Estava pensando nos cristãos da Igreja dos inícios: de
fora, perseguições do Império Romano; de dentro, as divisões e as decepções com
irmãos que, perseguidos, renegavam a fé...
Isto mesmo: a Igreja sempre viverá em meio a
tribulações, a fracassos, a perseguições e escândalos. Nunca será na terra o
que terá somente no Céu: a paz da fidelidade perene de seus filhos e do gozo
eterno da Glória... Mesmo que seja verdadeiramente a Igreja de Cristo, a
família de Deus, a semente do Reino que se manifestará plenamente na Glória,
ela caminha neste mundo ainda sob a marca da ambiguidade, das ambiguidades...
Será assim até o fim!
Os verdadeiros católicos não são católicos por causa
da Igreja, mas por causa do Cristo fidelíssimo, que nos amou até a cruz e nos
deu a Sua Igreja, nascida do Seu lado aberto e do Seu Espírito entregue, como
Mãe e canal de Sua graça. Certamente que os escândalos, a crise de fé de tantos
filhos da Igreja, o mau exemplo de quem deveria ser presença viva de Cristo –
tudo isto nos entristece e pode nos trazer a tentação do desânimo; no entanto,
se compreendermos bem o que é a Igreja, se tivermos os olhos e o coração fixos
no Cristo, então todas essas realidades negativas em nada tirarão a nossa paz.
Precisamos – isto sim – compreender que a Igreja não
existe por si mesma e não é santa por si mesma, mas tudo recebe do Cristo.
Precisamos levar a sério que é Cristo quem atrai os Seus e agindo por Sua graça
operosa os congrega e os mantém firmes na fé. Não somos nós, ministros
sagrados, quem seguramos o povo e não somos os astros “pop stars” e
interessantes, que mantêm o povo na Igreja... Tudo isto é um grosseiro e triste
erro, é bobagem e presunção humana! Por que alguns ministros sagrados se sentem
na obrigação de serem astros, de serem adaptáveis a tudo quanto é mundano, na
ilusão de que isso atrai? É Cristo o Astro único, é Cristo Quem atrai, é Cristo
a novidade, é Cristo Quem nos mantém fieis, é Cristo – e só Cristo – a alegria
perene do nosso coração. Aliás é bom ter bem presente: quem entra na Igreja ou
nela permanece por outro motivo que não Cristo, perde tempo e não está verdadeiramente
na Igreja! A pergunta, a questão, o definitivo é e será sempre aquela pergunta:
“Tu Me amas?”
Entristece-me muito – mais que qualquer escândalo –
ver tantos membros do clero e tantos teólogos preocupados em ser agradáveis às
pessoas, atraentes e simpáticos ao mundo, gente de “boa pinta”, interessante e
simpática... Recordo de Pedro, de Paulo, de João, de Madre Teresa, de Frei
Damião, da Irmã Dulce, do Padre Pio... Certamente nunca procuraram ser
atraentes, mas docemente, benignamente fieis! Não somos nós quem atraímos! Não
temos de ser boa gente e engraçadinhos para atrair! É Cristo Quem atrai, é
Cristo o centro! A nós, basta deixar que Cristo de tal modo impregne a nossa
vida que quem nos vir, veja Cristo em nós: como exigente bondade, como amor que
se dá, como responsabilidade que não esconde nem omite o essencial!
Tantos pregam a secularização para atrair o povo e a
mundanização da Igreja, na ilusão de se fazerem simpáticos e compreendidos...
Desprezam tudo aquilo que ajuda a mostrar a identidade católica, a alegria da
consagração e o gosto de ser diferente do mundo... Pensam que com isso estão
aproximando as pessoas e se fazendo compreender pelo mundo atual... Pura distorção
ideológica e ultrapassada! O mundo grita por sinais de Deus, por marcas do
eterno, por reflexos do sagrado, por gente que não tenha medo de crer, viver e
testemunhar o infinito que renova esta terra!
