segunda-feira, 18 de junho de 2018

A partícula de Deus e o Deus das partículas

Para recordar: em julho de 2012, o mundo da ciência exultou com a provável confirmação da existência do bóson de Higgs, a partícula subatômica que explicaria a formação da matéria no universo. Além do mais, a constatação da existência dessa partícula, confirmaria o chamado Modelo Padrão, um esquema lógico que procura explicar todos os fenômenos subatômicos até agora conhecidos pela ciência.

Do modo metafórico e grandiloquente, chamam a este bóson de Higgs de “partícula de Deus”, expressão forjada pelo cientista Leon Lederman, quase como uma brincadeira...
Não é bom fazer este tipo de mistura! De Deus são todas as partículas, de Deus é todo o universo com suas leis, interações e dinâmicas, de Deus é a maravilhosa inteligência humana, capaz de decifrar a incrível linguagem escrita no cosmos!

É necessário que se compreenda e se tenha sempre presente que a ciência jamais terá algo de novo a dizer sobre Deus, jamais poderá afirmar que Ele existe ou não existe. Esperar tal veredicto das ciências seria desconhecer a natureza do que chamamos “Deus” e a especificidade mesma do que chamamos ciência em sentido estrito. Deus – o Deus verdadeiro já vislumbrado pela teodiceia – é o Ser do qual tudo provém, que a tudo ultrapassa e a tudo perpassa, Nele tudo se sustenta e tudo para Ele se dirige. Deus É, não simplesmente existe! Ora, a ciência cuida de descrever e explicar as leis que regem o universo, este universo. Fora disso, que poderia ela dizer, se lhe escapa o “Objeto” de estudo?

Isto não quer dizer que o discurso sobre Deus não tenha lugar a partir das descobertas científicas ou da razão humana. Quanto mais se penetra no intricado maravilhoso que constitui a natureza, tanto mais somos forçados a perguntar: De onde provém tudo isto? Se o universo revela uma lógica (tão lógica a ponto de se antever fenômenos e elementos ainda desconhecidos empiricamente), não haveria um “Lógos”, uma Inteligência, um Pensamento que a tudo deu origem? Qual a finalidade de tudo quanto existe? Seria tudo somente fruto do acaso? E o homem, esta partícula ínfima da natureza, com uma subjetividade, uma sede, uma saudade de Infinito mais vasta que o próprio universo, a ponto de não sossegar na procura da resposta ao “por quê” e ao “para quê” de tudo? A natureza é somente natureza ou é também criação, obra de um Criador?

Lendo sobre a descoberta do bóson de Higgs, veio-me um pensamento engraçado: o tal bóson não pode ser detectado diretamente, mas apenas pelos sinais que deixa... E o bóson é algo deste mundo... Quanto mais Deus, o Outro, o Santo, o Eterno, o Insondável! Poderia Ele ser capturado pura e simplesmente pelos nossos sentidos? Não! Também Ele, pode ser vislumbrado apenas pelos sinais que deixa... E a Escritura diz isto o tempo todo: Ele é o Santo, o Outro, o Diferente, que habita em luz inacessível. Mas, como o famoso bóson e mais que ele, o Eterno deixa sinais na natureza e no coração humano, deixou sinais na história da salvação e deixa ainda nas nossas histórias. Por que seríamos tão animados a afirmar o bóson de Higgs, partícula deste mundo, que não pode ser detectada diretamente, e tão refratários a acolher aquela Realidade sem a qual nada teria sentido, explicação ou sustento?

Hoje a ciência acolhe a teoria do Big Bang, proposta primeiramente por um cientista belga, sacerdote católico, o Padre Georges Lamaitre, em 1927. Algo explodiu, algo tornou-se energia e depois massa... Mas, de onde vem esse algo? O que provocou sua explosão? Donde brota a misteriosa e poderosíssima gravidade que, no pensar teórico do genial Stephen Hawking, faz o universo contrair-se e expandir-se continuamente? Eis o que a ciência jamais responderá. Eis a misteriosa Realidade primeira a que o crente chama de Deus, que agiu no princípio e continua agindo discretamente em cada lei da natureza, em cada ser que vem a este mundo, em cada flor que brota, em cada criança que ri, em cada esperança que teima em povoar e animar os nossos sonhos.

Estejamos atentos: de afirmar ou não a existência de Deus dependerá radicalmente o nosso modo de interpretar o sentido do universo e, mais ainda, a história e, fundamentalmente, a nossa própria vida. Não é uma questão periférica nem descartável. Querendo ou não, Deus continuará a ser sempre a questão central do coração e da inteligência humana, será sempre espinho ou favo de mel no coração do homem e do mundo. Da afirmação ou não da Sua existência dependerá totalmente o modo de nos compreendermos e compreender a vida, muito mais ainda que o modo de compreendermos o universo como um todo. Deus – eis a aposta fundamental da qual é impossível fugir, mesmo quando se faz de conta que não se quer apostar!

"Deus disse: 'Haja luz!'
- E houve luz!" (Gn 1,3) 

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