segunda-feira, 17 de junho de 2019

Uma âncora chamada esperança

Na Epístola aos Hebreus há um texto de grande beleza e profundidade: “A esperança é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor...” (6,19s).

Vivemos num mundo esmigalhado, totalmente espatifado em seus valores; um mundo no qual já não se sabe mais por que e para que se vive. Nossa civilização ocidental renunciou colocar-se as grandes questões da existência; contenta-se, agora, simplesmente em sobreviver, ir empurrando a vida com a barriga... É realmente impressionante constatar a falta de um ideal mais alto no horizonte existencial das pessoas: vive-se do provisório, do aqui e do agora...

Ora, o ser humano não foi criado para viver assim, do provisório, simplesmente do palpável, do mensurável, do óbvio ululante. Santo Agostinho, no século V, já exprimia a sede de valores mais profundos que o homem traz em si, com aquelas célebres palavras de suas Confissões: “Tu nos fizeste para Ti, e o nosso coração andará inquieto até que não repouse em Ti”. Mas, não temos construído o mundo e a vida de modo que nosso coração repouse em Deus e, por isso, cansamo-nos em mil preocupaçõezinhas, em mil pequenos interesses, em mil paixões... Sentimos o barco da nossa vida como que perdido neste imenso mar chamado mundo; e lá vamos nós, ao sabor das marés, sem saber bem em que porto vamos atracar, em que praia da existência vamos repousar nosso coração cansado...

Filhos deste tempo de contrastes e mil caminhos, nós, cristãos, somos convidados a viver de esperança. Mas, atenção: não a esperança segundo o mundo: “Eu espero que tal coisa aconteça...” Esperar, para um cristão, significa esperar Deus de Deus, esperar com certeza invencível na sua fidelidade, na sua presença... Esperar é viver na certeza do Seu amor que conduzirá a bom termo nossa existência e o caminho do mundo! Mas, isso não é alienação? Não seria uma ilusão maluca e vazia, feita somente para nos dar um ilusório conforto? Não! Nós cremos e sabemos que o Senhor Jesus morreu e ressuscitou por nós; sabemos que nossa existência – e toda existência humana – caminha para Ele. Aqui entra a afirmação da Carta aos Hebreus: “A esperança é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor...” (6,19s).

Estamos atravessando o mar da vida. Noite, ventos, temores – eis nossos medos, eis o que nos ameaça... Humanamente, os barcos procuram segurança jogando a âncora para o fundo do mar, colocando-se a salvo dos perigos. Os cristãos não jogam a âncora do barco de sua vida para baixo, para o fundo do mar deste mundo: eles não esperam no poder, no dinheiro, na saúde, nos muitos amigos, na realização de pequenos e mesquinhos prazeres...
Não! Não está aqui a rocha na qual podemos ancorar nosso barquinho! Os cristãos jogam a âncora da vida para cima – isto mesmo: para cima! -, para os profundos Céus, onde Jesus ressuscitado e Senhor Se encontra. Ele é a Rocha na qual nossa âncora se segura e prende, impedindo que o barco de nossa vida fique à toa, à deriva! Colocando toda nossa esperança em Cristo, atracados Nele, estamos seguros! É verdade que não O vemos: a âncora tem de penetrar “para além do véu”, para aquelas coisas que não podemos ver, a não ser na fé – “A fé é garantia antecipada do que se espera, a prova de realidades que não se veem” (Hb 11,1).



3 comentários:

  1. Obrigada !! Por ser instrumento da bondade de Deus

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  2. O vazio no corações dos homens de hoje é grande demais . Nada o preenche, e o que pode o completar é somente o viver para Deus e em Deus. Mas Deus está de lado . E então o homem se perde nos meio do ter e ser

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