Gn 18,20-32
Sl 137
Cl 2,12-14
Lc 11,1-13
Basta recordar a primeira leitura e o Evangelho para ver claramente que a Palavra de Deus deste domingo fala da oração. Abraão reza, intercedendo por Sodoma e Gomorra; Cristo ensina Seus discípulos a rezar. Portanto, a oração.
É impressionante não somente o fato de Jesus, nosso Mestre e Senhor, nos ter mandado rezar, nos ter ensinado a rezar, mas sobretudo, o fato de Ele mesmo ter rezado com muitíssima frequência. Basta recordar o início do Evangelho de hoje: “Jesus estava rezando num certo lugar”. Nós sabemos que Ele passava noites inteiras em oração, que rezava antes dos grandes momentos de Sua vida “com veemente clamor e lágrimas” (Hb 5,7), que morreu rezando.
Afinal, por que rezar? Para nos abrir para Deus, para nos fazer tomar consciência Dele com todo o nosso ser, para que percebamos com cada fibra do nosso ser, do nosso consciente e do nosso inconsciente que não nos bastamos a nós mesmos, mas somos seres chamados a viver a vida em comunhão com o Infinito, em relação com o Senhor. Rezar para viver na presença de Deus, rezar para dizer como Santa Teresa de Jesus: “Vossa sou, para vós nasci: que quereis fazer de mim?”
Sem a oração, perderíamos nossa referência viva a Deus, cairíamos na ilusão de que somos o centro da nossa vida e reduziríamos o Senhor Deus a uma simples ideia abstrata, distante e sem força. Todo aquele que não reza, seja leigo, seja religioso, seja ministro ordenado, perde Deus, perde a relação viva e efetiva com Ele. Pode até falar Dele, mas fala como quem fala de uma ideia, de uma teoria e não de Alguém vivo e próximo, que enche a vida de sentido, de alegria, ternura, paz e amor. Sem a oração, Deus morre em nós. Sem a oração é impossível uma experiência verdadeira e profunda de Deus e, portanto, é impossível ser cristão. Por tudo isso, a oração tem que ser diária, perseverante e fiel.
Assim, quando agradecemos, reconhecemos que tudo recebemos de Deus; quando suplicamos, reconhecemos e aprendemos que dependemos Dele e da Sua providência; quando intercedemos, aprendemos e experimentamos que tudo e todos estão nas mãos amorosas de Deus; quando pedimos perdão, reconhecemos que nossa vida é vivida diante Dele e a Ele devemos prestar contas da existência que recebemos. Portanto, a oração nos abre, nos educa, nos amadurece, nos faz viver em parceria com o Senhor.
Quanto aos modos de rezar, são variados. A melhor forma é com a Sagrada Escritura: tomando a Palavra de Deus, lendo-a com os lábios, meditando-a com o coração e procurando vivê-la na existência. Toma diariamente a Bíblia, lê-la com fé, repete as palavras ou frases que tocaram no teu coração e derrama tua alma diante do Senhor. Nunca esqueçamos que essa Palavra de Deus é viva e eficaz, transformando a nossa vida e dando-lhe um novo sentido. Também é importante a oração espontânea, com nossas palavras e a oração vocal, aquela decorada, como o Pai-nosso e a Ave-Maria, os salmos e jaculatórias. Aqui, é bom recordar o terço, que tanto bem tem feito ao longo dos séculos. Mas, a oração por excelência é a própria Missa, o Sacrifício eucarístico. Aí, de modo pleno, nós somos unidos à própria oração de Cristo, participando do Seu Sacrifico pela salvação nossa e do mundo inteiro.
Mas, recordemos que a oração não é uma negociata com Deus nem é para dobrar Deus aos nossos caprichos. É, antes, para nos tornar disponíveis à vontade do Senhor a nosso respeito. Uma das coisas muito belas da oração é que, tendo rezado e pedido, o que acontecer depois podemos saber com certeza que é vontade de Deus! É nesse sentido que Nosso Senhor afirmou que tudo quanto pedirmos em Seu Nome, o Pai no-lo concederá. Ora, o que é pedir em Nome de Jesus? É pedir como Jesus; “Pai, não se faça o que eu quero, mas o que Tu queres” (Mc 14,36). Rezar assim é entrar no cerne da oração de Jesus. Então, tudo que nos vier, saberemos que é vontade do Pai, pois sabemos que nossa oração foi atendida; e nisto teremos paz verdadeira, madura, duradoura.
Que nesta Missa, nós peçamos, humildemente, como os primeiros discípulos: “Senhor, ensina-nos a rezar”. E aqui não se trata de fórmulas, mas de atitudes. Observemos que a oração que Jesus ensinou, o Pai-nosso, é toda ela centrada não em nós, mas no Pai: no Seu Reino, na Sua vontade, na santificação do Seu Nome. Somente depois, quando aprendermos a deixar que Deus seja tudo na nossa vida, é que experimentaremos que somos pessoas novas, transformadas pela graça do Senhor.
Cuidemos, pois de avaliar nossa vida de oração e retomar nosso caminho de busca de intimidade com o Senhor, Ele que é a fonte e a razão de ser da nossa existência. Amém.