quinta-feira, 18 de abril de 2019

Homilia da Missa do Crisma

Irmãos e filhos caríssimos,

Esta solene Celebração que a Igreja realiza hoje em todas as catedrais tem um sentido profundamente sacerdotal. Poderíamos mesmo afirmar que se trata da celebração do sacerdócio de Cristo por excelência: é a Missa do Sacerdócio do Senhor Jesus, nosso Messias!
As leituras, a renovação das promessas sacerdotais, a benção dos óleos e a confecção e consagração do Santo Crisma: tudo tem um sentido profundamente sacerdotal e nos convida a contemplar e celebrar o ministério, mais ainda: o ser profundamente, essencialmente sacerdotal do nosso Salvador. Neste sentido, podem acreditar que é obra de Deus, é ação do Santo Espírito que orienta a Igreja, que esta Missa seja colocada precisamente na Quinta-feira Santa pela manhã, antes do início do Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.

É como se antes de entrarmos no Tríduo Sagrado, a Igreja nos quisesse fazer compreender, com a mente e o coração, que Aquele que por nós Se imolou na Cruz e por nós ressuscitou, dando-nos o Espírito, é sacerdote, o verdadeiro sacerdote e agiu sacerdotalmente.
Sim, caríssimos no Senhor! A Paixão, Morte e Ressurreição do nosso Cristo foi um ato eminentemente sacerdotal:
não foi um acidente, a Sua Paixão,
não foi primeiramente uma questão política, a Sua Cruz,
não foi um simples jogo de poder, a Sua Morte,
não foi uma trama simplesmente humana, a Sua Sepultura! Ele mesmo nos prevenira que se tratava aqui de uma luta muito mais ampla, muito mais profunda, que envolve toda a humanidade, cada pessoa humana e até mesmo todo o universo. Recordai-vos do que Ele disse: “É a vossa hora e o poder das trevas!” (Lc 22,53)Trata-se de um “tremendo duelo entre a Morte e a Vida”, entre o pecado e a graça invencível de Deus nosso Senhor! E Cristo sabia disto; e Cristo assumiu tal luta sacerdotalmente, fazendo desses dramáticos acontecimentos que caíram sobre Ele um ato sagrado, um sacrifício, um “fazer sagrado”, uma ação sagrada, santa, de culto ao Seu Deus e Pai. Ele mesmo afirmara, pensando na hora tremenda da Cruz: “É preciso que o mundo saiba que Eu amo o Pai e faço como o Pai Me ordenou!” (Jo 14,31)
Igreja santa aqui reunida em nome de Cristo, nunca nos esqueçamos disto: a Páscoa do Senhor – Sua Paixão, Morte e Ressurreição – é um ato de culto a Deus em favor de toda a humanidade, de toda a criação, é uma verdadeira Liturgia de amor oblativo, sacerdotal; a Páscoa do Senhor é um ato de proclamação diante do mundo de que Deus, o Pai de Jesus Cristo, é Bom, é Santo, é Fiel, é Confiável e merece todo o nosso amor e toda a nossa entrega!
No Tríduo Pascal, Cristo mesmo é a Vítima que é oferecida por nós ao Pai e Ele mesmo é também o Sacerdote que imola, que oferece o Sacrifício do agrado do Pai e salvação do mundo inteiro, porque Sacrifício de amor, Sacrifício de uma vida se derrama, que se gasta, que se entrega totalmente ao Pai! É com total amor, com total liberdade, de coração inteiro que o Senhor Jesus Cristo entregou-Se ao Pai por nós, em nosso favor: “Ninguém tira a Minha vida; Eu a dou livremente! Tenho o poder de dá-la e o poder de retomá-la. Este é o preceito que recebi do Meu Pai!” (Jo 10,10).
Que mistério admirável, adorável: o Filho eterno feito homem frágil, feito carne, feito um de nós, feito mundo, toma o universo inteiro, toma a humanidade e a história humana, colocando tudo isto nos ombros, juntamente com aquela Cruz, e oferece-os ao Pai, imola tudo no fogo abrasador do Santo Espírito como ato de salvação, de purificação, de transfiguração, para que o mundo, feito oferta agradável ao Pai, seja salvo! É grande demais! É imenso! É inimaginável: um amor tão grande que transfigura todo pecado, toda treva, todo egoísmo, toda infidelidade! Eis, portanto: sacerdotalmente, amorosamente, sagradamente o Filho faz da Sua Páscoa um ato de total entrega amorosa de Si ao Pai por nós, em nosso favor!

