domingo, 8 de julho de 2018

Eta!

O Lucas tem somente um ano e cinco meses. Já caminha passos mais ou menos firmes, seguros e, assim, com a energia de criança, gira a casa toda. Também já ensaia algumas palavras: “papá”, “mamã”, etc... Mas, fascinante mesmo é vê-lo, diante de alguma coisa que o surpreende, espanta ou intriga dizer, com a carinha mais linda do mundo: “Eta!’ (o nosso popular “eita”!). Onde terá ele aprendido isso?
“Eta”, na nossa língua portuguesa, é uma interjeição que exprime admiração, surpresa, espanto, pasmo! Se pensarmos bem, toda a vida humana é um contínuo “eta”, do nascimento à morte: é nossa sina, nossa identidade: admirar-se com a vida que nos acontece, envolvendo-nos em alegrias e desventuras. A atitude do Lucas, tão pequenininho ainda, é a atitude de cada um de nós e da humanidade toda! Efetivamente, quem de nós pode controlar a vida, medi-la, calculá-la, dissecá-la, explicá-la, enfim? Não é ela uma surpresa, um mistério indevassável? Por que nascemos? E com que propósito? Por que somos como somos e não diferentes? Por que passamos por estas experiências e não por aquelas outras? Quantas vezes a existência nos surpreende de tantos modos e ficamos embasbacados, como que pegos de surpresa para o bem e para o mal! E, se fôssemos o pequeno Lucas, somente poderíamos exclamar: “Eta!” Nem sabe o Lucas que neste pequeno vocábulo de três míseras letras já está profetizado o que será sua vida: uma constante surpresa, um diuturno desafio, um perene mistério!
Isto é fascinante, pois o ser humano é o único ser capaz de admirar, de surpreender-se realmente! E a vida tem tanto a nos surpreender: as dores e gozos, tristezas e alegrias, sucessos e fracassos, nossas grandezas e baixezas, nossos alentos e desilusões... Sempre foi, sempre será assim! O homem sempre viveu entre estas realidades tão diversas e, aparentemente, tão contraditórias e surpreendentes e, bem ou mal, sempre soube se sair.
O que é preocupante é que em nossa época, com o avanço das comunicações, com o domínio da técnica que permite ao homem controlar e explorar como nunca antes a natureza, criando para si uma vida artificial e meio alienada, com a ruptura do diálogo entre gerações, estamos perdendo a capacidade de admirar, de nos surpreender de modo construtivo. A vida parece que vai passando sobre nós como um trator: amassando-nos, oprimindo-nos, machucando-nos com a ameaça da falta de sentido para as coisas e para a nossa própria existência. Não é novidade uma vida humana feita de altos e baixos; novidade é que o homem atualmente não saiba conviver com eles, encontrar para eles um sentido, não saiba mais exclamar “eta!” sem perder o rumo nem a paz! E tudo isto por um motivo só: diante da existência, com suas contradições, somente nos são dadas três alternativas: o cinismo de quem não vê sentido nenhum para a existência e não a leva a sério (e isto nos desumaniza e nos reduz a meros animais), o desespero amargo de quem tentou construir, ser feliz e, no entanto, se sente iludido pela vida, atropelado e enganado (e isto nos reduz a deprimidos impotentes, incapazes de lutar e ver a beleza da vida) e, finalmente, a esperança de quem sabe que é possível dar um sentido às lutas, às lágrimas, às renuncias que a existência nos impõe e, assim, saborear sabiamente as verdadeiras alegrias da vida (e isto nos faz maduros, humanos e realizados). Mas, esta última alternativa somente pode ser assumida em toda a sua profundidade à luz da fé, por aqueles que sabem que mesmo que tudo ou muito na vida pareça sem sentido, há Alguém que dá sentido aos nossos dias, que nos criou não para o caos absurdo, mas para caminhar e repousar no Seu amor.
Tomara que seja esta última a alternativa do Lucas, para que ele possa dizer “eta!” até o fim da vida com um coração de criança, que confia e sabe que, aconteça o que acontecer, haverá sempre um Pai nos Céus que segura o leme da sua vida!


Um comentário:

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