sábado, 31 de janeiro de 2015

IV Domingo Comum: Escutar o Verbo para viver!

Dt 18,15-20
Sl 94
1Cor 7,32-35
Mc 1,21-28

“Todos ficavam admirados com o Seu ensinamento, pois ensinava como quem tem autoridade, não como os escribas”.

Caríssimos, hoje a Palavra a nós proclamada mostra o Senhor ensinando. O Evangelho nos dá conta que Seu ensinamento causava admiração. E por quê? Porque Jesus não é um simples mestre, um mero rabi... Vocês escutaram na primeira leitura o que Moisés prometera – ou melhor, o que Deus mesmo prometera pela boca de Moisés: “O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar!”
Eis! Moisés, o grande líder e libertador de Israel, aquele através do qual Deus falava ao Seu povo e lhe dera a Lei, anuncia que Deus suscitará um profeta como ele. E os judeus esperavam esse profeta. Chegaram mesmo a perguntar a João Batista: “És o Profeta?” (Jo 1,21), isto é, “És o Profeta prometido por Moisés?”
Pois bem, caríssimos: esse Profeta, esse que é o Novo Moisés, esse que é a própria Palavra de Deus chegou: é Jesus, nosso Senhor!
Como Moisés, Ele foi perseguido ainda pequeno por um rei que queria matar as criancinhas;
como Moisés, Ele teve que fugir do tirano cruel,
como Moisés, sobre o Monte – não o Sinai, mas o das Bem-aventuranças – Ele deu a Lei da vida ao Seu povo;
como Moisés, num lugar deserto, deu ao povo de comer, não mais o maná que perece, mas aquele pão que dura para a Vida eterna.
Jesus é o verdadeiro Moisés; e mais que Moisés, “porque a Lei foi dada por meio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1,17).
Jesus é a plenitude da Lei de Moisés, Jesus não é somente um profeta, mas é o próprio Deus, Senhor dos profetas, Senhor de Moisés! Moisés deu testemunho Dele no Tabor e cairia de joelhos a Seus pés se O encontrasse.
Jesus, caríssimos, é a própria Palavra do Pai feita carne, feita gente, habitando entre nós! Ele é o Verbo: pensamento e palavra do Deus Infinito!

Mas, essa Palavra não é somente voz, sopro saído da boca.
Essa Palavra, que é Jesus, é tão potente (lembrem-se que tudo foi criado através Dela!), que não somente fala, mas faz a salvação acontecer.
Por isso os milagres de Jesus, Suas obras portentosas: para mostrar que Ele é a Palavra eficaz e poderosa do nosso Deus.
Ao curar um homem atormentado na sinagoga de Cafarnaum, Jesus nosso Senhor mostra toda a Sua autoridade, Seu poder e também o sentido de Sua vinda entre nós: Ele veio trazer-nos o Reino de Deus, do Pai, expulsando o reino de Satanás, isto é, tudo aquilo que demoniza a nossa vida e nos escraviza!
– Obrigado, Senhor, Jesus, pela Tua vinda!
Obrigado pela Tua obra de libertação!
Muito obrigado porque, em Ti, tudo é Palavra potente: Tua voz, Tuas ações salvadoras, Teu modo de viver, Teus exemplos, Tuas atitudes!
Tu não somente tens palavras de Vida eterna; Tu mesmo és a Palavra de Vida!
Que seria de nossa vida sem essa Palavra que és Tu?
Que caminho seguiríamos sem Ti, que nos mostras a direção?
Tu és a Palavra que faz tudo ter sentido, mesmo nas trevas, mesmo na dor, mesmo quando tudo parece absurdo e vazio...
Contigo, Palavra bendita do Pai, a noite faz-se dia; Contigo o pranto encontra paz; Contigo podemos descobrir a verdadeira beleza da vida e do mundo!
Tu és a Palavra, Tu és a Verdade, Tu és a Palavra que não engana nunca! Obrigado!
Dá-nos a capacidade de escutar-Te sempre, de sempre seguir-Te e de em Ti repousar nosso coração cansado e sedento!

