segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Os Sacramentos - Quem os instituiu?

Voltamos, com este texto, a falar sobre os sacramentos. Seria bom que você relesse os outros três que já escrevi. As questões que vamos responder agora são: Foi Cristo quem instituiu os sacramentos? Como os instituiu? Como entender este conjunto de sete gestos? Quem celebra os sacramentos? Com que objetivo?

Quem instituiu os sacramentos e como os instituiu?

É convicção da Igreja que os sacramentos todos foram instituídos por Cristo. Somente assim eles têm, de fato, um valor salvífico verdadeiro, pois nenhuma instituição meramente humana poderia conceder eficazmente a graça se esta não fosse concedida pelo próprio Senhor, autor da graça e doador do Espírito. Corrigindo os erros de Lutero e Calvino, pais do protestantismo, o Concílio de Trento ensinou de modo infalível, com a autoridade que Cristo deu aos Apóstolos e seus legítimos sucessores, os Bispos: “Se alguém afirmar que os sacramentos da nova lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, nosso Senhor... seja anátema” (Denz 1606).
Mas, onde, na Bíblia aparece a instituição dos sete sacramentos, um por um? Antes de responder esta questão é necessário compreender o que o Concílio quis afirmar com a palavra “instituir”. Quando estudamos as atas do Concílio de Trento, vemos explicado lá que os Bispos participantes do Concílio afirmaram que Cristo “instituiu” no sentido que é Ele, Jesus Cristo, diretamente, quem confere eficácia, poder e efeito ao rito celebrado. Em outras palavras: a força do sacramento vem de Cristo e só Dele, é manifestação da Sua obra de salvação. Os sacramentos não são, como dizia erradamente Calvino, instituições da Igreja. Para compreender isto é necessário reler o que escrevi sobre Jesus Cristo, o Sacramento primordial e sobre a Igreja, sacramento de Cristo! Jesus é a presença de salvação, visível e eficaz, de Deus no nosso meio – por isso Ele é o Sacramento do Pai; a Igreja, por sua vez, sustentada e impregnada da força da Espírito de Cristo, é continuadora da presença do Senhor ressuscitado e operante: o Cristo Senhor fez dela sinal visível e eficaz de Sua Palavra e de Sua ação – ela é sacramento de Cristo! Então, ao instituir a Igreja, o Senhor Jesus tinha a intenção clara que ela fosse sacramento da Sua presença e que seus gestos e palavras fossem sinais eficazes da Sua ação e da Sua presença. É isto que o Concílio tridentino deseja ensinar dogmaticamente, sem entrar na questão do modo e do tempo da instituição de cada sacramento em particular e sem afirmar se Cristo estabeleceu a última e detalhada especificação de cada sacramento. É a Igreja que, ouvindo e meditando as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, escutando os seus santos doutores de todas as épocas e discernindo os próprios sentimentos e caminhos que o Espírito de Cristo foi suscitando no seu seio, foi discernindo e identificando com sempre maior consciência a vontade a ação do Senhor nos ritos sacramentais.
Neste sentido, toda a Igreja é sacramental: Jesus, nosso Senhor, não quis apenas os sete sacramentos; quis muito mais: desejou a própria estrutura sacramental da Igreja; quis que Sua presença graciosa e salvífica fosse vista, concreta, palpável nos ritos, gestos, ação de serviço que a Igreja realiza entre os homens. É isto que o Concílio de Trento quis ensinar: a estrutura sacramental da Igreja não vem nem dos Apóstolos nem da própria Igreja, mas soberanamente do próprio Cristo Jesus, Sacramento primordial! E isto é dogma de fé!

Insisto nesta observação importante: o Concílio de Trento não quis entrar na questão de como cada sacramento foi instituído pelo Senhor Jesus durante a Sua vida terrena e muito menos se preocupou em catar versículos da Escritura para provar, tintim por tintim a instituição de cada sacramento. Esta tarefa a Igreja deixa para o estudo dos exegetas e teólogos! Interessa à Igreja que, biblicamente, está mais que dito que Cristo fez de Sua Igreja sacramento de Sua presença, prolongamento de Seus gestos e palavras salvíficos! No entanto, isto não significa que não possamos ver no próprio Novo Testamento o embrião da prática de cada um dos sacramentos. Vejamos somente alguns exemplos – existem outros:

- para o Batismo“Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus”(Jo 3,5); “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...”(Mt 28,19).

- para a Eucaristia“Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o Meu corpo’. Em seguida, tomando um cálice, depois de dar graças, deu-lhes, dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o Meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos pecados’” (Mt 26,26ss; cf. Mc 14,22-24; Lc 22,19s; 1Cor 11,24s).

- para a Penitência“Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no Céu e tudo quanto desligaredes na terra será desligado no Céu” (Mt 18,18); “Após essas palavras, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem não perdoardes os pecados não serão perdoados’” (Jo 20,22s).

- para a Confirmação“Quando os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram que a Samaria recebera a Palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram uma oração pelos novos fiéis a fim de receberem o Espírito Santo, visto que ainda não havia descido sobre nenhum deles. Tinham sido somente batizados em Nome do Senhor Jesus” (At 8,14ss); “Ouvindo isso, foram batizados em Nome do Senhor Jesus. Pela imposição das mãos, Paulo fez descer sobre eles o Espírito Santo. Falavam em línguas e profetizavam” (At 19,5s).

- para a Ordem“E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-lhes dizendo: ‘Isto é o Meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto em memória de Mim’” (Lc 22,19); “Por este motivo eu te exorto reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” (2Tm 1,6).

- para o Matrimônio“Não lestes que no princípio o Criador os fez homem e mulher e disse: Por isso o homem deixará o pai e a mãe para unir-se à sua mulher, e os dois serão uma só carne? Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mt 19,4-9); “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. Maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela... Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Decerto, ninguém odeia sua própria carne mas a nutre e trata como Cristo faz com Sua Igreja, porque somos membros de Seu corpo. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne. Grande é este mistério. Quero referir-me a Cristo e Sua Igreja (Ef 5, 21-32).

- para a Unção dos enfermos“Há algum enfermo? Mande, então, chamar os presbíteros da Igreja, que façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará e, se tiver cometido pecado, será perdoado” (Tg 5,14s).

Compreenda-se bem: estes textos não são provas do momento em que os sacramentos foram instituídos! Eles simplesmente mostram como o embrião de cada ação sacramental da Igreja estava presente na ação de Cristo e dos Apóstolos por Ele enviados! Assim, todos e cada sacramento remota a Cristo, que fez de Sua Igreja sacramento de salvação! O Catecismo da Igreja afirma isto de modo muito belo: “As palavras e as ações de Jesus durante Sua vida oculta e durante Seu ministério público já eram salvífica. Antecipavam o poder do Seu Mistério Pascal. Anunciavam e preparavam o que iria dar à Igreja quando tudo fosse realizado. Os mistérios da vida de Cristo são os fundamentos daquilo que agora, por meio dos ministros de Sua Igreja, Cristo dispensa nos sacramentos, pois aquilo que era visível em nosso Salvador passou para Seus mistérios. Os sacramentos são forças que saem do Corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são ações do Espírito Santo operante no Corpo de Cristo, que é a Igreja; são as obras-primas de Deus na Nova e Eterna Aliança” (nn. 1115s).

No próximo texto continuaremos: Como a Igreja chegou a compreender estes sete gestos sagrados como sacramentos: por quê sete? e para quê?


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