sábado, 13 de abril de 2019

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo Lucas - XI

Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas reuniram-se em conselho e levaram Jesus ao tribunal deles. E diziam: “Se és o Cristo, dize-nos!” Jesus respondeu: “Se Eu vos disser, não Me acreditareis e, se Eu vos fizer perguntas, não Me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Poderoso”. Então, todos perguntaram: “Tu és, portanto, o Filho de Deus?” Jesus respondeu: “Vós mesmos estais dizendo que Eu Sou!” Eles disseram: “Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de Sua própria boca!” Em seguida, toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos (Lc 22,66 – 23,1).

Por que Jesus foi condenado à morte? As motivações foram políticas ou religiosas? Que fique claro: Jesus foi morto essencialmente por motivo religioso: Ele Se declarou o Messias esperado por Israel e, mais ainda, o Filho do Homem descrito por Daniel, fazendo-Se Filho de Deus de um modo único, nunca imaginado pelos judeus, apresentando-Se, assim, como igual a Deus!
Se Jesus apenas tivesse afirmado ser o Messias não seria condenado à morte pelos judeus; seria, talvez, declarado um falso profeta... Mas, Jesus pretendia mais, dizia ser mais: Ele Se colocava claramente diante do Sumo Sacerdote e do inteiro Sinédrio como o Filho do Homem à direita de Deus, vindo sobre as nuvens; Ele Se colocava acima da Torá, a Lei de Moisés.
Fique claro, claríssimo: Jesus não cabe no judaísmo! Ele realiza e ultrapassa as expectativas judaicas! Israel, se aceitasse Jesus como o Messias, teria que dar um enorme salto qualitativo: teria que reconhecer que agora o Senhor Deus selava uma nova e eterna Aliança que incluiria todos os povos da terra. Isto iria mexer com a prática da Lei e com a própria identidade de Israel, seria tirar a ênfase de Israel como Povo Eleito, único, escolhido, para colocá-la no Israel servo da salvação e do Reino de Deus para todos os povos da terra... Era um passo grande demais para a grande maioria dos judeus...

Mas, os judeus não podiam condenar ninguém à morte. O Sinédrio, em nome do inteiro povo de Israel, condenou o Senhor a morrer... No entanto, o poder de fato pertencia aos romanos, que não davam a mínima importância para as questões religiosas judaicas. Então, era preciso urgentemente, encontrar um motivo político que convencesse Pilatos a condenar Jesus. E o motivo foi dado: Ele agita o povo, incentiva a que não se pague o imposto a César e, pior ainda, diz-Se rei dos judeus, colocando-Se em confronto com César! Tudo armação, tudo falso, tudo deturpado, truncado, para fazer alguém inocente parecer odioso! Então: Pilatos condenou Jesus à morte por um crime político que Ele não cometeu nem pensou em cometer: revoltoso, subversivo da ordem romana, com a pretensão de Se tornar rei dos judeus. É este a causa da condenação: “Jesus de Nazaré (que cometeu o crime de Se dizer) rei dos judeus”.

Mas, a questão realmente profunda e decisiva era religiosa! Israel, o Povo santo de Deus, a quem fora prometido o Messias, foi incapaz de acolher o Messias enviado por Deus! E aqui atenção: hoje, pelo justificado cuidado com o antissemitismo e com a moda do politicamente correto, com essa mania de cristãos bonzinhos numa Igreja boazinha, tornou-se um hábito afirmar que foram somente as autoridades judaicas quem condenaram Jesus à morte. Não é assim que os evangelhos dizem, não é esta a leitura teológica do Novo Testamento! Foi Israel como um todo – o Sinédrio com o Sumo Sacerdote representam todo o Povo de Israel, enquanto entidade religiosa: “Toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos!”Israel rejeitou e rejeita ainda hoje Jesus como Messias! Israel como um todo condenou Jesus à morte! É um mistério tremendo! Jamais poderemos compreender isso totalmente, pois pertence ao íntimo do Coração de Deus! Como pode o Povo santo da antiga Aliança não ter acolhido o Salvador que lhe fora enviado, o Salvador tão desejado por todo o Antigo Testamento? Vale a pena ler atentamente sobre este tema as palavras de São Paulo nos capítulos 9 - 11 da Carta aos Romanos.
Israel, apesar de tudo, é ainda o Povo de Deus da Primeira Aliança, Povo sempre amado pelo Senhor. Também por Israel Cristo morreu e, no final dos tempos, todo Israel verá o Cristo em glória e o proclamará como o seu Messias esperado e amado! Em relação ao Povo da antiga Aliança, o cristão deve ter um sentimento de profundo respeito e gratidão pela herança recebida. Nenhum cristão tem o direito de julgar Israel: ele rejeitou o Messias, ele um dia, no final de tudo, O reconhecerá! Isto faz parte de um misterioso desígnio de Deus! Admiremos, adoremos! Até o fato de Israel ter rejeitado Jesus aconteceu, como afirma São Paulo, para nos servir de exemplo, pois nenhum de nós está livre de rejeitar Jesus e matá-Lo no nosso coração! Aliás, atualmente, na Igreja, inclusive tantos ministros sagrados, tantos e tantos, o tem feito...

Atenção: isto não nos dá o mínimo direito de odiar os judeus ou de desprezá-los! Nós somos o novo Israel, e não somos melhores que o primeiro Israel! Também nós somos capazes de renegar Jesus, de traí-Lo, de fugir e deixá-Lo sozinho... Foi um dos nossos quem entregou Jesus aos chefes judeus... Além do mais, se Israel foi culpado por rejeitar Jesus e entregá-Lo à morte, os pagãos (e nós somos os descendentes desses pagãos) levaram Jesus à Cruz... Em suma: é toda a humanidade a culpada pela morte do Salvador. Uma morte que não pode, não deve e não precisa nunca ser vingada, pois ela mesma é uma vingança: a morte de Cristo por amor é a vingança de Deus contra o pecado. Isto: Deus Se vinga do pecado amando, dando a vida para destruir o pecado!

Certamente, a Igreja como um todo, a Igreja em si mesma, nunca poderá abandonar o seu Senhor e Esposo, pois que, na força do Espírito Santo do Ressuscitado, ela é indefectivelmente santa. Mas, em nós, leigos, religiosos ou ministros ordenados, individualmente, quanta infidelidade, quanta frieza, quanta covardia, quantos cristãos sem uma real experiência de Cristo e de amor por Ele, quanto relativismo, quanta mentalidade mundana ideologicamente inspirada, quanto relaxamento moral!

Só nos resta pedir pelos judeus de ontem e de hoje e pelos cristãos de ontem e de hoje e pela humanidade de ontem e de hoje: Senhor, tem piedade de nós!

Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!


2 comentários:

  1. Obrigado D. Henrique. Que Deus o abençoe e pague pela profícua maratona Quaresmal com que tem nos abençoado. Amém.

    ResponderExcluir
  2. Perfeito!
    Já ouvi várias vezes essa má interpretação em dizer que o motivo foi político. Maldita teologia da libertação. Dom Henrique, que nosso Senhor continue orando pelo senhor, assim como Ele fez por Pedro, para que o senhor se mantenha livre dessas armadilhas.

    ResponderExcluir

Caro Irmão, serão aceitos somente comentários que não sejam ofensivos ou desrespeitosos.
Nem sempre terei como responder ao que me perguntam, pois meu tempo é limitado e somente eu cuido deste Blog.
Seu comentário pode demorar um pouco a ser publicado... É questão de tempo...
Obrigado pela compreensão! Paz no Senhor!