Para você, caro Leitor, este importante texto do famoso teólogo africano do século II, Tertuliano:
Cada coisa deve ser caracterizada segundo a sua origem. Por essa razão, todas as Igrejas, por mais que sejam numerosas e grandes, procedem todas de uma única primitiva Igreja apostólica.
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Observações minhas:
Primeiramente, é importante compreender que na grande Tradição da Igreja, herdada do Novo Testamento, todas as vezes que se utiliza “Igrejas” no plural está-se referindo ou às Igrejas locais, isto é, às dioceses, ou às comunidades concretas reunidas para a Eucaristia. Aqui, neste texto, Tertuliano refere-se ao que hoje chamamos dioceses.
Observe-se como não se pensa nem se prega nem se ensina que a Igreja vem da Bíblia! As Igrejas de Deus nascem da Tradição Apostólica, que é a pregação, a vida e as Escrituras canônicas da própria Igreja. Nenhuma Igreja é Apostólica se não está na comunhão de fé e de origem com a Igreja apostólica!
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Essa unidade é atestada pelo fato de que elas se comunicam reciprocamente na paz, chamam-se pelo nome de irmãs e se acolhem com hospitalidade.
Esse estilo de vida não é regido por outra lei a não ser a única Tradição do mesmo sacramento.
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Observações minhas:
No cristianismo antigo, as Igrejas exprimiam a sua comunhão umas com as outras pelas cartas de comunhão, pelos símbolos de fé e, sobretudo, pela hospitalidade eucarística. As cartas de comunhão eram escritos de uma Igreja para as outras, seja para comunicar o nome do novo Bispo que tomara posse, seja para apresentar cristãos de uma Igreja que viajavam e deveriam hospedar-se entre os cristãos de outra Igreja. Uma Igreja aceitar a carta de comunhão de outra era expressão de estar em comunhão de fé e de caridade com aquela que enviara a carta. Os símbolos de fé, ainda como hoje, eram resumos dos principais artigos da fé. Serviam como uma carteira de identidade para averiguar se determinado cristão era ou não de uma Igreja ortodoxa, não herética. Finalmente, o mais importante: a hospitalidade eucarística: as Igrejas apostólicas pronunciavam os nomes dos principais Bispos das Igrejas irmãs, os metropolitas, durante a Eucaristia, sacramento da unidade, e acolhiam fieis dessas outras Igrejas nas suas celebrações eucarísticas.
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De tudo isso, então, eis a lição que devemos conhecer: visto que o Senhor Jesus Cristo enviou os Apóstolos para pregar, não se deve dar ouvidos a outros pregadores a não ser àqueles instituídos por Ele, uma vez que o Filho Se manifestou somente aos Apóstolos, os quais enviou para pregar o que havia revelado.
Mas qual era o tema de Sua pregação? Em outras palavras, o que Cristo lhes revelou?
Eu afirmo que não podemos conhecê-lo de outra forma a não ser por meio dessas mesmas Igrejas que os Apóstolos fundaram pessoalmente e que eles mesmos instruíram, seja por viva voz, seja por meio de cartas.
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Observações minhas:
É importante notar como nunca se pensou em alguém simplesmente sair “pregando a Bíblia” ao seu bel-prazer! Nem mesmo existia um volume chamado Bíblia! A imprensa somente surgiu no século XV... Os pregadores verdadeiramente eclesiais, portadores da fé apostólica, recebiam sua fé da Igreja e pregavam a fé da Igreja, que é a fé apostólica. A Bíblia pela Bíblia, interpretada “livremente”, não transmite a fé apostólica e, muitas vezes, foi usada para sustentar o erro e a heresia! Como em tantas ocasiões tenho repetido: as Escrituras somente transmitem a verdadeira fé quando interpretadas na Igreja, no seio da Comunidade eclesial, que tem a garantia de ser sustentada pelo Espírito do Cristo ressuscitado.
É interessante a questão colocada por Tertuliano: O que Cristo pregou? O que ensinou aos Apóstolos? A resposta dele é simples, correta e surpreendente: pregou e ensinou aquilo que as Igrejas apostólicas vivem e ensinam. É preciso olhar o ensinamento delas, as Escrituras que elas usam e os costumes que elas aprovam. É o todo da vida dessas Igrejas, guiadas pelos legítimos pastores que sucedem aos Apóstolos, que revela a Tradição Apostólica, a fé viva e dinâmica “uma vez por todas confiada aos santos” (Jd 3).
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Nessas condições, é claro que toda doutrina que esteja em acordo com a dessas Igrejas, matrizes e fontes originárias da fé, deve ser considerada autêntica, pois contém, evidentemente, aquilo que receberam dos Apóstolos, e que os Apóstolos receberam de Cristo, e Cristo, de Deus.
