sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Perfumes do Tempo do Natal

Neste Domingo próximo, a Igreja encerra o Tempo do Natal.

Para os cristãos que não se contentaram com um período natalino de simples gestos exteriores costumeiros, modos simplesmente repetitivos, em nome de um difuso e confuso “espírito de natal” que ninguém sabe o que é, para quem procurou realmente celebrar de modo religioso a festividade cristã, este tempo sagrado ora findo deve deixar renovadas no coração algumas certezas.

A primeira e mais importante dessas certezas:
Há um Deus no Céu e este Deus Infinito, Incompreensível, Santo, não é teórico, frio como um teorema, distante quanto uma galáxia no extremo do universo. Nada disso!

O Deus grande, santo, misterioso, inatingível, fez-Se Emanuel, Deus-Conosco, Deus-um-de-nós, Deus humanizado! - Que coisa: Deus apequenou-Se, Deus humanizou-Se!

Isto não significa que Se tornou nosso amiguinho de farra, nosso parceiro, o cara legal, gente boa com quem podemos barganhar ou brincar! Não! Ele continua o Santo, o Misterioso, mas ao mesmo tempo próximo no Seu amor, na Sua misericórdia na Sua ternura salvífica.

Aliás, segundo as Escrituras Santas e a fé da Igreja, para isso Ele criou tudo: para nos visitar e tudo levar à Sua plenitude: “De Sua plenitude recebemos graça sobre graça!” Criou tudo para Si e tudo somente Nele encontra a plenitude do ser e do sentido! Simples assim, grave assim, urgente assim, trágico assim!

Outra certeza: Se Deus entrou no tempo do mundo, todos os nossos tempos agora são povoados pelo Senhor, todos os nossos tempos tornaram-se semente de eternidade, da Eternidade do Deus eterno!Os tempos fugazes, passageiros, de nossa existência tornaram-se grávidos de Glória, do ser imperecível, imorredouro, do próprio Deus!

Quando vivemos a vida diante Daquele que veio a nós, com Aquele que nos visitou, vindo da Virgem, tudo ganha novo sentido, tudo tem gosto de eternidade: até a dor, até as lágrimas, até a morte...

Deus está conosco; não estamos sozinhos nem na vida nem na morte! O Infinito nos circunda, o Eterno nos envolve, a Vida nos abarca, nos penetra, nos encharca com o Seu Ser divino! De repente, para quem de verdade crê que Deus é Emanuel, tudo passa a ter gosto de Eternidade, tudo se transforma em semente de Eternidade!

Um terceiro aspecto: O Senhor veio em Belém, o Senhor vem a cada dia em cada situação, em cada decisão, o Senhor virá no momento da nossa morte, o Senhor virá um Dia, no Dia Final.

A vida de todo verdadeiro crente cristão deve ser vivida como um diálogo contínuo com esse Deus próximo, Deus que vem vindo sempre; a vida do crente é sempre uma resposta aos Seus apelos. O crente verdadeiro nunca vive primeiro diante de si próprio, mas fundamentalmente diante de Deus. É a partir do Altíssimo que ele mesmo se compreende, se sente, decide, caminha... "Anda na Minha presença e sê perfeito!"

Pense que vida: uma aventura de diálogo com o Eterno, uma resposta de amor ao Amor infinito, uma parceria bendita de amizade e ternura e delicadeza com Aquele que é o Mistério Santo, Sentido, Princípio e Fim de todas as coisas.

Quarta certeza: o Emanuel que nos veio não é simplesmente o Salvador dos cristãos.
Ele é a verdade do universo, a verdade da inteira humanidade, o Salvador de todos: veio para todos, veio para o mundo e a humanidade por Ele criados.

Isto compromete todo aquele que crê: temos o dever e a missão de falar do Menino, do Salvador, a todos quantos ainda não O conheçam. A fé em Cristo nunca deve ser imposta a ninguém, mas deve ser com franqueza e coragem proposta a todos!

Os cristãos devem renunciar a toda tentação de poder e de tutela sobre a sociedade, mas nunca devem abrir mão da missão de humildemente ser sal e luz para quem desejar encontrar o Sentido da existência!

Sim, no nosso mundo descristianizado – e olhe que nunca mais a sociedade como um todo será cristã! – temos a responsabilidade de dizer ao mundo que há uma Luz, que Ela brilhou em Belém e resplandeceu de modo definitivo na Ressurreição, de modo que o mundo tem sentido, a vida tem sentido, a criação tem sentido, os sonhos e tormentos dos homens têm sentido!

Com mansa convicção o Cristo deve ser sempre proposto sem nunca ser imposto! Foi assim nos dias da carne de Jesus, deverá ser sempre assim: Ele Se propôs, nunca Se impôs! Por isso mesmo veio pequeno, pobre, criança indefesa... Por isso morreu impotente, mais pobre ainda, homem de dores, crucificado, sepultado pelo pecado e o esquecimento do mundo...

Quinta convicção: O Deus que em Jesus nos visitou e nos convidou a viver na Sua santa presença, fazendo da nossa existência um amoroso “sim”, respeitará sempre a liberdade da nossa resposta...

Os Magos acolheram o Menino; Herodes O rejeitou, Jerusalém tratou-O com solene e fria indiferença. Será sempre assim!

Nós, cristãos, muitas vezes trazemos em nós a saudade dos tempos em que existia uma sociedade nominalmente cristã, com uma cultura gerada em grande parte por uma visão cristã... Estes tempos passaram e não mais voltarão! Mas, veja bem, meu Leitor: o anúncio do Cristo que por nós nasceu não deveria nunca ser feito de modo massificado, a toda uma sociedade. Ao menos não foi assim que o Cristo pensou!

O encontro com o Senhor será sempre pessoal; a resposta ao Seu apelo de salvação será sempre pessoal. Certamente, ao acolher o anúncio feito pela Igreja, o crente entra nessa Comunidade de fé, que é ao mesmo tempo Corpo de Cristo, a nossa Mãe católica. A fé, certamente, não é privada; mas, será sempre pessoal!

Não creio na possibilidade de uma cultura cristã; nem mesmo penso que isso seja um ideal pelo qual devamos os bater! Creio em cristãos sendo pouquinho de sal e teimosas chamas luminosas na cultura plural que vai se afirmando no mundo atual.

Eis o grande desafio para a Igreja inteira e para cada cristão: crer de tal modo no Senhor, vivê-Lo com tal intensidade, testemunhá-Lo com tal coerência e inteireza de vida, que o Senhor e Seus discípulos apareçam ao mundo como luz para quem desejar sair das trevas e sal para quem quiser encontrar o sabor da vida! Foi esta a missão que o Senhor nos deu com a Sua piedosa Vinda; esta será sempre nossa missão, até o fim dos tempos!
Fiquem no nosso coração estes perfumes suaves do Santo Natal!





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