Meus caros, se Jesus é essa Palavra potente, Palavra de Vida, então viver Sua palavra é encontrar verdadeiramente a Vida e a liberdade.
Na leitura do Deuteronômio que escutamos, Deus dizia, falando do Profeta que haveria de vir: “Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que Eu lhe mandar. Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele pronunciar em Meu Nome”. Ora, caríssimos, se Jesus é a Palavra de Deus, então é Nele que encontramos a luz para os nossos passos e o rumo da nossa existência.
Num mundo como o nosso que, prega uma autonomia louca do homem em relação a Deus, uma autonomia fechada para Deus e até mesmo contra Deus, nós que cremos em Jesus, devemos cuidar de nos converter sempre a Ele, escutando Sua palavra.
Ele nos fala, caríssimos: fala-nos nas Escrituras, fala-nos na voz da Sua Igreja, fala-nos no íntimo do coração, fala-nos na vida e nos acontecimentos...
Certamente, ouvi-lo não é fácil, pois muitas vezes Sua palavra é convite a sairmos de nós mesmos, de nossos pensamentos egoístas, de nossas visões estreitas, de nossa sensibilidade quebrada e ferida pelo pecado. Sairmos de nós para irmos em direção ao Senhor, iluminados pela Sua santa palavra – eis o que Cristo nos propõe hoje!

É tão grande a bênção de encontrar o Cristo, de viver Nele e para Ele, que São Paulo chega mesmo a aconselhar o celibato, para estarmos mais disponíveis para o Senhor. Vocês escutaram a segunda leitura da Missa deste hoje.
O Apóstolo recomenda o ficar solteiro, não por egoísmo ou ódio ao matrimônio, mas para ter mais condições de ser solícitos para com as coisas do Senhor e melhor permanecer junto ao Senhor. É este o sentido do celibato dos religiosos e dos padres diocesanos: recordar ao mundo que Cristo é o Senhor absoluto da nossa vida e que por Ele vale a pena deixar tudo, para com Ele estar, para, como Maria, Seus pés, escutando-O e a Ele dando o melhor de nós. O celibato, que num mundo descrente e sedento de prazer sensual, é um escândalo, para os cristãos é um sinal do primado de Cristo e do Seu Reino.

Rezemos para que aqueles que prometeram livremente viver celibatariamente cumpram seus compromissos com amor ao Senhor e à Igreja.
Rezemos também para que os cristãos saibam ver no celibato não uma armadilha ou uma frustração, mas um belíssimo sinal profético, um verdadeiro grito de que Deus deve ser amado por tudo e em tudo, acima de todas as coisas.

Se os casados mostram a nós, celibatários, a beleza do amor conjugal e do mistério de amor esponsal entre Cristo e a Igreja, nós, solteiros pelo Reino dos Céus, mostramos aos casados e ao mundo que tudo passa e tudo é relativo diante da beleza, da grandeza e do absoluto Daquele que Deus nos enviou: o Seu Filho bendito, Sua Palavra eterna, Verdade que ilumina, liberta e dá vida. A Ele a glória para sempre. Amém.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Festa do Batismo do Senhor: Eis o Meu Servo, o Meu Filho!

Is 42,1-4.6-7
Sl 28
At 10,34-38
Mc 1,7-11


A Festa de hoje encerra o sagrado tempo do Natal: o Pai apresenta, manifesta a Israel o Salvador que Ele nos deu, o Menino que nasceu para nós: “Tu és o Meu Filho amado; em Ti ponho o Meu Bem-querer”, ou, segundo a versão de Mateus: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo!” (3,17).

Estas palavras contêm um significado muito profundo: o Pai apresenta Jesus usando os mesmos termos do profeta Isaías, que ouvimos na primeira leitura da Missa.
Mas, note-se: Jesus não é somente o Servo; Ele é o Filho, o Filho amado! O Servo que o Antigo Testamento anunciava é também o Filho amado eternamente!
No entanto, é Filho que sofrerá como o Servo, que deverá exercer Sua missão de modo humilde e doloroso!

Hoje, às margens do Jordão, Jesus foi ungido com o Espírito Santo como o Messias, o Cristo, Aquele que as Escrituras prometiam e Israel esperava.
Agora, Ele poderá começar publicamente a missão de anunciar e inaugurar o Reino de Deus, Seu Pai, que O enviou.

Esta missão, Ele começou efetivamente desde que Se fez homem por nós; agora, no entanto, vai manifestar-Se publicamente, primeiro a Israel e, após a ressurreição, a toda a humanidade!

