Is 60,1-6
Sl 71
Ef 3,2-3a.5-6
Mt 2,1-12
Este hoje é dia solene, de festa grande!
No santo tempo do Natal, a comemoração que agora celebramos somente perde em importância para aquela outra, da Natividade, no 25 de dezembro.
É que hoje, exultantes e gratos a Deus, celebramos a sagrada Epifania do Senhor! Epifania, Manifestação do Cristo Jesus! Nas palavras de Santo Agostinho:
“Este dia salienta a Sua grandeza e Sua humilhação:
Aquele que na imensidade do Céu Se revelava pelo sinal de um astro
era encontrado quando O procuravam na estreiteza da gruta.
Frágil em Seus membros de criança, envolto em faixas,
é adorado pelos Magos e temido pelos maus!”
Eis: no dia do Natal, Ele atraiu a Si, pela palavra dos anjos, aqueles que estavam perto: os pastores de Belém, membros do povo judeu, já tão conhecedor dos caminhos de Deus. Mas, agora, pela luz da Estrela, Ele Se digna, com infinita misericórdia, atrair-nos a nós: os que não somos judeus, os gentios, que estávamos longe, entregues ao culto dos ídolos, “sem Cristo... estranhos às alianças da Promessa, sem esperança e sem Deus no mundo” (Ef 2,12)!
Pagãos nós éramos; pagão é ainda todo aquele que não conhece ou não reconhece o Cristo de Deus!
Idólatras eram nossos antepassados; idólatras continuam todos os que, sem conhecerem o Deus verdadeiro, adoram falsos deuses ou divinizam a natureza ou demais criaturas, endeusam coisas limitadas e efêmeras, doando-lhes a vida, o afeto, a atenção, o melhor de si... Tornando-se deles escravos, segundo a tremenda sentença das Escrituras:
“Os ídolos deles são prata e ouro,
obra de mãos humanas:
têm boca, mas não falam;
têm olhos, mas não veem;
têm ouvidos, mas não ouvem;
têm nariz, mas não cheiram;
têm mãos, mas não tocam;
não há murmúrio em sua garganta.
Os que os fazem ficam como eles,
todos aqueles que neles confiam!” (Sl 115/113B)
Hoje, portanto, o Senhor atrai os pagãos do mundo todo à Sua salvação,
Hoje, realiza-se o que o nosso Deus predissera por Isaías profeta: “Fui perguntado por quem não se interessava por Mim, fui achado por quem não Me procurava. E Eu disse: ‘Eis-Me aqui, eis-Me aqui’ a pessoas que não invocavam o Meu Nome” (Is 65,1). O Senhor, cuja luz brilhou para todos os povos, continua e continuará sempre a iluminar, a atrair, a fazer brilhar de mil modos a Sua luz bendita no coração de todos filhos de Adão e filhas de Eva que vêm a este mundo, pois a todos o Santo criou à Sua imagem e semelhança e “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4).
- Obrigado, Senhor Jesus, porque vieste também para nós!
Obrigado porque nos arrancaste do poder das trevas, a nós que “éramos por natureza, como os demais, filhos da Ira” (Ef 2,4).
Obrigado, porque nos fizeste passar dos falsos deuses, dos ídolos falsos e mortos, ao Deus vivo e verdadeiro!
Hoje, portanto, meus caros em Cristo, a festa é nossa!
Somos nós que vemos a Luz,
somos nós, convidados a seguir a estrela do Menino;
nós, convidados a adorá-Lo, presenteando-O com nossos melhores dons:
o ouro das nossas boas obras,
a mirra do nosso coração,
o incenso do nosso amor!
Somos hoje convidados a admirar o exemplo desses sábios do Oriente, que vendo no céu o sinal do Rei nascido, não temeram deixar tudo e, humildemente, seguir a Luz! Como foram sábios verdadeiramente, esses que, humildes, não hesitaram em se deixar guiar pela luz de Deus! Como Abraão, o pai de todos os judeus, deixara sua terra e partira à ordem de Deus, sem saber aonde ia, assim também, esses, que hoje são as nossas primícias para Cristo, partem, obedecendo ao apelo do Senhor, sem saber para onde vão!
Caríssimos, partamos também nós!
Partamos de nossa vida cômoda,
partamos de nossa fé tíbia
partamos do nosso relativismo religioso,
partamos da nossa subserviência cômoda ao politicamente correto,
partamos de nosso cristianismo burguês, que deseja ser compreendido, aceito, e aplaudido pelo mundo!
Partamos, ou não veremos a luz do Menino! “Deus é luz e Nele não há trevas. Se andarmos na luz, como Ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros e o sangue de Seu Filho Jesus nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1,5b-7).
Partamos, pois, caríssimos, e encontraremos Aquele que é a Luz dos povos, a Luz do mundo!
Porque os Magos tiveram a coragem de partir, conseguiram atingir o Deus inatingível e O adoraram! Diz o Evangelho que eles, “ao verem de novo a Estrela, sentiram uma alegria muito grande!” Nós também, se encontrarmos de verdade o Senhor!
