Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas reuniram-se em conselho e levaram Jesus ao tribunal deles. E diziam: “Se és o Cristo, dize-nos!” Jesus respondeu: “Se Eu vos disser, não Me acreditareis e, se Eu vos fizer perguntas, não Me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Poderoso”. Então, todos perguntaram: “Tu és, portanto, o Filho de Deus?” Jesus respondeu: “Vós mesmos estais dizendo que Eu Sou!” Eles disseram: “Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de Sua própria boca!” Em seguida, toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos (Lc 22,66 – 23,1).
Por que Jesus foi condenado à morte? As motivações foram políticas ou religiosas? Que fique claro: Jesus foi morto essencialmente por motivo religioso: Ele Se declarou o Messias esperado por Israel e, mais ainda, o Filho do Homem descrito por Daniel, fazendo-Se Filho de Deus de um modo único, nunca imaginado pelos judeus, apresentando-Se, assim, como igual a Deus!
Se Jesus apenas tivesse afirmado ser o Messias não seria condenado à morte pelos judeus; seria, talvez, declarado um falso profeta... Mas, Jesus pretendia mais, dizia ser mais: Ele Se colocava claramente diante do Sumo Sacerdote e do inteiro Sinédrio como o Filho do Homem à direita de Deus, vindo sobre as nuvens; Ele Se colocava acima da Torá, a Lei de Moisés.
Fique claro, claríssimo: Jesus não cabe no judaísmo! Ele realiza e ultrapassa as expectativas judaicas! Israel, se aceitasse Jesus como o Messias, teria que dar um enorme salto qualitativo: teria que reconhecer que agora o Senhor Deus selava uma nova e eterna Aliança que incluiria todos os povos da terra. Isto iria mexer com a prática da Lei e com a própria identidade de Israel, seria tirar a ênfase de Israel como Povo Eleito, único, escolhido, para colocá-la no Israel servo da salvação e do Reino de Deus para todos os povos da terra... Era um passo grande demais para a grande maioria dos judeus...
Mas, os judeus não podiam condenar ninguém à morte. O Sinédrio, em nome do inteiro povo de Israel, condenou o Senhor a morrer... No entanto, o poder de fato pertencia aos romanos, que não davam a mínima importância para as questões religiosas judaicas. Então, era preciso urgentemente, encontrar um motivo político que convencesse Pilatos a condenar Jesus. E o motivo foi dado: Ele agita o povo, incentiva a que não se pague o imposto a César e, pior ainda, diz-Se rei dos judeus, colocando-Se em confronto com César! Tudo armação, tudo falso, tudo deturpado, truncado, para fazer alguém inocente parecer odioso! Então: Pilatos condenou Jesus à morte por um crime político que Ele não cometeu nem pensou em cometer: revoltoso, subversivo da ordem romana, com a pretensão de Se tornar rei dos judeus. É este a causa da condenação: “Jesus de Nazaré (que cometeu o crime de Se dizer) rei dos judeus”.
Mas, a questão realmente profunda e decisiva era religiosa! Israel, o Povo santo de Deus, a quem fora prometido o Messias, foi incapaz de acolher o Messias enviado por Deus! E aqui atenção: hoje, pelo justificado cuidado com o antissemitismo e com a moda do politicamente correto, com essa mania de cristãos bonzinhos numa Igreja boazinha, tornou-se um hábito afirmar que foram somente as autoridades judaicas quem condenaram Jesus à morte. Não é assim que os evangelhos dizem, não é esta a leitura teológica do Novo Testamento! Foi Israel como um todo – o Sinédrio com o Sumo Sacerdote representam todo o Povo de Israel, enquanto entidade religiosa: “Toda a multidão se levantou e levou Jesus a Pilatos!”Israel rejeitou e rejeita ainda hoje Jesus como Messias! Israel como um todo condenou Jesus à morte! É um mistério tremendo! Jamais poderemos compreender isso totalmente, pois pertence ao íntimo do Coração de Deus! Como pode o Povo santo da antiga Aliança não ter acolhido o Salvador que lhe fora enviado, o Salvador tão desejado por todo o Antigo Testamento? Vale a pena ler atentamente sobre este tema as palavras de São Paulo nos capítulos 9 - 11 da Carta aos Romanos.
Israel, apesar de tudo, é ainda o Povo de Deus da Primeira Aliança, Povo sempre amado pelo Senhor. Também por Israel Cristo morreu e, no final dos tempos, todo Israel verá o Cristo em glória e o proclamará como o seu Messias esperado e amado! Em relação ao Povo da antiga Aliança, o cristão deve ter um sentimento de profundo respeito e gratidão pela herança recebida. Nenhum cristão tem o direito de julgar Israel: ele rejeitou o Messias, ele um dia, no final de tudo, O reconhecerá! Isto faz parte de um misterioso desígnio de Deus! Admiremos, adoremos! Até o fato de Israel ter rejeitado Jesus aconteceu, como afirma São Paulo, para nos servir de exemplo, pois nenhum de nós está livre de rejeitar Jesus e matá-Lo no nosso coração! Aliás, atualmente, na Igreja, inclusive tantos ministros sagrados, tantos e tantos, o tem feito...
Atenção: isto não nos dá o mínimo direito de odiar os judeus ou de desprezá-los! Nós somos o novo Israel, e não somos melhores que o primeiro Israel! Também nós somos capazes de renegar Jesus, de traí-Lo, de fugir e deixá-Lo sozinho... Foi um dos nossos quem entregou Jesus aos chefes judeus... Além do mais, se Israel foi culpado por rejeitar Jesus e entregá-Lo à morte, os pagãos (e nós somos os descendentes desses pagãos) levaram Jesus à Cruz... Em suma: é toda a humanidade a culpada pela morte do Salvador. Uma morte que não pode, não deve e não precisa nunca ser vingada, pois ela mesma é uma vingança: a morte de Cristo por amor é a vingança de Deus contra o pecado. Isto: Deus Se vinga do pecado amando, dando a vida para destruir o pecado!
Certamente, a Igreja como um todo, a Igreja em si mesma, nunca poderá abandonar o seu Senhor e Esposo, pois que, na força do Espírito Santo do Ressuscitado, ela é indefectivelmente santa. Mas, em nós, leigos, religiosos ou ministros ordenados, individualmente, quanta infidelidade, quanta frieza, quanta covardia, quantos cristãos sem uma real experiência de Cristo e de amor por Ele, quanto relativismo, quanta mentalidade mundana ideologicamente inspirada, quanto relaxamento moral!
Só nos resta pedir pelos judeus de ontem e de hoje e pelos cristãos de ontem e de hoje e pela humanidade de ontem e de hoje: Senhor, tem piedade de nós!
Nós Vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos, porque pela Vossa santa Cruz remistes o mundo!
Obrigado D. Henrique. Que Deus o abençoe e pague pela profícua maratona Quaresmal com que tem nos abençoado. Amém.
ResponderExcluirPerfeito!
ResponderExcluirJá ouvi várias vezes essa má interpretação em dizer que o motivo foi político. Maldita teologia da libertação. Dom Henrique, que nosso Senhor continue orando pelo senhor, assim como Ele fez por Pedro, para que o senhor se mantenha livre dessas armadilhas.