Atenção, que é na força do Espírito Santo que Ele pregará, fará Seus milagres, expulsará Satanás e inaugurará o Reino do Pai;
é na força do Espírito que Ele viverá uma vida de total e amorosa obediência ao Seu Deus e Pai e doação aos irmãos até a morte e morte de cruz, quando se oferecerá por nós ao Pai num Espírito Eterno (cf. Hb 9,14).

Mas, atenção ainda: como já dissemos, esse Jesus que é o Filho bendito, é também o humilde Servo sofredor, anunciado por Isaías.

Hoje, o Pai revela a Jesus qual o modo, qual o caminho que Ele deve seguir para ser o Messias como Deus quer:
na pobreza,
na humildade,
no despojamento,
no serviço!
É assim que o Reino de Deus será anunciado no mundo!
Que mistério!
"O Senhor Deus abriu-Me os ouvidos e Eu não fui rebelde, não recuei!
Ofereci o dorso aos que Me feriam
e as faces aos que Me arrancavam os fios da barba!" (Is 50,6s)

Jesus, o santo Servo Sofredor deverá ser manso: “Ele não clama nem levanta a voz, nem Se faz ouvir pelas ruas”.
Deve ser cheio de misericórdia para com os pecadores, os fracos, os pobres, os sem esperança: “Não quebra a cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega”.
Ele irá sofrer, ser tentado ao desânimo, mas colocará no Seu Deus e Pai toda a Sua esperança, toda a Sua confiança: “Não esmorecerá nem Se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra”.

O Senhor Deus estará sempre com Ele e Ele veio não somente para Israel, mas para todas as nações da terra:
“Eu, o Senhor, Te chamei para a justiça e Te tomei pela mão;
Eu Te formei e Te constituí como aliança do povo,
luz das nações,
para abrires os olhos aos cegos,
tirar os cativos da prisão,
livrar do cárcere os que vivem nas trevas”.

E Jesus já começa cumprindo Sua missão na humildade: Ele entra na fila dos pecadores, para ser batizado por João. Ele, que não tinha pecado, assume os nossos pecados, faz-Se solidário conosco; Ele, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo!
“João tentava dissuadi-Lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti e Tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar, pois assim nos convém cumprir toda a justiça’” (Mt 3,14s). Assim convinha, no plano do Pai, que Jesus Se humilhasse, Se fizesse Servo e assumisse os nossos pecados!
Ele veio não na glória, mas na humildade,
não na força, mas na fraqueza,
não para impor, mas para propor,
não para ser servido, mas para servir.
Eis o caminho que o Pai indica a Jesus, eis o caminho que Jesus escolhe livremente em obediência ao Pai, eis o caminho dos cristãos, e não há outro!

Uma última observação, muito importante: João diz: “Eu vos batizo com água, mas virá Aquele que é mais forte do que Eu. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”.
O batismo de João não é o sacramento do Batismo: era somente um sinal exterior de que alguém se reconhecia pecador e queria preparar-se para receber o Messias.
Ao ser batizado no Jordão, Jesus é ungido com o Espírito Santo para a missão. Esta unção será plena na ressurreição, quando o Pai derramará sobre Ele o Espírito como Vida da Sua vida. Então – e só então – Ele, pleno do Espírito Santo no Qual o Pai O ressuscitou, derramará este Espírito, que será também Seu Espírito, sobre nós, dando-nos uma nova Vida, vida do próprio Deus, em semente neste mundo e em Glória na Eternidade!
Para os cristãos, não há batismo nas águas, mas somente Batismo no Espírito, simbolizado pela água (cf. Jo 3,5; 7,37-39). Ao sermos batizados, recebemos o Espírito Santo de Jesus e, por isso, somos participantes de Sua missão de viver, testemunhar e anunciar o Reino de Deus, a Vida eterna, a Vida no amor a Deus e aos irmãos, que Jesus veio anunciar ao Se fazer homem igual a nós! Mas este testemunho não é festivo, não é de oba-oba, mas um testemunho dado na simplicidade, na pobreza e na humildade do dia a dia!

