quinta-feira, 28 de junho de 2018

Coisas ocultas, coisas reveladas...

"As coisas ocultas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas as reveladas são para nós e nossos filhos para sempre" (Dt 29,28).– Que palavras, estas da Escritura Santa; sempre me comoveram!
Neste mundo, nesta vida há tantas realidades que não conseguimos compreender; tanto nos acontece, ocorre ao nosso redor, e nos deixa com a sensação de vazio, de absurdo, de total falta de sentido! São tantos os por quês e os para quês! Tantas perguntas; tão parcas respostas! Pobres filhos de Adão e filhas de Eva!

Nem toda a ciência, nem toda filosofia, profunda ou rasa, de consumo, nem todo o progresso tecnológico, conseguirão elucidar o mistério da existência e os tantos enigmas que a povoam! Não me refiro aos pequenos mistérios das incríveis leis da natureza... Esses são mistérios menores, muitos deles decifráveis cedo ou tarde...
Refiro-me àqueles grandes, indecifráveis: Por que existimos? Para que vivemos? Qual o sentido de tudo? Por que a dor, o amor, a sede danada de felicidade, realização e plenitude? Qual o sentido último da história humana? Qual o sentido daqueles que mal nasceram e já morreram ou, ainda nascituros, foram arrancados criminosamente do ventre materno? Qual o sentido dos que passam a vida sofrendo, alquebrados pelas tremendas vicissitudes da existência? Por quê? para quê? Que sentido?

E olhe, que não adianta, covardemente, fazer de conta que tudo isto não nos afeta, não é conosco e que podemos, de mãos no bolso e assobio nos lábios, fingir que a vida se resolve na própria vida e que conformar-se com uma vida só para esta vida nos satisfaz e é sinal de maturidade ou sabedoria... 
Isto é pura conversa mole, é cinismo... Quem desejar viver a vida na superficialidade do aqui e agora, que a viva; quem renunciar a procurar um sentido e escolher fugir de pensar nele e procurá-lo, que o faça...
Cada um pode ser dono do seu vazio, do seu absurdo, da sua fuga covarde de enfrentar de frente os desafios de existir com um coração que tem sede de infinito... Ninguém tem o direito de forçar ninguém a levantar os olhos para os montes (cf. Sl 121/120,1).

Mas, que consolo saber que há um Deus nos Céus:
"As coisas ocultas pertencem ao Senhor nosso Deus!"– Ele tudo sabe, Ele tudo pode, Ele tudo tem nas Suas mãos benditas. E isto me basta! E eu, que nem criança manhosa, descanso Nele, repouso no Seu coração divino, amoroso e sábio e me abandono docemente nas Suas mãos carinhosas.
Não sei; Ele sabe.
Não posso; Ele pode.
Não compreendo. Ele tem tudo em Suas mãos providentes.
"As coisas ocultas pertencem ao Senhor nosso Deus," não a ti, homem teimoso e orgulhoso, que gostas de brincar de ser Deus e não passas de um ídolo bobo!

"Mas, as reveladas são para nós e nossos filhos para sempre!"  - Eis! O que realmente importa que saibamos, o que realmente nos salva e basta para dar sentido à vida, o Senhor nos revelou, são para nós e para que as ensinemos àqueles que virão depois de nós!

O Senhor não nos revela aquilo que não nos pertence. O Senhor não nos dá satisfações! Revela-nos o essencial, o suficiente para que compreendamos que Ele é presença, que é amor, que é Deus fiel. Basta!
Aquilo que nos revelou não é para matar nossa curiosidade, mas para nos comprometer com Ele, no seguimento da Sua santa vontade. Seus preceitos não são um fardo, mas setas que indicam o caminho da vida e descortinam, pouco a pouco, para quem se põe a segui-Lo, o sentido verdadeiro, simples e profundo da existência.
Por isso mesmo, valem aquelas duas bênçãos presentes no judaísmo, e que tanto me comovem:

a primeira: "Bendito sejas Tu, Senhor nosso Deus, que guardas os segredos!"

a segunda: "Bem-aventurados somos nós, ó Israel, pois a nós foram reveladas as coisas que agradam a Deus!" (Br 4,4)...


2 comentários:

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