batizados num só Espírito para formarmos um só Corpo” (2Cor 12,13), de modo que, pelo Espírito de Cristo, o cristão vive já realmente em Cristo Jesus, vida que começa realmente agora e será plena na Glória celeste, plenitude do Reino de Deus!
Que diferença entre viver dos preceitos da Lei, preceitos exteriores, e viver imerso, incorporado, mergulhado em Cristo Jesus, em Alguém, no próprio Filho eterno feito homem, pleno do Espírito de Vida e Ressurreição! Era isto que os gálatas e nós deveríamos compreender!
Por isso, o desabafo, o desafio final, triunfante e indignado de São Paulo: “Não invalido a graça de Deus; porque se é pela Lei que vem a justiça, a salvação, então Cristo morreu em vão!”

7. Pensando no Cristo que Se entregou por nós, reze Is 53


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