Ez 33,7-9
Sl 94
Rm 13,8-10
Mt 18,15-20
Nossa
meditação da Palavra do Senhor neste Domingo pode ser desenvolvida em cinco
afirmações. Ei-las:
(1)
Cristo está presente na Sua Igreja; jamais a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em Meu Nome, Eu estou aí, no
meio deles”.
Quantas
vezes tal afirmação foi distorcida como se bastasse que uns quatro gatos pingados
se reunissem com a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso!
O
sentido é exatamente o contrário! Aqui, neste capítulo 18 de São Mateus, Jesus
está falando sobre a vida da Igreja, comunidade que Ele fundou e entregou aos
apóstolos, tendo Pedro por chefe.
Os
dois ou três aos quais Se refere o Senhor
são o contrário do isolamento, do que se julga melhor que os demais e,
sozinho, pensa ser o guardião do desígnio do Senhor Deus! Os dois ou três aqui
são os líderes da Comunidade que vão decidir a questão do irmão que não quer
ouvir os outros e divide a Comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na terra
– e são os pastores (os Bispos com o Papa) que têm, em última análise, essa
responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu,
e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu!”
A
autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo especial, deu-a também aos
demais Bispos, os pastores autênticos da Sua Igreja, em comunhão com Pedro.
Pois
bem, onde dois ou três, como Igreja, estiverem reunidos em Nome do Senhor, Ele
estará ali, ratificando suas decisões.
Que
fique claro: não se pode agradar a Cristo, ser-Lhe fiel, isolando-se, rompendo
com a Sua Comunidade, os dois ou três, comunidade chamada Igreja! Ela, por mais
que seja frágil por causa da nossa fragilidade, é a Comunidade que o Senhor
reuniu, sustenta e na qual Se faz presente e atuante!
(2)
Essa Igreja é uma Comunidade de amor.
O
amor cristão não é simplesmente amizade ou simpatia humana, mas o fruto da
presença do próprio Espírito de Amor, o Espírito Santo em nós: “O amor de Deus foi derramado nos nossos
corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm 5,5) É desse amor divino e divinizante que fala São Paulo no capítulo
13 da Primeira Carta aos Coríntios; é esse amor que “cobre uma multidão de pecados” (Tg 5,20), é esse amor que é “a
plenitude da Lei”.
Só
ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar
pelo Seu Espírito de amor!
Ora,
caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente impregnado desse amor, mais forte que
nossas diferenças de temperamento, de opiniões, de modo de agir...
Onde
está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o amor reina, o Reino de Deus está
presente neste mundo! A Igreja deve ser o lugar do amor, lugar do Reino!
Mas,
fique claro: não somos nós quem produzimos tal amor: é o Senhor Quem no-lo dá
quando o recebemos no sacramentos; é o Senhor Quem fá-lo crescer em nós quando
somos abertos e dóceis à Sua graça!
(3)
Essa Comunidade de amor chamada Igreja é
Comunidade de compromisso, de responsabilidade no seguimento de Cristo.
Por
isso, não se pode usar o amor para acobertar a covardia, a malandragem
espiritual, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e os desmandos na
Comunidade! O amor é exigente: “O amor de
Cristo nos impele” (cf. 2Cor 5,14).
A
infidelidade ao amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente, o pecado, que gera
a divisão, a desunião, que faz sangrar a Igreja.
Por
isso o próprio Jesus nos exorta à correção fraterna, desde aquela simples,
feita entre irmãos, até a correção formal e mais solene, feita pelo Bispo ou
até mesmo pelo Papa, como Chefe Supremo da Igreja de Cristo neste mundo: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai
corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas; se ele
não der ouvido, dize-o à Igreja”. A Igreja tem sim o poder das chaves
(autoridade para punir e para reconciliar o que foi punido) dado pelo próprio
Cristo Senhor!
Muitas
vezes, vê-se confundir amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo de não
corrigir, de deixar passar, de mascarar o erro, o pecado, a infidelidade, a
frieza...
Ora,
a correção é um modo de amar, é um modo de preocupar-se com o outro e com a
Comunidade que é ferida pelo pecado e o mau exemplo. A correção pode salvar o
irmão!
Quantos
escândalos nas nossas Comunidades poderiam ter sido evitados se houvera a
correção no momento oportuno e do modo discreto e sincero que Jesus nos
recomenda, ou melhor, nos ordena. Isso vale para a Igreja menorzinha, que é
nossa família doméstica, vale para o grupo do qual participamos, vale para a
paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do Reino de Deus”, mas a de
Cristo!), espalhada por toda a terra.
A
omissão em corrigir é covardia, é falta de amor à Comunidade que é a Igreja, é
pecado de omissão e desatenção pelo irmão.
Certamente,
tal correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade
fraterna. São Bento, na sua Regra, dá um preceito encantador: “In tribulationem subvenire” –
poderíamos traduzir assim: “socorrer na tribulação”. Mas, a palavra latina é subvenire: vir por baixo, vir de baixo.
Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo
para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de quem está
por cima para massacrar!
Corrigir,
sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na pobreza do presépio e na
humilhação da cruz! Aí a correção terá mais chance de surtir efeito! Uma
correção assim edifica a Igreja e é sinal do Reino de Deus!
(4)
Na Comunidade de amor às vezes pode ser necessária a punição. Pode ser que não
surta efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é corrigido teime na
sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê tal possibilidade
no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que tal irmão seja punido.
Que
escândalo para a nossa mentalidade atual, que confunde ser bom com ser bonzinho
e misericórdia com conivência com o pecado e falta de coragem de corrigir!
A
nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras que agradam! No
entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo, mas deverá ser
sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a correção,
restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão.
Que
os pais tenham a coragem de corrigir; os Bispos e o Santo Padre também!
Corrigir
é querer o bem do outro, corrigir é deixar claro o que é errado e o que é
correto, é dar ao errado a possibilidade de cair em si e deixar o erro, é
evitar que outros caiam também, é deixar claro aos que se esforçam pelo bem que
vale a pena permanecer no que é certo, justo, louvável e virtuoso segundo
Cristo! É este o espírito do Evangelho, o ensinamento dos Apóstolos!
(5)
Qual o fruto de uma comunidade assim?
A
saúde fraterna: a alegria de viver como irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão!”
Oh,
que palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui o motivo último da correção
fraterna! Pensemos bem, caríssimos: a Igreja não é um clube de amigos, mas uma
família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor Jesus Cristo que nos une. A
alegria da comunhão fraterna somente será experimentada na sinceridade das
nossas relações.
Correção,
sim; crítica destrutiva, murmuração, difamação, não!
Neste
sentido, todos nós precisamos fazer um sério exame de consciência, seja em
nível de família, como naquele de grupos e paróquias e até mesmo de Diocese!
São
esses os aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do
Senhor pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu
pecado, a culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e
viverá ele – eis a marca do Reino de Deus neste mundo!
Que
ele aconteça em nossas comunidades! Amém.
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