quinta-feira, 14 de junho de 2018

Diante de Ti, derramo o meu coração...

Senhor meu Deus!
Tu és grande, Tua sabedoria é infinita!

Tua Palavra santa diz que não deves satisfação de Tuas ações a ninguém:
“Pois não há, além de Ti, outro Deus que cuide de todas as coisas, e a quem devas mostrar que Teu julgamento não foi injusto.
Porque és justo, tudo dispões com justiça; e consideras incompatível com o Teu poder condenar a quem não mereça castigo” (Sb 12,13.15).

E, no entanto, Senhor, como nos são difíceis Teus caminhos,
Como nos são incompreensíveis os modos que tens de dirigir nossa vida - minha vida -, e a vida do mundo!
“Para mim, Tua sabedoria é grandiosa, alta demais, eu não a entendo.
Para onde irei, longe do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua presença?” (Sl 139/138,7)

Sei que és amor,
olho o Teu céu estrelado e ele me diz ao coração que és Beleza;
Sinto a brisa que toca minha face, e ela sussurra aos meus ouvidos que és Ternura;
Contemplo a majestosa altura das montanhas
e meu coração intui a Tua doce e serena majestade;
Ouço o rumor das ondas buliçosas do mar
e sinto algo da potência do Teu Espírito sempre presente e atuante!

E, então, o mundo todo, a vida toda, a criação toda, tornam-se uma canção
ao Teu amor criador e cheio de ternura,
à Tua providência sempre presente e cheia de cuidado por todos os seres!
Tudo canta Tua sabedoria imensa!

Senhor, por que Tua criação não é somente assim, não é somente isto:
beleza, providência, sentido luminoso, canto de louvor?
Por que olho, e vejo
também a dor, a solidão, a catástrofe, a injustiça, a frustração,
a inexprimível amargura de quem procura sentido e não o encontra, caça uma explicação e não a vê?

Como pode ser um Deus tão bom, tão grande, tão providente, tão amor
e, ao mesmo tempo, a existência de tantos escuros, tantos ais, tantas realidades que nos parecem absurdas e sombrias?
“Acaso não és o Senhor desde o princípio, o meu Deus, o meu Santo, que não morre?
Teus olhos são tão puros que não podem ver o mal;
Tu nem consegues olhar para a injustiça!
Por que, então, ficas olhando os velhacos e Te calas quando um patife engole alguém mais correto do que ele?
Por que nos tratas como peixes do mar ou bichos que não têm quem os governe?” (Hab 1,12a.13-14).

Senhor, plantador do bom trigo no mundo e no coração humano, por que o joio?
Por que tanto joio de dor, de sofrimento, de maldade, de solidão, de tristeza, de fracasso e de absurdo?

Pergunto, e não encontro as respostas, além da única que Tu me dás:
o Teu Santo, o Teu Predileto, o Filho amado, o Teu Único, tão Bom, tão Justo, Aquele em Quem colocas todo o Teu Bem-querer:
vejo-O silencioso, cabisbaixo, na cruz...
Contemplo-O de braços abertos para me acolher,
de coração trespassado e aberto para me abrigar e matar minha sede...

Tu és o Santo!
Tu é o Separado, o Outro,
Aquele a Quem o homem não pode compreender, abarcar, controlar, enquadrar na sua pobre e pequena lógica!
Teu Nome é impronunciável,
Tua Face não pode ser vista por nós,
a não ser na Face sofrida do Filho amado que, sem explicação e sem pedir minha permissão, toma silenciosamente sobre Si a dor minha e do mundo inteiro:
daquela criança órfã, daquele menino prostrado no leito, daquela jovem mãe agonizante, daquele pobre machucado pela vida e pisado pelos homens, daquele velhinho alquebrado pelos tantos anos e abandonado pelos filhos, daquele jovem envelhecido pela falta de sentido e pelo vício, daquela esposa deixada só com os filhos pelo marido egoísta e irresponsável...

Olho Tua Cruz,
a Cruz do Teu Filho amado e, então, sem compreender, compreendo; sem ver, enxergo...

E ainda assim, quantas vezes penso, sobretudo na situação da dor e da escuridão da alma, com o coração apertado:
Será mesmo que há um Sentido?
Será mesmo que existe um Amor eterno, um Sentido que a tudo reveste de sentido?
E minha mente não alcança, meu coração já não sente...

E se eu não mais acreditar?
E se eu viver como se Ele, Deus, não existisse?
E se eu, ainda que Ele exista, viver por minha conta, do meu modo, deixando pra lá, no canto, esse Deus que é rebelde demais, livre demais, imprevisível demais, exigente demais para a minha lógica e o meu gosto?

Aí, então, Tu me atormentas com o Vazio,
Tu me fazes sentir que sem Ti não há beleza nem alegria nem sentido nem razão alguma para viver!
Tu me fazes sentir na carne e na alma – e como dói! – que de nada vale
o rosário de anos, de dias,
de sonhos, de projetos, de amores,
se tudo acaba no nada da morte,
se tudo é somente viver e morrer,
se a existência humana é um caminhar somente diante de si própria,
sem um céu infinito e estrelado de amor benevolente acima de nós:
um céu para o qual olhar, pelo qual suspirar, no qual esperar, com o qual sonhar!

Senhor, não se pode fugir de Ti!
Não posso!
Sem Ti eu não sou!

Se não existes, eu sou nada
e o mundo inteiro não passa de um teatro sem graça pronto para uma tragicomédia!
Se minha vida não corre pra Ti e não é vida diante de Ti, não é vida de modo algum:
é morte o que eu vivo sem Ti, Vida minha!

Senhor Deus do pensamento impenetrável,
de luz tão intensa que me cega,
de altura tão infinita que me provoca vertigem,
de desígnio grande demais para mim,
de lógica que ultrapassa a minha lógica e a inunda como a onda bravia destrói o castelozinho que o menino peralta construiu na praia do mar...

Senhor, somente em Ti – Deus tão difícil! – repousa o meu coração,
pois somente a certeza da Tua Presença,
de que vivo sob o Teu olhar infinito e misterioso,
pode fazer que meus dias valham a pena!

Viver só quero, viver somente posso,
caminhar somente consigo
com esta certeza que levo no peito:
minha dor e minha exultação,
minha tristeza e minha alegria,
minha vitória e meu fracasso,
meu pecado e minha virtude,
meu deitar e meu levantar,
minha vida e minha morte,
tudo isto, aos Teus olhos tem sentido
e será a pobre matéria com a qual, no momento bendito e sagrado da minha partida deste mundo de peregrinos,
Tu plasmarás
a minha existência plena e feliz Contigo, por toda a Eternidade!
Eu sei - como o sabia o Teu Salmista:
"Contaste os passos da minha caminhada errante,
minhas lágrimas recolheste no Teu odre
e escreveste tudo isto no Teu livro!" (Sl 56,9).

Bendito sejas, Deus grande, Deus santo, Deus eterno!
Bendito sejas, pelo Teu Filho, no Santo Espírito, de Eternidade em Eternidade. Amém!






2 comentários:

Caro Irmão, serão aceitos somente comentários que não sejam ofensivos ou desrespeitosos.
Nem sempre terei como responder ao que me perguntam, pois meu tempo é limitado e somente eu cuido deste Blog.
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Obrigado pela compreensão! Paz no Senhor!