O que afasta o povo é uma Igreja que não dá Cristo; o
que esmorece a fé são padres e religiosos ou leigos que querem ser
protagonistas, ao invés de darem lugar ao Cristo, único Senhor e Astro; o que
cansa as pessoas são homilias que falam de tudo, mas não falam pura e
simplesmente de Cristo, de Seu amor, de Sua beleza, de Seu perdão e salvação; o
que torna a Igreja sem graça é o moralismo ideológico, que confunde o Reino com
sociedade socialista, que só sabe falar em questões sociais. A Igreja não
existe para si, mas para um Outro! Não deve se colocar no centro, mas deixar
que Cristo seja o centro! A função da Igreja, sua razão de ser é pura e
simplesmente provocar o encontro das pessoas com Jesus, trazer-lhes Jesus,
cheio de Espírito Santo e, assim, inundar o coração das pessoas e do mundo com
o Reinado de Deus – onde está o Espírito de Cristo, aí está o Reinado do Pai
que Jesus trouxe com Sua morte e ressurreição!
Nossa questão não é pensar no que atrai o povo, mas
anunciar Jesus, pura e simplesmente, com toda fidelidade, simplicidade, amor e
mansidão... O resto é graça, é ação do Senhor, é misericórdia de Deus...
Eu gosto da frase que diz assim: o mundo precisa de santos. E ser santo é ter Jesus no coração, na alma, na mente e na vida da pessoa. Ser santo é fazer a vontade de Deus e ajudar para que outras pessoas assim procedam, por isso peçamos ao nosso Deus que nos ajude.
ResponderExcluirDom Henrique:
ResponderExcluirÉ
Se Deus é amor, a caridade não deve ter fim... (nem na perseguição, fracasso, escândalo)
http://www.youtube.com/watch?v=bNa7AUPXZtw
Agradeço-te, (do coração), essas palavras que me tocaram e fortaleceram para continuar a caminhada na fé: "mas por causa do Cristo fidelíssimo, que nos amou até a cruz e nos deu a Sua Igreja, nascida do Seu lado aberto e do Seu Espírito entregue"...
Sério, e dói, como dói nos manter amando, nos manter dóceis, mansos, perdoando a quem nos tem ofendido no momento da chicotada, dos cuspes, da aflição, da agonia... ou pelo menos recordando que no momento mais bruto e de cruel solidão da crucificação, Cristo foi capaz de olhar para o alto e dizer respirando amor e compaixão até a eternidade, a todos que o feriam, martirizavam: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem"...
Dias atrás eu estava no meu momento Cristo no Horto das Oliveiras : "Minha alma está triste até a morte"...
E confesso que tenho olhos habituados a contemplar Cristo, perfeito homem, que chora a morte de Lázaro, que passa fome e sede, que se senta junto ao poço de Jacob (cansado do caminho), as noites passadas sozinho em vigília e oração transpirando e chorando sangue puro, a solidão no madeiro, a agonia...
"Isto mesmo: a Igreja sempre viverá em meio a tribulações, a fracassos, a perseguições e escândalos".
Sim Dom Henrique, talvez, num momento assim de grandes tribulações e provas e perseguições e escândalos, seja coerente perguntar-se a nós mesmos: amo Cristo pelas recompensas do reino, pelas palmas, pelas coroas ou pelas maravilhas e delícias do prometido céu? Ou por que também sei que o reino é feito de entrega, doação, também na cruz do seu martírio, com espinhos cravados na fronte, com cravos rasgando as mãos de um suplício sem tamanho, como tu mesmo dissestes noutro texto "sofrer pela Igreja"?
Seguir a Cristo é um voto de fidelidade como o do matrimônio: "na saúde e na doença, na alegria e na tristeza".
A Paz de Cristo meu caro, principalmente nas tribulações.
Ah, prazer
Priscila Rúbia de Souza.
Cila é apelido diminutivo.
=)