sábado, 26 de janeiro de 2019

Homilia para o terceiro domingo comum - ano c

Ne 8,2-4a.5-6.8-10
Sl 18B
1Cor 12,12-30
Lc 1,1-4; 4,14-21

Há três aspectos na Liturgia da Palavra de hoje dignos de particular atenção.

Primeiro. O Evangelho apresenta-nos o início da obra de Lucas. Aí se tem uma dedicatória e uma apresentação da obra a um certo “Teófilo” – o nome Teófilo significa “amigo de Deus”. E Lucas afirma expressamente que “após um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para ti... Deste modo poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste”.
Estas palavras nos revelam a seriedade do testemunho dos evangelhos. Não são fábulas, não são delírios! São, isto sim, um testemunho de fé! Testemunho de quem crê, de quem tem razões para crer e quer fazer com que outros creiam e creiam com razão profunda!

Num mundo de tantas verdades, de tantas mentirinhas, de tantas seitas, lendas e mitos, da tentação de pensar a fé como ideia, como simples ideologia politicamente correta... Num mundo que virou um enorme coquetel de religiões, onde cada um faz a sua, na sua medida e do seu modo, na proporção e no gosto do seu comodismo, é preciso recordar que somente em Cristo Deus revelou-Se plenamente; somente Cristo é a Verdade do Pai; somente Ele, o Caminho para Deus; somente Nele, a Vida em abundância!
Mas, ainda aqui, é preciso dizer mais, por mais chato que possa parecer! Cristo é o único Caminho, Verdade e Vida, mas não qualquer Cristo! Não um Cristo inventado, não um Cristo “meu”, do meu tamanho e do meu gosto, não o Cristo relido à luz das ideologias e modas, não o Cristo preso nas amarras de certas teologias!
O Cristo que o Pai revelou, o Cristo vivo e atuante, é Aquele presente na Palavra guardada, pregada e testemunhada, século após século, sem fratura, pela Igreja com a assistência do Espírito Santo; é Aquele que se dá nos sacramentos da Igreja; é Aquele presente na Igreja que no Credo professamos como sendo única, católica e apostólica.
Num mundo de tantas dúvidas, Cristo presente, de modo perene e contínuo, na Sua Igreja católica seja a nossa certeza, a nossa segurança, o nosso rochedo!

Um segundo aspecto. Ainda o Evangelho de hoje, nos apresenta Jesus na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me consagrou com a Unção”.
Quando se deu esta consagração? No batismo às margens do rio Jordão. Há quinze dias meditávamos sobre este mistério: o Pai, o Senhor, ungiu Jesus com o Espírito Santo como Messias de Israel. E qual a Sua missão? “consagrou-Me com a Unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-Me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”.
Eis a missão de Jesus, o Messias: acolher, consolar, perdoar, libertar, fazer viver.
Mas, para que experimentemos Jesus assim, é necessário que nós mesmos descubramos que somos pobres, que somos tão carentes, tão limitados, tão pequenos. Quando descobrimos isso, quando vemos que o mundo é assim, então experimentamos também que, em Jesus, Deus veio a nós, Deus deu-Se a nós, Deus estendeu-nos as mãos, abriu-nos os braços e aconchegou-nos no coração.

É por isso que a pessoa, os atos e as palavras de Jesus são Boa-nova, Boa-notícia, ou, em grego, Evangelho! E a Boa-nova é precisamente esta: Deus nos ama, está conosco em Jesus; veio para ficar, para permanecer para sempre na nossa vida e no coração do mundo!

Aqui entra, precisamente, o terceiro aspecto da Palavra deste Domingo: este Jesus permanece conosco na potência sempre presente e atuante do Seu Espírito Santo, presente de modo potente e soberano na Igreja que Jesus fundou. Já no Domingo passado, vimos que a Igreja é a Esposa do Cristo, cheia do vinho abundante do Espírito Santo, que nela suscita tantos dons, tantos carismas, tantos ministérios, tanta Vida divina. Pois bem, a segunda leitura da Missa de hoje insiste nesta idéia e aprofunda-a ainda mais.