Eis! O Menino que nasceu para nós, a Criança admirável que cresceu em sabedoria, idade e graça, submisso aos Seus pais na família de Nazaré, o Deus perfeito, filho da Toda Santa Mãe de Deus, Aquele que com o brilho de sua Estrela atraiu a Si todos os povos, hoje é apresentado pelo Pai:
Ele é o Filho querido,
Ele é o Servo sofredor,
Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo,
Ele é o Messias, o Ungido de Deus!


Acolhamo-Lo na nossa existência e no nosso coração e nossa vida terá um novo sentido. Seguindo-O, chegaremos ao coração do Pai que O enviou e é Deus com Ele e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.

sábado, 3 de janeiro de 2015

A Epifania do Senhor: a Luz brilhou nas nossas trevas!

Is 60,1-6
Sl 71
Ef 3,2-3a.5-6
Mt 2,1-12

Celebramos hoje a solene Manifestação, a sagrada Epifania do Senhor.
Como dizia Santo Agostinho, “celebramos, recentemente, o dia em que o Senhor nasceu entre os judeus; celebramos hoje o dia em que foi adorado pelos pagãos. Naquele dia, os pastores O adoraram; hoje, é a vez dos magos”.

A festa deste dia é nossa, daqueles que não são da raça de Israel segundo a carne, daqueles que, antes, estavam sem Deus e sem esperança no mundo!
Hoje, Cristo nosso Deus, apareceu não somente como glória de Israel, mas também como “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32).
Hoje, começou a cumprir-se a promessa feita a nosso pai Abraão: “Por ti serão benditos todos os clãs da terra” (Gn 12,3).

Na segunda leitura desta Missa, São Paulo nos falou de um Mistério escondido e que agora foi revelado: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”.
Eis: com a visita dos magos, pagãos vindos de longe, é prefigurado o anúncio do Evangelho aos não-judeus, aos pagãos, aos que desconheciam o Deus de Israel, Deus único verdadeiro. Ainda Santo Agostinho, explicando o mistério da festa hodierna, ensinava muito bem: “Ele é a nossa paz, Ele, que de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14). Já se revela qual pedra angular, este Recém-nascido que é anunciado e como tal aparece nos primórdios do nascimento. Começa a unir em Si dois muros de pontos diversos, ao conduzir os pastores da Judeia e os Magos do Oriente, a fim de formar em Si mesmo, dos dois, um só homem novo, estabelecendo a paz. Paz para os que estão longe e paz para os que estão perto”.
É este, pois, o sentido da solenidade da santa Epifania do Senhor!

Hoje, cumpre-se o que o profeta Isaías falara na primeira leitura:
“Levanta-te, Jerusalém, acende as luzes, porque chegou tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e Sua glória já se manifesta sobre ti! Levanta os olhos ao redor e vê: será uma inundação de camelos de Madiã e Efa; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor!”

Mas, estejamos atentos, porque a festa de hoje esconde um drama: a Jerusalém segundo a carne não reconheceu o Salvador: “O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém”. Ela conhecia a profecia, mas de nada lhe adiantou, pela dureza de coração. É na nova Jerusalém, na Igreja, que somos nós, na nossa Mãe católica, que esta profecia de Isaías se cumpre. É a Igreja que acolherá todos os povos, unidos não pelos laços da carne, mas pela mesma fé em Cristo e o mesmo batismo no Seu Santo Espírito.
Que contraste, no Evangelho de hoje!
Jerusalém, que conhecia a Palavra, não crê e, descrendo, não vê a Estrela, não vê a luz do Menino.
Os magos, pagãos, porque têm boa vontade e são humildes, veem a Estrela do Rei, deixam tudo, partem sem saber para onde iam, deixando-se guiar pela luz do Menino e, assim, atingem o Inatingível e, vendo o Menino, reconhecem Nele o Deus perfeito: “ajoelharam-se diante Dele e O adoraram”.
Com humildade, oferecem-Lhe o que têm: “Abriram seus cofres e Lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra”: ouro para o Rei, incenso para o Deus, mirra para O que, feito homem, morrerá e será sepultado!
Os magos creem e encontram o Menino e “sentiram uma alegria muito grande”. Herodes, o tolo, ao invés, pensa somente em si, no seu título, no seu reino, no seu poder e tem medo do Menino! Escravo de si e prisioneiro de suas paixões, quer matar o Recém-nascido! A Igreja, na sua liturgia, zomba de Herodes e dos herodes, e canta assim: “Por que, Herodes, temes/ chegar o Rei que é Deus?/ Não rouba aos reis da terra/ Quem reinos dá nos céus!”.
Que bela lição, que mensagem impressionante para nós: quem se deixa guiar pela luz do Menino, O encontra e é inundado de grande alegria, e volta por outro caminho. Mas, quem se fecha para esta luz, fica no escuro de suas paixões, na incerteza confusa de suas próprias certezas, tão ilusórias e precárias... e termina matando e se matando!

