Neste Domingo próximo, a Igreja encerra o Tempo do Natal.
Para os cristãos que não se contentaram com um período
natalino de simples gestos exteriores costumeiros, modos simplesmente
repetitivos, em nome de um difuso e confuso “espírito de natal” que ninguém
sabe o que é, para quem procurou realmente celebrar de modo religioso a
festividade cristã, este tempo sagrado ora findo deve deixar renovadas no
coração algumas certezas.
A primeira e mais importante dessas certezas:
Há um Deus no Céu e este Deus Infinito, Incompreensível,
Santo, não é teórico, frio como um teorema, distante quanto uma galáxia no
extremo do universo. Nada disso!
O Deus grande, santo, misterioso, inatingível, fez-Se
Emanuel, Deus-Conosco, Deus-um-de-nós, Deus humanizado! - Que coisa: Deus
apequenou-Se, Deus humanizou-Se!
Isto não significa que Se tornou nosso amiguinho de farra,
nosso parceiro, o cara legal, gente boa com quem podemos barganhar ou brincar!
Não! Ele continua o Santo, o Misterioso, mas ao mesmo tempo próximo no Seu
amor, na Sua misericórdia na Sua ternura salvífica.
Aliás, segundo as Escrituras Santas e a fé da Igreja, para
isso Ele criou tudo: para nos visitar e tudo levar à Sua plenitude: “De Sua
plenitude recebemos graça sobre graça!” Criou tudo para Si e tudo somente Nele
encontra a plenitude do ser e do sentido! Simples assim, grave assim, urgente
assim, trágico assim!
Outra certeza: Se Deus entrou no tempo do mundo, todos os
nossos tempos agora são povoados pelo Senhor, todos os nossos tempos
tornaram-se semente de eternidade, da Eternidade do Deus eterno!Os tempos
fugazes, passageiros, de nossa existência tornaram-se grávidos de Glória, do
ser imperecível, imorredouro, do próprio Deus!
Quando vivemos a vida diante Daquele que veio a nós, com
Aquele que nos visitou, vindo da Virgem, tudo ganha novo sentido, tudo tem
gosto de eternidade: até a dor, até as lágrimas, até a morte...
Deus está conosco; não estamos sozinhos nem na vida nem na
morte! O Infinito nos circunda, o Eterno nos envolve, a Vida nos abarca, nos
penetra, nos encharca com o Seu Ser divino! De repente, para quem de verdade
crê que Deus é Emanuel, tudo passa a ter gosto de Eternidade, tudo se
transforma em semente de Eternidade!
Um terceiro aspecto: O Senhor veio em Belém, o Senhor vem a
cada dia em cada situação, em cada decisão, o Senhor virá no momento da nossa
morte, o Senhor virá um Dia, no Dia Final.
A vida de todo verdadeiro crente cristão deve ser vivida
como um diálogo contínuo com esse Deus próximo, Deus que vem vindo sempre; a
vida do crente é sempre uma resposta aos Seus apelos. O crente verdadeiro nunca
vive primeiro diante de si próprio, mas fundamentalmente diante de Deus. É a
partir do Altíssimo que ele mesmo se compreende, se sente, decide, caminha... "Anda
na Minha presença e sê perfeito!"
Pense que vida: uma aventura de diálogo com o Eterno, uma
resposta de amor ao Amor infinito, uma parceria bendita de amizade e ternura e
delicadeza com Aquele que é o Mistério Santo, Sentido, Princípio e Fim de todas
as coisas.
Quarta certeza: o Emanuel que nos veio não é simplesmente o
Salvador dos cristãos.
Ele é a verdade do universo, a verdade da inteira
humanidade, o Salvador de todos: veio para todos, veio para o mundo e a
humanidade por Ele criados.
Isto compromete todo aquele que crê: temos o dever e a
missão de falar do Menino, do Salvador, a todos quantos ainda não O conheçam. A
fé em Cristo nunca deve ser imposta a ninguém, mas deve ser com franqueza e
coragem proposta a todos!
Os cristãos devem renunciar a toda tentação de poder e de
tutela sobre a sociedade, mas nunca devem abrir mão da missão de humildemente
ser sal e luz para quem desejar encontrar o Sentido da existência!
Sim, no nosso mundo descristianizado – e olhe que nunca mais
a sociedade como um todo será cristã! – temos a responsabilidade de dizer ao
mundo que há uma Luz, que Ela brilhou em Belém e resplandeceu de modo
definitivo na Ressurreição, de modo que o mundo tem sentido, a vida tem
sentido, a criação tem sentido, os sonhos e tormentos dos homens têm sentido!
Com mansa convicção o Cristo deve ser sempre proposto sem
nunca ser imposto! Foi assim nos dias da carne de Jesus, deverá ser sempre
assim: Ele Se propôs, nunca Se impôs! Por isso mesmo veio pequeno, pobre,
criança indefesa... Por isso morreu impotente, mais pobre ainda, homem de
dores, crucificado, sepultado pelo pecado e o esquecimento do mundo...
Quinta convicção: O Deus que em Jesus nos visitou e nos
convidou a viver na Sua santa presença, fazendo da nossa existência um amoroso
“sim”, respeitará sempre a liberdade da nossa resposta...
Os Magos acolheram o Menino; Herodes O rejeitou, Jerusalém
tratou-O com solene e fria indiferença. Será sempre assim!
Nós, cristãos, muitas vezes trazemos em nós a saudade dos
tempos em que existia uma sociedade nominalmente cristã, com uma cultura gerada
em grande parte por uma visão cristã... Estes tempos passaram e não mais
voltarão! Mas, veja bem, meu Leitor: o anúncio do Cristo que por nós nasceu não
deveria nunca ser feito de modo massificado, a toda uma sociedade. Ao menos não
foi assim que o Cristo pensou!
O encontro com o Senhor será sempre pessoal; a resposta ao
Seu apelo de salvação será sempre pessoal. Certamente, ao acolher o anúncio
feito pela Igreja, o crente entra nessa Comunidade de fé, que é ao mesmo tempo
Corpo de Cristo, a nossa Mãe católica. A fé, certamente, não é privada; mas,
será sempre pessoal!
Não creio na possibilidade de uma cultura cristã; nem mesmo
penso que isso seja um ideal pelo qual devamos os bater! Creio em cristãos
sendo pouquinho de sal e teimosas chamas luminosas na cultura plural que vai se
afirmando no mundo atual.
Eis o grande desafio para a Igreja inteira e para cada
cristão: crer de tal modo no Senhor, vivê-Lo com tal intensidade, testemunhá-Lo
com tal coerência e inteireza de vida, que o Senhor e Seus discípulos apareçam
ao mundo como luz para quem desejar sair das trevas e sal para quem quiser
encontrar o sabor da vida! Foi esta a missão que o Senhor nos deu com a Sua
piedosa Vinda; esta será sempre nossa missão, até o fim dos tempos!
Fiquem no nosso coração estes perfumes suaves do Santo
Natal!
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