segunda-feira, 9 de julho de 2018

“Eles, por uma coroa perecível...”

Mesmo com a recente derrota da Seleção na Copa do Mundo de Futebol, assiste-se ao entusiasmo, à paixão por parte dos torcedores e vê-se o esforço dos atletas, idolatrados e xingados, de acordo com o resultado que obtenham. Quanto dinheiro, quanto esforço, quanta paixão, quanto tempo dedicado... Como não recordar as palavras de São Paulo: “Não sabeis que aqueles que correm no estádio, correm todos, mas um só ganha o prêmio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível” (1Cor 9,24s).

Se pensarmos bem, causa tristeza... Hoje, investe-se tanto em esporte, divulga-se o esporte como a coisa mais séria do mundo; os atletas são apresentados como modelos de vida a serem admirados e seguidos; a Seleção é elevada à categoria de símbolo nacional, os treinos, o esforço, a disciplina esportiva, tudo apresentado como virtude e altruísmo... Os slogans são grandiloquentes: “Esporte é vida”, “O esporte irmana os povos”, “Esporte é paz”... É verdade que há muito dinheiro em jogo e, por isso, toda essa promoção esportiva. Basta pensar no tênis, no futebol e na fórmula 1. Mas, é verdade também que se não houvesse quem assistisse, procurasse e muitas vezes idolatrasse a prática esportiva, todo esse aparato não existiria... É inquietante, é, sim, de fazer pensar...

Claro que, em si, o esporte é um bem: auxilia a saúde física e mental, é fator importante de socialização, pode desenvolver lideranças, incentivar o trabalho em equipe, etc. O problema não é o esporte, mas o modo como hoje ele é visto e valorizado, a mística que se criou em torno dele! Quando nossa sociedade era cristã, os heróis não eram os atletas, mas os santos: aqueles que empenharam a vida em Cristo e, por Ele, deram tudo a Deus e aos irmãos. Os heróis dos jovens cristãos eram um Francisco de Assis, um Camilo de Lélis, um Inácio de Loyola, um Francisco Xavier, um Luís Gonzaga, uma Clara de Assis, uma Teresa do Menino Jesus... Era o tempo em que Cristo era realmente a seiva vital de nossa cultura e o cristianismo inspirava valores, ideais, modelos de existência, tempo em que o Domingo (do latim dies Dominidominica= dia do Senhor) era dia, antes de tudo, de participar da Ceia do Senhor, celebrando a Eucaristia. 

Atualmente, se os heróis são os atletas, os jogadores de futebol, sobretudo; os domingos são dias de cerveja, estádio e praia... E nada mais. Escutam-se os slogans de efeitos, mas tão falsos, tão falsos: “Esporte é vida; esporte é paz”... Não! Cristo é Vida, porque somente Ele confere um sentido real e duradouro à existência; uma tal certeza, uma tal perspectiva, que nem a morte pode destruir! Cristo é Paz! Somente Ele! Porque somente Nele o coração descansa realmente, de um descanso não ilusório, verdadeiro, consistente! “O esporte irmana os povos!” Somente o Cristo nos irmana de verdade, porque nos faz filhos do mesmo Pai, ao qual nos dirigimos exclamando: “Pai nosso!”

É sintomático: sempre que uma pessoa ou uma sociedade exclui Deus, teórica ou praticamente, cria uma nova religião, secular, uma religião sem Deus. Pois bem: o esporte é, hoje, uma dessas religiões; os templos são os estádios, os encontros de oração, as academias... Que pena, porque por mais que seja interessante a prática esportiva, ela não é um valor dos mais importantes da existência: ela não garante o sentido da vida, ela não realiza em profundidade o coração, ela não pode dar o eixo e o rumo de nossos dias neste mundo. Que pena! Como temos caído, a ponto de nos satisfazermos com tão pouco, de colocar nossa alegria em um ideal tão óbvio, tão curto, tão baixo...

Realmente, são de cortar coração e atiçar a consciência, as palavras de São Paulo: “Não sabeis que aqueles que correm no estádio, correm todos, mas um só ganha o prêmio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, porém, para ganhar uma coroa imperecível” (1Cor 9,24s). Quem dera que nós, cristãos, nos entusiasmássemos tanto com o Cristo como os desportistas com seus esportes; que nos exercitássemos tanto na oração, na ascese (exercício espiritual, que tem a mesma raiz grega da palavra “atleta”) como os atletas fazem para suas competições; que nosso entusiasmo em testemunhar e o Evangelho fosse o mesmo dos locutores tresloucados de rádio e televisão; que “perdêssemos” com o Senhor o tempo que os comentadores dos programas esportivos perdem todos os dias, com tantas futilidades...

Ah! Que os católicos não façam do Domingo um dia mundano, dia simplesmente de ocupações lúdicas. Que o Domingo seja aquilo que é: Dia do Senhor Ressuscitado que nos reúne como Igreja, nos dirige Sua Palavra e conosco parte o Pão da Eucaristia... Mas, a grande maioria dos católicos nominais não terá entusiasmo algum por um Domingo assim, certamente. Estão muito ocupados com suas distrações e, além do mais, somente pode compreender essas coisas quem encontrou realmente o Cristo na sua vida, quem fez Dele sua corrida, a causa de sua existência, o motivo último de seu esforço e a certeza do seu troféu...  Quem dera que os católicos se exercitassem tanto na oração, treinassem tanto na vida cristã, fossem tão disciplinados e generosos no compromisso com Cristo e a Sua Igreja, corressem tanto na vida cristã, que fossem alcançados pelo Cristo Jesus e Dele recebessem a única coroa que é imperecível: aquela, da Vida eterna!


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