Por outro lado, cada doutrina que esteja em contradição com a verdade da Igreja dos Apóstolos de Cristo e de Deus, deve ser, a priori, considerada proveniente da mentira.
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Observações minhas:
Não há como fugir: ainda hoje este critério é sem apelo! É certo que não se pode desrespeitar a consciência ou as convicções de ninguém; mas, a verdade é objetiva e a regra da verdadeira fé encontra-se somente nas Igrejas de Deus que provêm dos Apóstolos sem alterações ou adulterações ou mutilações na sua profissão de fé! Esta verificação é sincrônica (com quem estamos em comunhão atualmente: com os Bispos legítimos, em comunhão entre si e com a Sé de Pedro?) e diacrônica (geração após geração, Domingo após Domingo, a verdadeira Igreja de Cristo, presidida pelos legítimos sucessores dos Apóstolos, celebrou e celebra a Eucaristia na potência do Espírito da Verdade e professou a sua fé apostólica)...
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Resta, portanto, demonstrar que a nossa doutrina, da qual acima formulamos a regra, procede da Tradição apostólica e que, pela mesma razão, as outras provêm da mentira.
Estamos em comunhão com as Igrejas apostólicas, porque a nossa doutrina não difere em nada delas: este é o sinal da verdade. A prova é tão simples que, uma vez exposta, se torna incontestável.
Suponhamos que não a expusemos e permitamos que os nossos adversários produzam argumentos para a invalidar. Eles costumavam dizer que os Apóstolos não sabiam tudo; em seguida, inspirados pelo espírito de loucura, contradizem-se, declarando que os Apóstolos sabiam, sim, tudo, mas não o transmitiram. Em ambos os casos está implícita uma crítica a Cristo, por ter enviado Apóstolos ou mal instruídos, ou muito astutos.
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Observações minhas:
Os hereges sempre mudavam e adulteravam a reta fé apostólica argumentando (1) que os Apóstolos não tinham ensinado tudo e eles estariam agora completando esse ensinamento inspirados por Deus ou, então, (2) argumentavam que os Apóstolos não tinham ensinado tudo aos fiéis comuns, mas somente a um grupo restrito de perfeitos e esses perfeitos teriam transmitido aos que agora estavam ensinando essas novidades condenadas pela Igreja e seus Bispos... É a estas loucuras que Tertuliano responde a seguir...
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Que homem sensato pode acreditar que ignoraram algo aqueles que Cristo nos deu como mestres, e que foram Seus companheiros, Seus discípulos, Seus amigos mais próximos?
Jesus, em privado, clareava-lhes toda a escuridão, dizendo que a eles era dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas ao povo não (cf. Mt 13,11).
Poderia ignorar algo Pedro, a pedra sobre a qual deveria ser edificada a Igreja, ele que recebeu as chaves do Reino do Céus, com o poder de ligar e desligar no céu e na terra?
Poderia ignorar algo João, ele, o amado pelo Senhor, que repousava em Seu peito, o único a quem o Senhor indicou Judas como o futuro traidor, e que entregou a Maria como filho em Seu lugar?
Também ignoraram algo aqueles a quem, depois da Ressurreição, Ele Se dignou explicar, ao longo do caminho, todas as Escrituras?
É verdade que um dia Ele disse: Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Mas acrescentou também: Quando vier o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade (Jo 16,12-13). Demonstra, assim, que nada ignoraram aqueles a quem prometia a posse de toda a verdade, por meio do Espírito da Verdade. Promessa mantida, conforme os Atos dos Apóstolos, que atestam a descida do Espírito Santo.
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Observações minhas:
O raciocínio do nosso Autor está correto: o Senhor nosso Jesus Cristo revelou o essencial da fé e da doutrina aos Doze primeiros. Ali estava o essencial, depois desenvolvido pela ação do Espírito Santo, derramado sobre a Igreja no Pentecostes. E aqui cumpre uma distinção muito importante: pela ação do Espírito de Cristo ressuscitado, tudo quanto os Doze e a geração apostólica ensinaram sob a ação do Espírito é fundante para a Igreja e não pode ser alterado! A partir de então, o Espírito continua agindo na Igreja, sob o pastoreio dos legítimos sucessores dos Apóstolos, fazendo-a compreender e aprofundar sempre mais aquilo que recebeu do Senhor através dos Apóstolos e da geração apostólica, falando sempre a mesma fé apostólica de modo sempre fiel e sempre novo a cada geração e a cada situação onde o Evangelho é anunciado e a Igreja se encontra!
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