Que nós tenhamos discernimento: não procuremos esta Estrela do Menino nos astros, nos céus! Não perguntemos sobre ela aos astrônomos, aos cientistas, aos historiadores. Sobre essa luz, sobre essa Estrela bendita, eles nada sabem, nada têm a dizer! Procuremo-la dentro de nós: o Menino é a luz que ilumina todo ser humano que vem a este mundo!
No século I, Santo Inácio de Antioquia já ensinava: “Uma estrela brilhou no céu mais do que qualquer outra estrela, e todas as outras estrelas, junto com o sol e a luz, formaram um coro, ao redor da estrela de Cristo, que superava a todas em esplendor”.
É esta luz que devemos buscar, esta luz que devemos seguir, por esta luz devemos nos deixar iluminar!
São Leão Magno, no século V, já pedia aos cristãos: “Deixa que a luz do Astro celeste aja sobre os sentidos do teu corpo, mas com todo o amor do coração recebe dentro de ti a luz que ilumina todo homem vindo a este mundo!”. E, também no mesmo século V, São Pedro Crisólogo, Bispo de Ravena, falava sobre o mistério deste dia: “Hoje, os magos que procuravam o Rei resplandecente nas estrelas, o encontram num berço. Hoje os magos veem claramente, envolvido em panos, aquele que há muito tempo procuravam de modo obscuro nos astros. Hoje, contemplam, maravilhados, no presépio, o céu na terra, a terra no céu, o homem em Deus, Deus no homem e, incluído no corpo pequenino de uma criança, Aquele que o universo não pode conter. Vendo-O, proclamam sua fé e não discutem, oferecendo-Lhe místicos presentes. Assim, o povo pagão, que era o último, tornou-se o primeiro, porque a fé dos magos deu início à fé de todos os pagãos!”

Quanta luz, na festa de hoje! E, no entanto, é preciso que compreendamos sem pessimismo, mas também sem ilusões diabólicas, que este mundo vive em trevas: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos...” Que tristeza tão grande, constatar que as palavras do Profeta ainda hoje são tão verdadeiras...
“Mas sobre ti apareceu o Senhor, e Sua glória já se manifesta sobre ti”. Não são trevas as tantas trevas da realidade que nos cerca? Não são trevas a violência, a devassidão, a permissividade, as drogas, a exacerbação da sensualidade, a maldita ideologia de gênero, a nefasta moda do politicamente correto que deseja envergonhar e calar a verdade e a retidão dos valores humanos e cristãos? Não são trevas a injustiça, a corrupção e a impiedade? Não é treva densa o comércio de religiões, o coquetel de seitas, o uso leviano e interesseiro do Evangelho e do Nome santo de Jesus? Não é treva medonha a dissolução da família, a relativização e esquecimento dos valores mais sagrados e da verdade da fé?

Deixemo-nos guiar pela Estrela do Menino, deixemo-nos iluminar pela Sua luz!
Com os magos, ajoelhemo-nos diante Daquele que nasceu para nós e está nos braços da sempre Virgem Maria Mãe de Deus: ofereçamos-Lhe nossos dons: não mais mirra, incenso e ouro, mas a nossa liberdade, a nossa consciência e a nossa decisão de segui-Lo humilde e obedientemente até o fim. Assim, alegrar-nos-emos com grande alegria e voltaremos ao mundo por outro caminho, “não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do Senhor Jesus e não procureis satisfazer os desejos da carne. Deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,13.12).


Terminemos com o pedido que a Igreja fará na oração após a comunhão: “Ó Deus, guiai-nos sempre e por toda parte com a Vossa luz celeste, para que possamos acolher com fé e viver com amor o mistério de que nos destes participar!” Amém.