quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

"Não farás para ti imagem esculpida..." (III)

Depois de termos visto a questão das imagens no Antigo Testamento, passemos ao Novo.
Aí não há nenhuma proibição de se fazer imagens! Há, sim, duras condenações à idolatria, ou seja, a adorar e servir aos deuses falsos. Mais ainda: a idolatria, no Novo Testamento, não aparece simplesmente como veneração à imagens, mas como uma vida de vícios, gula e ganância:

Não vos torneis idólatras como alguns dentre eles, segundo está escrito: o povo sentou-se para comer e beber; depois levantaram-se para se divertir. Nem nos entreguemos à fornicação, como alguns deles se entregaram... (1Cor 10,7s).

Nenhum fornicário ou impuro ou avarento - que é um idólatra - tem herança no Reino de Cristo e de Deus (Ef 5,5).

Mortificai vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus, e a cupidez, que é uma idolatria (Cl 3,5).

Para o Novo Testamento, a idolatria é o serviço aos falsos deuses e à ganância, à riqueza, à avareza, aos vícios, à busca de enriquecimento ilícito... Tudo isto afasta o homem do Deus verdadeiro e o escraviza às paixões é ídolo e a sujeição a essas realidades é idolatria:

Não quero que entreis em comunhão com os demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios! (1Cor 10,20-21).

Mas, o Novo Testamento vai ainda mais além, e afirma algo espantoso e fundamental para a nossa fé cristã: Deus, que no Antigo Testamento era invisível - e por isso não podia ser representado por imagens -, agora fez-Se visível em Cristo Jesus! Deus agora tem imagem - Cristo feito homem e ressuscitado!

Ele é a imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura (Cl 1,15).

São Paulo diz claramente também em 2Cor 4,4 que Jesus Cristo é a imagem de Deus. Assim, o Deus invisível do Antigo Testamento agora fez-Se visível em Jesus Cristo, imagem do Pai:

Quem me vê, vê o Pai. Como podes dizer: “Mostra-nos o Pai!”? Não crês que estou no Pai e o Pai está em Mim? (Jo 14,9-10).

Note-se que esta ideia é belíssima: o Deus invisível e imaterial, por amor de Suas criaturas fez-Se visível e material: agora pode ser tocado, apalpado, visto! São João, emocionado, vai afirmar esta realidade maravilhosa:

Aquele que era desde o princípio,
o que ouvimos,
o que vimos com nossos olhos,
o que contemplamos ,
e o que nossas mãos apalparam do Verbo da Vida
- porque a Vida manifestou-Se:
nós A vimos e lhe damos testemunho
e vos anunciamos a Vida eterna,
que estava voltada para o Pai e que nos apareceu! (1Jo 1,1-2).


Em Jesus Cristo, Deus não é mais distante, não é mais invisível, não é mais inapalpável: Ele Se fez pessoalmente um de nós, Ele encarnou-Se, fez-Se matéria! Aqui está a diferença fundamental entre Deus no judaísmo e Deus no cristianismo! Por isso não há, no Novo Testamento, uma proibição de fazer imagens; isso já não é uma preocupação dos cristãos! Querer insistir em citar o Antigo Testamento contra o uso de imagens, além de mostrar que não se compreendeu o sentido das proibições vétero-testamentárias é também não ter compreendido o sentido profundo das consequências da Encarnação do Verbo: porque o Filho de Deus assumiu a matéria, a matéria tornou-se apropriada para exprimir, para representar o Filho de Deus e Seus santos, que são por Ele transfigurados em glória. Mas isto nós veremos num próximo tópico!

Resumindo:

A) No Novo Testamento não há nenhuma proibição de fazer imagens.
B) A idolatria (adoração aos deuses pagãos) é duramente condenada e ligada aos vícios, sobretudo o apego ao dinheiro, como se ele fosse um deus.
C) Cristo é apresentado como imagem do Deus invisível: Aquele que não tinha forma e não podia ser representado, agora tem uma imagem: o Verbo encarnado, no qual se vê e se toca na Glória de Deus invisível (cf. Jo 1,14; 1Jo 1,1-4).

Continuaremos ainda num próximo texto.


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