Quarta-feira da II semana da Quaresma
Meditação XII: Consagrados para toda boa obra
Reze o Salmo 119/118,89-96
Como lectio divina, releia o capítulo 4 de Tobias. Vale a pena!
1. Os vv. 7-11.16 tratam de um tema caro ao Livro de Tobias: a esmola. Podemos falar da esmola num sentido estrito, isto é, a ajuda econômica a quem necessita, e podemos falar da esmola num sentido amplo, largo: a abertura de coração para ajudar a quem precisa do nosso socorro espiritual, emocional, humano de modo geral. As comoventes palavras destes versículos se referem ao primeiro caso, mas serve muito bem também para o segundo aspecto.
2. A esmola é sempre um modo de abrir o coração aos demais, de sair de nós mesmos para ir ao encontro do outro nas suas necessidades. Esta capacidade de abertura aos demais, de ter compaixão, ir-lhes ao encontro, é sinal da verdade e maturidade da nossa abertura para com Deus. Quem sabe e se sente amado, cuidado, acolhido pelo Senhor, como não reproduzir e difundir estas atitudes para com os demais, como não alargar o coração?
Leia Mt 18,23-35: veja como o Senhor censura duramente aqueles que experimentam o Seu amor, perdão e cuidado e não derramam a mesma atitude sobre os demais.
Leia também Tg 2,1-9: aí se recorda que os pobres são preferidos de Deus e servi-los e honrá-los é honrar a Deus.
Sobretudo, veja o que diz o Senhor Jesus Cristo em Lc 12,22-34. Aí aparece claro o sentido da esmola: a confiança em Deus, a disponibilidade para perceber e acolher a providência amorosa do Senhor, a capacidade de deixar que o Senhor reine verdadeiramente na nossa vida, abrindo-nos, portanto, para os demais.
3. Nas Escrituras, a esmola é importante não somente pelo valor social – que realmente conta e também tem seu valor – mas, sobretudo, porque nos educa, tornando real nossa confiança em Deus e abrindo nosso coração para os irmãos. Tudo isto está presente nas palavras do velho Tobit: “A esmola livra da morte e impede que se caia nas trevas. Dom valioso é a esmola, para quantos a praticam na presença do Altíssimo” (vv. 10s). Agora é bom uma revisão de vida: como vai a sua capacidade de ver as necessidades dos irmãos, de ter compaixão, de aproximar-se deles e ajudá-los? Que gestos de “esmola” você está realizando nesta Quaresma?
Leia Lc 10,25-37. Procure observar com atenção: (a) Em Lucas os dois mandamentos que resumem todo o Antigo Testamento (a Lei de Moisés) estão sintetizados em um só, indivisível! (b) Neste mandamento está a Vida, isto é, a salvação eterna, a Vida com Deus, a Vida em Deus, a Vida de Deus! (c) Qual a resposta à pergunta do escriba, “Quem é meu próximo?” Tente responder, antes de ler a resposta a seguir... Em geral, pensamos: o próximo era o homem caído, que foi amado e ajudado... Errado! O próximo foi o samaritano, que se aproximou, fez-se próximo! (d) Veja como o Senhor pergunta: “Qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” A resposta: o samaritano, porque se fez próximo! E você? Tem-se feito próximo de quem precisa da sua presença ou, como o sacerdote e o levita, tem-se afastado? Reze o Sl 112/111.
4. Outro tema que aparece nos conselhos de Tobit é o da santidade do Povo de Deus (cf. vv. 12-13). Observe como este pai recomenda ao filho não se casar com uma estrangeira, por ser gentia, isto é, não pertencente ao Povo santo de Deus. Tobit recorda ao filho que Israel é um Povo diferente, um Povo santo: “Nós somos filhos dos profetas!” Em todo o Antigo Testamento aparece o cuidado para que o Povo de Deus não aprenda o modo de vida dos gentios, traindo a Aliança com o Senhor. Nem sempre foi fácil para Israel encontrar o equilíbrio entre relacionar-se com os estrangeiros e até mesmo viver no meio deles e, por outro lado, guardar fielmente aquilo que é próprio do Povo santo, sem desfigurar sua identidade de Povo escolhido pelo Senhor!
Leia, por exemplo: Dt 14,1-2; 7,1-16. Estas palavras não desejam incutir ódio aos gentios, mas prevenir Israel de que ele é um Povo único, propriedade do Eterno, e não deve abraçar o modo de pensar e viver dos outros povos.
Leia Is 56,1-8; 66,18-23: De Israel sairá a salvação para todos os povos; todas as nações serão chamadas a servir ao Senhor Deus, o Deus que Se manifestou a Israel!
Esta mesma tensão existe no Novo Testamento e deverá sempre permanecer na Igreja, o Novo Israel, formado de todos os povos, por todas as pessoas que acreditaram que Jesus é o Cristo de Deus.
Leia Jo 15,18s; 17,9.14-19; Gl 1,10; Tg 4,4-10; 1Pd 2,9-12. Aqui aparece a mesma ideia do Antigo Testamento: a Igreja é o Novo Israel; nós somos um Povo consagrado ao Senhor. O nosso modo de viver, de pensar, de falar, de agir não pode ser segundo o mundo, não pode ceder às modas do mundo, mas deve ser segundo Cristo! Somos santos e sempre chamados a ser santos (cf. 1Cor 1,2), de modo que entre os cristãos e o mundo haverá sempre uma tensão, a tensão do Reino de Deus, cuja marca é a Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo!
Agora leia Mc 9,38-40; At 10,34-48. Nestes textos aparece também, como para o Novo Israel, ainda mais que para o Antigo Israel, o nosso dever de ser sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16), de levar o Evangelho da graça de Cristo a toda a humanidade (cf. Mt 28,19s). A Igreja deverá ser sempre a nova Jerusalém, cujas portas são abertas em todas as direções e não se fecharão jamais para todos aqueles que tenham boa vontade e procurem realmente em Cristo a salvação e a Vida! (cf. Ap 21,23-27)
5. Todos nós, cristãos, somos chamados a viver este equilíbrio: identidade profunda, íntegra, firme na nossa profissão de fé católica e no nosso modo de pensar, falar e viver e, ao mesmo tempo, abertura e compaixão em relação aos “de fora”, aos cristãos somente de nome e aos não-cristãos... Aqui, é preciso que se faça um sério exame de consciência: Você tem vivido realmente a sua fé ou faz concessões ao modo de pensar e de viver do mundo? Tem consciência de que é membro de um Povo santo, propriedade do Senhor Deus, Aquele que nos ordena: “Sede santos porque Eu sou Santo”? (1Pd 1,16) Tem testemunhado o Senhor e a Sua verdade? Tem sido fechado e amargo, prepotente e intolerante em relação aos que não são católicos ou cristãos? Leia 1Pd 2,13-17; 3,15-17.
6. Reze o Salmo 98/97, que mostra a bondade do Senhor Deus para com todos os povos. Agora reze os Salmos 114/113A e 115/113B, que revelam o quanto o Povo de Israel é consagrado ao Senhor.
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