quinta-feira, 5 de março de 2020

Retiro Quaresmal 2020/8 - "Felizes aqueles que se abrigam no Senhor!" (Sl 2,12)

Quinta-feira da I semana da Quaresma
Meditação VII: Na vida e na morte, pertencemos ao Senhor

Reze o Salmo 119/118,49-56
Como lectio divina, leia mais uma vez Tb 3,7-18.

1. Como Tobit, também Sara, numa situação de aperto existencial e profunda tristeza, deseja a morte. No caso da moça, esta pensa em suicidar-se por enforcamento. Claro que isto, com a consciência que temos em Cristo Jesus, seria um grave pecado. Mas, este texto é do Antigo Testamento... Muitos aspectos da moral vétero-testamentária são imperfeitos, pois estão ainda a caminho do Cristo. Nunca esqueçamos que a plenitude da revelação e da graça dão-se somente em Cristo: “A Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1,17; cf. 1Cor 10,11). 
Jamais soluções como o suicídio ou a eutanásia podem ser aceitas por um cristão! Minha vida pertence ao Senhor:“Ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo, porque se vivemos é para o Senhor que vivemos, e se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,7s). Atenção, que o sofrimento, por maior que seja, à luz da Cruz do Senhor, ganha um novo e definitivo sentido! Tobit e Sara ainda não poderiam ter isto claro; mas, nós, discípulos do Cristo, sabemos: “Nossas tribulações momentâneas são leves em relação ao peso eterno de glória que elas nos preparam até o excesso” (2Cor 4,17); “Agora regozijo-me nos meus sofrimentos... e completo o que falta às tribulações de Cristo em minha carne pelo Seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). É conveniente que você se pergunte como vivencia as situações de dor e desalento, como enfrenta o sofrimento, que sentido lhe dá... Você sofre como cristão ou como quem não tem esperança em Cristo e nem mesmo O conhece?

2. Mesmo com este pensamento do suicídio, moralmente reprovável, Sara é capaz de pensar na situação do seu pai. Nisto, ela merece elogio: mesmo sofrendo, não fica presa simplesmente em si: pensa nos outros, pensa no seu pai, que terminaria seus dias amargurado pela perda da filha única... Assim, a jovem toma o caminho que é o mais sábio e digno de quem crê, nas situações difíceis da vida: a oração! Nunca se esqueça: aconteça o que acontecer, venha o que vier, seja qual for a situação em que se encontre, sob quaisquer circunstâncias, o caminho do verdadeiro crente, do autêntico e sincero discípulo do Cristo Jesus, é a oração: rezar, derramar o coração diante de Deus! Não há outro caminho.
Leia o belíssimo texto de 1Sm 1,9-18. Observe: Ana chega atribulada, cheia de amargura; na sua amargura, com suas dores e conflitos, reza ao Senhor, derrama-se diante Dele. Que bela definição de oração: “Derramo a minha alma perante o Senhor” (v. 15). E o resultado: “A mulher seguiu o seu caminho; comeu e o seu aspecto não era mais o mesmo” (v. 18), pois no Senhor havia encontrado a paz! É isto que a oração provoca em nós: faz-nos Deus entrar na nossa vida, faz-nos experimentar a Sua suave e poderosa presença, faz-nos ver tudo com os olhos de Deus, sentir com o coração do Senhor e entregar tudo nas Suas mãos benditas, abandonando-nos à Sua santa vontade! Reze o Sl 70/71.

3. Os vv. 11-15 nos trazem a oração de Sara. Como uma pobre, uma mendiga que suplica, ela estende as mãos para a janela, na direção de Jerusalém. Os judeus rezam assim, voltados para o Templo em Jerusalém. Os muçulmanos rezam voltados para Meca. E os cristãos? Rezam voltados para o Cristo. Nos primeiros séculos do cristianismo, isto era expresso de um modo muito belo: para rezar e, sobretudo para celebrar a santa Eucaristia, os cristãos voltavam-se para o oriente, o lado do nascer do sol, o lado da luz. O oriente é símbolo de Cristo, “o Sol de justiça, que tem a cura em Seus raios” (Ml 3,20), “o Astro das alturas que nos visita para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte” (Lc 1,78s), “a Luz do mundo” (Jo 8,12). É por isso que tanto o sacerdote quanto a inteira assembleia do Povo de Deus celebravam a Missa voltados para o Oriente, isto é, para o Cristo que vem continuamente como luz que dissipa as trevas e inaugura o Dia sem fim, o Dia final, quando “já não haverá noite e ninguém mais precisará da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles” (Ap 22,5). O sol deste mundo será substituído por Aquele que é a Luz sem ocaso, Luz divina, Luz do Eterno, o próprio Cristo nosso Deus!

4. Observe como Sara é uma pobre de Deus: ela não reclama, não cobra nada ao Senhor, não pensa ter direitos diante do Eterno; simplesmente, bendiz ao Senhor por tudo (cf. v. 11). Depois, apresenta ao Senhor a sua causa, expondo-Lhe sua situação e sua dor. Como Ana, a mãe de Samuel, ela derrama o seu coração diante do Senhor! Pede a morte, mas deixa a decisão nas mãos do Deus vivo: se Ele não lha conceder, então que a olhe com compaixão, tirando-a da situação miserável e dolorosa em que se encontra (cf. v. 15c)

5. Finalmente, nos vv. 17-18, a impressionante conclusão desta primeira parte da narrativa: o Senhor escuta a oração de Tobit e de Sara e envia o Arcanjo Rafael para curar os dois! O Arcanjo fará que Tobit seja curado da cegueira e Sara se case com o jovem Tobias, filho de Tobit! Impressionante como a providência divina tudo conduz, como vai tecendo sua trama de cuidado amoroso e providente no intrincado dos acontecimentos da nossa vida: “Naquela mesma hora, voltava Tobit do pátio para c asa; e Sara, filha de Raquel, estava descendo do quarto” (v. 17). Nem se conheciam, nem sabiam da existência um do outro e, no plano providente do Senhor, as histórias de cada um deles estariam ligadam para sempre! Reze o Sl 138/139

6. Um último aspecto. Observe o que a Escritura diz sobre a razão do Senhor curar Tobit: “a fim de que visse com seus próprios olhos a luz de Deus” (v. 17). A cura, em si, não é o mais importante. Não é curar por curar, não é curar simplesmente para satisfazer uma necessidade ou um capricho! Nada disto! A cura verdadeira não é só um milagre; é um sinal: sinal de Deus! Tobit será curado para ver não simplesmente a luz do dia, mas para ver, com os olhos da fé e do coração, a luz de Deus! Como o velho Simeão (cf. Lc 2,29s). Leia e medite o apaixonante capítulo 9 de São João, sobretudo os vv. 35-39, que dão o sentido de toda a narrativa... Agora reze 26/27.


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