sábado, 3 de agosto de 2019

Homilia para o XVIII Domingo Comum - ano c

Ecl 1,2. 2,21-23
Sl 89
Cl 3,1-5.9-11
Lc 12,13-21

Em que consiste a vida do ser humano? O que faz realmente, de modo definitivo, uma existência humana valer a pena? Como o homem pode, de verdade, ganhar a vida? – Eis algumas perguntas seríssimas para quem deseja viver de verdade e não fazer da existência um tempo perdido e uma paixão inútil.

O Senhor Jesus nos adverte: “A vida do homem não consiste na abundância de bens!”Esta frase recorda-nos uma outra: “Não só de pão vive o homem!” (Lc 4,4). Ao contrário do que o mundo nos quer colocar na cabeça e no coração, não se pode medir o valor de uma vida pelos bens materiais ou pelo sucesso de alguém.

Todos temos um desejo enorme de encontrar um porto seguro para nossa existência. Buscamos segurança: segurança econômica, segurança quanto à saúde, segurança afetiva, segurança profissional, sempre segurança. O problema é que nesta vida e neste mundo nada é seguro e toda segurança não passa de uma ilusão, que cedo ou tarde desaba. O Eclesiastes é de um realismo cortante: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. – Em outras palavras: pó dos pós, tudo é pó; inconsistência das inconsistências, tudo é inconsistência, tudo passa, tudo é transitório e fugaz... E o Salmista hoje faz coro a essa tremenda realidade: “Vós fazeis voltar ao pó todo mortal, quando dizeis: ‘Voltai ao pó, filhos de Adão!’ Pois mil anos para Vós são como ontem, qual vigília de uma noite que passou. Eles passam como o sono da manhã, são iguais à erva verde pelos campos. De manhã ela floresce vicejante, mas à tarde é cortada e logo seca”.
O Autor do Eclesiastes coloca a questão tão dramática: será que tudo quanto construímos, será que nossos amores e sonhos, será que tudo isso caminha para o nada? “Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração!” São palavras duríssimas e, à primeira vista, de um pessimismo sem remédio. Mas, não é assim: o Autor sagrado nos quer acordar do marasmo, nos quer fazer compreender que não podemos enterrar a cabeça e o coração no simples dia-a-dia, sem cuidar do sentido que estamos dando à nossa existência como um todo!

Então, onde apostar nossa vida, para que ela realmente tenha um sentido? Como fugir da angústia de uma vida que vai passando depressa como a lançadeira no tear - para usar uma imagem da Escritura (cf. Jo 7,6)? É interessante observar como hoje se procura fazer a vida valer a pena... Preocupação com a estética, com a saúde, com a satisfação dos desejos... Preocupação em ser vip na sociedade, em ter prestígio e poder, em se esbaldar no divertimento, nos esportes, nos eventos, no turismo... Pois bem, a Palavra de Deus nos adverte de modo seco e solene: tudo passa, tudo é vaidade; não consiste nisto a vida de uma pessoa! Com tudo isso, podemos ser infelizes; com tudo isso, podemos danar para sempre nossa única existência!

Então, em que consiste a vida? Que caminho seguir para repousar nosso coração naquilo que não passa? Como usar as coisas que passam de modo a abraçar as que não passam?
Os cristãos têm uma resposta, que para o mundo é incompreensível. Escutemos o Apóstolo: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do Alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.
Palavras fortes; palavras que o mundo não poderá nunca compreender! Para o cristão, a Vida não se encontra em migalhas desta vida, mas em Cristo: Ele é a Vida verdadeira! Ele, que morreu e ressuscitou, Ele que Se encontra à direita do Pai, Ele que nos disse: “Eu sou a Vida” (Jo 14,6). Nós cremos que tudo quanto vivamos com Ele e de modo coerente com o Seu Evangelho, é Vida e nos faz felizes, livres e maduros. Cremos que viver de verdade a vida é apostar Nele a existência, pois somente Nele, no Cristo Senhor, está a Vida verdadeira, a Vida divina, que dura por toda a Eternidade. Cremos que viver é viver como Ele viveu, “andar como Ele andou” (1Jo 2,6).
Ora, como foi a vida do Cristo? Foi total doação ao Pai e aos outros, por amor do Pai. Total despojamento, numa total liberdade – foi assim que o Cristo passou entre nós. Enquanto o homem tolo da parábola do Evangelho hoje proclamado, juntou tesouros para si mesmo, sendo rico para si, preso em si mesmo, Cristo nosso Senhor foi totalmente rico para o Pai, deixando que Deus o Pai fosse tudo na Sua existência e, assim, tornou-Se rico para os demais, para os homens, para todos os que se encontraram com Ele pelos caminhos do mundo. Pois bem, é nisto que consiste a Vida verdadeira; é nisto que consiste o que Jesus, nosso Senhor, chama no Evangelho de ser “rico diante de Deus” e não ajuntar tesouros para si apenas.

Pensemos bem: num mundo que já não mais sabe olhar para o Alto, num mundo que desaprendeu a ouvir Aquele que tem a Palavra de Vida eterna, não é fácil viver este caminho de Jesus Cristo, não é fácil dizer como o Salmista: “Eu levanto os meus olhos a Ti, que habitas no Céu!” (Sl 122/123,1) E, no entanto, esta é a condição para ser cristão de verdade e para encontrar a verdadeira Vida, aquela que é semente de Eternidade, que dura para a Vida eterna. Nunca esqueçamos, caríssimos, da advertência seríssima do nosso Salvador: “A vida do homem não consiste na abundância de bens”, materiais ou imateriais! Dito de modo direto: seus bens não são sua vida, seu dinheiro não é sua vida, sua família não é sua vida, sua saúde, seus dotes e talentos não são sua vida, sua fama, seus amigos, seu prestígio, nada disto é sua vida!
Não queiramos, portanto, reduzir o Evangelho ao tamanho da nossa mediocridade; tenhamos a coragem de dilatar nosso coração, de ampliar nossos horizontes à medida do apelo do Cristo Jesus e de viver a vida de criaturas novas, ressuscitadas para uma Vida nova, numa existência que, já agora, tenha gosto de Eternidade! Que o Senhor nos conceda esta graça, Ele que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém.


2 comentários:

  1. Divino Pai Eterno, eu LHE agradeço por todos os sacerdotes da VOSSA igreja. No entanto, me ajude fugir do homem velho, da ganância, da vaidade, da imoralidade, da impureza, da paixão, dos maus desejos, da cobiça, da mentira e da idolatria. Me ajude vencer o sofrimento, a ocupação e o tormento. Me ajude ressuscitar com Cristo. Me ajude alcançar as coisas do alto. Me ajude aspirar às coisas celestes. Me ajude ser revestido do homem novo. Me ajude um dia, ser revestido de glória. Me ajude ter mais conhecimento e sabedoria. Me ajude está unido ao meu REDENTOR. Me ajude juntar tesouro no Céu. Me ajude ser rico diante da SANTÍSSIMA TRINDADE. Isso eu LHE peço pela intercessão de Jesus Cristo, VOSSO querido filho e meu amado SALVADOR. Amém.

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