XLI Dia da Quaresma – XXXV de penitência
(Mt 26,17-29)
17No primeiro
dia dos Pães sem fermento, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram:
“Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?” 18Jesus
respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda
dizer: o Meu tempo está próximo, vou celebrar a ceia pascal em tua casa, junto
com Meus discípulos’”.19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a
ceia pascal.
20Ao
anoitecer, Jesus Se pôs à mesa com os Doze. 21Enquanto comiam, Ele disse: “Em
verdade vos digo, um de vós Me vai entregar”. 22Eles ficaram muito tristes e,
um por um, começaram a perguntar-Lhe: “Acaso sou eu, Senhor?” 23Ele respondeu:
“Aquele que se serviu Comigo do prato é que vai Me entregar. 24O Filho do Homem
Se vai, conforme está escrito a Seu respeito. Ai, porém, daquele por quem o
Filho do Homem é entregue! Melhor seria que tal homem nunca tivesse nascido!”
25Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu:
“Tu o dizes”.
26Enquanto
estavam comendo, Jesus tomou o pão e pronunciou a bênção, partiu-o, deu-o aos
discípulos e disse: “Tomai, comei, isto é o Meu Corpo”. 27Em seguida, pegou um
cálice, deu graças e passou-o a eles, dizendo: “Bebei dele todos, 28pois este é
o Meu Sangue da nova aliança, que é derramado em favor de muitos, para remissão
dos pecados. 29Eu vos digo: de hoje em diante não beberei deste fruto da
videira, até o dia em que, convosco, beberei o vinho novo no Reino do Meu Pai”.
Comentando:
Segundo os sinóticos, a Ceia de Jesus foi a ceia
pascal judaica. Na verdade, ao que tudo indica, a Última Ceia de Jesus
aconteceu um dia antes da Páscoa dos judeus. A Sua Ceia não foi propriamente a
ceia pascal judaica, mas o clima, o sentido, estava todo permeado da Páscoa,
pois, na Páscoa dos judeus, Jesus iria fazer a Sua Páscoa de Paixão, Morte e
Ressurreição. O sentido, em todo caso, é profundo: a Páscoa (= Passagem) de
Jesus deste mundo para o Pai (cf. Jo 13,1) dá-se no quadro da páscoa dos
judeus: “O Meu tempo está próximo, vou
celebrar a ceia pascal em Tua casa, junto com Meus discípulos”. Estritamente,
não foi a ceia pascal, mas Jesus deu-lhe um completo e perfeito sentido pascal:
era a Sua Páscoa, tornada Páscoa de todo discípulo que Nele é batizado,
recebendo o Seu Espírito que Ele daria depois de ressuscitado.
“O Meu tempo
está próximo, vou celebrar a ceia pascal em Tua casa, junto com Meus
discípulos”. Meu caro Leitor, irmão
meu na fé e no seguimento de Jesus Nosso Senhor, esta palavra do Salvador vale
ainda hoje para nós. Ele deseja celebrar a sua Páscoa conosco – “junto com Meus discípulos” -, Ele mesmo
afirma: “Desejei ardentemente comer
convosco esta ceia pascal antes de padecer” (Lc 22,13).
Chega o cair da tarde da quinta-feira que, pelos
séculos afora, os cristãos chamarão de “santa”; brilham as três primeiras
estrelas no céu; começa a sexta-feira, que será chamada “da Paixão...
Jesus reclina-Se à mesa com Seus discípulos, com
nossos irmãos de fé, aqueles que depois nos pregariam o Evangelho... E Sua
palavra corta o coração, confunde-nos, envergonha-nos ainda hoje: “Um de vós vai Me entregar!”
Como já disse acima: não foi um pagão ou um judeu
incrédulo; foi um dos nossos irmãos, um dos Doze que Jesus escolheu
pessoalmente, chamando-os pelo nome. Aquele que O entregou serviu-se com Ele do
mesmo prato, comeu à mesma mesa... E pensando bem, nestes dois mil anos de
história, quantas vezes o Senhor não teve de repetir: “Um de vós vai me entregar!” E talvez já tenha repetido isto a meu
respeito...
- Piedade, Senhor, piedade de mim, pecador! Eu, que tantas
vezes como à tua Mesa, no Altar da Tua Eucaristia, e Te entrego, Te renego, Te
traio...
É impressionante a gravidade, a seriedade do pecado de
Judas: “Ai daquele por quem o Filho do
Homem for entregue! Melhor seria que tal homem nunca tivesse nascido!” Palavras
misteriosíssimas, que revelam a gravidade do pecado!
Hoje, quando temos a tendência de minimizar o pecado e
jogar levianamente tudo na conta de misericórdia de Deus, deveríamos ponderar
seriamente sobre esta palavra! Por um lado, essa traição miserável serve ao
desígnio de Deus: “O Filho do Homem Se
vai, conforme está escrito a Seu respeito”; mas nem por isso o ato de Judas
é desculpado ou apresentado como menos grave! Aqui aparece, como em tantas
outras passagens da Escritura, o misterioso e incompreensível encontro entre a
providência do Senhor Deus e a verdadeira liberdade do ser humano...
Irmãos, cuidemos de evitar o pecado, cuidemos de
evitá-lo mesmo nas pequenas ocasiões, para que não aconteça que nossa
consciência se vá relaxando e, pouco a pouco, Deus esteja tão obscurecido em
nós que nada mais julguemos pecado...
Depois, o dom da Eucaristia: o Corpo imolado, o Sangue
derramado! A Eucaristia, memorial do sacrifício do Senhor presente de modo
perene na Sua Igreja.
Nunca esqueçamos: a Eucaristia é um sacrifício na
forma de banquete.
A Missa não é uma festa, a Missa não é primeiramente
uma ceia, a Missa não é uma celebração dos feitos e das vivências nossas! Nada
disso! Tudo isto é superficialidade teológica em estado puro, sem fundamento
algum na Escritura ou na Tradição da Igreja!
A Missa é tão somente o memorial da sacrifício
salvífico de Cristo (“Meu corpo dado, Meu
sangue derramado” – Lc 22,19-20: dado, derramado sacrificalmente),
sacrifício realmente tornado presente entre nós na forma de ceia, de banquete
sacrifical e escatológico.
Não é festa nossa; é primeiramente ação do Senhor que
Se oferta ao Pai por nós e, pelo Pai, nos é dado em comunhão.
A santa Missa é ação nossa enquanto somos membros da
Igreja, corpo e esposa do Cordeiro que, em cada Missa, é, ao mesmo tempo,
Sacerdote que oferta, Vítima oferecida, e Altar no qual o sacrifício é consumado!
Ainda pertence à essência da Eucaristia, sacrifício em
forma de banquete, ser já antecipação real e efetiva do banquete final, no
Reino dos Céus: “Eu vos digo: de hoje em
diante não beberei deste fruto da videira, até o dia em que, convosco, beberei
o vinho novo no Reino do Meu Pai!”
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