“Morto na carne”, este Filho sacerdote, “foi justificado no Espírito” (cf. 1Tm 3,16)!Sim, foi ressuscitado pela Glória, pelo Espírito do Pai e derramou e continua a derramar esse mesmo Santo Espírito sobre todo aquele que crê no Seu Nome e Nele for batizado “para que não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16)!
Cristo, o Ungido do Pai, nos ungiu no Batismo e na Crisma e fez de nós um Povo sacerdotal, um Povo unido a Ele, inserido Nele, com a missão de continuar a Sua missão sacerdotal no mundo até que Ele apareça em Glória! Por isso mesmo, a Missa deste hoje tem como antífona de entrada os solenes dizeres do Apocalipse, repetidos na segunda leitura: “Jesus Cristo fez de nós um Reino e sacerdotes para Deus, Seu Pai” (Ap 1,6)Nunca esqueçamos: somos o Povo que deve, no mundo, continuar a missão salvadora de Cristo pelo anúncio, pela oração intercessora, pelo testemunho, pelo serviço humilde e pronto! Em Cristo, toda a Igreja tem a missão sagrada de ser sal e luz para o mundo. Nunca esqueçamos para que existe a Igreja e qual o núcleo da sua missão: dá ao mundo a salvação que Cristo nos trouxe, sendo boca e mãos do Senhor, presença sacramental Dele no mundo e na história.

Aqui, precisamente, se inserem os óleos que o Bispo abençoará e consagrará nesta Missa.
Abençoarei o óleo dos catecúmenos, que será instrumento da graça de Cristo no combate contra o Diabo e todo o mal, porque, na força do Cristo, vencedor do pecado e da morte, a Igreja como um todo e cada cristão, pessoalmente, deve participar da luta contra o Mistério da Iniquidade que permeia o coração e a história dos homens: “O nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Espíritos do Mal” (Ef 6,12);
abençoarei o óleo dos enfermos, que, utilizado no Sacramento da Unção, confere aos membros sofredores da Igreja a graça inestimável de poder completar na própria carne o que faltou dos padecimentos do Cristo Jesus (cf. Cl 1,24).
Por fim, confeccionarei e consagrarei com a potência do Santo Espírito de Cristo o santo Crisma, que nos configura a Cristo, o Ungido, o Crismado pelo Pai, e nos habilita para a missão de Povo sacerdotal, participando da obra do Senhor, sustentados pelo Seu Espírito, até que Ele venha!
Eis, como é belo: os óleos que preparamos hoje para o Senhor na aurora do Sacro Tríduo, serão canais da graça que Ele nos obteve e nos concede pela Sua Páscoa de Paixão, Morte e Ressurreição. Estes óleos benditos serão, para a Igreja de Palmares, o canal do contínuo Pentecostes, do perene dom do Espírito que o Cristo pascal concede à Sua amada Igreja.

Aqui também, queridos padres, encontra sentido o nosso sacerdócio ministerial! No meio deste sagrado Povo sacerdotal, que é a Igreja, o Senhor nos chamou, nos ungiu com o Seu Crisma e nos enviou para sermos presença sacramental Dele, Cabeça, Pastor e Esposo da Igreja! No meio do Povo sacerdotal somos sacramento do Cristo sacerdote que diante de Deus Se oferece totalmente, entrega toda a vida ao Pai pela Igreja e pelo mundo, fazendo da existência uma sacrifício de louvor e adoração e, por outro lado, diante dos homens, somos sacramento do Cristo que Se entregou totalmente o Pai para proclamar que só Ele é Deus, só Ele é Santo, somente Ele deve ser amado e servido acima de todas as coisas, dando sentido e fundamento à nossa vida!

Queridos padres, meus diletos colaboradores, neste mundo que valoriza o que é passageiro, apega-se somente ao que é visível e palpável, louva e elogia a futilidade, nós, sacerdotes do Cristo Jesus e em Cristo Jesus, somos chamados a viver uma vida realmente em Cristo, sendo, no mundo, sinal do Eterno!
Tende certeza que, mais que em outras épocas, o vosso ministério é indispensável para a Igreja e para o mundo! Por favor, não sejais padres pela metade; nunca vivais o vosso sagrado ministério como uma profissão ou uma simples atividade. O sacerdócio de Cristo, no Sacramento da Ordem plasma e configura o nosso ser inteiro, toda a nossa existência em todos os seus aspectos! Somos ministros de Cristo, somos presença de Cristo, somos a boca e as mãos de Cristo, somos sacramento do próprio Coração de Cristo que Se entregou ao Pai pela humanidade.

Recebei hoje, neste dia sacerdotal, o afeto, a gratidão e a oração do Povo de Deus, que certamente, se une aos seus pastores e reconhece em vós os administradores da graça de Deus em Cristo! Hoje, a nossa inteira Igreja diocesana reza e louva ao Senhor por vós, por vossa vida e pelo vosso sim! Hoje, o vosso Bispo se alegra por cada um de vós, louva a Deus por cada um! Sois meus colaboradores, minha ajuda, minha coroa, meus filhos mais próximos, a alegria do meu ministério episcopal!
Parabéns! Deus os abençoe! O Senhor complete em vós a obra que começou, até o Dia de Cristo. Amém.



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