Na Escritura Santa, o Eclesiástico, falando da relação do Senhor Deus com Moisés, diz assim:
“Na fidelidade e doçura Ele o santificou,
Escolheu-o entre todos os viventes;
Fê-lo ouvir a Sua voz
E o introduziu nas trevas” (Eclo 45,4-5).
Estranhas e belas, estas palavras... Elas exprimem muito bem o modo de agir de Deus com os Seus amigos, com os místicos de todos os tempos...
Por um lado, o Senhor educa Seus amigos; vai, pouco a pouco, conduzindo-os com fidelidade e doçura, atraindo-os a Si, santificando-os, isto é, fazendo-os entrar na Sua Vida bendita, na Sua insondável intimidade, que mais parece um imenso mar sem confins, na Sua santidade bem-aventurada.
Interiormente, de modos inexplicáveis, o Senhor vai falando aos Seus, vai educando-os, vai entabulando com eles um verdadeiro diálogo de amizade e amor, numa doçura que parece aquela de uma suave e reconfortante brisa...
Mas, por outro lado, vai introduzindo-os nas trevas. Isto mesmo! Quanto mais Deus Se aproxima de alguém, mas faz o fiel perceber o quanto Ele, o Eterno, está para além de tudo, o quanto não pode ser abarcado, compreendido, domesticado! O pobre peregrino na fé, enamorado do Deus tremendo, do Santo, faz, então, a terrível experiência de um Deus que de todos os modos e por todos os lados nos ultrapassa, transbordando em plenitude infinita de Ser, de Sabedoria, de Eternidade... O crente vai experimentando sem experimentar e sabendo sem nada saber que o Deus que o atraiu, que o chamou a Si é inatingível e incompreensível, é de uma distância tão íntima e, ao mesmo tempo, de uma intimidade tão distante, tão inalcançável... Ele ouve a voz do Senhor no silêncio tremendo que povoa sua alma, sua sensibilidade, seu entendimento e tudo quanto ele possa imaginar... É tremendo cair nas mãos do Deus vivo!
E, então, cresce a saudade medonha naquele que foi conquistado pelos carinhos do Senhor e, por outro lado, aumenta mais e mais a consciência da distância: Deus é Grande demais, Santo demais, Incompreensível demais, Luminoso demais para caber nas nossas pobres medidas!
Que resta ao fiel? Abandonar-se, entregar-se, com total pobreza interior, com doce confiança naquele misterioso Amigo que Se revela escondendo-Se. Ele é uma Luz tão intensa que nos cega! Por isso dizia São João da Cruz: “Deus, para nós, nesta vida, é nem mais nem menos que noite escura!”
De noite, mesmo de noite, não nos cansemos de buscar a Fonte! Deixemo-nos guiar por nossa sede, sede inscrita, cravada em cada fibra do nosso ser de criaturas... Sede como a da corça que procura o riacho... Que assim nossa alma procure o Senhor!
Ó Senhor, Luz tenebrosa e Escuridão luminosa, preenche meu desejo com Tua luz, Tua doçura e Tua paz! Recolhe em Ti todos os meus desejos e sacia de Ti todas as minhas sedes!
Senhor Deus Todo Poderoso, me ajude no caminho da santificação, me ajude a ouvi-Lo, me ajude a ser um homem místico, me ajude educando-me e conduzindo-me. Me ajude a ser VOSSO amigo intimo, me ajude ficando sempre comigo, me ajude a ser um peregrino na fé, um enamorado do meu SALVADOR. Me ajude a ser conquistado pelo seu carinho, me ajude a abandonar-me, entregar-me, com total pobreza interior ao SENHOR. Me ajude a procurá-Lo com amor e fé. Isso eu LHE peço pela intercessão de São João da Cruz. Amém.
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ResponderExcluirComo Madalena gostaria de retê-Lo,
Se não cuido, chego a loucura...
Queria vê-Lo ao meio dia,
Mas Deus nesta vida é noite escura!
Por fim chegará o dia em que O encontrarei, e sorrindo Me dirás: aqui está à Quem tanto procuras!
Para estar contigo, renunciaria novamente todas as luzes do mundo...
Ainda que eternamente Tu me deixasses em uma noite escura!