Mas, atentos! O que eles encontram? Pasmem! Encontram um menininho pobre, com uma pobre jovem do povo, Maria, Sua Mãe... Não O encontram num palácio, não O encontram numa corte! E, no entanto, com os olhos da fé, reconheceram o Rei verdadeiro, prostraram-se e O adoraram!
Vede, caríssimos meus, somente quando nos deixamos guiar, podemos encontrar o Senhor; somente quando saímos dos nossos esquemas, dos nossos modos de pensar, de achar e de sentir, podemos de verdade ver naquilo que é pobre e pequeno, ver naquilo que não estava nos nossos planos e expectativas, a presença de Deus.
Depois, diz o Evangelho que eles voltaram por outro caminho... Sim, porque quem encontrou esse Menino, quem se alegrou com Ele, quem viu a Sua luz, muda de caminho, caminha na Vida!
Mas, nesta festa de tanta alegria, doçura e luz, há uma nota de treva: “Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda Jerusalém...” Jerusalém, que representa o povo judeu... Jerusalém, que deveria alegrar-se, perturba-se, hesita, não é capaz de reconhecer o tempo da visita de Deus!
E nós, caríssimos?
Nós, membros do Povo de Deus, não corremos o risco de nos acostumar de tal modo com o Senhor, a ponto de não mais reconhecer Suas visitas, Sua presença luminosa e humilde, Sua graça em nossa vida?
Não corremos o risco gravíssimo de domesticar o Evangelho e a fá católica, não mais nos deixando interpelar pela Sua Palavra?
Ah, que perigo que as mil palavras, as mil modas, as mil ideologias do mundo atual sufoquem a Palavra, na sua clareza, no seu frescor, na sua perenidade secular, na sua simplicidade, na sua radicalidade, na sua luz...
A festa de hoje, certamente mostra-nos a benignidade de Deus que a todos quer iluminar e salvar, mas também revela a concreta e tremenda possibilidade do homem: ser generoso e responder “sim” ou ser fechado e responder “não”!
Os judeus, o povo amado, começa a se fechar para o seu Senhor. É o início de um drama que culminará na Cruz... De modo grave, Santo Agostinho afirma:
“Ao nascer fez aparecer uma nova estrela, Aquele mesmo que, ao morrer, obscureceu o sol antigo! A luz da Estrela começou a fé dos pagãos; pelas trevas da Cruz foi acusada a perfídia dos judeus!”
E olhemos bem, que não somos melhores que o Povo da Antiga Aliança! Podemos recusar a Luz, podemos querer ofuscar a Luz com nossas ilusórias tochas ideológicas, podemos sufocar a Palavra com nossas vãs palavras travestidas de mentirosa sapiência, oca e mundana, podemos adulterar a nossa santa fé católica e apostólica, com remendos e deformações para adequá-la o mundo fechado para o Deus nascido da Virgem!
Uma coisa é certa: é impossível, meus caros, ficar indiferente ante este Menino, este pequeno Rei: ou nos abrimos para Ele e Nele encontramos a Luz e a Vida, ou para Ele nos fechamos e não veremos a Luz!
Acorda, cristão!
Sai do marasmo,
sai da tibieza,
sai da preguiça,
sai do pensamento vão,
sai do vício,
sai dos acordos mornos com o mundo!
Acorda!
Sai de ti e deixa-te iluminar pelo Salvador por ti nascido!
Finalmente, um último mistério. Se Jerusalém fechou-se para o Rei nascido, como pôde o profeta cantar a luz da Cidade santa na primeira leitura desta Missa?
“Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua Luz, apareceu sobre ti a Glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, mas sobre ti apareceu o Senhor!”
Esta Jerusalém santa, envolvida pela Glória do Senhor, esta Cidade fiel à qual se dirigem os povos, é a Igreja, o novo Israel, a Esposa de Cristo. É ela a Casa na qual, segundo o Evangelho de hoje, os Magos entraram e encontraram o Menino com Sua Mãe.
É na Igreja, na Mãe católica, una, única e santa, sempre fiel à fé apostólica, que os homens de todos os povos e de todas as raças podem encontrar o Salvador, tornado sempre presente no anúncio da Palavra segundo a perene Tradição que recebeu dos Apóstolos, nos sacramentos celebrados continuamente no Espírito do Senhor, na vida de comunhão fraterna dos discípulos do Deus nascido da Toda Santa! Esta é e será sempre a grande missão da Igreja: dar Jesus ao mundo, iluminar o mundo com a Luz do Senhor, ser casa espaçosa e aconchegante na qual toda a humanidade possa ver a salvação do nosso Deus!
Caríssimos, alegremo-nos! Daqui a pouco, o Menino por nós nascido, por nós oferecido na Cruz em sacrifício e, em nosso favor, ressuscitado dos mortos, mais uma vez, neste Altar eucarístico, será oferecido como hóstia ao Pai e dado a nós como alimento em comunhão.
Como os Magos, nos levantaremos,
como os Magos, acorreremos a Ele,
como os Magos, reverentes adorá-Lo-emos!
Que também, como os Magos, voltemos para nossas casas alegres de grande alegria, tomando outro caminho na vida!
Que no-lo conceda o Deus nascido da Virgem que hoje Se manifestou ao mundo. Amém.