Porque Cristo ressuscitou e nos deu o Seu Espírito Santo, nós, como Igreja, desde o nosso Batismo, somos o Corpo de Cristo: “Vós, todos juntos, sois o Corpo de Cristo e, individualmente, sois membros deste Corpo”. É juntos, como Comunidade, como membros da Igreja, que somos o Corpo vivo do Cristo; Corpo vivificado pelo Espírito Santo! É uma ideia, esta, que deveria estar sempre diante de nós! A Igreja não existe por ela mesma: ela vive do Espírito do Cristo; a Igreja não escolheu o Cristo: ela foi por Ele amada, por Ele fundada, por Ele escolhida e é por Ele sustentada e vivificada; o Cristo não pertence a Igreja: a Igreja é que pertence a Cristo e, na força do Espírito é sempre amada e renovada por Ele. Ele nunca vai abandoná-la, nunca vai traí-la, nunca vai renegá-la!

E mais ainda: no Seu Amor, isto é, no Seu Espírito, Ele suscita no corpo da Igreja, que é o Seu Corpo, tantos membros diferentes, com dons e carismas tão diversos! É o que São Paulo nos recorda na leitura de hoje. Ninguém pode ser cristão sozinho! Cristo não é salvador individual de ninguém! Ele é o Salvador do Corpo que é a Igreja (cf. Ef 5,23)! Nós somos salvos no Corpo de Cristo, enquanto membros do povo da Aliança, que é a Igreja. Nesta, quem nos une é o Amor de Cristo e nela, cada um de nós tem uma missão, uma função! Qual é a sua? Quais são as suas? Pai ou mãe de família, educando novos membros para o Corpo de Cristo? Agente de pastoral engajado diretamente na evangelização? Jovem que se esforça para dar um generoso testemunho de coerência e amor a Cristo? Empresário, funcionário público, empregado, que no seu trabalho procura ter um comportamento digno do Evangelho? Qual o seu papel na Igreja? Rico ou pobre, forte ou fraco, jovem ou ancião, todos temos como honra e dignidade ser membros do Corpo do Senhor, sustentados e vivificados pelo Espírito do Senhor, destinatários da salvação e da consolação que Ele nos trouxe, do carinho e da ternura do Pai que Ele derramou sobre nós.

Desde Domingo passado que a Palavra santa vem nos questionando sobre o nosso modo de ser e viver nossa pertença a Cristo e à Sua Igreja. Pensemos, e não recebamos em vão a graça de Deus, para que, um dia, possamos participar da Vida plena Daquele que Senhor que, feito homem por nós, vive e reina para sempre. Amém.



2 comentários:

  1. Dom Henrique, muito obrigado por iluminarmos com a palavra de Deus diante de tantas informações, nesse mundo, desencontradas. Graças a Deus! Deus te abençoe em teu ministério.

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  2. Ó Deus Todo Poderoso e Cheio de Misericórdia, eu LHE agradeço por todos os sacerdotes que existiram e que existem no mundo. Todavia, me ajude escutar com atenção a leitura do livro da Lei. Me ajude compreender, ensinar e viver a VOSSA palavra. Me ajude a bendizê-Lo e adorá-Lo com sinceridade. Me ajude a respeitar o dia consagrado ao SENHOR. Me ajude a fazer caridade com alegria. Me ajude viver o meu batismo. Me ajude com os dons, carismas e frutos do Espírito Santo. Me ajude viver em comunidade. Me ajude ser um bom ministro da palavra. Me ajude estudar e escrever com sabedoria. Me ajude agir com a força do Espírito. Me ajude rezar assim: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Isso eu LHE peço pela intercessão de Jesus Cristo, VOSSO querido filho e meu amado REDENTOR. Amém.

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