sábado, 11 de maio de 2019

Homilia para o IV Domingo da Páscoa - ano c

At 13,14.43-52
Sl 99
Ap 7,9.14b-17
Jo 10,27-30

Uma imagem muito comum neste Tempo pascal é aquela do Cordeiro “de pé, como que imolado” (Ap 5,6). Este Cordeiro, eternamente diante do trono do Pai, é o Cristo no Seu estado de perpétua imolação e glória, de entrega sacrifical e ao mesmo tempo vitoriosa, por nós. Mas, misteriosamente, este Cordeiro é também Pastor: “O Cordeiro que está no meio do trono será o seu Pastor e os conduzirá às fontes da água da Vida”. Que imagem impressionante: um cordeiro que é pastor que dá Vida, Vida divina, Vida eterna às ovelhas!
Pois bem, Jesus afirmou: “Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor dá a vida pelas Suas ovelhas” (Jo 10,11). Estejamos atentos: este dar a vida possui dois sentidos: primeiro: Cristo nos dá a vida porque morre por nós, por nós entrega Sua vida humana: “Eu dou Minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). É, portanto, um pastor que ama profundamente o seu rebanho: “As Minhas ovelhas escutam a Minha voz, Eu as conheço e elas Me seguem”.
Num segundo sentido, Cristo dá a vida porque transmite às ovelhas a Vida divina, a Vida eterna, a Vida glorificada que Ele mesmo recebeu do Pai na Sua santa Ressurreição: “Eu lhes dou a Vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de Minha mão!”
Que afirmações estupendas! Nosso Pastor, que por nós Se fez Cordeiro imolado, dá-nos a Vida eterna e imperecível, uma Vida que nos saciará eternamente! Cristão, compreende: como é grande, como é concreta, como é verdadeira a tua esperança, como é certa a tua herança!

Esta Vida, que o Cordeiro-Pastor nos prepara, é para todos, é em abundância. Isto já aparece na primeira leitura desta Liturgia sagrada: diante da recusa dos judeus como um todo em acolher o Evangelho da salvação em Jesus Cristo, o Apóstolo volta-se para os pagãos: “Era preciso anunciar a Palavra de Deus primeiro a vós, judeus. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da Vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”. E estes, cheios do Espírito Santo, ficaram cheios de alegria. Eis! A salvação que Cristo nos trouxe, com Sua Morte e Ressurreição, com Seu mistério pascal, é plena, é total e é para todos!

É com estas idéias e sentimentos no coração que devemos, agora, contemplar a estupenda imagem que o Apocalipse nos apresenta na Liturgia de hoje. Toda a humanidade, “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar... de pé, diante do trono e do Cordeiro”...
Pensemos bem! É toda esta humanidade tão sofrida, de vida tão frágil, de esperança tão incerta, que é chamada a este momento tão grandioso: de pé (posição de quem venceu, de quem está vivo) diante do trono de Deus e do Cordeiro, o Cristo nosso Senhor, Aquele que venceu! Observai que nossa esperança nada tem de espírito de seita. A salvação não é para um grupinho de eleitos que excluem os demais farisaicamente! Não! Nunca! Deus quer “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Os cristãos têm o dever de olhar o mundo com amor benevolente e a ele levar a Boa-Nova do Cristo nosso Deus. Nós, amados por Deus-Pai em Cristo, não podemos guardar só para nós esse amor e essa salvação: é preciso anunciá-la, comunicá-la, e com um coração bom, benévolo para com o mundo: nunca uma atitude de seita, de acusação, de fechamento! Dizer a verdade, sim, sem medo de ser incompreendido ou rejeitado; anunciar a verdade, sim, sem mudá-la ou omiti-la em uma vírgula que seja; denunciar o erro e o pecado, sim, com coragem e clareza; mas, com uma atitude de amor e respeito, de benignidade, como o coração do bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho!

Estes eleitos “trajavam vestes brancas” símbolos da Glória, de Vida divina, da pureza e da imortalidade; “traziam palmas na mão”, símbolo da vitória. Quem são eles? “São os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”. Que imagem fantástica! É a multidão dos cristãos de todos os tempos, que perseveraram e venceram no combate das tribulações desta vida, às vezes, lutando até à morte! Pensemos: somos nós, se formos fiéis no combate do Cristo; somos nós, se perseverarmos e guardarmos a fé e a esperança no Senhor nas lutas e provações desta vida!
Estejamos atentos: “lavaram e alvejaram as vestes no sangue do Cordeiro!” Sangue bendito e precioso, que lava, que purifica, que alveja! Nenhum de nós chegará diante do trono limpo por sua própria limpeza, mas sim pelo sangue do Cordeiro que é nosso Pastor! “Nunca mais terão fome, nem sede. Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente”.
Bendito Cordeiro, bendito Pastor, bendito Cristo-Senhor, que nos dá uma Vida tão plena! Ele mesmo nos tinha prometido: “Quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem crê em Mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35).
Bendito Jesus, que é tão fiel! “E o Cordeiro, que está no meio do trono, será seu Pastor e os conduzirá às fontes da água da Vida”. Aonde nos conduzirá o Pastor? Que lugar é este, com tanta Vida e tanto frescor e consolação? Escutai a Palavra: “Aquele que está sentado no trono os abrigará na Sua tenda... E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos!” Eis, irmãos, aonde o Cristo imolado e ressuscitado nos conduz: à tenda do Coração do Pai, para nos aconchegar, para nos consolar, para nos enxugar as lágrimas, para nos dar a vida em abundância: “Meu Pai, que Me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos uma só coisa!”

É por isso, caríssimos, que a Páscoa de Cristo é também nossa: a Sua vitória é penhor da nossa, é certeza de nossa esperança agora e plenitude no Dia de Cristo nosso Senhor. Vivamos fielmente os combates do presente, deixemo-nos guiar pelo bom Pastor, lavemos nossas vestes no sangue do Cordeiro e sejamos herdeiros da Vida que Ele nos prepara. Ele, bendito pelos séculos dos séculos. Amém.


Um comentário:

  1. Suas palavras tem alimentado minha alma; seus ensinamentos muito ajudar-me entender a grandiosidade de ser eu Católico, e me faz cada dia entender melhor o porque Cristo instituiu apenas uma Única Igreja. Obrigado, Dom Henrique.

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